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A Morning With Bob Woodward
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Bob Woodward é o orador principal da conferência digital APED Spring Conference – “Meeting the Future”

Michael Kovac/Getty Images

Bob Woodward é o orador principal da conferência digital APED Spring Conference – “Meeting the Future”

Michael Kovac/Getty Images

Bob Woodward: "Donald Trump falhou completamente em proteger o povo"

Bob Woodward diz que legado de Trump é "uma catástrofe e uma tragédia" que deixou o "país dividido". Acredita que é preciso tirar lições dos últimos quatro anos e defende a importância do jornalismo.

Bob Woodward é uma lenda do jornalismo norte-americano, tendo sido responsável, em co-autoria com Carl Bernstein, pela revelação do caso Watergate, que levou à demissão de Richard Nixon em 1974, um ano depois da publicação da reportagem que valeria o primeiro dos dois prémios Pulitzer com que Woodward foi distinguido. Atualmente, o jornalista de 78 anos é editor associado do Washington Post. É também autor de 20 livros, dois deles — “Medo” (publicado em português pela D.Quixote) e “Raiva” — sobre Donald Trump.

No próximo dia 12 de maio, Woodward vai ser o orador principal de uma conferência promovida pela Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), intitulada “From Presidents to CEOs, the Price of Politics and Larger Lessons of Leadership”, pretexto para uma entrevista, por Zoom, ao Observador.

Com uma postura muito crítica relativamente ao ex-Presidente norte-americano, o jornalista diz que Donald Trump “não percebeu qual era a sua responsabilidade” e que “falhou completamente em proteger o povo”, referindo-se, particularmente, à forma como Trump lidou com a pandemia de Covid-19.

Quanto à possibilidade de o antigo chefe de Estado norte-americano concorrer novamente à presidência em 2024, o veterano jornalista prefere não fazer previsões e reitera que o jornalismo precisa de “perceber melhor o passado” em vez de cair na “armadilha de prever o futuro”.  Sobre Joe Biden, não se alonga muito, mas revela que, “algures no verão”, irá lançar um novo livro, precisamente sobre a presidência Biden.

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Jornalista Bob Woodward é o orador na conferência digital da APED em maio

Que avaliação faz dos primeiros 100 dias da liderança de Joe Biden?
Estou a escrever um livro com um colega do Washington Post, Robert Costa, temos trabalhado nesse livro há vários meses e será publicado em breve, mas ainda não acabámos o trabalho, por isso não posso sintetizar. Mas as sondagens mostram que há muito entusiasmo por aquilo que Biden tem proposto. Ainda assim, como sabemos, na História há sempre surpresas. Nunca se sabe. Se olharmos para o 11 de setembro, o ataque terrorista, foi uma surpresa total que os Estados Unidos não deviam ter tido e que realmente definiu a política americana até à administração Trump, em vários aspetos. Não posso fazer uma avaliação.

Para quando devemos esperar a publicação desse livro?
Algures neste verão.

Terá entrevistas com o Presidente Biden?
Não vou falar ainda do livro.

Joe Biden tem uma taxa de aprovação entre 52 e 58%, mas a América, hoje, ainda está muito dividida. Acredita que Biden conseguirá pacificar o país, prevenindo o surgimento de um novo Donald Trump?
É exatamente sobre isso que estamos a trabalhar e ainda não tenho respostas. É uma boa tentativa, mas não tenho a informação para responder nesta altura, espero que compreenda.

"Trump não percebeu qual era a sua responsabilidade. Estava era interessado na sua posição política no país"

No seu último livro, “Raiva”, entrevistou Donald Trump ao longo de vários meses. O que é que o surpreendeu mais nas conversas que teve com o antigo Presidente dos Estados Unidos?
Ele era Presidente na altura e eu entrevistei-o ao longo de oito meses, um total de 9 horas e 42 minutos. Ele foi muito sincero e disse-me que estava preocupado com o vírus da Covid-19, que era pior do que a gripe — disse coisas que nunca tinha dito publicamente. Eu pensei, naquele momento, em fevereiro no ano passado, que ele estava a falar da China, porque o vírus estava na China e havia cinco casos nos Estados Unidos. E precisei de cinco meses para perceber que ele foi informado sobre tudo isto numa reunião altamente confidencial e secreta a 28 de janeiro. Por isso pude publicar no livro a sequência do que ele disse, a dimensão do seu estado de negação. Uma vez, na Sala Oval, perguntei-lhe: “Qual é o trabalho do Presidente?”. E ele disse: “O trabalho é proteger o povo”. Eu, que acompanho como jornalista o trabalho de presidentes há 50 anos, concordaria com isso, é o trabalho principal do Presidente. Ele falhou completamente em proteger o povo e os especialistas dirão que, se olharmos para o que ele me estava a dizer, se ele tivesse agido com base nisso, podia ter salvado centenas de milhares de vidas.

Depois do “Medo”, a “Raiva”: o que revela o novo livro de Bob Woodward sobre Donald Trump

Como disse, Donald Trump fez-lhe algumas revelações sobre a gravidade da pandemia da Covid-19, enquanto estava a mentir aos norte-americanas. O que é que essas mentiras dizem sobre a personalidade de Trump?
Que ele não percebeu qual era a sua responsabilidade. Estava era interessado na sua posição política no país. Estava a concorrer à sua reeleição, que não conseguiu, mas, se analisar os votos, 44 mil votos mudaram em três estados dos Estados Unidos — Arizona, Michigan e Georgia. Ele teria ganho, ele quase ganhou. Este é um país dividido e, geralmente, o que une um país é uma crise. E agora temos uma crise económica, ainda temos a crise da Covid-19, vamos ver como saímos disto. Mas o legado de Trump é uma catástrofe e uma tragédia.

Ficou surpreendido com a invasão do Capitólio?
Claro, nunca tinha acontecido nada semelhante nos Estados Unidos. Ainda está a ser investigado, mas penso que ninguém antecipou o que aconteceu. O próprio Trump diz que não antecipou aquilo que provocou, mas seguramente que provocou. E, se olhar para as imagens, é chocante.

epa08923423 Supporters of US President Donald J. Trump in the Capitol Rotunda after breaching Capitol security in Washington, DC, USA, 06 January 2021. Protesters entered the US Capitol where the Electoral College vote certification for President-elect Joe Biden took place.  EPA/JIM LO SCALZO

Centenas de manifestantes, alguns armados, invadiram o Capitólio durante a validação dos resultados eleitorais

JIM LO SCALZO/EPA

Mas apesar da invasão do Capitólio, acredita que a democracia e as instituição democráticas resistiram à presidência de Donald Trump?
Não o suficiente. Penso que, se voltar à campanha de 2016, quando ele estava a concorrer contra Hillary Clinton, as pessoas — incluindo eu, como jornalista — não sabiam o que estava a acontecer no nosso país. Falei com Trump sobre isto, lembro-me dele sentado na Sala Oval, do outro lado da Resolute Desk [a secretária do Presidente], a dizer que ambos os partidos, democratas e republicanos, não percebiam que a velha ordem política estava a morrer e que as coisas estavam a mudar. Há uma coisa a que os historiadores chamam “o relógio da História” e eu disse a Trump: “O senhor capturou o relógio da História”. E ele respondeu: “Sim”. Acho que isso não era conhecido suficientemente por jornalistas e políticos — ele, de facto, capturou o relógio da História.

Neste momento, Donald Trump continua a insistir na tese da fraude eleitoral, naquilo a que chama “a grande mentira”. Acha que Trump planeia candidatar-se novamente em 2024?
Não sabemos. Às vezes o jornalismo cai na armadilha de tentar prever o futuro, quando aquilo de que precisamos é de perceber melhor o passado.

Tentando perceber o passado: qual é a principal lição que tiramos da presidência Trump?
Temos um país dividido. O mais relevante nas sondagens é que elas mostram que 40% ou 30% das pessoas ainda acreditam em Trump. É muita gente, são muitos eleitores.

"Se as coisas correrem mal, muitas pessoas que se sentiam atraídas por Trump vão dizer: "Talvez ele faça outra vez coisas boas". Outras pessoas vão dizer: "Ele é um perigo""

Isso traz muita responsabilidade para o Partido Republicano.
Sim, concordo. E também traz muita responsabilidade para o Partido Democrata, que deve aprender as lições da presidência Trump. A principal dessas lições é que têm de dizer a verdade.

Qual é o futuro do Partido Republicano, o que é que terá que fazer para ter um bom resultado nas próximas eleições e para se libertar do legado de Trump?
Vamos ter que esperar para ver. Há duas visões diferentes no Partido Republicano. Uma delas considera que Trump ainda é uma figura importante; a outra acha que ele está a desaparecer e que vai morrer aos poucos enquanto força política. Tudo isto vai depender do que acontecer a seguir. Se as coisas correrem mal, muitas pessoas que se sentiam atraídas por Trump vão dizer: “Talvez ele faça outra vez coisas boas”. Outras pessoas vão dizer: “Ele é um perigo”. Vai ser determinante ver como lidamos com o coronavírus, com a economia e com as relações raciais, que foram tão importantes no último ano.

Trump anunciou a criação de uma plataforma de comunicação em resposta ao facto de ter sido banido das redes sociais. O Twitter e o Facebook tomaram a decisão certa quando expulsaram Trump?
Veremos se ele consegue construir um império de comunicação com a mesma eficácia com que construiu um império político. Algumas pessoas acham que ele vai conseguir, outras acham que não. Se olharmos para os dados disponíveis, vemos que a presença dele nas notícias diminuiu muito.

Acha que esta decisão do Twitter e do Facebook implica uma violação do direito à liberdade de expressão de Trump?
Eu não posso ir ter com alguém que tem um jornal e dizer-lhe “Você tem de publicar os meus artigos”, certo? Trump é uma figura política e tem direito à sua liberdade de expressão — pode dizer o que entender, sempre o fez, e isso é difundido. As pessoas sabem o que ele pensa.

Ainda esta semana, Facebook e Instagram decidiram que Donald Trump continuaram impedido de usar as redes sociais durante mais seis meses

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Um dos maiores problemas da sociedade atual é a proliferação de notícias falsas. Como olha para fenómenos como o QAnon?
Todos esses problemas podem ser resolvidos através do jornalismo de investigação, explicando quem são estas pessoas, em que é que acreditam e qual o impacto das suas ações.

A desinformação e os ciclos noticiosos de 24 horas nas redes sociais podem pôr em perigo o futuro do jornalismo?
Temos alguns problemas, temos de pensar sobre o futuro das notícias e há um problema grande: a Internet mudou a forma de comunicarmos. Nos media, temos uma responsabilidade grande em tornar as coisas mais factuais e mais equilibradas. Temos de ter notícias com menos emoções e com mais factos.

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