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Maria Gralheiro

Maria Gralheiro

As aventuras dos portugueses na ONU (para além de Guterres)

Escaparam a chuvas de balas, vivem com segurança 24h por dia, são "formiguinhas" que cumprem uma frase feita: trabalhar para que o mundo seja um sítio melhor. São os portugueses nas Nações Unidas.

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As portas do carro estão sempre trancadas quando Alexandra Valério sai de casa. Mesmo que as ruas de Kinshasa pareçam calmas, é um risco aventurar-se pela capital congolesa sem precauções. “Há muitas crianças que atacam quem passa, seja quem for”. Crianças órfãs, jovens abandonados que tomaram a cidade. Os mesmos que a gestora de projetos da ONU tenta resgatar de um futuro condenado: serem sequestrados por grupos armados, transformados em escravos sexuais, utilizados a bel-prazer pelos grupos armados. Se morrerem, morreram. As ruas são uma torneira aberta de mão-de-obra à disposição das milícias.

Em outubro de 2016, Portugal começou a olhar com mais atenção para o trabalho que se faz na ONU, quando António Guterres impôs a sua candidatura aos restantes candidatos a secretário-geral da organização. Mas, como Alexandra Valério, pelo menos uma centena de funcionários provenientes de Portugal anda há anos no terreno. Estas são algumas das suas histórias, umas feitas de aventuras, outras de desconforto, outras mesmo em que a vida esteve em risco.

Alexandra Valério. Nas cidades mortas do Congo

De tempos a tempos é anunciado um “ville mort” – cidade morta, traduzindo à letra do francês. Nesses dias, o mais avisado é nem sequer sair de casa. O deserto que se abate sobre grande parte da cidade contrasta com os ajuntamentos que se vão formando, aqui e ali. As crianças dão lugar aos manifestantes, a tensão sobe e são eles, por momentos, os novos senhores no comando de Kinshasa. Por vezes há confrontos violentos. Antes de fazer deslocações maiores — por exemplo quando viaja para a zona Leste do país — há uma pergunta obrigatória: é preciso levar os militares também?

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Alexandra Valério está há mais de dois anos em permanência no Congo. É uma portuguesa entre os 120 espalhados pelas agências e departamentos da ONU – esse é o número oficial da organização, mas o valor real deve ficar bem acima desse. Depois de um estágio na Unicef, em 2007, esta gestora de projetos saiu para trabalhar com organizações não governamentais no apoio a menores. Mas a instituição das Nações Unidas estava-lhe “no coração”, conta ao Observador, e regressou pouco tempo depois. “Aqui, vejo que o trabalho produz resultados”. A Unicef tem uma equipa de 500 pessoas a trabalhar em permanência no Congo, o “maior escritório do mundo” da organização.

Alexandra Valério está há dois anos no Congo, onde tem gerido programas da Unicef de apoio aos mais novos

Nos últimos tempos, a situação tem estado calma. Mas, em janeiro de 2015, num dos momentos mais quentes, Alexandra esteve três meses desligada do mundo. O Governo preparava-se para avançar com alterações à lei eleitoral (uma forma de prolongar o mandato do presidente Joseph Kabila por tempo indeterminado). A contestação subiu de tom e, para tirar força aos protestos de rua, o Governo cortou todo o acesso à internet.

A situação no país “é muito complexa”. O clima social é “imprevisível” e “estabilidade” ainda é uma palavra estranha no léxico congolês. Quando o mundo tem os olhos postos na crise humanitária na Síria, Alexandra lembra: “Os problemas “continuam a viver-se aqui”. Esteve na Libéria, deu apoio aos refugiados na Costa do Marfim e depois fixou-se no Congo. Ao rever esse percurso, esta portuguesa fala sobre os casos de crianças recrutadas por grupos armados, sobre as crianças de olhar perdido entre os milhares de refugiados que chegam da República Centro Africana, do Burundi, do Sudão, e aquelas que tentam resistir à falta de alimentos. “O Congo é dos países com pior mal nutrição crónica do mundo e com graves problemas de mal nutrição aguda”, sublinha.

O cenário já não a choca. “O ser humano adapta-se às circunstâncias”. Foi, aliás, consciente daquilo que ia encontrar no terreno que se lançou nas missões das Nações Unidas. Não chegou sequer a trabalhar em Portugal. Acabou o curso de Relações Internacionais e partiu para a Unicef.

Elisabete Vilar. Escapar à chuva de tiros e granadas

“As pessoas acham que trabalhar nas Nações Unidas é um grande glamour, com condições fantásticas”. Não é, garante Elisabete Vilar. E isso é mais evidente para quem está no terreno. “Não tenho sequer água canalizada na casa de banho do meu escritório”. Para ter água é preciso pegar num balde e acartá-lo para dentro. Em casa, não há internet. Net? Nem uma rede elétrica em condições existe. Uma descrição que, para esta gestora de programas da ONU, não esconde um dado óbvio: a população com a qual trabalha aspira a algo bastante mais básico que uma ficha para carregar o telemóvel.

Elisabete não trocava, porém, o “terreno” por qualquer sala fechada em Nova Iorque ou em Genebra. “Gosto de desafios e quis desafiar-me para um posto mais duro, um local onde tivesse de provar mais em competência e em resiliência”. Foi assim que chegou à República Centro-Africana e é por isso que hoje tem a seu cargo um programa de sensibilização da sociedade civil para o trabalho do tribunal penal especial no país. Num dia reúne-se com a associação de mulheres juristas, noutro dia com juízes: despertar a consciência para o respeito pelo direitos humanos é um trabalho demorado em certas zonas do globo.

Os funcionários da organização que chegam ao país alugam uma casa para viver. O espaço é protegido e são reforçadas as condições de segurança: sobem-se os muros, instalam-se vedações. Noutros países, como em Mogadíscio, na Somália, no Iraque ou no Afeganistão, por exemplo, essa questão nem se coloca. Quem para ali vai em missão só tem uma hipótese: ficar a viver no compound da organização, com a segurança dos militares 24 horas por dia, sete dias por semana.

No caso de Elisabete Vilar (que “herdou” a casa de outro funcionário), o reforço de segurança de pouco serviu. “O meu prédio foi pilhado duas vezes e até as torneiras levaram. Tudo o que estava no interior e exterior desapareceu”, descreve, ao recordar um dos episódios mais tensos que viveu no país e que a obrigou a refugiar-se num compound (uma zona protegida por militares, rodeada de um muro ou vedação) da ONU.

Elisabete Vilar esteve “refugiada” nas instalações da ONU na República Centro Africana, em 2015. No local, chegaram a cair granadas

O relato desses dias foi sendo feito no Facebook. “Algumas das pessoas que aqui estão vieram diretamente dos seus trabalhos no sábado e ficaram apenas com o que tinham nos bolsos. Outros, como eu, pudemos fazer um saquito com algumas coisas”, refere numa das publicações desses dias. Naquela zona protegida juntaram-se funcionários da ONU, elementos de outras organizações internacionais e pessoas em situação vulnerável. “Já somos umas quantas centenas de ‘refugiados’ e se durante a tarde pudemos estar num espaço a que chamam cantina, que é grande e agradável, agora tivemos de nos enfiar nuns contentores e deitar-nos no chão porque estão a chover tiros e granadas“, descrevia Elisabete Vilar.

Dessa vez, viveu uma situação limite. Sentia-se a tensão no ar, a linha era cada vez mais incerta: Será que isto se resolve a bem? Será que ninguém sai daqui com vida? No dia-a-dia, o cenário é diferente, menos dramático. Mas mesmo assim as regras de segurança são apertadas, para evitar o pior.

Para sair de casa, Elisabete tem de esperar pela recolha — “normalmente, está marcada para as 8h, mas tanto pode acontecer às 9h como pode ser logo às 7h30”, é sempre incerto. À noite, só regressa a casa quando o transporte faz a volta contrária. Há recolher obrigatório, não pode andar a pé, não pode apanhar um táxi para ir a qualquer lado (ir a uma discoteca, por exemplo, está liminarmente fora de questão) e, por vezes, “só de blindado” pode deslocar-se em Bangui e nos arredores da capital.

Chegou à ONU com 35 anos. “Decidi candidatar-me à bolsa de voluntários no dia do meu aniversário, foi uma espécie de resolução”, recorda. “Tinha sido jornalista, depois investigadora”, mas instalou-se a “frustração”. Queria investigar, mas precisava de ver resultados práticas, de contribuir para a mudança. “Pareceu-me que não teria de fazer um grande esforço para oferecer os meus valores a uma organização em cujos valores acreditava”.

Rui Flores. Conselheiro de políticos

Rui Flores conhece bem a realidade da Guiné-Bissau. Foi lá que viu a casa ser esvaziada por um grupo de assaltantes. Mas isso não foi demais, quando comparado com os três dias que passou trancado no compound das Nações Unidas, na República Centro Africana. Faltavam poucos dias do Natal de 2012 e os rebeldes começam a ganhar terreno sobre as tropas centro-africanas. Avançavam a bom ritmo em direção à capital. A regra de ouro da ONU — retirar toda a gente do local quando houver perigo a menos de 100 quilómetros — foi acionada a 26 de dezembro daquele ano.

Mas rapidamente se percebeu que a decisão tinha sido “precipitada”, recorda Rui Flores, ou seja, a evacuação tinha sido posta em prática cedo demais. Por isso, quando, cerca de dois meses mais tarde os rebeldes voltam a aproximar-se do coração da cidade, a ordem foi para aguentar firme. Não queriam cometer o mesmo erro duas vezes. “Nesse mês, os rebeldes passaram os 100 quilómetros, os 70, os 50, passaram os 30, os 17 quilómetros — até que foi tarde demais”. Já não havia tempo para retirar ninguém da cidade e o português acabou “refugiado” no compound. “Passámos três dias sem condições. Tínhamos previsto ter cento e poucos funcionários ali e tínhamos comida e água a contar com esse número”. Mas eram mais de 300. “Ao fim de algumas horas deixámos de ter agua potável“.

A comida também acabou rapidamente. A solução — a única hipótese — foi usar as sardinhas, o atum e o arroz trazidos por uma força militar internacional ali colocada (“uma coisa ridícula”) para preparar a refeição única do dia. A situação ficou mais complicada quando o rebeldes chegaram às portas do acampamento. Entre gritos, começaram a disparar para o ar e, por entre as centenas de pessoas que se acumulavam no jardim (não havia espaço para todos nas estruturas montadas), uma pessoa foi atingida por um bala perdida. “Deu para desenvolver o espírito de camaradagem”, relativiza.

"Naquele momento, uma pessoa questiona-se sobre o que faz ali, mas depois isso passa", admite Rui Flores, conselheiro da ONU para os assuntos políticos.

A marca dessa experiência ficou-lhe gravada na memória, mas a ideia de ir para a sede das Nações Unidas continua a não atraí-lo. “É um passo que tem de ser dado quando se quiser seguir uma carreira, porque quando se quer subir convém ter algum tempo nas sedes, mas eu sou um homem do terreno”.

Esteve “no terreno” em Timor, quando o país ensaiava os primeiros momentos de independência. Mari Alkatiri era primeiro-ministro e Rui Flores estava no país como assessor do chefe do Governo, em representação da cooperação portuguesa. Começou a ganhar interesse pelo trabalho das Nações Unidas e candidatou-se a alguns postos na organização. Mais tarde, acabou por replicar as funções que tinha em Timor noutras jovens democracias.

Esteve na Serra Leoa — “a experiência mais extraordinária que tive, provavelmente por ter sido a primeira” –, no Chade, na República Centro Africana, Guiné Bissau. Tornou-se próximos de governantes, de líderes da oposição. Era a voz da experiência a que os responsáveis políticos recorriam, nalguns casos. Noutros, procurou sensibilizar as mesmas “elites” políticas para os valores do Estado de direito. “Somos uma formiguinha. Com o meu trabalho posso contribuir para a estabilidade de um país e para melhorar um bocadinho a vida das outras pessoas”, diz ao Observador.

Cláudia Diaz e Nuno Crisóstomo. Resolver crises humanitárias a partir de Manhattan

“É preciso muito estômago para lidar com certas situações. Estamos a lidar com o que de pior acontece com as pessoas“. Cláudia Diaz já esteve dois dos lados da ONU. Durante doze anos trabalhou de perto com populações, chefes de polícia e hierarquias militares da Guatemala, do Nepal, do Sudão e da Venezuela. Chegou à sede das Nações Unidas há quatro anos. Hoje trabalha no gabinete de prevenção de genocídios.

Licenciou-se em Direito mas rapidamente percebeu que o vai-vem entre escritórios e tribunais não a interessava. Candidatou-se à bolsa de voluntariado da ONU e aterrou um Timor quando as Nações Unidas administravam o país. Por esses dias preparavam-se as eleições constituintes. O país tentava ganhar forças com o processo de independência e procurava ultrapassar o trauma os 250 mortos do massacre de Santa Cruz. “A pessoa tem de acreditar muito naquilo que está a fazer, são situações que exigem muito nível pessoal, muito absorventes, tem um impacto emocional muito grande“, conta ao Observador a partir da sede das Nações Unidas.

“Em Nova Iorque, o trabalho é muito institucional”, admite. A trabalhar agora no gabinete de Prevenção de Genocídios e da Responsabilidade para Proteger, o ambiente é muito diferente daquele que encontrou em África, na América do Sul e na Ásia. A principal preocupação de Cláudia Diaz passa neste momento por prevenir, antecipar as crises, para que “todo o sistema reaja e se consiga uma ação mais rápida para proteger os direitos das minorias”.

Cláudia antecipa problemas. Nuno Crisósto entra em ação quando a catástrofe acontece. Está há 16 anos e meio na ONU e atualmente é responsável pela coordenação de emergências. Entrou para o centro de coordenação de emergências da Unicef no final do mês de setembro de 2001. “As Nações Unidas deram conta de que guerra [no Afeganistão] ia começar”, como resposta ao ataques às torres gémeas, recorda ao Observador. “Desde esse momento, tenho estado envolvido em todas as crises: o furacão Katrina, o Rita, o desastre de Fukushima, a situação dos emigrantes”. Cada situação é diferente, mas “há sempre um impacto na criança, elas são sempre o elemento mais fraco”. Independentemente das crises, explica, as crianças somam 50% das vítimas.

É nessa parte da população que se concentra o trabalho da equipa de Nuno Crisóstomo. “Temos de proporcionar à criança uma vida normal nas condições mais extremas, porque elas nascem e têm de ser alimentadas, vacinadas e outras têm de ter condições para aprender”. Nutrição, saúde e segurança são os pilares da intervenção do centro de coordenação de emergências da Unicef.

No próximo verão, Nuno vai contrariar a ideia generalizada de que quem chega aos escritórios da ONU se habitua ao conforto e perde o tal gosto pelo terreno. Vai viajar até Kinshasa, onde está Alexandra Valério. O risco não o preocupa. “Isso existe em todo o lado, há que mitigar”. Também desdramatiza cenários pessimistas na análise ao contexto em que vai passar a trabalhar: as crianças nas ruas da capital do Congo, os manifestantes, os grupos armados.

Os perigos em Kinshasa, comparados com certas zonas de Nova Iorque e dos EUA, sobretudo no que toca à proliferação de armas, não deve ser muito diferente”, considera Nuno Crisóstomo.

Além disso, a experiência no terreno está longe de ser uma estreia. “Já trabalhei em mais de 70 países, mas quando atingi esse número deixei de contar”.

Nuno chegou à organização num dos momentos mais críticos da histórica norte-americana. “Estava a preparar-me para ir para o World Trade Center na manhã do 11 de setembro”, recorda. Tinha uma entrevista no Goldman Sachs, o banco de investimentos era uma das possibilidades de trabalho que tinha em perspetiva como analista. Deviam ser uma oito da manhã. Ao saber do primeiro embate, mudou de planos. Como não tinha televisão em casa, seguiu para a Universidade de Columbia. Estava ao telefone com a mãe quando o segundo avião choca com violência contra a torre sul do complexo de edifícios. “Quando ela me diz que há um segundo embate, percebo que aquilo não era nenhum acidente”.

A cidade entrou em isolamento. Os aeroportos foram fechados, os comboios só passavam numa direção, para fora da ilha. Havia água e luz, mas ao fim de poucos dias as prateleiras dos mini-mercados começaram a ficar vazias. No final dessa semana, as cinzas e o odor provocado pela destruição das torres – “um cheiro de cabos elétricos queimados” – mudaram de direção, rumo ao Upper West Side. Foi nessa altura que Nuno decidiu partir por uns dias com a família para o Connecticut. Voltaria ainda antes do final do mês. Não para ingressar no Goldman Sachas, mas para começar a trabalhar nas Nações Unidas.

Miguel de Serpa Soares. O senhor Direito das Nações Unidas

A entrevista foi feita pelo próprio secretário-geral das Nações Unidas. Foi assim que Miguel de Serpa Soares chegou à organização. Cláudia Diaz e Elisabete Vilar entraram como voluntárias. Inscreveram-se, foram chamadas para a primeira missão e, a partir daí, foram fazendo o seu percurso na organização. Alexandra Valério fez um estágio na Unicef, saiu e voltou às Nações Unidas porque era ali que encontrava sentido para o que queria fazer. Nuno Crisóstomo, Rui Flores e Miguel de Serpa Soares inscreveram-se num concurso. Mas só Serpa Soares teve direito a um encontro frente a frente com Ban Ki-moon ( pelo menos tão próximo quanto uma conversa por Skype permite).

Miguel era funcionário do ministério dos Negócios Estrangeiros, em Lisboa, quando surgiu a possibilidade de concorrer a um lugar nas Nações Unidas. “Hesitei em concorrer, parecia-me uma realidade muito distante, um objetivo muito difícil”, recorda. Animado pelos conselhos de colegas no ministério, decidiu arriscar.

A primeira entrevista foi “bastante dura”, mas passadas três semanas soube que a primeira barreira estava ultrapassada. Pormenor: Serpa Soares concorria para o lugar de sub-secretário-geral para os Assuntos Legais, o gabinete de onde saem os pareceres jurídicos sobre as grandes decisões que o Conselho de Segurança da ONU terá de tomar. Por isso, o segundo passo obrigava a uma conversa, via Skype, com Ban Ki-moon, o então secretário-geral da organização. “Estava de tal forma nervoso que me passou o nervosismo e fiquei totalmente zen”, recorda.

Miguel de Serpa Soares com um militar em missão pela ONU. O conselheiro para os Assuntos Legais também vai “ao terreno”.

A conversa com o secretário-geral correu bem. De tal forma que, na hora de escolher o seu conselheiro para os assuntos jurídicos, o sul coreano não teve dúvidas em apontar o nome do português. Isso foi em julho de 2013. Daí para cá, a equipa liderada por Miguel Soares foi chamada a dar o seu parecer sobre a anexação da Crimeia por parte da Rússia, debruçou-se sobre a destruição de um arsenal de armas químicas na Síria e o fim dos colonatos judeus na Cisjordânia, entre outros assuntos quentes da diplomacia internacional. “O meu trabalho passa por garantir que o secretário-geral, no momento de tomar uma decisão, disponha do máximo de informação possível“, explica Serpa Soares. Com uma ressalva: “Eu não vivo numa bolha, aqui”. As decisões são tomadas “em coletivo”.

Quando o Conselho de Segurança se reúne para discutir e tomar uma posição sobre os assuntos mais sensíveis da diplomacia mundial, é no gabinete de Serpa Soares que são traçadas as linhas vermelhas do direito internacional. “Mas não sinto este trabalho como peso nos ombros, é a pressão que me incentiva”, garante.

Mateus Kowalski. Diplomata e jurista

“De manhã, uma pessoa abre o jornal, vê as notícias e sabe que vai ter de debruçar-se, dar um pequeno contributo para melhorar a vida das pessoas”, diz Mateus Kowalski, outro português do gabinete jurídico das Nações Unidas, em Nova Iorque.

Esteve 11 anos no ministério dos Negócios Estrangeiros onde o trabalho muitas vezes o levava às Nações Unidas. “Sempre me identifiquei com os valores da paz, dos Direitos Humanos, do desenvolvimento das populações [mais carenciadas]”, refere o consultor jurídico da ONU. Há dois anos que trocou a diplomacia de Lisboa pela de Nova Iorque. Participou na negociação de acordos e na resolução de conflitos entre Estados, dando apoio aos vários órgãos das Nações Unidas (da Assembleia-geral ao Conselho de Segurança).

De casos concretos não fala — não pode fazê-lo dada a sensibilidade de dossiês que passam pelo gabinete. Mas admite que as opiniões jurídicas emitidas pela sua equipa “são aceites e respeitadas” pelos diferentes órgãos de gestão. “Os Estados-membros preferem não ir contra as posições jurídicas do secretariado”, refere. “A pressão existe“, mas para Mateus Kowalski ela é incontornável. “E é algo de que gosto, porque também significa responsabilidade”.

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