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Heritage Images/Getty Images

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As glórias, os heróis e o declínio: o que foi o Império Otomano, que caiu há 100 anos

De um pequeno sultanato a um dos maiores impérios de sempre, foi uma força com um poder raramente visto na história, mas como surgiu de forma imponente, também desapareceu em grande.

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Estamos habituados a situar no primeiro milénio a presença árabe na Europa. Todos sabemos que o Reino de Granada persistiu até ao fim do século XV, mas a presença árabe seria mais ou menos decrescente até ao fim do Reino de Granada.

Acontece que, embora de origem diferente, o segundo milénio trouxe uma força muçulmana poderosíssima para a Europa. O Império Otomano chega às bocas do mundo quando conquista Constantinopla e quando, não fosse a derrota em Lepanto, uma segunda expansão Islâmica parecia imparável.

No entanto, a História do Império Otomano vai muito para lá destas refregas famosas. Durante largos séculos os interesses europeus encontram nos Otomanos aliados importantes ou perigosos adversários, prontos a aproveitarem-se das necessidades dos monarcas Europeus para aumentarem o seu poder. Barbarossa aproveitou as guerras religiosas do século XVI para conquistar o domínio do mediterrâneo, Soleimão conseguiu aproveitar as lutas internas no Sacro Império para conquistar boa parte da Hungria e os interesses europeus no Leste europeu ainda representaram um papel importante na Primeira Grande Guerra.

O princípio – Guerra contra Constantinopla

A História do Império Otomano começa num desses pequenos sultanatos da Anatólia, entretidos durante séculos nos precários equilíbrios de poder do Oriente. Os sultanatos do sudeste europeu, embora pequenos, tinham um treino militar invulgar. Além da herança berbere que qualquer sultanato gostava de exaltar, a verdade é que a Anatólia era um território complexo, em que além das disputas entre os sultanatos, eram também importantes o patronato não assumido de Constantinopla e a sempre ameaçadora cultura persa. Os sultões vivem numa paz precária com o Império Romano do Oriente, cuja religião o torna um inimigo natural, e a cultura persa, cuja proximidade torna natural a assimilação dos pequenos sultanatos. São, assim, naturais as disputas motivadas por tributos e impostos, pedidos de fidelidade e tudo o que leva os sultões a resistirem aos seus inimigos mais poderosos, ou a procurar exercer domínio sobre os mais fracos, para poderem cobrar aos seus vassalos os tributos que terão de pagar aos senhores.

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O sultão Maomé II

A juntar a isto, os sultões otomanos têm de viver também com um olho no Ocidente, de onde pode sempre surgir um ímpeto cruzadístico que ataque os sultanatos muçulmanos.

Ora, neste contexto, qualquer sinal de fraqueza é bodo para conquistadores: qualquer território, neste precário equilíbrio, é apetecível e uma força dissuasora dos ataques inimigos. É por isso que quando o jovem Maomé II se torna sultão, tudo se parece encaminhar para que o seu sultanato seja minado por problemas de todos os lados. Anos antes da parte do seu pai, Murad II, já Maomé II se tinha envolvido numa guerra com a corte do pai, que o tornara malquisto de boa parte da nobreza otomana; Constantino XI, pressentindo talvez a fraqueza, construiu uma fortaleza perto do território de Maomé; este, porém, talvez para demonstrar a sua férrea chefia, talvez para obedecer ao seu ímpeto lutador, não ripostou da maneira esperada.

Constantinopla já tinha resistido a 23 invasões. Maomé II nem tinha sequer o seu exército consolidado, de tal maneira que a decisão de invadir a muito maior e mais poderosa Constantinopla parecia no mínimo imprudente. No entanto, havia alguns fatores do seu lado. As terras muçulmanas da Anatólia tinham acabado de rechaçar uma mal-preparada cruzada húngara, o que tornava um dos aliados potenciais de Constantinopla relutantes em reagir; a Invasão dá-se também num momento de especial alacridade religiosa entre Roma e Constantinopla, que levará o Paleólogo a protelar o mais possível o pedido de ajuda aos Cristãos do Ocidente. Assim, o grande drama Muçulmano – o facto de atacar Constantinopla significar, quase sempre, um cerco das suas tropas, entaladas entre as fortalezas do Imperador Romano do Oriente e as embarcações Venezianas ou Austríacas – poderia finalmente ser contornado.

A História e a geografia Europeias explicam as vitórias de Maomé II; o Leste Europeu está à mercê de ataques de toda a Europa, que dos Alpes aos Urais são praticamente uma enorme planície desprotegida.

Maomé II conseguiu unir à sua volta os sultanatos sempre dispostos a enfraquecer Constantinopla; os êxitos da sua empresa também estavam a unir a sua corte de uma maneira que a idade e o passado belicoso pareciam não ajudar; o que ninguém esperava, porém, é que Constantinopla soçobrasse mesmo às mãos de Maomé II. A notícia caiu na Europa com estrondo. Maomé II declarou-se Imperador de Roma e a Europa de facto temeu uma reconquista árabe capaz de destruir a Civilização Ocidental.

Os sucessores de Maomé II conquistaram rapidamente os protetorados de Constantinopla e as suas terras no Leste Europeu, e não pareciam com vontade de parar. A História e a geografia Europeias explicam-no; o Leste Europeu está à mercê de ataques de toda a Europa, que dos Alpes aos Urais são praticamente uma enorme planície desprotegida. Os sultanatos, habituados às Invasões europeias, sabiam que quem dominava o Leste Europeu precisava de dominar pelo menos a Áustria para conseguir paz.

Solimão, Barbarossa e Lepanto – A Idade de Ouro

É este tempo, em que o Império tenta consolidar o seu poder no Leste, que se torna a Idade de Ouro Otomana. Solimão, um Imperador sofisticado e tolerante, consegue tomar Belgrado e a Hungria, tornando-se uma força poderosa na Europa. Mais do que franceses ou Luteranos, é Solimão o grande inimigo de Carlos V, que por duas vezes reconquista a Hungria, mas que também vê os seus exércitos derrotados por Solimão no centro dos seus territórios.

Solimão, além do mais, através de um hábil controlo de corsários, torna o Império uma importantíssima força marítima. Além de rivalizar com os portugueses no comércio da ìndia, onde controla a rota terrestre, Solimão arma o lendário pirata Barbarossa, capaz de enfraquecer o controlo veneziano do mediterrâneo e de dificultar todo o comércio Europeu neste importante mar. Barbarossa torna-se tão importante que chega a proclamar-se Sultão e a conquistar para si próprio uma série de territórios mediterrânicos. Para se ver a importância daquele que tinha sido apenas um corsário Otomano, Carlos V, enfraquecido pelas conquistas de Barbarossa, não consegue recuperar os seus territórios, coisa que só o Império Otomano conseguiu fazer.

O pirata Barbarossa, por Pietro della Vecchia

A força do Império espalhava-se, já não apenas territorialmente, mas, como mostra Barbarossa, em todo o tipo de influências. A verdade é que os Europeus precisavam de navegadores Otomanos para se orientarem no Oriente (embora Afonso de Albuquerque, percebendo isto, tenha feito o possível para vedar os mares Orientais aos Otomanos, de maneira a consolidar a importância portuguesa nas Índias), precisavam do seu comércio e, numa Europa dividida pelos novos equilíbrios comerciais e pelas guerras religiosas, o Império Otomano é uma força unida que se aproveita habilidosamente de todas as cisões. A tolerância religiosa de um Império habituado a equilibrar necessidades de Otomanos e Cristãos Ortodoxos torna o território apetecível para os dissidentes europeus, as disputas comerciais lucram com a mediação Otomana e os senhores da Guerra não se importante de se servir de um aliado que parece imparcial, mas que vai aproveitando para ganhar influência na Europa, de tal maneira que, quando a Europa se dá conta, o Império cresceu a ponto de se julgar capaz de dominar a Europa.

É nesse contexto que se dá a famosa batalha de Lepanto. A importância religiosa da Batalha é conhecida; mas além disso ela representa a verdadeira tomada de consciência Europeia do perigo que o Império Otomano representava. A grande Aliança entre Carlos V, Veneza, o ducado de Urbino e os Estados pontifícios consegue travar o poderoso Império e, com isso, a expansão dos Otomanos para Ocidente; mas mais do que a expansão territorial, Lepanto significou o fim do jogo perigoso de alianças capaz de fortalecer um inimigo da Europa.

A grande aliança seguinte, aliás, foi responsável pelo fim do Império.

Declínio – Da Ascensão da Rússia a Ataturk

Durante três séculos, a História do Império Otomano parece desenrolar-se de uma forma quase marginal em relação ao Ocidente. Há, obviamente, os contactos entre vizinhos; no entanto, tudo parece concorrer para confinar o Império Otomano ao leste Europeu e ao próximo Oriente. As vitórias portuguesas nos mares da Índia diminuem o poder comercial otomano; a estabilização dos habsburgos também fortalece o inimigo tradicional do Império; além disso, o ressurgir da potência militar da Rússia traz um novo inimigo poderoso ao Império. A importância do Império entre os séculos XVII e XVIII é incomparavelmente inferior à pujança de outrora. Perdido em guerras menores com a Rússia pelo domínio dos territórios balcânicos (embora, do ponto de vista da História diplomática, as guerras da Crimeia sejam importantes), o Império entra no século XX na iminência de perder os seus territórios Europeus e de se ver, assim, mais uma vez na difícil posição do seu início. Entalado entre continentes, um Estado pequeno e fraco estava sujeito à ocupação.

O golpe de misericórdia é dado pela revolução turca, onde um herói de Gallipoli, o famoso Ataturk, chefia os nacionalistas numa guerra que mereceria, por si só, outra História.

É assim que, no início do século XX, o Império entra na Grande Guerra ao lado dos seus tradicionais inimigos, para proteger os seus territórios balcânicos. Com a Europa Ocidental disposta a defender a independência das jovens nações, é o Sacro Império que se dispõe a defender a estrutura Imperial. O Império, já ameaçado pelas revoluções internas que tinham levado ao estabelecimento de regimes constitucionais, não consegue resistir à derrota na Guerra. Sobretudo, não consegue resistir ao imbróglio de Gallipoli, onde uma série de nacionalistas venceram as tropas Aliadas, legitimando assim a sua posição. É nesta altura que o Império se começa a desintegrar, com carnificinas como o genocídio arménio pelo meio. O golpe de misericórdia é dado pela revolução turca, onde um herói de Gallipoli, o famoso Ataturk, chefia os nacionalistas numa guerra que mereceria, por si só, outra História.

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