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A contratação de Nuno Mendes no último dia de mercado, com uma solução já antes utilizada com clubes portugueses (neste caso Danilo e o FC Porto) de cedência por empréstimo com opção de compra que pode chegar a um total de 47 milhões de euros, confirmou que o PSG está nesta altura num patamar à parte de todos os outros a nível de contratações, formando um autêntico plantel de luxo entre chegadas a “custo zero” – com milhões de aspas, entenda-se – como Messi, Wijnaldum, Sergio Ramos ou Donnarumma ou aquela que foi a compra mais dispendiosa do lateral Hakimi. É quase um outro mundo dentro do mesmo mundo do futebol, um mundo de tal forma grande que se permitiu recusar 200 milhões por um jogador que daqui a um ano pode sair de borla. Mas como foi o mercado de nove dos 12 da Superliga Europeia?

Último dia de mercado. Nuno Mendes cedido ao PSG com cláusula de 40 milhões e Sarabia certo no Sporting. Real garante Camavinga mas fica sem Mbappé

Em resumo, um reflexo do que era essa ideia e da necessidade que os últimos três resistentes tinham de gerar receitas a breve prazo. Tanto que, entre Real Madrid, Barcelona e Juventus, foi bem mais o dinheiro recebido em transferências do que o montante investido em contratações. Mais: pela primeira vez na história a equipa catalã não gastou um único cêntimo em compra de passes, introduzindo caras novas que estavam livres ou que chegaram por empréstimo. Em contrapartida, e olhando para a realidade inglesa, a realidade dividiu-se: por um lado, Arsenal e Manchester United não olharam a custos para reforçarem os seus plantéis; por outro, Chelsea ou Liverpool contrataram mas sempre com o saldo da balança equilibrado. As transferências mais do que milionárias voltaram a acontecer mas este acabou por ser um mercado atípico, ou não tivesse sido esta a janela em que Cristiano Ronaldo e Lionel Messi trocaram de equipa na fase final das carreiras.

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A moda do “low cost”, ou como o jogador livre mudou o futebol no verão de 2021

Barcelona. Não gastar um cêntimo e ainda pedir para alguns ganharem menos

O discurso de Joan Laporta depois de serem conhecidas as contas do Barcelona, e no seguimento da saída de Lionel Messi também por questões financeiras, mostrou uma realidade demasiado dura para um clube que ainda na última temporada foi aquele que mais receitas gerou: 1,35 mil milhões de dívida, entre bancos (617 milhões), jogadores (389 milhões), questões judiciais ou direitos televisivos; 451 milhões de saldo líquido negativo; salários equivalentes a 103% das receitas totais do clube quando o limite imposto pela própria Liga era de 70%. Um verdadeiro caos que acabou por refletir-se de forma indelével neste mercado.

Pela primeira vez na história, os catalães não gastaram um cêntimo sequer em transferências de jogadores, sendo que a contratação de Emerson ao Betis só aconteceu com a garantia que seria depois vendido (como veio a acontecer neste último dia do mercado) ao Tottenham. Assim, as únicas caras novas chegaram ou a custo zero, como Depay, Kun Agüero e Éric Garcia, ou por empréstimo, como aconteceu com De Jong após tentativas falhadas por João Félix, Cavani ou Bakambu. Nas vendas, o clube conseguiu ainda receber 75 milhões em jogadores pouco utilizados ou da formação, sendo que houve ainda mais uma baixa de peso com a saída de Griezmann por empréstimo para o Atl. Madrid. A boa notícia acabou por ser o acordo com Jordi Alba e Busquets para baixar os ordenados, o que permitiu a inscrição de Agüero na Liga.

Piqué quis dar o exemplo e baixou o salário no Barcelona tal como outros como Busquets ou Alba. Com isso, o clube conseguiu inscrever jogadores

Real Madrid. Ganhar mais do que se gasta para preparar a nova era Mbappé

O Real Madrid esteve até à última a tentar um negócio que poderia gerar a maior transferência de sempre do futebol mundial, superando mesmo os 222 milhões de euros de Neymar, mas o PSG recusou vender Kylian Mbappé e este acabou por ser um mercado muito calmo por parte dos merengues, que só no último dia de mercado tiveram gastos com a compra de Camavinga ao Rennes por 31 milhões de euros que podem ainda chegar aos 45. Em contrapartida, só com as vendas de Varane e Odegäard e o empréstimo de Brahim Díaz ao AC Milan, o conjunto da capital espanhola arrecadou quase 80 milhões, ficando com saldo positivo.

Desta forma, e no ano que marcará o regresso da equipa ao renovado Santiago Bernabéu, Zinedine Zidane terá praticamente as mesmas opções da última época sem os habituais centrais titulares e com o meio-campo reforçado pela jovem promessa francesa. O futuro, esse, é uma incógnita. Porque se é verdade que existe a necessidade de criar uma nova era de galácticos que possa amortizar em termos financeiros com aumento de receitas o investimento feito nas infraestruturas, também é verdade que o empréstimo contraído para fazer a longa intervenção no recinto será pago a 30 anos. Nesse sentido, Mbappé poderá ser um início.

Juventus. Mesmo sem o peso salarial de Ronaldo, cortar, cortar

O regresso de Massimiliano Allegri ao comando da Juventus depois da pior temporada dos últimos anos da Vecchia Signora a nível de Champions (eliminação nos oitavos frente ao FC Porto) e Serie A (quarto lugar só garantido na última jornada devido a um empate caseiro do Nápoles) funcionou como uma viragem de ciclo em Turim mas que nada teve a ver com as alterações feitas no plantel dos bianconeri, que quiseram reduzir a massa salarial e acabaram por ficar com um grupo com menos argumentos do que em 2020/21.

Assim, o saldo entre contratações e saídas acabou por ser quase nulo neste verão: além da opção sobre o passe de McKennie que já estava alinhada, o empréstimo de Moise Kean e a compra para imediata cedência de Mohamed Ihattaren, a Juventus vendeu Cristian Romero, emprestou Demiral e cedeu Ronaldo ao United por apenas 15 milhões de euros, que podem subir ainda aos 23. Assim, compras e vendas rondaram os 34 milhões de euros, num saldo nulo que contrasta como investimento das últimas temporadas.

Ronaldo despediu-se da Juventus após três anos como jogador da Vecchia Signora e foi “substituído” no plantel por Moise Kean

Manchester United. Os três reforços por 140 milhões e o regresso de Ronaldo

A primeira contratação do Manchester United foi a mais cara no futebol mundial até esse momento mas nem todos conseguiam ver a chegada de Jadon Sancho por 85 milhões de euros como uma grande manobra de mercado no verão de 2021. Em primeiro lugar, fechava a porta ao sonho de poder trazer de volta Cristiano Ronaldo a Old Trafford; depois, não preenchia uma das carências mais apontadas ao plantel que passava pela presença de mais um patrão no eixo central recuado. Afinal, havia mais para gastar.

Entre Varane e o regresso do português, o conjunto orientado por Solskjaer gastou mais 55 milhões, num total de 140 milhões só em três jogadores neste mercado que teve apenas uma saída com impacto e no último dia, com Daniel James a mudar-se para o Leeds por 29 milhões. O Manchester United aposta tudo para voltar a competir pela Premier League e mesmo pela Liga dos Campeões sem sinais de crise nas contas.

Manchester City. Investir numa estrela passando ao lado de um número 9

O Manchester City acabou por ter um mercado mais modesto e tranquilo do que se pensava depois de uma época em que voltou a sagrar-se campeão e onde alcançou a primeira final da Champions na história, perdida frente ao Chelsea no Porto. Mais: tudo apontava para que as baterias de Pep Guardiola se focassem quase por completo num avançado que tivesse características um pouco mais de área. O que aconteceu? Houve de facto uma grande reforço mas num médio ofensivo na maior transferência do clube e do futebol inglês.

Apesar das saídas a custo zero de Kun Agüero e Éric García, além das vendas já acertadas de Angeliño, Jack Harrison e Nmecha que resultaram em 38,8 milhões de euros, os citizens não foram à procura do tal ‘9’ que parecia ser Harry Kane e investiram 117,5 milhões de euros em Jack Grealish, do Aston Villa, internacional que até tem jogado mais descaído na esquerda e não pelo corredor central. Mas as surpresas de Guardiola, bem como o trabalho que está a fazer na equipa para ficar cada vez mais autónoma de um jogador mais posicional no ataque, não ficaram por aqui e até Gabriel Jesus tem alinhado um pouco mais descaído na direita. Ronaldo, esse, foi apenas uma miragem que se transformou em rival com o regresso ao United.

Jack Grealish, um autêntico herói no Aston Villa que chegou à seleção inglesa, tornou-se a maior transferência de sempre do futebol britânico

Chelsea. Investir tudo em Lukaku com o saldo das contas controlado

Depois de uma temporada em que apostou todas as fichas na construção de uma nova base que pudesse perdurar no tempo, com Thomas Tuchel a substituir a meio da época com o sucesso conhecido o ex-treinador Frank Lampard, o Chelsea teve talvez um dos mercados mais “racionais” dos últimos anos, fazendo apenas contratações caras mas cirúrgicas que foram depois compensadas com a venda de alguns excedentários que estavam no plantel ou que no último ano tinham estado fora por empréstimo. Assim, e contas feitas, os blues conseguiram até terminar esta janela de transferências de verão com um ligeiro saldo positivo.

Romelu Lukaku foi mesmo o avançado escolhido por Tuchel e contratado pelos londrinos, que pagaram 115 milhões de euros ao Inter por um jogador que já tinha passado pelo clube e que regressa a Stamford Bridge sete anos depois com passagens por WBA, Everton, Manchester United e Inter. Além do belga, houve ainda no último dia a contratação de Saúl Ñíguez, do Atl. Madrid, num empréstimo de um ano com uma taxa de quatro milhões de euros. No lado das saídas, as vendas de Tammy Abraham, Kurt Zouma, Zappacosta, Tomori, Victor Moses e Giroud, além de algumas cedências temporárias com pequenas verbas indexadas como Bakayoko, Emerson ou Batsuashi, renderam um montante total de 122 milhões de euros.

Liverpool. Uma única contratação, nenhuma saída de peso e Van Dijk

Jürgen Klopp, alemão que conseguiu reconduzir o Liverpool às conquistas nacionais e europeias depois de ter deixado o B. Dortmund, é provavelmente um dos técnicos que melhor fala sem palavras. Basta ter atenção à sua expressão facial, aos movimentos que faz no campo e até na cadeira da sala de imprensa ou mesmo ao timbre com que diz as coisas para se perceber como está a pensar. Quando aborda o mercado, essa realidade é ainda mais percetível e já este mês o germânico não deixou de lamentar aquilo que se passa em relação aos clubes-estado que funcionam como novos ricos num futebol europeu que tem vindo a mudar. “Todos conhecemos a situação do Chelsea, do Manchester City e do PSG ou o que o Manchester United tem feito, não sei como é que o fizeram. Temos a nossa própria maneira de fazer isso, podemos gastar o dinheiro que ganhamos. Não dá para comparar, eles obviamente não têm limites e nós temos”, admitiu.

Assim, o mercado dos reds acabou por ser bem mais modesto do que alguns dos principais rivais na Premier League: entre as entradas houve apenas Konaté, central resgatado ao RB Leipzig por 40 milhões que estava já antes assegurado e que contrabalançou com as saídas de Harry Wilson, Awoniyi e Shaquiri (num total de 27,5 milhões em vendas). Desta forma, a grande novidade passa apenas pela recuperação a 100% de Virgil van Dijk, central neerlandês que esteve a última temporada de fora durante largos meses.

Jürgen Klopp voltou a criticar a capacidade de investimento de alguns dos rivais diretos num ano em que o Liverpool contratou apenas Konaté

Tottenham. Mais um mercado low cost onde o reforço foi Harry Kane

O treinador mudou, a política nem por isso mas ainda havia alguma margem para dar outra profundidade ao plantel mais à medida do que Nuno Espírito Santo pretendia: apesar das investidas do Manchester City junto de Harry Kane, o avançado inglês vai permanecer em Londres e foram poucas as mexidas num plantel que teve apenas duas alterações de vulto em relação à última temporada.Para já, as coisas não podiam correr melhor: os spurs venceram os três primeiros jogos da Premier League, ocupam a liderança isolada da prova e confirmaram também a passagem à fase de grupos da Conference League após baterem o P. Ferreira.

Bryan Gil, jovem promessa espanhola do Sevilha que se destacou no último Campeonato da Europa Sub-21, e Emerson, lateral que esteve no Betis mas pertencia ao Barcelona, foram as duas grandes contratações neste verão, juntando-se ao médio senegalês Pape Sarr (uma aposta para o futuro) e aos emprestados Gollini e Cristian Romero. Entre as saídas, Juan Foyth, Alderweireld, Sissoko, Joe Hart, Gazzaniga e Erik Lamela renderam 33 milhões, metade do que foi investido em contratações. Bale também voltou ao Real.

Arsenal. A equipa que mais gastou e que está em último da Premier League

Na última temporada com o francês Arsène Wenger no comando, o Arsenal não foi propriamente brilhante: ganhou a Supertaça, foi à final da Taça da Liga, chegou às meias da Liga Europa, acabou a Premier League na sexta posição. Não foi brilhante aí, não tinha sido passado nos anos anteriores, foi tudo menos brilhante na época que se seguiu com Unai Emery, onde não ganhou nada e acabou em quinto. Por isso, o mau arranque em 2019/20 conduziu à saída do espanhol e à chegada do compatriota Mikel Arteta, antigo jogador do clube que era adjunto de Pep Guardiola. Ganhou logo a Taça de Inglaterra, conseguiu de seguida a Supertaça, não foi além de novo oitavo lugar no Campeonato. Desta vez, o cenário foi de tal forma pior que, no final das três jornadas iniciais, a equipa ocupa o último lugar sem qualquer ponto e 0-9 em golos.

Quase alheia a toda esta realidade, e continuando a confiar de olhos fechados no comando de Mikel Arteta, os dirigentes dos gunners fecharam os olhos e avançaram para mais um verão de grande investimento que superou os 165 milhões (Takehiro Tomiyasu, defesa japonês do Bolonha, foi o derradeiro reforço da equipa no último dia): Ben White por 58,5 milhões, Marting Odegäard por 35, Ramsdale por 28, Lokonga por 17,5, Nuno Tavares por oito, havendo só a saída de Joe Willock para o Newcastle para contrabalançar as contas do mercado (29,4 milhões) entre saídas a custo zero de David Luiz, Willian ou Bellerín, além de outros empréstimos como Torreira ou Guendouzi. Ficou assim tão melhor? Nem por isso.