A descida da Rua de Santa Catarina há quatro anos foi um sucesso para o Bloco de Esquerda. Na real final de uma campanha em que o partido tinha estado em crescimento, depois de ter partido com as probabilidades bem lá em baixo, aquela rua portuense encheu-se de apoiantes e para muitos foi o sinal de que o partido podia estar à beira de um resultado histórico. Assim foi.

Por isso, a arruada agendada para esta quinta-feira, penúltimo dia de campanha, na mesmíssima rua do Porto, era aguardada com alguma expectativa. O ensaio feito em maio com Marisa Matias tinha deixado bons indícios. Mas era preciso confirmar isso esta tarde.

À hora marcada, a mancha humana que compunha a comitiva do Bloco de Esquerda não era significativa. Cumpria os mínimos mas não impressionava. “Vai haver muita gente a juntar-se ao longo da descida”, dizia-se. Quando Catarina Martins chegou com Marisa Matias, as irmãs Mortágua e os candidatos do partido pelo Porto ao seu lado, a arruada arrancou de imediato. Não podia atrasar-se porque quinze minutos depois começaria a do PSD no mesmo local e era necessário ganhar algum avanço. Uma banda com vestimentas e sonoridades que podiam ter saído diretamente do filme do Aladino ia abrindo o caminho e anunciando a chegada da caravana bloquista.

As pessoas que por aquela altura passeavam pela rua ficavam a olhar, muitas delas tiravam os telemóveis do bolso para gravar ou tirar selfies. Havia quem preferisse observar ao longe e quem procurasse o contacto com a líder do BE, que seguia um passo mais à frente do que a primeira linha da comitiva. O cordão de segurança que os bloquistas montaram para separar a caravana dos jornalistas impedia que muitos dos populares se aproximassem dos candidatos.

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Na fase inicial, a organização da arruada estava algo confusa. Ora se alargava o cordão para que a líder pudesse caminhar de forma confortável e ficasse visível para quem a quisesse solicitar, ora se fechava o círculo e quem via de fora nada entendia. Jorge Costa e outros membros da direção de campanha iam tentando reorganizar a arruada em andamento para que o modelo permitisse dar segurança à líder mas permitir o contacto popular.

Notando essa falta de contacto inicial, foi muitas vezes a própria coordenadora do partido a procurar o contacto de quem acenava ao longe. Chegou a cumprimentar uma pessoa que estava atrás dela na comitiva e que estava na arruada desde o primeiro minuto. Com o tempo, essa falha foi corrigida e os contactos com a líder do BE foram aumentando de forma exponencial.

A maioria das pessoas que procuravam falar com Catarina Martins conseguia juntar-se à comitiva e demorava-se nas conversas. Tanto agradeceram e deram força como houve quem não se inibisse de gritar de forma enfurecida que “é tudo igual: uma cambada de corruptos”.

Foi já quase no fim, e quando a arruada estava no auge, que a coordenador bloquista falou aos jornalistas. Depois da desorganização inicial, a muralha humana atrás da líder do partido daria sempre um sinal de força. E de crescimento. A analogia ideal para o que diria a seguir à comunicação social.

“O que nós sentimos na rua é que esta tem sido uma campanha a crescer, este tem sido um Bloco a crescer, tanta gente que vem ter connosco porque sabe que somos a força que tem lutado pelo salário, pela pensão, pelo SNS. E tanta gente que nos vem dizer que não quer uma maioria absoluta e que sabe que é com a força do BE que pode derrotar essa maioria absoluta”. Questionada sobre as expectativas para domingo, não se atravessou com metas. Mas estabeleceu objetivos: “Queremos crescer”, disse. “Tenhamos nós os votos necessários para aprofundar uma mudança de que o país precisa. As maiorias absolutas são poder absoluto de um partido e nunca trouxeram estabilidade nem recuperação ao país. Pelo contrário, outras soluções, com uma esquerda forte, podem puxar pelo salário, pelas pensões, pelo SNS. No domingo, as pessoas vão escolher”, acrescentou.

Já cheira a balanços. A ambição do Bloco de Esquerda é crescer para se tornar indispensável a uma maioria de esquerda. Sem números afixados, mas com propósitos bem definidos.