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Catarina Holstein a Laurinda Alves: "Senti que queria ser um bocadinho como as crianças, que brincam às profissões"

Despediu-se da gestão para correr mundo e prefere a sigla que criou e registou, a MLA, ao MBA. Em entrevista a Laurinda Alves, a estratega de talentos explora o seu Master in Life Adventures.

Fartou-se da vida como gestora e passou um ano a viajar. Agora, a estratega de talentos inspira outros a planear o seu “Master in Life Adventures”, um programa de desenvolvimento pessoal estruturado com direito a sigla reconhecida internacionalemente. Catarina Hosltein juntou-se à lista de “Imperdíveis”, o novo programa de Laurinda Alves na Rádio Observador, todos os domingos, às 11h. Leia a entrevista na íntegra.

[Ouça aqui a entrevista de Catarina Holstein a Laurinda Alves]

Catarina Holstein, para quem não a conhece, como é que se define?
Isso é uma pergunta interessante e que eu acho que tenho explorado nos últimos dois anos. Fui fazer uma grande viagem e na altura passei por muitas experiências em que tínhamos que nos apresentar, e normalmente eu estava habituada a dizer: “Olá, sou a Catarina, tenho 29 anos (na altura) e sou brandmanager”. E de repente eu já não tinha trabalho e, portanto: “Olá, sou a Catarina Holstein, tenho 29 anos e sou desempregada”. E percebi que de facto isso não me definia e então tentei encontrar outras formas de me apresentar.

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Além de que ser desempregada é o verbo errado, é estar. Não é o verbo ser é o verbo estar.
Obrigada (risos). Mas é engraçado que desde que voltei faço várias coisas, tenho várias atividades. No outro dia também alguém me perguntou o que é que eu fazia… queria uma expressão curta.

Queria um título…
Um título, exatamente. E eu disse que fazia várias coisas. E a resposta foi “ah, não fazes nada”.

Hoje as pessoas acham que fazer muita coisa pode ser sinónimo de estar entre projetos ou de não fazer nada. Que é uma visão completamente errada porque vocês são a geração que vai fazer, pelo menos, trinta ou quarenta coisas ao longo da vida e, portanto, são muitas coisas para fazer no percurso profissional. Mas então como se define hoje? Ou seja, encontrando um título, o que é que podia ser? Gestora de talentos, potenciadora de talentos?
Tento que todas as atividades estejam em linha com aquilo que eu acredito ser o meu propósito. É uma das coisas que tenho tentado explorar, e descobri que queria trabalhar com pessoas, e na capacitação de talentos. E faço-o de variadíssimas formas…

Não só o coaching.
Exatamente. Dou aulas na universidade, faço meditação, e depois também estou a desenvolver um projeto que tem tudo a ver com desenvolvimento pessoal, e portanto encontrei no termo ou expressão talent strategist talvez a melhor…

Ou seja, uma estratega de talentos, uma pessoa que sabe identificar e multiplicar os talentos dos outros e assim também multiplicar os seus próprios talentos.
Exatamente.

Nessa descoberta, que também é uma auto-descoberta, chegou a um conceito que criou, que  inventou e que registou internacionalmente, que é o MLA. Ou seja, nós estamos habituados ao MBA mas agora também existe o MLA. O que é que é o MLA?
Se calhar vou um bocadinho atrás só para perceber como é que surge este conceito. E antes de explicar, MLA significa Master in Life Adventures, ou seja, é um mestrado em aventuras da vida. Estava a trabalhar quase há seis anos na mesma empresa e andei a saltitar, trabalhei em sete marcas diferentes, cinco equipas diferentes, três países diferentes. Acho que só o facto de ter feito isso em 5/6 anos demonstra que estava a tentar encontrar o meu lugar. E, portanto, houve um dia numas férias que reconheci, de facto, a necessidade de mudança. Não valia a pena eu estar a continuar a encaixar-me…

Mas havia uma espécie de burnout ou só qualquer coisa que dizia que estava a persistir num caminho que não era para si?
Eu não cheguei a sentir-me em burnout, mas não me sentia realizada, não me sentia feliz e, acima de tudo, sabia que já conhecia alguns dos meus talentos e não tinha espaço para explorá-los, para alavancá-los, para os pôr ao serviço do próximo.

Tinha quantos anos na altura?
Tinha 27.

"Por todo o meu percurso, e porque também já tinha dado aulas e fui monitora em campos de férias, percebi que através da empatia conseguia ajudar as pessoas a explorar os seus talentos, a descobri-los, a motivar e, portanto, eu achava que os meus talentos tinham a ver com pessoas, com o trabalhar com pessoas"

Há muitas pessoas que já se começam a identificar consigo. Ou seja, aos vinte e poucos, ou vinte e muitos, a pessoa já pode estar a sentir que não está a aprender nada, ou não está a acrescentar valor, ou não está a pôr os seus talentos a render. E foi isso que a fez dar um passo ao lado ou um passo no abismo…
Sim, no abismo, porque depois o que aconteceu foi pensar que se não estava bem aqui tinha que encontrar outra coisa. E comecei a identificar opções e pensei que podia mudar de empresa, ir experimentar outras áreas. Podia fazer um doutoramento porque tinha dado aulas enquanto fiz o mestrado e foi das coisas que mais gostei de fazer na vida…

E por isso continua a ser professora assistente…
E por isso continuo a ser professora. E outra das opções foi fazer um MBA. Sou da área de gestão, portanto é um marco importante na carreira, até ajuda, às vezes, a fazer este shift na carreira que a pessoa procura. E outra das opções que eu identifiquei foi viajar pelo mundo.

É muito tentador.
É muito tentador.

Em qualquer idade.
Exatamente.

Parar para viajar. Tirar o seu tempo e fazer um restart na vida.
Exatamente. E portanto eu analisei todas as opções e percebi que as três primeiras não traziam as respostas que eu procurava. Compreendi que precisava de tempo e de espaço para explorar e para experimentar, porque eu sabia o que é que não queria, tinha ideia do que é que quereria, mas não tinha certezas. E senti que queria ser um bocadinho como as crianças, que brincam às profissões.

Eu também sou professora, também dou aulas e falo com os meus alunos que estão, muitos deles, no auge desta busca, até porque têm 18, 19, 20 anos. Digo-lhes sempre que aquilo que mais ajuda é saber sempre o que não queremos porque não sabemos exatamente o que é que queremos. Mas saber sempre o que não queremos. E portanto é interessante verificar isso também, no fundo, na prática.
É importantíssimo. E às vezes é fazendo o que não se quer que se descobre todo um outro mundo à nossa volta.

Isso deu-lhe coragem para dar um passo em frente e ir explorar o mundo e a si própria.
Eu precisava de tempo e espaço, portanto sobrou-me a tal hipótese de viajar pelo mundo, mas eu também não queria ser turista a tempo inteiro e não queria ir de férias, que foi aquilo que a maior parte das pessoas acha que eu estive a fazer. Agora já não tanto. Mas como também não era suficiente, depois estive um bocadinho em debate interior. E há uma noite que tenho um sonho e nesse sonho eu visualizo a capa de um livro. E na capa está escrito: porque é que eu decidi fazer um MLA, em vez de um MBA?

Isso foi um sonho? Tinha uma legenda?
Sim, visualizei a capa e dizia: porque é que eu decidi fazer um MLA, em vez de um MBA?

Isso é uma verdadeira cabeça de gestão, de gestora.
Eu sonho imenso e tenho imensas ideias a dormir, ou então naquele momento em que a pessoa está quase a adormecer.

E isso, quando acordou, fez sentido para si?
Fez sentido porque o MLA depois queria dizer Master in Life Adventures e fez-se um clique. Eu vou viajar pelo mundo, à medida que desenvolvo competências e que exploro e desenvolvo os meus talentos. Eu vou usar o mundo como sala de aula.

Que foi o que aconteceu e que é o que está a replicar agora para outras pessoas.
Sim, estive durante um ano a viajar pelo mundo, a trabalhar, em diferentes experiências, fiz voluntariado…

E programou tudo ou pré-programou uma parte da viagem e deixou a outra em aberto? Como é que se faz isso? Ou seja, se uma pessoa quiser tirar tempo, sejam dois meses, seis meses, um ano a viajar, e para não ser só turista e para poder afinar aquilo que pretende afinar, o que é que tem que fazer?
Eu acabei até por traduzir o MLA no modelo de desenvolvimento pessoal. A primeira fase é o processo de decisão e a segunda fase é a preparação, é antes da partida. É importante dizer que este meu processo de decisão que contei em três minutos, me levou dois anos. Foram dois anos a construir a coragem necessária para que isso acontecesse. E depois estive seis meses em preparação e durante esses seis meses houve uma introspeção profunda do que aconteceu.

Mas aí não estava parada, continuava a trabalhar.
Eu aí continuava a trabalhar, sim.

É que é importante para as pessoas, porque realmente as pessoas já não têm um ano para fazer o MLA, quanto mais dois anos e meio para pensá-lo e organizá-lo.
Eu estive sempre a trabalhar.

Esteve sempre a trabalhar, sempre funcional, mas sempre com este pensamento em curso.
Era um plano que eu tinha para a vida. Comecei por refletir sobre o que é que eram os meus sonhos e o que é que eu sempre quis experimentar e nunca tive oportunidade. O que é que eu gostava eventualmente de ser. Depois o que eram as minhas paixões, o que é que eu gostava mesmo de fazer. E depois o que eu achava que eram os meus talentos.

E pode dar assim uma resposta breve sobre cada uma delas?
Uma das coisas, por exemplo, que eu queria muito experimentar era turismo, era trabalhar em hospitality, numa guess house ou num hotel. E também tinha este sonho de trabalhar com pessoas, não sabia bem em que moldes, mas o coaching era uma das opções. Em termos de paixões, o surf e a fotografia. E em termos de talentos, é sempre um bocado mais difícil de dizer.

É mais fácil dizer que sou surfista do que dizer que tenho talento para isto ou para aquilo.
Sim, mas por todo o meu percurso e porque também já tinha dado aulas e fui monitora em campos de férias, percebi que através da empatia conseguia ajudar as pessoas a explorar os seus talentos, a descobri-los, a motivar e, portanto, achava que os meus talentos tinham a ver com pessoas, com o trabalhar com pessoas.

Com o encorajar os outros, a buscar dentro de si o melhor de cada um.
Exatamente. E claro que se liga muito com o coaching porque depois identifiquei sonhos, paixões e talentos. Depois fiz uma mescla e tentei perceber quais eram as três principais áreas de desenvolvimento em que me queria focar. 

Porque senão, às tantas, é um mundo de oportunidades e não pode perder-se nesse desfoque. O que é impressionante é que desde que a conheci, vejo-a com um sorriso de orelha a orelha e com uns olhos que brilham, quer quando está a falar da MLA, quer quando está a falar dos alunos, quer quando está, por exemplo, a falar destas taças que hoje trouxe para aqui. O que são estas taças? E como é que consegue que alunos do mainstream, alunos de universidades, como a universidade Católica, lhe peçam a si para tocarem nas taças para terem um momento de paragem e de se encherem de coragem, concentração e sabedoria para os testes? O que é que faz com estas taças e donde é que elas vieram?
Isto pega com a pergunta anterior, que não cheguei a responder, no sentido em que eu tinha um plano, achei que ia cumprir o plano, mas depois é mesmo importante saber quando é necessário ajustar. A meio da minha viagem percebi que tinha que fazer muitos ajustes, porque fui descobrindo tantas coisas sobre mim e uma delas foram, por exemplo, as taças.

Ou seja, uma pessoa que é surfista, que gosta de dar aulas, que trabalha como brandmanager e, de repente, vê-se numa linha um bocadinho mais, não diria esotérica…
Sim, mais mindfullness, de meditação… o primeiro país onde fui foi a Índia, tive a experiência da meditação e fiquei fascinada com os efeitos que aquilo teve em mim. Logo ali eu pensei: “Eu quero estudar isto”. Fiquei um mês, ainda continuei a seguir o percurso que tinha definido até determinado ponto. Mas queria estudar cada vez mais a meditação. E depois no Nepal, que foi o segundo país por onde passei, descobri as taças tibetanas. A meio da viagem pensei que era um complemento fantástico para a capacitação de pessoas, a parte toda da meditação, do mindfullness

O esvaziamento da mente.
Exatamente, do conseguir estar no momento presente.

É difícil para as pessoas hoje em dia. A vida é muito acelerada, muito exigente e é difícil estar aqui e agora.
Eu acho dificílimo e especialmente na viagem é muito mais fácil. Eu agora tenho esse desafio diário, porque estamos constantemente a ser bombardeados com estímulos. Quando vivemos na cidade natal, as constantes solicitações, as redes sociais. Tudo distrai. Vamos à casa de banho com o telefone.

Quase que se toma duche com o telefone (risos).
Exatamente (risos). E quando temos silêncio, é constrangedor, quase como se não soubéssemos apreciar a nossa própria companhia. O silêncio é importantíssimo, e a capacidade da pessoa se conectar consigo própria para saber quem é.

Voltando às taças, ao Tibete e ao Nepal… Como é que as usa? Não poderemos usá-las em todo o seu esplendor porque se calhar a vibração ficaria demasiado longa… mas posso pedir-lhe para tocar?
Vou fazer uma harmonia. Nós temos aqui cinco taças e todas elas têm tamanhos diferentes, as taças são todas feitas de vários metais e têm todas vibrações diferentes.

Isto é uma taça muito antiga?
É uma taça muito antiga, foi feita num mosteiro. A maior e a mais pequena foram feitas há muitos anos e depois temos aqui três taças que são mais recentes. São todas feitas à mão e há dois tipos de taças, as mecânicas, feitas na máquina…

Como os sinos da Igreja, os mecânico e os rústicos.
Exatamente. E as outras são mais um souvenir, e mais usadas para fins terapêuticos, para fins de meditação. Toco?

Pode tocar.

(ouve-se a vibração das taças)

Isto para a nossa cultura tem uma espécie de reminiscência dos sinos da Igreja, de hora certa…
Sim, sem dúvida, e, de facto, os sinos da Igreja também vibram e as pessoas associam muito as taças tibetanas. E, se calhar, como usou a palavra esoterismo… Quando levei as taças para as aulas as pessoas…

Houve alguém que teve medo desse lado esotérico.
É, só que o que aconteceu foi que eu expliquei que estas taças imitem vibrações e essas vibrações conectam-se com as vibrações do nosso corpo, porque se nós formos decompondo o nosso corpo, são partículas em vibração, está provado cientificamente. Portanto, o nosso corpo é energia em vibração e as taças conectam-se com a energia do nosso corpo e fazem com que a energia flua.

Voltando outra vez ao Nepal e a meio da viagem… o que é que vai ajustando, quais são as necessidades e as surpresas? O que é que uma pessoa não consegue pensar antes, mas talvez no MLA, já numa estrutura que a Catarina providencia, pode acautelar ou ajudar a viver?
É uma pergunta que não é fácil de responder… Na altura, quando comecei a preparação, foquei-me muito nas aventuras, naquilo que queria aprender, nas competências, nos talentos…não tinha total consciência que, acima de tudo, o MLA seria uma viagem profunda de autoconhecimento e que  iria ter muitas surpresas comigo própria.

Algumas confessáveis?
Algumas confessáveis…Por exemplo, vivi muito na expectativa. Achava que quando fosse promovida iria ser mais feliz, quando fosse assim ou assado…quando me parecesse assim ou assado…eu iria ser mais feliz.

E também nas expectativas dos outros ou não? A tentar corresponder…
Muito. Estive em Artes e depois acabei por ir para Arquitetura porque era o curso que dava mais saída, depois fui para Gestão… e essas decisões foram sobretudo reflexo do modelo standard de sucesso e do que os outros pensavam que era melhor para mim, do que propriamente aquilo que eu queria. Mas na verdade eu também nunca parei para pensar. Lá está, num mundo tão cheio de barulho, e as pessoas têm sempre tantas opiniões, acho que o MLA, na verdade, foi provavelmente a primeira grande decisão só minha. Tanto que toda a gente achava que eu estava louca, que ia deitar um emprego estável e uma carreira promissora pela janela para ir de férias.

"Num mundo tão cheio de barulho, e em que as pessoas têm sempre tantas opiniões, acho que o MLA, na verdade, foi provavelmente a primeira grande decisão só minha. Tanto que toda a gente achava que eu estava louca, que ia deitar um emprego estável e uma carreira promissora pela janela para ir de férias".

Nessa perspetiva é assustador.
Só que a questão é que eu escrevi imenso, pensei, refleti e percebi que era a melhor solução para a minha vida. Quando as pessoas não achavam que era boa ideia, eu consegui manter-me firme.

Quem foram as pessoas que mais apoiaram, que mais tentaram fazer um shark tank dessa ideia?
Quando contei pela primeira vez, ainda me lembro, foi na altura do verão. Não me lembro de ver assim muita gente a apoiar porque na altura dizia que ia viajar pelo mundo e as pessoas achavam que me ia perder, que ia sair do mundo do trabalho e perder o ritmo…

Vai-se desenraizar, vai-se desenquadrar…
Exatamente. Que ia fugir à realidade… isto era muito aquilo que as pessoas me diziam.

Mas não tinha medo disso também? Não tinha medo de estar a tentar escapar? Isso nunca lhe atravessou o espírito?
Se eu tivesse a ideia, de facto, de ir assim sem rumo, só a tentar encontrar-me…

Só ter experiências e aventuras, isso não…
As pessoas diziam muito que me ia encontrar, mas eu por acaso não me sinto assim tão perdida, aliás nunca me senti tão encontrada. Todo o meu processo de preparação criou uma estrutura de confiança que foi o que me permitiu ir contra a corrente. E depois houve outra questão que acabou por convencer todas essas vozes desencorajadoras, que foi o MLA. Porque eu, de repente, tinha um conceito que fazia imenso sentido.

Tanto que faz que está a fazer muito sentido em muito lado, em muitas pessoas, em muitas empresas e universidades.
E, de repente, eu disse que ia fazer um MLA e houve até quem achasse que o MLA já existia e que era uma coisa com valor.

Ou seja, a coisa não existia, foi criada por si e se parecia que já existia é porque está completamente certa, não?
Eu acredito que sim e acho que vale a pena. Para mim, o MLA é, acima de tudo, um programa de desenvolvimento pessoal estruturado.

Essa é a questão. O Master in Life Adventure não pode ser só uma viagem de turismo, nem sequer só uma viagem de voluntariado, tem que ser uma viagem estruturada e acompanhada ou guiada… mentorizada.
Sim, sem dúvida, eu não tive ninguém que me acompanhasse nessa parte da mentoria mas acabei por consegui-lo fazer com todas as pessoas que fui conhecendo ao longo da viagem e sempre conversando. Depois, uma das coisas que eu dizia, porque registei a marca do MLA, achei que tinha potencial, era que a minha viagem foi toda ela também um teste de mercado. Sempre fui conversando muito sobre o conceito.

Lá está a sua cabeça business… é bom porque assim faz com que tenha os pés na terra.
Exato. E, portanto acabei por encontrar essa orientação muito nas pessoas com quem me fui cruzando.

Então isto tudo começou num sonho. No sonho visualizou a capa de um livro… o que é uma coisa extraordinária mas que eu percebo. Resolvo imensos títulos e escritos também nesse estado de semivigilância, portanto reconheço isso em qualquer pessoa criativa, ou que trabalha nestas áreas mais intelectuais. Não é nenhuma magia, nem um mistério assim tão grande. Portanto, tudo começa nesse sonho que a leva a criar este MLA. Neste ponto em que está já tão sistematizado, em que está uma marca internacionalmente criada, que se prepara para orientar pessoas que estão nas empresas e alunos universitários a dar essa orientação, quais são as ferramentas que sente que pode dar? Penso que o livro ainda não estará escrito…
Está aí… está em processo de criação.

Imagine, por exemplo, uma pessoa, um estudante, que em vez de fazer o seu mestrado quer fazer um gap year ou um tempo de viagem. O que é que aconselha?
Indo um bocadinho atrás, falando do MLA, o mundo como sala de aula e também como a minha história, que é a que eu conto, remete muito para as viagens pelo mundo. A pessoa até pode pedir uma sabática… mas o MLA não é só para as pessoas que querem tirar um ano, seis meses, três meses para irem viajar pelo mundo. O MLA é um programa de desenvolvimento pessoal desenhado à medida de cada um. Posso ajudar, mas todos nós somos únicos. Para mim fez sentido o MLA e não o MBA porque no MBA eu teria que me encaixar novamente no pré-definido, fazer aquelas disciplinas, naquele sítio, dentro das salas de aulas. E o MLA é de facto onde é que eu quero aprender, onde eu quero ir.

Como é que transformo o mundo numa sala de aula sem me perder, não é?
E o mundo é tudo aquilo que está fora das nossas rotinas, da nossa zona de conforto. E na maneira como imagino, o MLA pode também ser para uma pessoa que tem um trabalho e que crie um programa de desenvolvimento pessoal usando o mundo à sua volta, mas no sítio onde está.

"O que o MLA traz é uma nova perspetiva sobre o meu tempo e como é que o posso usar. Por exemplo, o meu sonho era ser escultora, houve uma altura que era uma das coisas que mais gostava, mas, se pensar que já tenho 31 anos e teria que voltar para a universidade, parece tudo impossível até eu me tornar escultora. Se calhar, se criar um plano de desenvolvimento pessoal, se for tendo experiências e aventuras que me vão preparando para esse sonho que eu tenho..."

Ou seja, eu posso fazer um MLA aqui na cidade de Lisboa ou na cidade do Porto?
Exatamente. O que acho que o MLA traz é uma nova perspetiva sobre o meu tempo e como é que o posso usar. Por exemplo, o meu sonho era ser escultora, houve uma altura que era uma das coisas que mais gostava, mas, se pensar que já tenho 31 anos e teria que voltar para a universidade, parece tudo impossível até eu me tornar escultora. Se calhar, se criar um plano de desenvolvimento pessoal, se for tendo experiências e aventuras que me vão preparando para esse sonho que eu tenho…

É o chamado pôr os meios para atingir os fins. Em modo não acelerado, no sentido em que a pessoa queima etapas, mas em modo focado, ultrafocado. E isso é um acelerador, parar para focar acelera.
Acho que o MLA é esse convite à pessoa para parar, refletir, rever as suas prioridades, o seu tempo, como é que eu estou a usar o meu tempo. Tem que haver uma vontade enorme da parte da pessoa, no sentido de compromisso e responsabilidade.

Tem que haver também alguns endurances, a pessoa tem que ter coragem para se libertar do dinheiro que ganha, do estatuto que se conquistou. É preciso uma certa liberdade interior.
Sem dúvida. E, por exemplo, uma pessoa que não queira despedir-se…tem que haver uma mudança de mentalidade num contexto organizacional.

Ou seja, tem que se ser convincente o suficiente, e estruturado o suficiente para convencer o seu chefe, o seu diretor que podem fazer isto e que pode ser um valor acrescentado para ele próprio e para a empresa. O problema é se a pessoa não volta para a empresa, não é? Isto em termos corporativos ainda tem que se afinar. Ou seja, uma empresa pode investir no MLA de um dos seus colaboradores, mas com a certeza de que o colaborador volta para a empresa.
Isso é uma questão super interessante, porque se a pessoa não voltar provavelmente é sinal de que não era ali que devia estar.

E portanto isso é bom para os dois. Mas o que pergunto é: como é que a pessoa se pode atirar para esse passo gigante ou para esse salto que parece o abismo em termos financeiros, em termos de recursos logísticos? Como é que fez? Poupou dinheiro para isso? Que dinheiro é que é preciso? Ou pode planear as viagens de tal forma que as primeiras dez viagens podem ser low cost ?
Claro, é importante e vai ter à pergunta de como é que a pessoa faz para ter um MLA ou que ferramentas eu me proponho a oferecer. Sinto que o MLA é um projeto de vida; serviu-me de forma tão extraordinária que quero que as pessoas também o possam usar. Criei um modelo de desenvolvimento pessoal e agora estou a desenvolver uma metodologia que ajuda as pessoas, etapa a etapa, a preparar, até durante a viagem, a parte toda da reflexão, do ajuste e da preparação na área dos talentos. Ou seja, isso tudo leva a que aventuras eu quero ter e como é que eu conseguiria desenhar o meu MLA ideal.

Quando fala de aventuras não estamos a falar de rappel estamos a falar de outro tipo de aventuras…
Também pode haver rappel. Posso dar alguns exemplos. No meu caso, queria muito ter uma experiência de viver numa quinta biológica e aprender permacultura, fazer jardinagem, produtos naturais. Depois queria ter uma experiência em turismo, queria ter mesmo a experiência de trabalhar no contexto de hotel. E depois queria ter toda a experiência do mindfullness, de viver num ashram [uma comunidade orientada para a promoção da evolução espiritual dos seus membros], e estudar coaching. Depois, pegando nisso e nos lugares onde queria ir, nas pessoas que queria conhecer, acabei por desenhar aquele que era o meu plano de desenvolvimento MLA ideal.

E como é que uma ocidental, sem experiência nenhuma e que nem sequer é uma pessoa esotérica, chega aí e vive num ashram? Qual é a experiência interior que faz com que a pessoa viva aquilo inteiramente também? E não sempre de fora e a julgar, em comparação com a sua própria cultura e com os seus próprios hábitos?
Acho que é exatamente aceitar.

Ou seja, fazemos por enterrar, afogar e deixar para trás tudo o que é julgamento em nós e abrir-mo-nos às perspetivas dos outros e às lógicas dos outros.
Exatamente. É o despojamento total e estar aberto. É ser humilde para aprender. Estar recetivo a aprender tudo aqui que as pessoas à minha volta teriam para me ensinar e para me oferecer.

E há ‘estômago’ para o choque cultural, a alimentação, o sono? Tudo isto é importante não é?
É verdade. Eu, se calhar, até falo de outra experiência que tive. Estive dez dias em silêncio, num curso de meditação vipassana que foi a experiência mais importante de toda a minha viagem. Foi a última aventura antes de eu voltar para Portugal. Nós acordávamos às 4h30 da manhã e passávamos dez dias a aprender uma técnica de meditação, e é duríssimo.

Isto era onde?
Isto foi no Rajastão, na Índia.

Estava frio, estava calor?
Estava calor. O quarto até era bastante confortável, mas muito simples. Tudo era muito simples, a comida, era típica indiana. Mas foi duríssimo.

O que é a dureza? A dureza é o silêncio, a posição de meditação, a alimentação, é o quê? Ou a dureza é o encontro consigo próprio?
Acima de tudo é isso mesmo. E é giro porque de facto viajar pelo mundo cria um espaço que nós aqui não o encontramos tão facilmente. Nesse curso estive no mesmo sítio com as mesmas rotinas diárias e percebi que para que o auto-conhecimento aconteça eu não tenho que ir para o outro lado do mundo.

E isso descansa imenso, não é?
É preciso é criar tempo e espaço.

E voltamos ao início. Ou seja, o MLA, ou o Master in Life Adventures, pode ser feito cá, é preciso é encontrar um tempo e um espaço na vida de cada um.
Exatamente.

Essa é a síntese do MLA. Mas também tem este lado fascinante de poder viajar à volta do mundo. Fazer do mundo uma sala de aula, mas uma imensa sala de aula. Também podemos fazer da nossa vida, do conhecimento de nós próprios, uma imensa sala de aula.
Com certeza, até porque, como eu já tinha dito, foi a maior aprendizagem que eu tirei. E neste curso que fiz outra das ferramentas que desenvolvi, e que hoje é tão importante, é de facto o silêncio. Estive 10 dias em silêncio, não podia ler, não podia escrever.

Faço retiros de silêncio de sete dias todos os anos. (Estamos em programas intimistas, posso também pôr a minha parte! É um tempo para arrumar a casa interior). Saindo aqui um bocado do MLA, das viagens e voltando ao surf. Porque é que faz surf? 
Faço surf desde os 17 anos e tenho pena de não ter descoberto antes. Sempre gostei muito de desportos radicais e acho que comecei pelo surf  porque na altura era um desporto que atraía imenso, e pelo contacto com o mar, por cortar a onda. E tinha um grupo giríssimo de treinos. Hoje continuo a fazer, mas vou sozinha quase sempre. E para mim mais do que um desporto é um tempo de encontro comigo mesma. Também de superação porque eu acho que o mar é sempre diferente e às vezes até é bastante desafiante. É um exemplo de persistência, porque há dias em que a pessoa quase  não consegue apanhar ondas, mas acima de tudo é um tempo que eu tenho para ali estar. Às vezes até posso ir com alguém, mas é um desporto muito individual.

Mas hoje é difícil estar no mar sozinho porque são legiões de surfistas. A que horas é que faz isso para conseguir estar com esse sentido de estar sozinha?
Eu até posso estar com pessoas à minha volta que não conheço, mas não tenho de estar sozinha no mar.

Não é como aquelas pessoas que vão às 5h ou 6h da manhã para poderem estar sozinhas?
Sim, mas até é recomendável que não se vá. Eu tento nunca entrar sozinha porque nunca sabemos o que pode acontecer. Agora consigo, mais ou menos, programar a minha vida para ir de manhã ou à tarde. Faço muito surf em Peniche onde não há tantas pessoas.

Mas onde as ondas também são umas grandes ondas. Já falámos de tanta coisa, a única que não falámos e que não a ouvi dizer nem exprimir foi a palavra medo. Ouvi falar de coragem, de parar, de ter tempo, de estratégia, de talentos, de arriscar, mas nunca medo. Não tem medo de nada?
Sou 100% sincera e obviamente que tenho as minhas inseguranças e os meus medos, e acho que tinha muito mais antes de ter dado este passo, mas era aquilo que eu dizia: a coragem. Acho que tudo o que sai fora da nossa zona de conforto envolve sempre risco, e principalmente aquilo que eu fiz. Despedi-me e não sabia para onde é que ia. E as pessoas perguntavam-me: “E a seguir?”,  e eu ainda nem tinha ido. A coragem constrói-se, e durante este tempo estive a desenvolver uma estrutura de confiança em mim própria, de autoconfiança.

Como é que isso se faz, em concreto?
Tem muito a ver com duas coisas. Pensei: “Tenho dois braços, duas pernas, uma cabeça. Tenho toda a experiência que adquiri até hoje, tenho uma formação de base ótima. E tenho depois uma base de pessoas à minha volta, o que ajuda imenso.” O que quer que aconteça, eu estou preparada para enfrentar. E até dizia sempre que se eu voltar e por acaso estiver à procura de trabalho e não encontrar, se for preciso vou servir às mesas durante algum tempo – sem tirar qualquer valor, obviamente.

Mas fazendo aquilo que se faz muito bem feito, sempre. Ou seja, nós é que damos a dignidade àquilo que fazemos.
Exatamente, eu estava preparada para fazer aquilo que fosse preciso.

Disse “eu encorajei-me, criei um sistema de fortalecer a minha confiança. Não foram precisas pílulas, nem nenhuns comprimidos para ficar mais imune.” A minha questão é: a confiança gera sempre confiança, é uma matemática infalível, e uma cabeça de gestão como a sua sabe isso. Quanto mais confiança conseguirmos construir em nós, mais projetamos nos outros. Mas, nem sempre estamos capazes de nos resgatar para a confiança. Quando se sente mais frágil, ou menos confiante, qual é a sua ferramenta mais poderosa?
Uma das coisas que tento fazer é reunir comigo própria e tentar perceber porque é que isso está a acontecer e perceber que às vezes são esses momentos mais difíceis que depois nos tornam mais fortes.

Ou seja, aprender na fragilidade, fortalecer e crescer a partir daí, e não daquilo que corre bem.
E abraçar muito também a vulnerabilidade e respeitar. Eu quando me despedi, fiquei tristíssima, mas ao mesmo tempo pensei “é normal eu estar triste”.

Estava triste, mas em paz.
Em paz porque eu tinha a certeza. E perguntavam se eu tinha a certeza de ter tomado a decisão certa, e eu tinha. Estava triste porque estava a deixar as pessoas de quem gostava e apesar de tudo eu gostei imenso de trabalhar naquela empresa.

É importante que assuma isso ou que partilhe isso porque às vezes uma pessoa associa uma alegria imediata a estar a fazer a coisa certa e ter de estar alegre. E, muitas vezes, estamos a fazer a coisa certa e há um sentimento de tristeza. Talvez o sinal não seja a alegria ou a tristeza que no fundo é assim uma coisa que há mais à flor da pele. O sinal maior é se estou em paz e sinto-me inteira. É mais no sentido de estou em paz e há uma unidade, há qualquer coisa que ficou mais inteira dentro de mim.
Sem dúvida, é respeitar os momentos. Às vezes eu estou triste só que eu respeito essa tristeza sabendo que eu estou em paz pelo caminho que estou a fazer.

Abraçar é uma boa conjugação verbal, disse “abraçar a vulnerabilidade” e “abraçar a tristeza”. Catarina, há bocado disse esta coisa fabulosa que é ganhar cada vez mais coragem e autoencorajar-me, reforçar a confiança. Isso para mim reforça a convicção de que quando queremos trabalhar um defeito em nós, não podemos estar focados no defeito, temos é de cultivar a virtude oposta. Se eu tenho medos, tenho de cultivar a virtude da coragem. Sente que é isso? Se cada vez que nós temos mais medos, nos sentimos mais frágeis, podemos abraçar, acolher e trabalhar a virtude oposta.
Sem dúvida, eu acredito muito no potencial ilimitado do ser humano e acho que é sempre tentando cultivar algo que nós não conhecemos ou que está fora da nossa zona de conforto que vamos conseguir sempre abrir mais o nosso mundo e perceber que os nossos limites somos nós que os criamos.

Só para acabar, e porque tendo perguntado isto ao Salvador Sobral e depois ao Miguel Guilherme, pergunto-lhe a si também. Se pudesse trazer alguém aqui, morto ou vivo, nacional ou internacional, quem é que traria?
Eu talvez trouxesse o professor do meu curso de meditação vipassana, que foi dos momentos mais especiais. O senhor chama-se Goenka e dá o curso todo através de áudios e vídeos. É uma pessoa com quem se cria uma empatia espetacular, mas ele já morreu há uma série de anos. Eu adorava os momentos finais do dia porque íamos assistir às talks dele, eu ria, talvez porque não pudesse falar, e é impressionante uma pessoa que não está cá fisicamente com quem eu criei uma empatia incrível.

E que permanece vivo. Isso também encaixa nesta célebre frase de Santo Agostinho que diz que “como é que podem dizer que morreu quem permanece tão vivo no nosso coração”. 

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