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Caça ao Voto 4 - Houve campanha para além de Tancos?

Pouca gente terá dado por isso, mas foi um dia onde André Silva, quase sem fazer nada, dominou a agenda mediática alternativa. A greve do clima ajudou. Os outros partidos também.

Quando, a partir da Avenida dos Aliados, António Costa tentou dar por encerrada a polémica do caso Tancos, lançou um convite para que Rui Rio “regressasse” à campanha eleitoral. Uma proposta que tem de ser vista com alguma ironia tendo em conta que o secretário-geral do PS muito poucas vezes tem aparecido na (antigamente conhecida por) rota da carne assada. Esta sexta-feira, por exemplo, só se deixou ver depois das 6 da tarde.

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O tema é tóxico para o PS e para o governo e não larga a agenda dos partidos, mesmo os que à esquerda têm tentado evitá-lo. Mas nesta sexta-feira, onde o PS tinha rua cheia em Santa Catarina, no Porto, António Costa começou a varrê-lo para debaixo do tapete. “O que os portugueses querem saber é como vamos poder manter um ritmo de um crescimento económico, a criação de emprego, melhorar salários, pensões e condições de vida. Hoje em todo o Mundo os jovens reclamaram-nos a urgência de intervir para combater as alterações climáticas, isto é o que está na ordem do dia na campanha eleitoral”, disse.

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Parte disto é wishful thinking e parte é também verdade. Tancos é que dominou a agenda mediática, mas neste dia partilhou o protagonismo com a greve climática global que teve lugar em mais de 170 países. E não houve partido político que não tenha escolhido uma cidade para marchar, nem que seja por uns minutos, o tempo suficiente para um enquadramento com manifestantes e cartazes, para aos microfones recordar como são ambientalistas desde pequeninos e assinalar a preocupação com o atual estado de coisas.

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E se nalguns casos, este amor cheira a paixão recente, ninguém estranhará que André Silva tenha passado ali neste dia de campanha. Por muito amadorismo que a campanha do PAN tenha revelado até agora, há um mérito que ninguém lhes pode tirar. O partido apareceu na altura certa, com uma agenda que estava a ganhar espaço na sociedade, e conseguiu agarrar os votos dos eleitores pouco impressionados com os chamados partidos do sistema. Os mesmos eleitores que agora estão a ser disputados pelo “sistema”.

André Silva, que durante o dia em Lisboa só se deslocou de transportes públicos, vê ali oportunismo político “na medida em que só nestas alturas é que falam de ambiente. Durante o resto da legislatura não o fazem. Basta ver os acordos que foram feitos entre os partidos da esquerda e o Partido Socialista em que nas posições conjuntas não há uma única linha sobre ambiente, sobre alterações climáticas”.

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As causas do PAN já foram muito os animais, têm sido a natureza e esta sexta-feira foram também as pessoas. Durante a manhã, André Silva visitou a associação Crescer, em Lisboa, responsável por programas de acompanhamento de toxicodependentes, sem-abrigo e migrantes. E à tarde, juntou-se aos jovens que se manifestavam pelo clima, onde aproveitou para vender umas das ideias do seu programa, o voto aos 16 anos.

Catarina Martins também por lá andou, mas em Braga. Foi um toca e foge que a agenda de campanha da coordenadora do Bloco não dava para mais. Elogiou os jovens que arrastaram gerações mais velhas para a causa, criticou as ações simbólicas que se têm feito até ao momento para alertar para o problema climático e pediu mais ação.

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À noite, no comício em Viana do Castelo, voltou à carga, num discurso onde explicou como a agenda climática se encaixa na agenda da esquerda: “Responder à emergência climática não é sacrificar o povo”. Isso é para o outro campo político, alegou, “a ideia de que responder pelo clima é sacrificar as pessoas” é aquela ideia da direita que “acha bem que cobrar pelo gasóleo e pelas portagens às pessoas a quem nunca deu transportes coletivos de jeito”.

Catarina Martins: “Responder à emergência climática não é sacrificar o povo”

Jerónimo de Sousa conseguiu ser mais específico ainda na osmose entre o ambiente e o comunismo, ou não trouxesse à lapela um partido ecologista. Saudou os milhões de pessoas em todo o mundo nas manifestações pelo clima, mas avisou que o problema real das alterações climáticas está a ser deixado de lado e que é preciso estar alerta para aqueles que “alimentam um suposto conflito entre gerações que visa culpabilizar as pessoas e ilibar o sistema capitalista”.

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Pelo meio, trouxe à agenda os incêndios florestais, foi até Olhão para um passeio pela ria com pescadores e mariscadores e inesperadamente entrou na guerra que PS e PSD alimentaram no fim da pré-campanha sobre quem tinha o melhor “Centeno”. O de Jerónimo de Sousa chama-se Paulo Sá, o deputado por Faro que sai este ano das listas para regressar à profissão de professor. Foi ele quem fez a defesa da Ria Formosa e, ao mesmo tempo, do trabalho dos mariscadores. “Nunca foram as pessoas a levar à degradação ambiental da ria, sempre viveram em harmonia. Não somos como o PAN que quer tirar daqui as pessoas. Temos estas preocupações há muito tempo, mesmo antes do PAN ter sido criado”, assegurou.

Se o PAN incomoda muita gente, o caso Tancos incomoda muito mais. Jerónimo de Sousa não conseguiu fugir dele – ninguém conseguiu, nem mesmo André Silva – mas desta vez para denunciar o “desespero” de Rio, que quer arrastar BE e PCP para a polémica que ainda queima António Costa. Há quem diga que Tancos pode significar o fim do sonho da maioria absoluta para os socialistas, mas a CDU não arrisca e à noite, Jerónimo de Sousa voltou a alertar para os perigos da maioria absoluta do PS.

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Se as coisas estão tremidas no que diz respeito a maiorias absolutas, isso praticamente não se notou na tradicional descida de Santa Catarina, no Porto. António Costa teve um banho de popularidade, distribuiu beijinhos, abraços, selfies e o tal convite a Rui Rio, para que “regresse à campanha”, que é como quem diz, que se cale de vez com a história de Tancos e discuta propostas “que as pessoas querem saber”.

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Uma cortesia que traz aquele veneno típico de campanhas eleitorais, mas uma cortesia, ainda assim. Aliás, Costa nem precisou de atacar Rui Rio porque tinha quem o fizesse por ele. À noite, num comício para onde convocou o ministro da Educação – que falou das alterações climáticas (claro) -, contou também com o líder da distrital do PS do Alto Minho, Miguel Alves, que fez o trabalho sujo: “Em dois dias, entre banho de ética e bebé, o homem que tinha a confiança e a expectativa de milhares de portugueses deitou o banho fora com o bebé lá dentro”.

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Ataques do PS a líderes sociais-democratas são tão comuns como líderes sociais-democratas lembrarem o legado de Francisco Sá Carneiro. Sexta-feira foi o dia de Rui Rio fazê-lo. Podia dizer-se que é quase discurso pré-fabricado de qualquer presidente laranja, mas o líder do PSD assegurou à plateia que com ele é diferente porque só faz política de uma maneira: a dizer aquilo que pensa, mesmo que os comentadores não gostem.

No comício da Guarda não falou de Tancos, embora tenha referido os políticos que têm uma “postura de hipocrisia e de manha” e isso pode ser lido como uma indireta a António Costa, já que os últimos dias mostraram o que Rui Rio pensa dele.

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As referências diretas tinha-as deixado durante o dia passado a agitar bandeiras pelo interior. Depois de uma visita a um centro de dia para crianças com deficiência em Castelo Branco, Rio seguiu para uma multinacional do Fundão e terminou a tarde a percorrer a cidade da Guarda a pé. Foi aqui que ouviu o pedido de um eleitor de 88 anos, cujo sonho é ver o PSD e o CDS unidos numa nova AD, para “tirar de lá a geringonça”.

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É um sonho que dificilmente se concretizará nos próximos tempos – e não é só pelo que dizem as sondagens. A verdade é que Cristas e Rio também se têm marcado um ao outro nas estratégias de responder e capitalizar para si o caso de Tancos. Sexta-feira foi a vez do CDS anunciar que também vai cancelar parte da agenda para reunir a comissão executiva e responder aos últimos desenvolvimentos.

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Antes desse anúncio, a presidente do CDS visitava o Colégio de São Miguel, em Fátima, um dos que tem contratos de associação e que sofreu cortes durante esta legislatura. É uma causa do partido e Cristas aproveitou para lembrar que esta escola lidera o ranking de sucesso e que este tipo de modelo “não devia ser esvaziado”. Juntou-lhe uma denúncia de “discriminação” que “no tem explicação”, referindo-se a alunos da “via profissional e do ensino especial não vão ter direito a manuais gratuitos”.

E depois recebeu um lápis, das mãos de um professor. Um lápis cor de laranja que dizia “Rui Rio, PSD”. Assim que reparou na provocação, Assunção Cristas respondeu: “Nós também temos, mas olhe que os nossos estão afiados, este não. É melhor comprarem uns afias“.

Voto a favor

Afastado o elemento potencialmente tóxico da arruada (o deputado Tiago Barbosa Ribeiro, que por coincidência esteve a representar o PS-Porto na manifestação da greve climática e, portanto, não apareceu ao lado do líder), a descida de Santa Catarina, no Porto, acabou por correr bem a António Costa.

Voto contra

Rui Rio continua a seguir aquilo a que chama um modelo inovador de campanha. Praticamente todos os dias, ao cair da noite, reúne-se com militantes e simpatizantes de um dado distrito para aquilo a que chama uma “talk”, onde responde a perguntas que lhe são colocadas. Mais do que subir a um palanque para “gritar” contra os adversários, como se faz nos comícios, entende que esta é a melhor forma de explicar às pessoas as propostas e as ideias que o PSD tem. Problema: até agora, houve três talks, em Faro, Leiria e Guarda, e em todas elas ficou evidente como as perguntas colocadas estavam pré-selecionadas em articulação com a distrital. Em Leiria, as perguntas estavam gravadas em vídeo e eram tão genéricas como “que políticas defende para a educação?”, e, na Guarda, esta sexta-feira, só falaram os arregimentados por Carlos Peixoto (líder distrital). Era ver os braços no ar de gente que queria intervir mas que de Carlos Peixoto, no palco, só recebia um encolher de ombros em jeito de “não há tempo”. Controlo é normal, numa campanha, mas espontaneidade precisa-se.

Fotografia do dia

António Costa, secretário-geral do PS, encerrou a primeira semana de campanha no Porto, na cidade de Rui Rio, com a tradicional descida da rua de Santa Catarina. Cumprimentou dezenas de pessoas e nem as estátuas humanas escaparam. “Venha, está ali uma noiva” disse um homem, fazendo com que Costa a gritasse, “PS, PS” de mão dada com esta artista urbana.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Papa-quilómetros

PS – António Costa saiu de Lisboa para o Porto e, depois da arruada, terminou o dia com um comício em Viana do Castelo. Total do dia, 374 km, para um acumulado de 1172 km.

PSD – A partir de Leiria, a caravana PSD seguiu para Castelo Branco, passou pelo Fundão, Covilhã, Guarda e terminou em Bragança. Fez o recorde de quilómetros deste dia, 464 km. Total de 1197 km.

CDS – A partir de Leiria, Cristas seguiu para Fátima, depois Alpiarça e terminou em Lisboa. Um dia onde fez 189 quilómetros, o que eleva as contas do CDS aos 1487 km.

BE – Lisboa, Braga, Viana do Castelo. Foram mais 425 km para as contas do BE, o que acumula já um total de 1396 km.

CDU – A caravana comunista saiu de Serpa, viajou até São Bartolomeu de Messines, desceu até Olhão e terminou em Faro. Foram 202 km num só dia, para um total de 1621 km.

PAN – O dia foi passado em Lisboa, na manifestação da greve climática e incluiu apenas uma viagem de 256 km até Aveiro onde a caravana do partido de André Silva passará a noite. O total, 832 km.

O Caça ao Voto é uma análise diária ao dia de campanha com os contributos dos repórteres do Observador na caravana de campanha, Rita Tavares, Rita Dinis, Rui Pedro Antunes, José Pedro Mozos, Rita Penela e João Francisco Gomes. A Fotografia do Dia é uma escolha do editor de Fotografia João Porfírio.

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