Polémico antes, durante e depois da campanha, Jair Bolsonaro não defraudou quem esperava controvérsia nos primeiros discursos do ex-capitão do Exército como Presidente da República Federativa do Brasil. Referências a Deus (muitas), ataques “à corrupção”, à “ideologia nefasta” e à “irresponsabilidade económica” do PT de Lula da Silva e Dilma, defesa dos valores tradicionais brasileiros, da família como alicerce da sociedade. Bolsonaro fez um resumo das suas ideias para a política e para a sociedade brasileira e fez um apelo aos congressistas para que o ajudem “na missão” de “reerguer” o Brasil. Quase a terminar, depois de fazer promessas de “unir o povo”, veio ao cima o Bolsonaro mais antigo. Disse que “a bandeira do Brasil jamais será vermelha”, mas que se for preciso ficará “vermelha de sangue” para se manter verde e amarela. Trump gostou.
As frases dos dois discursos de Jair Bolsonaro estão a itálico e a interpretação e o comentário estão a amarelo:
Primeiro quero agradecer a Deus por estar vivo. Que pelas mãos de profissionais da Santa Casa de Juiz de Fora operaram um verdadeiro milagre. Obrigado, meu Deus.
Hoje estou aqui fortalecido, emocionado e profundamente agradecido a Deus pela minha vida e aos brasileiros que me confiaram a missão a honrosa missão de governar o Brasil neste período de grandes desafios e, ao mesmo tempo, de enorme esperança. Governar com vocês. Aproveito este momento solene e convoco cada um dos congressistas para me ajudarem na missão de restaurar e de reerguer o nosso país, a nossa pátria, libertando-a definitivamente do jugo da corrupção, da criminalidade, da irresponsabilidade económica e da submissão ideológica.
Temos diante de nós uma oportunidade única de reconstruir o nosso País e resgatar a esperança dos nossos compatriotas. Estou certo de que enfrentaremos enormes desafios, mas se tivermos a sabedoria de ouvir a voz do povo, alcançaremos êxito nos nossos objetivos. E pelo exemplo, pelo trabalho, levaremos as futuras gerações a seguirem-nos nesta tarefa gloriosa.
As eleições deram voz a quem não era ouvido. E a voz das ruas e das urnas foi muito clara. E eu estou aqui para responder e, mais uma vez, me comprometer com esse desejo de mudança.
Vamos unir o povo, valorizar a família, respeitar as religiões e a nossa tradição judaico-cristã, combater a ideologia de género, conservando os nossos valores. O Brasil voltará a ser um país livre de amarras ideológicas.
Não podemos deixar que ideologias nefastas venham a dividir os brasileiros. Ideologias que destroem os nossos valores e tradições, destroem as nossas famílias, alicerce da nossa sociedade.
E convido a todos para iniciarmos um movimento nesse sentido. Podemos, eu, você e as nossas famílias, todos juntos, reestabelecer padrões éticos e morais que transformarão nosso Brasil.
Pretendo partilhar o poder de forma progressiva, responsável e consciente. De Brasília para o Brasil, do poder central para Estados e municípios. A minha campanha eleitoral atendeu ao chamado das ruas e forjou o compromisso de colocar o Brasil acima de tudo e Deus acima de todos. Por isso, quando os inimigos da pátria, da ordem e da liberdade tentaram pôr fim a minha vida, milhões de brasileiros foram às ruas. Uma campanha eleitoral transformou-se num movimento cívico, cobriu-se de verde e amarelo, tornou-se espontâneo, forte e indestrutível, e nos trouxe até aqui.
Reafirmo o meu compromisso de construir uma sociedade sem discriminação ou divisão. Daqui em diante, nos pautaremos pela vontade soberana daqueles brasileiros que querem boas escolas, capazes de preparar seus filhos para o mercado de trabalho e não para a militância política, que sonham com a liberdade de ir e vir sem serem vitimados pelo crime, que desejam conquistar pelo mérito bons empregos e sustentar com dignidade as suas famílias, que exigem saúde, educação, infraestrutura e saneamento básico, e respeitam os direitos e as garantias fundamentais da nossa Constituição.
O pavilhão nacional remete-nos para a Ordem e o Progresso. Nenhuma sociedade se desenvolve sem respeitar esses preceitos. O cidadão de bem merece dispor de meios para se defender, respeitando o referendo de 2005, quando optou nas urnas ao direito à legítima defesa.
Montamos a nossa equipa de forma técnica, sem o tradicional viés político que tornou o Estado ineficiente e corrupto. Vamos valorizar o Parlamento, resgatando a legitimidade e a credibilidade do Congresso Nacional.
Graças a vocês eu fui eleito com a campanha mais barata da história. Graças a vocês conseguimos montar um governo sem conchavos ou acertos políticos, formamos um time de ministros técnicos e capazes para transformar o nosso Brasil.
Na economia, traremos a marca da confiança, do interesse nacional, do livre mercado e da eficiência. Confiança no cumprimento de que o governo não gastará mais do que arrecada. E na garantia de que as regras, os contratos e as propriedades serão respeitadas. Realizaremos reformas estruturantes que serão essenciais para a saúde financeira e sustentabilidade das contas públicas, transformando o cenário económico e abrindo novas oportunidades.
Precisamos criar um círculo virtuoso para a economia, para que traga a confiança necessária para permitir abrir o nosso mercados ao comércio internacional, estimulando a concorrência, a produtividade e a eficácia sem viés ideológico. Nesse processo de recuperação do crescimento, o setor agropecuário seguirá desempenhando um papel decisivo em perfeita harmonia com a preservação do meio ambiente. Dessa forma, todo o setor produtivo terá um aumento de eficiência, com menos regulamentação e burocracia.
E me coloco diante de toda a nação, neste dia, como o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo, se libertar da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto.
Também é urgente acabar com a ideologia que defende bandidos e criminaliza policiais, que levou o Brasil a viver o aumento dos índices de violência e do poder do crime organizado.
Essa é a nossa bandeira, que jamais será vermelha. Só será vermelha se for preciso o nosso sangue para mantê-la verde e amarela.”