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ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Bloco de notas da reportagem no PS. Dia 1. A campanha das salas, salinhas e salões. E também da amiga de Pedro Marques na Guarda

O candidato socialista não tem optado pela rua (e vai continuar). Garante que assim também se conhece o país real e ataca a oposição por só o atacar a ele. Na Guarda esteve com uma amiga "sui generis"

É o primeiro dia de campanha oficial, embora para o PS conte como o segundo. Ainda há muito para acontecer, mas quem olha para a agenda destas duas semanas não tem dúvidas de que a preferência vai para contactos mais controlados do cabeça de lista Pedro Marques com os eleitores. Empresas, instituições sociais, almoços ou jantares comício. Salas (como as que visita nas instituições), salinhas (como aquela em que se reuniu com a direção da Santa Casa de Bragança) e salões (como as dos almoços-comício). Tanto que nesta segunda-feira, Pedro Marques veio a público tentar controlar os danos dessa fama — que a direita já espalha — garantindo que está há muitos meses em campo e que não têm faltado contactos e que é popular. Publicou mesmo prova disso nas redes sociais. E o dia passou, assim, entre essa defesa e o ataque em forma de queixa aos ataques dos adversários.

A rota Bragança-Guarda da caravana socialista teve dois propósitos: mostrar preocupação pelo interior e mostrar trabalho do antigo secretário de Estado da Segurança Social Pedro Marques e do ex-ministro do Planeamento e Infraestruturas Pedro Marques, sobretudo na área social e de coesão territorial. Era isto que o cabeça de lista socialista às Europeias levava alinhado para este segundo dia de estrada (o primeiro oficial nas contas do PS foi o que teve Timmermans e António Costa), para prometer fazer mais em Bruxelas pelo “desenvolvimento do interior” e coesão social.

Medo da rua? “Vão ao meu Facebook de campanha”, diz “Pedro Martins”. Ops, Marques

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Foi, aliás, para isso que visitou a Santa Casa da Misericórdia de Bragança e, depois, a Fundação João Bento Raimundo, na Guarda. Pelo meio, no almoço com autarcas socialista aproveitou mesmo para a picardia com Paulo Rangel, que acusa de “maledicências”. Pediu-lhe que falasse com Álvaro Amaro, o candidato número cinco da lista do PSD, e ouvir os elogios que ele fez à requalificação da linha da Beira Alta e da Beira Baixa.

Mas, claro, isto era o que o candidato trazia alinhado. Outra coisa foi o que dia acabou por lhe pôr à disposição. Quando falou com os jornalistas, a meio da manhã, foi confrontado com esta tendência de uma campanha oficial mais dentro de portas e disparou em direção à direita acusando Rangel de ser pouco simpático e de não ter empatia com as pessoas. Atirou também aos adversários a sua experiência do terreno social — o que pisava naquela manhã — garantia popularidade entre os eleitores, embora isso não possa ser facilmente avaliado quando as ações de campanha são tão controladas, feitas de visitas combinadas. E mesmo nestas, o candidato tem de quase sempre ir explicando a quem encontra quem é e ao que vai — a abstenção nas últimas Europeias foi a maior de sempre.

É certo que a campanha ainda vai longe de ter aquecido, mas por agora também não se vê grande dinâmica de dirigentes nacionais do PS. Jorge Gomes, deputado por Bragança, apareceu de manhã e quase ficou com os louros todos da visita, pelo apoio que deu, enquanto governador civil do distrito, à construção da Unidade de Cuidados Continuados. Mas nos dois próximos dias, o líder António Costa aparecerá duas noites seguidas. E assim vai a volta socialista.

“Paulo Rangel diz mal de tudo, diz mal de mim e do PS e só não acusou ainda de sermos responsáveis pelo falhanço do acordo entre Donald Trump e a Coreia do Norte, porque tudo o resto é culpa do PS”.

A frase é de Pedro Marques no almoço com autarcas socialistas queixando-se dos ataques do cabeça de lista do PSD.

Alto. O melhor é a pontualidade britânica logo pela manhã, na Santa Casa da Misericórdia de Bragança. 10 horas em ponto, Pedro Marques abria a porta do carro e chegava para a visita à hora marcada. Era a primeira iniciativa do dia, mas as duas restantes não atrasaram muito mais do que 15 minutos, o que numa agenda de campanha política nacional é um luxo. Na pré-campanha, quando o Observador o acompanhou durante um dia, Pedro Marques explicou que era algo maníaco com as horas. Não gostava de fazer esperar e nem de andar a correr nos locais por onde passava. Por agora, vai conseguindo impor o seu estilo ao natural caos de horários de uma campanha eleitoral.

Baixo. Pior que ter uma campanha cinzentona, fechada em salas, é perder-se em explicações e em provas do contrário durante uma manhã, cedendo aos argumentos que vêm do outro lado da barricada. Pedro Marques mandou até os adversários às suas redes sociais para verem o contacto de rua que tem feito nos últimos três meses e até tweetou a respeito dessa picardia. Mais uma explicação e uma pressão adicional em cima de uma caravana que leva pelo país real uma cara que nem sempre é reconhecida à primeira: se passam para a rua vai parecer cedência às críticas, se não passam perde-se (ou não se ganha nada) em dinâmica. Já bem bastam os esticões pelo país, numa caravana que arranca de manhã em Bragança e termina à noite em Évora — como aconteceu esta segunda-feira (e não é caso único nestas duas semanas) — e as mudanças de última hora: quinta-feira o candidato estaria em campanha nos Açores, mas a agenda mudou esta segunda-feira à tarde e afinal Pedro Marques vai para o Porto, reunir-se com Rui Moreira. No dia seguinte volta a Lisboa para, horas depois, seguir de novo para Norte. No meio de tantos quilómetros para cima e para baixo, esmaga-se a agenda para iniciativas.

O candidato começou o dia em Bragança, na Santa Casa da Misericórdia, e fez quase 200 quilómetros até à Guarda para o almoço com autarcas e a visita à Fundação João Bento Raimundo. Vai acabar o dia em Évora — completando 473 quilómetros num dia — para um jantar privado. É lá que arranca o seu terceiro dia de campanha oficial.

Marília Raimundo é presidente do conselho de Administração da Fundação João Bento Raimundo e foi governante do PSD (ANDRÉ DIAS NOBRE/OBSERVADOR)

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Nada como uma volta pelo país para encontrar o país real mas também algum do país do passado mais recôndito. Marília Raimundo preparava-se para entrar no elevador da Fundação João Bento Raimundo com o candidato socialista quando atira ao Observador o seu cargo: “Sou presidente do conselho de administração. As mulheres custam a lá chegar mas também chegam. É preciso é tirar os homens da frente”. Diga-se que Marília já lá chegou há muito tempo. Foi a número um do PSD Guarda, penúltima governadora civil do distrito, era o PSD Governo, e entre 85 e 1987, primeiro Executivo de Cavaco Silva, foi secretária de Estado dos Ensinos Básicos e Secundários, com João de Deus Pinheiro a ministro da Educação. Mas as datas não as disse, na curta conversa que teve com o Observador. Apesar de enérgica e muito faladora, quando chega ao passado político refugia-se no esquecimento: “Apaguei tudo. Esqueci, passei para outra e estou numa boa”.

Porquê? O passado de Marília e do marido — o homem que deu nome à Fundação — é pesado e tem raízes na política. O mesmo ministro que a nomeou secretária de Estado promoveu João Bento Raimundo a presidente do Instituto Politécnico da Guarda e havia de ser condenado, em 1994 por abuso de poder e falsificação de documentos no exercício dessas funções. Raimundo foi absolvido, em 2002, no processo “Lista Negra”, do qual era o principal arguido e em que era acusado de atos de terrorismo contra pessoas que constavam numa lista que ficou famosa na Guarda. O caso foi encerrado, com Raimundo, que esteve preso preventivamente um ano, a lamentar o que o caso fez à sua “carreira” e “família”. Afastaram-se da política. Marília diz agora que não se revê neste PSD, que se inscreveu “no PSD de Sá Carneiro. Eu sou uma social democrata de esquerda”. Foi com o PS no poder que fez caminho a Fundação, que o ministro Vieira da Silva inaugurou.

Apesar de criticar “a coisa complicada” que é a política e o “joga para lá e o joga para cá” que ela implica, Marília conhece bem o poder desse charme e a Pedro Marques tocou no ponto sensível: “Aqui entre os utentes é popular. Toda a gente o conhece”, disse ao lado do candidato socialista exagerando nas cores do quadro. Pedro Marques agradeceu-lhe e prometeu não se esquecer da instituição, mesmo em Bruxelas. Ao Observador Marília Raimundo diria minutos depois: “Se ele soubesse os projetos todos que eu tenho dava-lhe uma coisinha má”. E foi embora a deixar para trás um “sou sui generis“.

ANDRÉ DIAS NOBRE/OBSERVADOR

Pedro Marques mostra-se genuíno na abordagem. Não parece fazer grande esforço para ser simpático. Baixa-se, dá a mão aos idosos e fala na exata medida de quem encontra à sua frente. Esta imagem é da visita à Santa Casa da Misericórdia de Bragança, na manhã desta segunda-feira.

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