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O presidente da Comissão de Assuntos Europeus da AR, Luís Capoulas Santos, intervém durante a audição "Programa de Trabalho da Comissão Europeia para 2021", em Lisboa, 12 de janeiro de 2021. Organizada pela Comissão de Assuntos Europeus da AR, esta audição pretende promover o debate sobre o Programa de Trabalho da Comissão Europeia para este ano, assim como uma reflexão com os principais responsáveis políticos no âmbito dos assuntos europeus, com o objetivo de contribuir para a seleção das iniciativas que se afigurem de especial relevância política para o país e que serão objeto de escrutínio pela Assembleia em 2021. ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA
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ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Capoulas Santos: "Ministro da Educação revelou falta de lealdade ao primeiro-ministro"

O antigo ministro e deputado do PS critica a postura de João Costa que diz ter "revelado falta de lealdade". Para Capoulas Santos os apoiantes de Pedro Nuno Santos estão a "mostrar nervosismo".

O antigo ministro da Agricultura do PS é um crítico do rumo que Pedro Nuno Santos está a adotar nesta campanha interna e acredita que o perfil de José Luís Carneiro tem mais condições para chegar a primeiro-ministro. Para Capoulas Santos, a campanha está a correr de feição a Carneiro e “o balão de Pedro Nuno Santos encheu em 24 horas, mas desde aí não tem crescido”, diz, confiante.

O ainda deputado do PS critica as mais recentes declarações do ministro João Costa sobre a recuperação de tempo de serviço dos professores, que acusa de ser uma “falta de lealdade ao primeiro-ministro e ao Governo” e que mostram um Pedro Nuno Santos com “défice de ponderação”.

O ex-ministro diz ainda que a geringonça foi “uma questão de sobrevivência” e que se o PSD ganhar as eleições o PS “deve ocupar o lugar na oposição”, acreditando que é “ao centro” que o PS pode crescer e ganhar eleições, tendo em conta “a ínfima expressão eleitoral do Bloco de Esquerda e do PCP”.

[Ouça aqui a entrevista a Luís Capoulas Santos]

“Balão de Pedro Nuno encheu em 24h mas não cresce”

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Conhece bem o partido e está na bancada parlamentar do PS. Acredita que José Luís Carneiro tem hipóteses reais de vencer estas diretas?
Quando se apoia um candidato por convicção parte-se do princípio que tem hipóteses de sair vencedor, ainda que tenha consciência de que a posição de partida é substancialmente diferente para cada um dos candidatos. Todos sabemos que Pedro Nuno Santos tem uma ambição que acalenta e que, aliás, não esconde desde há muito tempo, sobretudo desde que saiu do Governo e teve tempo suficiente para ir preparando com as estruturas do PS a sua candidatura. Já José Luís Carneiro arrancou há três ou quatro semanas. É uma corrida da lebre contra a tartaruga mas, segundo a fábula, a tartaruga venceu.

A campanha está a ser mais favorável a José Luís Carneiro nestes dias?
Na minha perceção e com toda objetividade, até porque já passei por muitas campanhas e não dramatizo excessivamente, é uma campanha que tem corrido com muita elevação e estou certo que estaremos todos unidos no dia seguinte, seja qual for o líder eleito. O que tenho notado é que o balão do Pedro Nuno Santos encheu em 24 horas, mas não vi esse balão crescer desde então. Já a candidatura de José Luís Carneiro arrancou, obviamente, com o fogo de quem começa, mas tem vindo a crescer a um ritmo que, até a mim, que conheço bem o PS, me impressiona.

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Não está a faltar apoio nas estruturas do partido? José Luís Carneiro tem sobretudo apoios de militantes mais mediáticos.
Não. Segundo os dados que vi, mais de 50 mil militantes podem votar. As estruturas regionais são 18 no continente e duas nas regiões autónomas. O Pedro Nuno Santos tem a maioria destes dirigentes mas que, no seu conjunto, valem 22 votos. A mesma coisa se extrapolarmos para as concelhias. Estamos a falar de algumas dezenas de votos num universo de mais de 50 mil. Vai-me dizer que as estruturas são importantes e que os líderes locais têm sempre votos, sem dúvida — mas o voto é secreto. A perceção que os militantes têm é sobretudo o que passa na comunicação social e não é por acaso que Pedro Nuno Santos fugiu ao debate, o que é uma coisa também inédita no Partido Socialista, numa campanha com esta importância, onde se vai escolher o futuro secretário-geral e o candidato a primeiro-ministro. Ainda por cima ter recusado o candidato que há mais tempo lançou a candidatura, com argumentos que me parecem completamente risíveis, para não prejudicar a imagem do PS, partindo do pressuposto que não estamos perante duas pessoas educadas, bem formadas e que saberão preservar essa imagem num debate público.

"Há algum temor e tenho notado ultimamente um grande nervosismo por parte dos apoiantes de Pedro Nuno Santos"

E isso pode ser algum sinal?
Ter recusado esse debate é um sinal de que há algum temor e tenho notado ultimamente um grande nervosismo por parte dos apoiantes de Pedro Nuno Santos, numa campanha que percebem que está a crescer e que espera o voto silencioso de muitos milhares de militantes que irão expressar a sua opção. O PS é um partido que é caracterizado pela moderação, pelo sentido de diálogo e estou convencido que o seu universo eleitoral reflete a nossa sociedade, que estou certo se revê mais num candidato com as características pessoais e políticas de José Luís Carneiro do que Pedro Nuno Santos, que é um líder fogoso, quiçá mais carismático, corajoso até, mas, por outro lado, falta-lhe a temperança, a ponderação, o que, algumas das suas medidas evidenciam com muita clareza.

Por exemplo?
Este Governo garantiu, com este orçamento, um excedente orçamental e resolveu guardar uma parte num fundo de reserva para acolher qualquer situação imprevisível, no contexto de guerra em que estamos. Ora, a candidatura de Pedro Nuno Santos já veio dizer que esse dinheiro é para gastar já e aparentemente de uma forma que me pareceu excessivamente eleitoralista. Quando veio dizer que está disponível para rever a situação da recuperação do tempo de serviço dos professores e de toda a função pública, sem apresentar sequer um cálculo, num momento em que a UTAO está a fazer essas contas, parece-me que existe muito voluntarismo, muito boa vontade, mas há algum défice de ponderação. Essa ponderação, segurança e serenidade é aquilo que os portugueses querem ver num primeiro-ministro, e especialmente aqueles portugueses que decidem as eleições, que umas vezes pende para o centro-esquerda outras para o centro-direita. É aí que se pode aumentar a base eleitoral do PS. Não é seguramente para a esquerda, onde o Bloco de Esquerda e o PCP já estão conduzidos a uma enorme insignificância eleitoral.

Ficou surpreendido com as declarações do Ministro da Educação?
Não só fiquei surpreendido como fiquei bastante entristecido. Além de revelar uma enorme falta de coerência, revela uma enorme falta de lealdade para com o primeiro-ministro e para com o Governo, a que ainda pertence. Devo dizer com toda a clareza que me causou uma profunda surpresa e uma enorme indignação.

Apoios a Pedro Nuno Santos. “Fiquei surpreendido com algumas pessoas”

José Luís Carneiro diz que alguns militantes do PS acabaram por fazer um flic-flac para apoiar Pedro Nuno de Santos. Ficou surpreendido com algum?
Fiquei surpreendido com algumas pessoas que não vou mencionar.

Mas foi sobretudo com Francisco Assis e Álvaro Beleza?
Não gostaria de mencionar. Os socialistas são livres de fazer as suas opções, mas em termos de coerência existiram alguns apoios que me surpreenderam. Mas não tenho de fazer nenhuma crítica. Fizeram a escolha que acham em consciência que é a melhor para o partido e para o país, e não por qualquer cálculo político futuro.

Francisco Assis diz que defendeu uma candidatura de consenso. O PS falhou ao não conseguir essa união?
Não falhou nem deixou de falhar. Os militantes do Partido Socialista são livres, se acham que reúnem condições para o exercício de qualquer cargo, de se proporem a tal. O consenso e o unanimismo não são necessariamente qualidades. Uma escolha democrática num confronto onde são apresentadas ideias, projetos alternativos, estilos de liderança só valorizam o Partido Socialista. Mas volto a repetir: tenho muita pena que Pedro Nuno Santos tenha fugido ao debate. No último confronto entre o António Costa e o António José Seguro todos reclamavam esse debate e acabou por realizar-se.

"Mas porque é que um debate frontal (...) dá argumentos à direita?

Mas o argumento de Pedro Nuno Santos de que um debate daria argumentos à direita não colhe?
Mas porque é que um debate frontal, como eu que estou nesta entrevista a exprimir as minhas opiniões que não são totalmente coincidentes com a outra candidatura, dá argumentos à direita? Acho que não. Acho que estou a dar argumentos àqueles eleitores que até podem não ser do PS. Nesta campanha interna é impossível não estar a pensar nas seguintes. Estou mais preocupado com a escolha do próximo primeiro-ministro do Partido Socialista do que propriamente com a escolha do secretário-geral. Esta campanha é para falar para dentro e para fora.

Mas quando José Luís Carneiro utiliza aqui expressões como o flic flac dos camaradas, ou dizer que Pedro Nuno foge ao debate, ou que fez uma operação de cosmética para se moderar, não está a dificultar essa união que o PS precisa depois para as legislativas?
Parecem-me questões factuais. Também não temos que ter medo das palavras. A elevação de uma campanha não significa que tenhamos que calar as nossas opiniões ou deixar de as exprimir. É a expressão dessas opiniões que vão contribuir para a escolha. Já falei com várias pessoas no Partido Socialista e particularmente do meu distrito, que é Évora, e que inicialmente se sentiram inclinados a apoiar Pedro Nuno Santos e que me têm telefonado a dizer que em função daquilo que têm visto que vão mudar de opinião. O debate seria completamente esclarecedor. Os candidato da direita certamente teriam argumentos para fazer o mesmo relativamente aos seus oponentes internos. Já participei em cinco ou seis campanhas internas e o PS sempre saiu vencedor. Talvez a mais acesa, de Guterres contra Sampaio, em que apoiei Jorge Sampaio convictamente e um mês depois o António Guterres foi-me chamar para o seu Governo, do qual fiz parte até ao último dia. Não deixei de exprimir acesas críticas ao que achava que Guterres estava errado. Dessa vez enganei-me, felizmente tive melhor sorte na última quando achei que António Costa seria melhor primeiro-ministro que Seguro e exprimi as minhas opiniões sem temor.

Geringonça. “Foi uma questão de sobrevivência do PS”

Foi ministro durante o Governo apoiado na geringonça. Esse acordo das esquerdas foi mau para o país ou foi bom e agora já não faz tanto sentido?
Esse acordo com as esquerdas foi uma necessidade de sobrevivência do PS. O que teria sido um Governo do PS que não tivesse encontrado uma solução maioritária, que na altura foi super criticada porque “aqui del rey” o partido vencedor não tinha formado Governo. Os mesmos que disseram isso foram os mais acérrimos defensores de uma solução idêntica nos Açores quando o PSD ficou em 2º lugar e tinha uma maioria de direita que poderia apoiá-los. A geringonça teve aspetos negativos e positivos. No meu caso, enquanto ministro da Agricultura, devo dizer que havia um único ponto nos acordos escritos que nem sequer era com o PCP ou com o Bloco de Esquerda, era com Os Verdes e passava por suster a área de expansão do eucalipto, o que veio a ser cumprido. O PS governou de acordo com o seu programa.

Mas o PS deve olhar primeiro para o centro ao invés da esquerda?
Parece-me óbvio. O PS não ganha eleições a ir só buscar votos aos militantes. Não acredito que vá buscar mais votos ao Bloco de Esquerda e ao PCP porque estão reduzidos à sua ínfima expressão. A única hipótese de crescer eleitoralmente é para o centro, que tem de ver na liderança do PS alguém com as características e o perfil que lhe dê confiança e tranquilidade. Dos dois candidatos em confronto, José Luís Carneiro é mais suscetível de reunir essa questão. Não digo que Pedro Nuno Santos as não reúna mas acho que o José Luís Carneiro reúne melhores condições.

"Tenho muita pena que o PS na sua fundação não tenha adotado a designação de social-democrata"

Se o PSD ganhar sem maioria absoluta, o PS deve comprometer-se a viabilizar um governo de Montenegro ou deve procurar essa maioria à esquerda?
O PS deve bater-se para ganhar eleições. Se houver uma maioria de direita, a direita que se entenda. O PS irá fazer o seu papel, como compete, na oposição. O problema da viabilização de um Governo de direita, havendo uma maioria, é obviamente da direita.

Pedro Nuno Santos já disse ser um social-democrata. Seria capaz de governar representando bem os moderados? 
Nós os socialistas somos todos sociais-democratas. Tenho muita pena que o PS na sua fundação não tenha adotado a designação de social-democrata, que é, do ponto de vista doutrinário mais identificável do que o socialismo democrático que caracterizou a designação dos partidos do sul da Europa. O PS é social-democrata e nos somos todos sociais-democratas.

Teria problemas em votar em Pedro Nuno Santos a 10 de março?
Nos grandes partidos, sejam sociais-democratas ou conservadores, há nuances e linhas que têm uma tendência mais para a esquerda ou mais para o centro. O PS sempre foi assim. O próprio confronto de Mário Soares contra o ex-secretariado, o próprio confronto de Guterres contra Sampaio. Há diversas tendências dentro do PS, não organizadas, e a social-democracia ou o socialismo democrático não é uma cartilha que todos tenham de respeitar como se de uma seita se tratasse. Isso é um problema que se coloca a outro, não ao Partido Socialista.

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