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Daria Yeremenko, Margarita Didenko, Iryna Kudielina, Victoria Mushtey, Iryna Marconi e Daria Zhuravel são seis das artistas selecionadas para o programa "Ucrânia - Palco Livre"
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Daria Yeremenko, Margarita Didenko, Iryna Kudielina, Victoria Mushtey, Iryna Marconi e Daria Zhuravel são seis das artistas selecionadas para o programa "Ucrânia - Palco Livre"

Rui Oliveira/Observador

Daria Yeremenko, Margarita Didenko, Iryna Kudielina, Victoria Mushtey, Iryna Marconi e Daria Zhuravel são seis das artistas selecionadas para o programa "Ucrânia - Palco Livre"

Rui Oliveira/Observador

"Aqui temos liberdade". A história de seis artistas ucranianas que fugiram da guerra e ganharam palco no Teatro Nacional São João

Teatro Nacional São João já atribuiu sete bolsas a profissionais da cultura ucranianos refugiados em Portugal. Iniciativa é "uma porta de emergência que se abre aos artistas ucranianos".

Daria Yeremenko, coreógrafa, professora e bailarina, tinha o desejo de um dia poder visitar e conhecer Portugal. Há cerca de dois meses acabou por se mudar para o Porto, mas os motivos não foram os que imaginou: “Nunca pensei que fosse acontecer por causa da guerra. Queria ser uma turista, não uma refugiada”, conta ao Observador. Daria é uma de sete artistas que já foram integrados no “Ucrânia – Palco livre”, um programa promovido pelo Teatro Nacional São João (TNSJ) que atribui bolsas artísticas a profissionais da cultura ucranianos refugiados em Portugal.

Entre várias áreas culturais — desde o teatro à dança, música, vídeo e fotografia –, o programa foi uma “porta de emergência” que se abriu para artistas e profissionais da cultura ucranianos que, como muitos outros, tiveram a sua história e trabalho interrompidos pela guerra na Ucrânia. Foi numa sala do Teatro Carlos Alberto, antes dos ensaios para as várias iniciativas em que estão integradas, que seis artistas contaram a sua história e como vieram parar a Portugal e ao palco do São João.

Daria Yeremenko, de 28 anos, dava aulas de dança em Kiev. Ao segundo dia de guerra foi obrigada a sair da cidade (e do país) e atravessou a fronteira com a Polónia a pé. “Demorei duas semanas a chegar ao Porto e agora vivo com uma portuguesa que me arranjou um espaço no apartamento dela”, conta, sentada no chão da sala de ensaios. Daria contou com a ajuda de uma associação que lhe foi recomendada por um amigo e chegou ao projeto do TNSJ para dirigir, entre outros projetos, várias oficinas de dança urbana destinadas a crianças ucranianas.

O "Ucrânia - Palco livre" é um programa promovido pelo Teatro Nacional São João que atribui bolsas artísticas a profissionais da cultura ucranianos refugiados em Portugal

RUI OLIVEIRA/OBSERVADOR

“Vai ser um projeto para criar emoções positivas, para ajudar as crianças a encontrarem novos amigos, uma nova energia, num país que é estranho para eles, onde nunca estiveram antes. Poderá ser uma boa plataforma para eles encontrarem alguém com quem se podem conectar”, explica a bailarina. Daria assume que esta é “uma oportunidade especial” para continuar a trabalhar na sua área, mas num país diferente: “Para mim, é uma lufada de ar fresco. Aqui posso sentir-me eu mesma, como fazia na Ucrânia. Lá trabalhava com crianças e adultos e com algumas organizações. Percebi que podia continuar a fazer a mesma coisa, mas noutro país. Foi muito bom”, refere.

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Também vinda de Kiev, Iryna Marconi, fotógrafa de 45 anos, veio para Portugal depois da guerra. Nos últimos anos trabalhou no Teatro de Podil, em Kiev, como fotógrafa de cena e responsável pela imagem dos espetáculos. Quando a guerra começou, Iryna escreveu quase 300 cartas a diferentes locais na Europa para que a acolhessem e lhe pudessem dar uma oportunidade de trabalho. “Recebi muitos feedbacks positivos de Portugal. Quero ter aqui um trabalho, porque tenho o meu filho comigo e não posso ficar apenas à espera que me deem algum dinheiro para viver”, explica. Iryna vive atualmente em Coimbra e está a acompanhar e a desenvolver a cobertura fotográfica das atividades do projeto e também da programação do teatro.

Daria Yeremenko é bailarina e professora de dança e Iryna Marconi é fotógrafa de cena

RUI OLIVEIRA/OBSERVADOR

Ao lado, Margarita Didenko, de 21 anos, conta também como chegou a Portugal. Formada em Teatro, Cinema e Televisão pela Universidade de Kiev, Margarita fugiu de Brovary, perto da capital ucraniana, para Lviv. “Brovary não é a melhor cidade para se estar, porque o exército russo estava a cerca de 7/10 quilómetros de nós. Estavam muito perto. Tivemos de ficar pelo menos cinco dias na cave porque era muito perigoso estarmos no nosso apartamento e a qualquer momento o exército russo podia estar na nossa rua. Foi uma altura terrível. Depois, decidimos ir para Lviv de comboio e também foi uma viagem horrível. Chegamos a estar com mais 10 pessoas e dois gatos num local que era para apenas quatro pessoas”, recorda.

Inicialmente, Margarita foi ter com o namorado que estava no Egito, mas decidiu que teria de encontrar outro país para viver e trabalhar — “um local onde poderia encontrar alguma forma de continuar na arte e de trabalhar como atriz”. Os amigos recomendaram-lhe ir para o Porto e descobriu o projeto através de um grupo no Facebook. Agora, conta, vive com o namorado e com a família que os acolheu. “Gostava muito de continuar a trabalhar no campo da arte e por isso é muito importante para mim. Aqui temos muita liberdade e é ótimo”.

“Estás a trabalhar e, de repente, és obrigada a deixar tudo o que tinhas e apenas sair”

Também na área da representação, Victoria Mushtey, de 27 anos, veio para Portugal juntamente com o marido, videógrafo que também está inserido no projeto. Victoria trabalhou em diferentes teatros na Ucrânia, participou em filmes e séries televisivas e era professora de representação na Academia de Media Arts, em Kiev, chegando a ganhar o prémio Kyivska Pectoral para melhor atriz pela peça “Fight Club”, de Chuck Palahniuk. Quando a guerra começou, Vitoria e o marido estavam de férias em Portugal. E não voltaram à Ucrânia.

Margarita Didenko e Victoria Mushtey são atrizes

RUI OLIVEIRA/OBSERVADOR

“Percebemos que não seria possível regressar a casa e decidimos ficar por cá. Era o único sítio para onde poderíamos retirar também a nossa família”, explica, acrescentando que têm agora alguns familiares a viver na Guarda e em Lisboa, sendo que os pais quiseram regressar à Ucrânia. Os dois, Victoria e Mykyta, encontraram a oportunidade no Teatro Nacional São João através da internet.

“Foi uma grande oportunidade porque tinha mesmo saudades do palco. Viemos de Lisboa para cá e ver o teatro foi muito surpreendente, porque é um lugar incrível, com pessoas incríveis. Conhecemo-nos todas aqui. Não é uma situação fácil, mas no teatro conhecemos a nossa equipa num dia e temos de criar algo juntas. Sinto que temos muita sorte e encontramos uma ligação entre cada uma e agora temos muitas ideias diferentes”, explica Victoria.

Para a atriz, esta é também uma oportunidade de contar a sua história e experiência pessoal “através da arte, de uma fonte cultural”. Da mesma opinião é Daria Zhuravel, de 21 anos, que estava no seu último ano de estudos de Teatro, Cinema e Televisão na Universidade de Kiev quando a guerra começou. “Estava a viver num apartamento com os meus amigos. Eles são homens e, por isso, não puderam atravessar a fronteira e tiveram de ficar na Ucrânia. Decidi sair sozinha. Fui para uma cidade mais a oeste da fronteira, atravessei a fronteira à boleia de estranhos e depois cheguei a Varsóvia e Cracóvia. Fiquei lá por uma semana e decidi que tinha de continuar o caminho”, explica ao Observador.

A escolha de Portugal foi por oportunidade: Daria tinha decidido que a primeira pessoa que a acolhesse seria o local para onde iria. “Encontrei uma rapariga que é de Loulé e ela ajudou-me muito durante a viagem”, explica. A atriz soube do projeto através de amigos que tinha em comum com Margarita e confessa que foi “a maior felicidade” que lhe poderia ter acontecido. “É tão complicado: estás a trabalhar e, de repente, és obrigada a sair, a deixar tudo o que tinhas e apenas sair e ficar sem conseguires expressar o que queres. Quando se recebe uma oportunidade como esta ficas simplesmente feliz”, reforça.

Da representação para a música, Iryna Kudielina é pianista e já tinha uma ligação a Portugal depois de ter feito Erasmus na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE), no Porto, em 2019. “Esta não é a minha primeira guerra”, conta a artista, explicando que nasceu na região de Lugansk, uma das regiões separatistas pró-russas. Mudou-se, mais tarde, para Kharkiv, onde começou a viver sozinha e a estudar música.

“Trabalhava como professora numa academia de música, tinha vários concertos e competições, estava a pensar no meu futuro…tinha muito contacto com as pessoas e muitos amigos. Quando a guerra começou pensei em ficar em casa, mas depois percebi que tinha de sair e de seguir em frente, porque tenho família, tenho duas irmãs e quero dar-lhes oportunidade para terem uma vida melhor”, explica.

Daria Zhuravel é atriz e Iryna Kudielina é pianista

RUI OLIVEIRA/OBSERVADOR

Iryna Kudielina voltou aos contactos que fez no Porto e decidiu regressar a Portugal. O projeto do Teatro São João chegou-lhe aos ouvidos através das pessoas com quem faz voluntariado numa igreja. “É importante porque aqui podemos ser nós próprios e podemos colaborar com várias pessoas. Tentamos encontrar uma forma de trabalhar e até apenas de falarmos uns com outros. Temos espaço para criar. Posso vir aqui todas as manhãs para treinar e isso é muito importante para mim”, explica. Além de ir praticando as obras de compositores ucranianos que já lhe são familiares, Iryna tem também feito o esforço para conhecer mais música portuguesa.

Um projeto que é “como uma porta de emergência” para os artistas

O programa “Ucrânia – Palco livre” já atribuiu sete bolsas a artistas ucranianos, mas nos próximos dias este número vai aumentar para 11, avança Pedro Sobrado, presidente do conselho de administração do Teatro Nacional São João. “Este projeto é como uma porta de emergência que se abre a artistas e profissionais da cultura ucranianos, cujas vidas e perspetivas foram tão violentamente transtornadas pela guerra que está em curso”, explica ao Observador, sublinhando a importância do teatro como tendo “muitas portas abertas”.

Até ao momento, o TNSJ recebeu cerca de 50 contactos de artistas ucranianos. Podem ser selecionados para este projeto os artistas e profissionais da cultura que, no contexto da guerra na Ucrânia, se estejam a instalar em Portugal e que beneficiem do regime de proteção temporária atribuído pelo Estado português. “Não há um privilégio para artistas de teatro. Temos pessoas de várias áreas, desde o teatro à dança, música, fotografia, vídeo, etc. Não há um fechamento disciplinar no âmbito do teatro”, acrescenta o responsável.

As bolsas artísticas têm uma duração máxima de três meses

RUI OLIVEIRA/OBSERVADOR

Com a atribuição destas bolsas de criação artística (com a duração mínima de um mês e máxima de três meses, como é o caso destas seis artistas ucranianas) os profissionais envolvidos podem desenvolver projetos próprios no quadro da atividade do TNSJ ou integrar iniciativas que já estão programadas. É o caso da colaboração no “Ensaio Sobre a Cegueira”, a coprodução do Teatro Nacional São João com o Teatre Nacional de Catalunya, com encenação de Nuno Cardoso, que estreia no dia 10 de junho. Há também workshops de dança urbana destinados a crianças ucranianas, que têm início este sábado, e também recitais de piano.

O projeto promovido pelo TNSJ conta com um orçamento de 75 mil euros, sendo que um terço provém de entidades que se quiseram juntar ao projeto, desde empresas a uma fundação. Até ao final do ano, sublinha Pedro Sobrado, a expectativa é que sejam atribuídas, no mínimo, 20 bolsas a artistas ucranianos, estando também a ser desenvolvida uma apresentação de um projeto coletivo da atual equipa de bolseiros até ao verão. “O projeto é como um figurino que tem uma percentagem de elastano. Adapta-se, ajusta-se ao corpo de saber, de competências, de talento, dos artistas que venham a ocupar este palco livre”, sublinha.

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