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O secretário-geral do Partido Socialista (PS), António Costa (D), acompanhado por Augusto Santos Silva (E), à chegada para o comício da 'rentrée' política do partido, que antecipa as Jornadas Parlamentares do PS, em Leiria, 11 de setembro de 2022. O grupo parlamentar do Partido Socialista reinicia os trabalhos da sessão legislativa com jornadas parlamentares, dedicadas ao tema “Crescimento e Coesão: Um país com oportunidades para todos”. PAULO CUNHA/LUSA
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Augusto Santos Silva tem sido o nome mais falado para avançar do lado socialista e nunca descartou uma possível candidatura

PAULO CUNHA/LUSA

Augusto Santos Silva tem sido o nome mais falado para avançar do lado socialista e nunca descartou uma possível candidatura

PAULO CUNHA/LUSA

Avanço de Marques Mendes não acelera PS. Socialistas fazem fé em divisão da direita

Movimento de Marques Mendes em direção a Belém é desvalorizado por socialistas. Partido está fora de Belém há 20 anos, mas acredita que PSD pode ter pela primeira vez um problema bem conhecido do PS.

No PS não há dúvidas de que Luís Marques Mendes deu o pontapé de saída, de forma calculada, para as presidenciais de 2026, marcando lugar na linha de partida.  O “se um dia achar que posso ser útil ao país tomarei essa decisãodeixado em antena pelo comentador da SIC no último domingo é, para já, a frase da rentrée política — mas não sobressalta os socialistas, que olham para a declaração como um problema da direita e não mostram pressas em clarificar nomes do seu lado. A estratégia do PS para essa corrida eleitoral é nula, com o partido a apontar a uma divisão da direita e com esperança de que isso a nivele com a incapacidade socialista de ter um candidato presidencial óbvio — que já dura há anos.

António Guterres, António Vitorino, António Costa ou mesmo José Sócrates. Qualquer um destes nomes foi, a dado momento da história do PS, colocado como uma hipótese incontornável em eleições presidenciais. Mas o futuro não trouxe (nem parece trazer) nenhum deles, pelas mais diversas razões, e isso volta a deixar o partido descalço para presidenciais e longe de poder vir a influenciar Belém, num jejum que arrisca chegar a 30 anos.

Ainda assim, os socialista contactados pelo Observador consideram ser “muito cedo” para falar em presidenciais e há mesmo quem antecipe que “seria um suicídio” ter um nome agora. “Há que dar tempo ao tempo”, comenta este mesmo socialista, que atira qualquer decisão sobre o assunto para o final do próximo ano, “a seguir às Europeias”. Um dirigente do partido acredita que não existirão “desenvolvimentos mais sólidos antes de 2025″.

A única coisa que parece mais certa no PS é que, desta vez, “tem de se empenhar na eleição de uma figura da esquerda democrática”. “Isso é o mais importante”, resume um socialista. Aliás, isso mesmo foi dito por Augusto Santos Silva (o nome de que se fala no PS para essa corrida), em entrevista à CNN em outubro do ano passado: “Acho que é responsabilidade de todos, incluindo de mim próprio, que a grande área política do centro-esquerda e dos milhões de portugueses que nela se reconhecem, esteja unida na próxima eleição presidencial. Foi, infelizmente, uma coisa que não sucedeu nem em 2006, nem em 2011, nem em 2016 e mesmo em 2021″.

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Direita e esquerda com o mesmo problema?

Pelo caminho e com as cartas do PSD a começarem a vir a jogo, o PS vai apontando a eventual desgraça alheia: “O interessante é que pela primeira vez os dois [PS e PSD] estão com o mesmo problema”: não têm candidato óbvio, aponta um dirigente do partido que acredita que isso “deixa em aberto a vitória de qualquer dos campos e não exige grande antecipação” de estratégia e de candidatos.

Além de Marques Mendes, no centro direita surgem outros nomes possíveis, como o de Pedro Passos Coelhos, Paulo Portas ou Pedro Santana Lopes. Entre os socialistas, isso é visto como um potencial problema para a direita, não muito diferente daquele que o PS tem vivido.

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“O cenário de quatro candidatos a disputarem o mesmo espaço é muito mais tenso do que será à esquerda” nas presidenciais, antecipa outro socialista em conversa com o Observador. E argumenta-se mesmo com o que aconteceu com o próprio partido nas últimas eleições presidenciais, em que se abria um novo ciclo em Belém (depois dos dez anos de Sampaio e dos dez anos de Cavaco) e em que acabaram por surgir dois candidatos da sua área em disputa: em 2006, Mário Soares e Manuel Alegre; em 2016, Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém. E o resultado foi sempre mau para o partido.

Agora, os socialistas acreditam que isso pode acontecer à direita. “É a primeira vez que não há nenhum candidato óbvio” à direita, aponta um dirigente: “Em 2006 (e 2011) o PSD tinha Cavaco e tinha Marcelo em 2016. Agora não têm ninguém óbvio”, analisa, concluindo: “A direita tem um problema tão grande como a esquerda para a Presidência”. No caso do PS, lembra, essa mesma realidade foi fatal: “Depois de ficarmos com Guterres de fora, ficámos 10 anos condenados, sem Presidente de esquerda.”

Jorge Sampaio e Mário Soares foram os dois últimos presidentes do PS.

ANDRÉ KOSTERS/LUSA

Em 1986 e 1991, o candidato presidencial óbvio para o PS era Soares e mais tarde, em 1996 e 2001, Sampaio também acabou por ser. Um dirigente assume que o partido teve “grandes dificuldades em lidar com o tema desde a saída do Jorge Sampaio”, que, lembra, já não não tinha sido uma candidatura totalmente pacífica dentro do PS, tendo deixado o próprio líder de então, António Guterres, “absolutamente à rasca”, nas palavras do antigo Presidente. Na perspetiva de outro socialista mais preocupado com a falta de alternativas evidentes na área socialista, “a última vez que o PS se mobilizou verdadeiramente para uma candidatura presidencial  foi em 1986”. “A própria eleição de Jorge Sampaio decorreu de uma mudança no panorama político”, lembra.

Enquanto líder do partido, António Costa nunca entrou nesta frente eleitoral, com o partido a nunca ter declarado apoio oficial a um candidato nas duas presidenciais que decorreram na sua era como líder: em 2016 dividiu apoios entre os dois da sua área, Nóvoa e Belém; e em 2021 não apoiou Ana Gomes. “As candidaturas pressupõem uma vontade individual”, alega um socialista para defender a estratégia partidária mais ausente em presidenciais. Isso em contraponto com o PSD, onde vê “candidaturas sempre mais alinhadas com a frente político-partidária do que tem acontecido no PS, onde as candidaturas têm sido mais inorgânicas”.

Marques Mendes, “o comentador de domingo”

De resto, as primeiras reações socialistas ao avanço de Luís Marques Mendes mostram uma tentativa de desvalorizar a sua capacidade eleitoral. O ex-líder do PSD é colocado como um candidato secundário na direita. “Quer marcar o campeonato dos segundos”, diz um socialista que colocaria na primeira linha Pedro Passos Coelho. Um dirigente refere-se a Mendes como “um comentador de domingo”, em comparação com outro nome que tem feito caminho no PS (ainda que de forma pouco convincente), o de Augusto Santos Silva. “É o presidente da Assembleia da República e esse (qualquer que seja) é por natureza um potencial candidato. Mais óbvio do que um comentador de domingo“, argumenta, considerando que Mendes “não é visto como tendo estrutura para ser Presidente”.

PS evita precipitações nas presidenciais e calcula riscos de Santos Silva

O mesmo dirigente considera, ainda assim, que os candidatos à Presidência da República que se têm sido perfilados “não são fortes”, pelo que uma vitória em 2026 “depende mais da conjuntura”, acredita. Tal como Observador escreveu em dezembro passado, no PS são muitas as contas feitas ao panorama político de 2026, ano em que também se disputarão (se tudo correr como dita o calendário normal) legislativas. Uma das possibilidades é que, nessa altura, possa estar em cima da mesa a hipótese de um Governo do PSD com o Chega e que isso jogue a favor de uma candidatura presidencial de esquerda, como contrapeso — o papão-Chega é visto no partido como um trunfo eleitoral forte que já valeu a conquista da maioria absoluta.

Aqui, convém lembrar o papel de Santos Silva na oposição ao Chega — uma linha que tem vincado no exercício do seu mandato como presidente da Assembleia da República — e também como ele acabou de ser reduzido mal Marques Mendes deu o pontapé de saída neste domingo. Afinal, André Ventura saltou logo numa reação em que coloca os dois no mesmo saco, prometendo: “Os eleitores à direita terão de escolher se preferem ter o candidato do Chega ou Luís Marques Mendes (…) A nossa batalha é à direita, e queremos ter uma candidatura que impeça que Luís Marques Mendes chegue à segunda volta e que impeça que Marques Mendes ou Santos Silva possam ser Presidentes da República.”

“Claro sinal de marcação política”

Já da parte do PS, o avanço de Marques Mendes não mereceu qualquer registo público e não houve dirigentes a mostrarem disponibilidade para comentar as declarações de domingo que antecipam o calendário que o próprio ex-líder do PSD tinha definido para as presidenciais numa entrevista ao Expresso em março passado: “Talvez daqui a um ano e meio juntarmo-nos aqui para um debate sobre essa matéria”.

Em conversas com o Observador, alguns socialistas vão dizendo que esta “ambição de Marques Mendes é o segredo mais mal guardado da política nacional” e que “é irrelevante” para o que o PS vier a fazer nesta matéria. “Para o próprio é relevante porque sinaliza e é incluído nas notícias que se façam sobre isso.” Um dirigente do partido admite que “é claramente um sinal de marcação política, mas entre os potenciais candidatos à direita”, e que “não interfere” nos planos do PS. “O PS não está com a cabeça aí e não é esta declaração de Marques Mendes que muda isso porque toda a gente percebe que se trata de simples disputa do espaço à direita”, argumenta.

Mas no partido é clara a falta de paz com um candidato com o perfil de Augusto Santos Silva e a cada nova sondagem multiplicam-se as dúvidas sobre se o seu nome será a melhor opção para a tal candidatura agregadora da esquerda democrática que os socialistas parecem já ter consensualizado como necessária para recuperarem Belém. Nas últimas semanas, um jantar promovido pelo ex-ministro das Finanças e atual governador do Banco de Portugal, noticiado pelo Expresso, fez rodar cabeças na direção de Mário Centeno.

António Guterres lidera sondagem para eleições presidenciais, Costa em segundo lugar

Um dos participantes nesse encontro, que juntou mais de cem pessoas, garante ao Observador não ter visto “nenhum significado político”. O socialista Ascenso Simões tinha escrito em junho um artigo de opinião no Expresso onde apontava Centeno às presidenciais de 2026. O próprio ex-ministro não tem resistido a manter um pé no palco político, seja pelos contactos que vai promovendo, seja pelos artigos de opinião que escreve, como este, publicado no jornal Público em junho passado, onde promove os seus feitos políticos.

No PS, a ambição política de Centeno sempre foi colocada no plano mais internacional, no entanto é reconhecido que tem um perfil “interessante”, como admite um dirigente. “Tem capital político” e “prestígio internacional”, descreve, por outro lado, um socialista que não tem dúvidas em declará-lo “melhor do que Santos Silva” como candidato presidencial. A discussão ainda parece ir no adro para o PS, onde nem todos estão convencidos — “não parece ter perfil para Presidente da República”, ouve o Observador de um socialista –, mas onde é claro que o nome mais falado para Belém até agora está longe de sossegar os espíritos.

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