Mesmo mais discreta, o que se compreende perfeitamente, a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio não deixou de ter os seus momentos curiosos, bonitos, mágicos — momentos, afinal, dignos de uma olimpíada, mesmo que esta se realize a meio de uma pandemia.
Recordamos aqui oito momentos ou motivos interessantes da cerimónia e que fazem dela algo muito mais rico do que o que possa ter parecido à primeira vista. Numa perspetiva mais trabalhada, há coisas que ficam na memória, sejam elas boas ou más.
Ora veja:
Grandes marcas com presenças discretas
A Toyota é um dos grandes patrocinadores da 32ª edição dos Jogos Olímpicos. Mas, ao contrário do que seria expectável, a construtora automóvel não teve uma presença publicitária destacada na cerimónia de abertura dos Jogos — em vez de apresentar um anúncio criado especificamente para o evento, a marca optou por campanhas já em curso no país. Tudo por causa da “elevada sensibilidade da Covid-19 no país”.
Mas não foi caso único. O CEO da Procter & Gamble (outro patrocinador de peso da competição desportiva) não marcou presença na cerimónia de abertura. Os responsáveis da Panasonic, outro patrocinador, também optou por não viajar até ao Estádio Olímpico de Tóquio.
Anéis olímpicos com história
Num dos momentos simbólicos da cerimónia de abertura, a coreografia fez-se junto a uma escultura do símbolo olímpico construída em madeira. Os anéis olímpicos que compunham essa peça, descreveu a conta oficial de Twitter dos Jogos de Tóquio, foram construídos com madeira de árvores especiais. As sementes dessas árvores foram transportadas para o Japão por atletas de vários países que participaram na última edição dos Jogos que ali tiveram lugar (foi há 57 anos, em 1964)
Tokyo 1964 ➡️ #Tokyo2020
The wood used to make the Olympic Rings comes from trees grown from seeds brought by international athletes the last time Tokyo hosted the Olympic Games. ????????#StrongerTogether #OpeningCeremony pic.twitter.com/DFeMAmF28Y
— Olympics (@Olympics) July 23, 2021
Comitivas em mínimos olímpicos (mas nem todas)
Sim, é culpa da pandemia. Ainda que países como o Japão (anfitrião) ou os Estados Unidos não se tenham mostrado muito contidos pelas precauções, a maior parte das comitivas chegou ao Estádio Olímpico em modo ultra-reduzido. Portugal, por exemplo, que levou para o Japão mais de 90 atletas, desfilou com uma comitiva liderada por Telma Monteiro e Nelson Évora e composta por outros 15 atletas. Outro exemplo: a Etiópia terá 34 atletas a participar na competição, mas apenas dois assumiram o protagonismo na cerimónia oficial.
Vídeojogos Olímpicos dão o mote
À primeira música, ainda duvidámos: podia ser só impressão nossa. Depois veio outra. E, ao terceiro tema, já não era possível ser engano. À medida que as comitivas nacionais em competição em Tóquio entravam no Estádio Olímpico, saíam do sistema de som as notas de conhecidos videojogos: a “Star Light Zone”, do “Sonic the Hedgehog”; a “eFootball Walk-on Theme”, do “Pro Evolution Soccer”; o tema principal do “Final Fantasy”, ou o “Hero’s Fanfare” do “Kingdom Hearts”.
Tudo normal. O mundo dos videojogos está umbilicalmente ligado ao Japão.
Sem público? Sim. Sem animação? Nunca
Mesmo sem público no estádio, os (poucos) atletas que representaram os seus países não deixaram de sorrir, saltar ou tirar a esperada e aclamada selfie (para guardar ou para as redes sociais). É verdade que foi uma animação controlada q.b., mas há ainda quem não resista a tudo o que os Jogos Olímpicos representam. Sem qualquer parcialidade, os portugueses foram dos mais divertidos, sorridentes e, acima de tudo, ou não fosse Nelson Évora um dos porta-estandarte, cheios de vontade de saltar. A “dança” com Telma Monteiro só não contagiou milhares de pessoas porque elas não estavam efetivamente lá.
Sem ser os portugueses, destaque para a “molhada” argentina, os primeiros a assobiarem um pouco para o lado as normas apertadas contra a Covid, ou ainda o já famoso e com o seu quê de lendário Pita Taufatofua. Quem é? Deve conhecê-lo como o atleta de Tonga que, nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016, apareceu de tronco nu e, no mínimo, um pouco “oleado”. Equipa que ganha não se mexe e, por isso, Pita voltou a mostrar todos os seus atributos de forma “brilhante”.
Os países entraram por ordem… bem, uma ordem
Portugal depois de Bolívia e Botswana, França lá para o fim e Islândia (“Aisurando”) logo nas primeiras entradas. Distraídos ou atentos, a ordem alfabética de entrada das delegações de cada país na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio foi, no mínimo, estranha. Isto porque, como foi fácil de verificar, os países não entraram pela forma a que estamos habituados.
Os japoneses escrevem de maneira diferente, claro está, e além de dois silabários que compreendem 46 caracteres, representantes das fonéticas da língua, existem ainda cerca de 2000 caracteres chineses. Estes, que são ensinados durante o terceiro ciclo e são essenciais para leitura básica de jornais e documentos oficiais. Assim sendo, a ordem começa com “a, i, u, e, o” e depois mantém-se a ordem das vogais e começam a juntar-se consoantes, com a primeira a ser o… “k”.
Acendeu a chama olímpica e alerta para a saúde mental
Naomi Osaka, tenista japonesa de 23 anos, foi a última figura que, de tocha na mão, acabou por acender a mítica chama olímpica, no Estádio Olímpico de Tóquio. Primeira nipónica a conquistar um torneio do Grand Slam, apenas com 20 anos, já venceu quatro dos maiores torneios do Mundo, o que a torna uma das principais candidatas às medalhas no torneio olímpico e, também, uma desportista muito, mas muito popular.
Com pai japonês e mãe do Haiti, emigrou para os EUA aos 3 anos, país onde ainda vive, mas escolheu representar o Japão nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Ainda jovem, não é apenas pela exímia habilidade desportiva que Naomi Osaka é conhecida. Questões como ativismo ou a importância da saúde mental fazem parte do leque de assuntos importantes para uma atleta que desistiu inclusivamente do mítico Roland Garros devido a uma pior fase a nível mental, estando sem jogar desde maio. Além de jogadora e ativista, tem até uma Barbie que a retrata e um documentário sobre si que saiu recentemente.
O mundo à luz dos drones
Aqui não há muito a escrever, sendo mais vantajoso ver com atenção a galeria que apresentamos abaixo. A razão é simples: mais de 1800 drones fizeram desenhos fora do estádio, inclusivamente do planeta terra. Um grande momento do qual resultaram imagens maravilhosas.