Mesmo à porta do fecho da campanha, debaixo do Arco da Rua Augusta em Lisboa, António Costa fez o impensável: deu corpo a tudo quanto se disse e escreveu sobre a campanha socialista às Europeias e pegou ao colo o candidato Pedro Marques. Não podia haver imagem mais adequada para a última análise desta campanha em que o PS teve na estrada um candidato que poucas vezes foi reconhecido pelas pessoas. Pedro Marques é um executivo, como ele mesmo diz, de gabinete e isso nota-se na rua. Esta sexta-feira , último dia de campanha, voltou a ter Costa ao lado e foi engolido pela popularidade do líder socialista.
O PS foi acusado pela oposição à direita de nacionalizar a campanha eleitoral, com a presença constante do futuro candidato às legislativas ao lado do candidato às europeias. Na descida do Chiado, o líder do PS voltou a não esconder que não se incomoda que esteja em cima da mesa a avaliação do seu próprio Governo nestas eleições e circulou ao lado de Pedro Marques, a par de Fernando Medina, como se fosse ele mesmo o candidato. O cabeça de lista ficava muitas vezes deixado para trás dos abraços, beijinhos e mensagens quase sempre dirigidas a Costa.
A exibição dos resultados da governação foi uma constante no discurso de Marques e foi mesmo palpável, já que não houve quase ministros do Governo que não tivessem passado pela campanha. Do elenco só faltaram mesmo a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, a ministra do Mar, Ana Paulo Vitorino, o ministro da Cência, Manuel Heitor e Gomes Cravinho, ministro da Defesa.
Depois de tanto colinho, ainda foi Costa que elevou o candidato acima dos seus ombros para que se destacasse na arruada e pudesse falar às pessoas que ali estavam. Simbólico para fechar esta campanha.
Alto. António Costa na rua, foi o ponto alto para o PS. A descida do Chiado mostrou que a popularidade do primeiro-ministro vai em alta a pouco mais de quatro meses das legislativas. Nesta campanha, o líder socialista esteve com Pedro Marques por duas vezes em ações de rua — Coimbra e Lisboa — e o impacto na caravana socialista fez a diferença.
Baixo. António Costa na rua, foi também o ponto mais difícil para o candidato Pedro Marques, na medida em que isso o deixa inevitavelmente na sombra. E nota-se ainda mais a falta de reconhecimento público do cabeça de lista que os socialistas levam a votos no próximo domingo.
O PS começou confiante e a meio da campanha ainda foi recebendo nova injeção de confiança, com as sondagens a chegarem a dar aos socialistas dez pontos de avanço sobre o PSD. Acabou a campanha… naturalmente confiante. A dinâmica do partido começou frouxa, com Pedro Marques a mostrar-se pouco à rua e a preferir cenários controlados em empresas e instituições sociais. Quando passou para a rua também não se via grande chama e só com o passar do tempo e o aparecimento de sondagens o candidato começou a mostrar maior conforto no papel em que António Costa o colocou nestas Europeias. Pediu sempre “uma grande vitória” para o PS, sem quantificações. Embora no Porto tenha chegado a pedir a eleição de Manuel Pizarro, o número nove da lista do PS.
Nas últimas eleições — as famosas eleições do “poucochinho” — o PS elegeu oito eurodeputados, com 31,46% dos votos, com uma diferença de apenas 3,75 pontos percentuais para a coligação PSD/CDS. Esta é uma fasquia mínima obrigatória para o PS de António Costa que, aliás, terá de ficar bem acima disso para respirar de alívio e para que possa afirmar-se digno da confiança que, pelas ruas do país, o líder socialista diz ver no seu Governo e no seu partido. Nas contas socialistas, olhando para a média das sondagens, o nono eleito não está garantido. Ainda assim, é o medo da abstenção a única coisa a aterrorizar António Costa e companhia.
Joaquim Banha é um dos porta-estandartes mais conhecidos do Partido Socialista. Com 78 anos, natural de Coruche, este militante socialista faz-se acompanhar de uma icónica bandeira que destoa entre todas as outras. “Já não me lembro desde quando é que comecei a andar com ela, julgo que foi desde a fundação do partido. Mas tenho andado por muito lado”, conta ao Observador enquanto bebe um café no final do almoço na Cervejaria Trindade.
Militante desde os anos 70, Joaquim Banha conta de forma orgulhosa os principais episódios da fundação do PS sem esconder um período de dissidência em que foi candidato à Assembleia Constituinte pelo Movimento de Esquerda Socialista de Jorge Sampaio, Ferro Rodrigues e outros.
Joaquim Banha garante que sempre foi “um fã de Europa” e que tudo se deve a uma viagem com Jerónimo de Sousa. “Eu fui um rapaz com muita sorte. Fui estudar e depois acabei por trabalhar na TAP o que me permitiu conhecer um bocado do mundo. Mais tarde, fui dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos com o atual líder do PCP, Jerónimo de Sousa e na fundação da intersindical fomos fazer uma visita à Polónia e à Checoslováquia”. Foi nessa visita que o militante do PS se apercebeu: “Não gostava da forma de governar o meu país, que era uma ditadura, mas também não gostava do que eles tinham lá. Eu queria mesmo era uma União Europeia, com liberdade”.
Uma imagem não pode valer por mil palavras? Costa levanta no ar o candidato. Mais palavras para quê?
Pouco mais de 20 quilómetros para o último dia de campanha do PS, o partido que mais quilómetros somou nestas duas semanas, tal foi o número de esticões que Pedro Marques fez pelo país num único dia. Só nos últimos, saiu de Lisboa para Aveiro para depois voltar a Setúbal, no dia seguinte, e seguir dali para o Porto, acabando no dia seguinte em Lisboa. A organização do circuito deixou muito a desejar, mas o partido garante que isso aconteceu por causa da difícil conciliação com a agenda do líder que é também primeiro-ministro. No fim das contas todas, Pedro Marques termina a campanha oficial com 7.221 km (incluindo as deslocações a Madeira e Açores, que aconteceram no mesmo dia).