785kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

i

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

"Até uma próxima". Ana Gomes fez a sua parte, Costa é que não. Voltará?

Ana Gomes assume falhanço mas não a culpa. António Costa foi o "principal responsável" pela deserção do PS. BE e PCP não ajudaram. Daqui a 5 anos há mais? "Até uma próxima".

Foram três horas fechada num quarto no 15º andar do hotel a ver André Ventura à sua frente na contagem dos votos. Foi preciso esperar pelo final da noite para dar a volta. A partir daí “já não muda”. O silêncio reinava na sala do Hotel Myriad, em Lisboa, onde o palco tinha sido montado para Ana Gomes discursar. Foi preciso esperar pelo fim da noite. Subiu ao palco, assumiu o “falhanço” mas não a culpa, e deixou a porta aberta para voltar. “Está tudo? Então obrigada e…até uma próxima”.

Era uma “missão de serviço público” e Ana Gomes, que está a atravessar um momento  de “insuportável adversidade pessoal”, orgulha-se de dizer que não faltou à chamada. Fez a sua parte num combate que é pela “democracia”, mas assume que não foi suficiente. Com apenas 13% dos votos,  ficou à frente de André Ventura, taco a taco, mas a esquerda foi esmagada e quem ganhou foi a direita democrática. A culpa, Ana Gomes não tem dúvidas de quem é: de António Costa, à cabeça, e do PS que desertou. Quanto a si, não sabe se estará “viva” daqui a 5 anos, mas garante que não se vai reformar.

Nunca em duas semanas de campanha o alvo tinha sido tão claro: “António Costa, obviamente, foi o principal responsável por esta deserção do PS”, diria em resposta aos jornalistas, revelando no final que António Costa não lhe tinha telefonado a felicitar pelo segundo lugar, já que o único “dirigente político” com quem falou ao telefonem nessa noite tinha sido Marcelo Rebelo de Sousa, o vencedor da noite.

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

“Lamento profundamente a não comparência a estas eleições por parte do meu partido, o PS, que assim contribuiu para dar vitória ao centro-direita.”

Esta é uma frase que Ana Gomes já tinha dito na declaração inicial, onde recorreu ao facto de estar ao lado de Isabel Soares, filha de Mário Soares, para pedir aos militantes socialistas que ajudassem a direção do PS a pôr a mão na consciência por ter apostado na diluição de fronteiras entre a esquerda e a direita. Que é como quem diz, por terem apoiado o candidato da direita, deixado o socialismo a descoberto.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Essa diluição de fronteiras “não serve a democracia”, disse Ana Gomes, que se mostrou preocupada pela ascensão daqueles que “querem destruir a democracia” e que “tantos votos tiraram ao PSD e ao CDS”. A referência era a André Ventura que ficou pouco mais de 1 ponto percentual abaixo de Ana Gomes e que, no seu entender, foi buscar muitos votos ao eleitorado dos dois partidos da direita democrática. Um erro, portanto. Que seria tanto maior se a sua candidatura não tivesse entrado em cena.

Se eu não tivesse estado nesta disputa estaríamos hoje a lamentar ainda mais a progressão da extrema-direita”, disse no discurso de final de noite, já depois das 23h, ao lado de Paulo Pedroso, Isabel Soares, Ricardo Sá Fernandes, Rui Tavares, do Livre, e André Silva e Inês Sousa Real, do PAN.

Ana Gomes fez a campanha quase sem PS na estrada. Aqui ou ali foram aparecendo alguns autarcas, dois ou três deputados, e históricos como Manuel Alegre, João Cravinho ou Francisco Assis. Pedro Nuno Santos e Duarte Cordeiro apareceram no fim, mas não no terreno. Na sala do hotel Myriad onde decorreu a noite eleitoral, foi igual. Mais PAN e Livre do que PS, pouco ou nenhum Governo, nenhum membro da direção socialistas.

A candidata esteve toda a noite no 15º andar do hotel Myriad, com o núcleo mais próximo, enquanto alguns apoiantes se iam distribuindo por uma sala lateral. Na sala onde estavam os jornalistas, reinou o silêncio. Nem ecrãs de televisão, nem nada. A noite foi de tensão, e foi preciso chegar às últimas freguesias contadas para Ana Gomes dar o salto face a André Ventura, que esteve quase três horas em segundo lugar. No final, Ana Gomes subiu ao palco para admitir o falhanço por não ter chegado mais longe — e ter ido à segunda volta — mas não a culpa.

BE e PCP “preocuparam-se mais com as duas próprias agendas”

As contas são de Ana Gomes, que sempre foi apologista da geringonça 1 e da geringonça 2.0: se há um ano e pouco os partidos da esquerda somaram cerca de “dois terços dos votos” nas legislativas, agora ficaram muito aquém, com apenas cerca de 20%. Problema: esquerda dispersou quando devia ter unido.

Os partidos à esquerda preocuparam-se com as suas próprias agendas em vez de convergir e assim concorreram para dar vitória ao candidato da direita. Não estivesse no terreno a minha candidatura e acabavam a fazer o jogo  da extrema-direita, permitindo elevá-la à condição de alternativa”, disse.

Ou seja, depois de Costa, a culpa é também do Bloco de Esquerda e do PCP, que não quiseram convergir em torno da sua candidatura — que era “a mais bem colocada para lograr essa convergência”. “Eu estive sempre disponível, não houve interesse, e os resultados estão aí à vista”. Os recados estavam dados.

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

E o futuro?

O futuro ninguém sabe — nem a candidata sabe se está “viva” daqui a 5 anos, mas não fecha a porta à possibilidade de uma eventual recandidatura, sobretudo se daqui a cinco anos a direção do PS for outra, e o líder do PS for outro. Pedro Nuno Santos, de resto, sai desta campanha com um apoio em carteira, depois de Ana Gomes ter admitido que iria encorajá-lo a avançar para a liderança do partido quando ou se a questão se colocar. Mas uma coisa é certa: Ana Gomes não descarta novos voos, até porque reformar-se da política é coisa que não tenciona fazer.

“Eu sei lá se ainda estou viva daqui a 5 anos. Eu sou reformada da vida profissional mas nunca me reformarei da política porque acho que é um dever de cidadania, e portanto, estou aqui para continuar a intervir na vida cívica portuguesa, porque acho que mais do que nunca todos os cidadãos têm de intervir”, disse, já depois de ter sublinhado que disse foi a jogo com esta candidatura porque não se “resigna” — “nem se resignará” — que “a democracia fique à mercê de forças anti-democráticas que cavalgam o ressentimento dos cidadãos”. Portanto, se o PS faltou, ela não faltou. E, no futuro, se for preciso dizer ‘presente’ outra vez, ninguém diz que não o dirá.

Está tudo? Então obrigada, e… até uma próxima!“.

O riso que se seguiu foi esclarecedor.

Assine o Observador a partir de 0,18€/ dia

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Vivemos tempos interessantes e importantes

Se 1% dos nossos leitores assinasse o Observador, conseguiríamos aumentar ainda mais o nosso investimento no escrutínio dos poderes públicos e na capacidade de explicarmos todas as crises – as nacionais e as internacionais. Hoje como nunca é essencial apoiar o jornalismo independente para estar bem informado. Torne-se assinante a partir de 0,18€/ dia.

Ver planos