António Costa entrou em modo todo-o-terreno na arruada de Coimbra e mesmo com um momento especialmente tenso logo a abrir, com os manifestantes dos lesados do BES, seguiu imperturbável na “mãozinha” que foi dar ao candidato que escolheu para número um do PS às Europeias. Aliás, a participação de Costa intensifica-se neste meio de campanha: esteve em Almeirim, na quarta-feira, agora em Coimbra e à noite na Covilhã, no sábado em Guimarães e no domingo na Madeira e nos Açores. E para a semana há mais. Uma coisa é certa, quando está o líder, a meia-luz de Pedro Marques apaga-se.
O candidato seguia sempre atrás do rasto do secretário-geral do seu partido que, em Coimbra, parecia apostado em não deixar escapar uma porta. No meio da confusão — estava muita gente na baixa concentrada à espera de Costa e de Pedro Marques — o líder socialista disparava de um lado para o outro da rua, ouvia histórias, disponibilizava-se para selfies e também ouviu críticas: de um professor, de uma enfermeira e dos lesados do BES. Foi respondendo e circulando à vontade. Atrás dele ia seguindo Pedro Marques que, depois de Costa falar com as pessoas, aproveitava para deixar o apelo ao voto.
A dada altura uma das pessoas com quem a caravana se cruzou abraçou o líder socialista e garantiu: “Vou votar em si”. O homem que quer o voto nestas eleições é Pedro Marques que apareceu depois. Mesmo quando se juntou a tuna académica, no meio da Rua Ferreira Borges, e um dos seus membros preparou uma capa negra, foi para a colocar nos ombros de Costa. Depois outra, que também não foi para Pedro Marques mas para o presidente da Câmara de Coimbra, Manuel Machado. Só quando apontaram para Pedro Marques insistentemente é que apareceu uma terceira para o candidato que continua a passar muito despercebido entre as pessoas nestas situações.
Pedro Marques não se mostra preocupado com isso e esta sexta-feira, quando Costa seguiu para o Café de Santa Cruz e Marques seguiu para o largo para fazer declarações, um dos membros do seu staff deixou escapar que “esta é uma campanha bicéfala”. Costa promete continuar a aparecer para “dar uma maõzinha” sempre que puder, como “militante socialista” e Pedro Marques vai aproveitando a onda que esta passagem cria.
Confusão com polícia, militantes e lesados do BES no arranque da arruada do PS em Coimbra
“É um bocadinho como aquela história do preso por ter cão e preso por não ter. Aqui é preso por ter secretário-geral e preso por não ter. Se não tem secretário-geral é porque anda a fazer campanha sozinho, se tem secretário-geral é porque o secretário-geral veio. Não valorizo nada disso. É claro que os líderes dos partidos estão envolvidos sempre que podem, mas aqui está o PS”.
Pedro Marques a desvalorizar que o apoio de Costa apareça ao seu lado em força para evitar um resultado “poucochinho” nas Europeias — a expressão entrou para o léxico político pela voz do próprio António Costa, nas Europeias de 2014, quando o PS de António José Seguro teve 31% dos votos, contra 28% do PSD e CDS. Costa classificou esse resultado de “poucochinho” e pouco depois avançou para desafiar a liderança de Seguro. Obviamente que esse resultado é, agora, uma cifra a evitar.
O momento alto foi a participação do líder socialista na arruada de Coimbra. António Costa surgiu bem mais solto do que quando ele mesmo era o número um em campanha, nas legislativas de 2015.
O ponto baixo foi o músculo que rodeou o líder socialista nesta arruada, que acabou por criar tensão a uma iniciativa que até estava a correr bem a António Costa, mesmo depois do início atribulado entre os encontrões e a intervenção policial sobre os manifestantes lesados do BES. Do corpo de segurança do primeiro-ministro estavam sete membros — um número invulgar — eram tantos que a dada altura um homem queria uma fotografia com Costa e tentou passar o telemóvel para um dos seguranças que disse que não podia. Já a manifestação dos lesados, é o outro lado da moeda de se ter um governante em campanha. Dá empurrão forte ao candidato, mas também traz com ele campo aberto para aparecerem reivindicações no caminho.
O caldo pareceu entornado, quando a polícia teve de intervir para afastar da iniciativa socialista os lesados do BES que por ali estavam à espera que aparecesse o primeiro-ministro. Na caravana socialista já havia o alerta para aquela situação, embora os manifestantes estivessem misturados com os militantes, alguns até com camisolas PS. Quando António Costa saiu do carro, juntamente com Pedro Marques, os ânimos exaltaram-se com os militantes socialistas a tentarem evitar que se aproximassem do núcleo da arruada, onde seguia Costa.
Foi um esticão. Ontem Pedro Marques saiu de Guimarães para ir até Lisboa, 363 quilómetros, e voltou a Coimbra, mais 205 quilómetros. Ao fim do dia ainda havia de ir até à Covilhão para o jantar comício com António Costa, totalizando 2328 quilómetros percorridos desde domingo.