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(artigo em atualização ao longo do dia)

Não estava previsto na agenda inicial, mas acabou por ser incluído no programa da campanha. No sprint final do apelo ao voto, Nuno Melo fez uma interrupção no lufa-lufa da caravana centrista para, estando de passagem pelo Porto, fazer uma paragem na FNAC da rua de Santa Catarina para apresentar o seu mais recente livro: “Direito de Oposição”, editora Media XXI. Eram 18h40 quando começou o evento. À mesma hora, a 500 metros de distância, a caravana do PS descia aquela mesma rua de Santa Catarina, no Porto, numa arruada barulhenta como as arruadas são. Os tambores ouviam-se em ruído de fundo, minutos antes de a apresentação formal do livro começar. Antes, já a caravana do PS tinha feito um compasso de espera para a caravana da CDU passar. As campanhas estão na rua, no Porto, mas Nuno Melo está na FNAC — já que a arruada do CDS na Invicta está marcada para amanhã, último dia de campanha.

“Não há vantagem nenhuma em termos iniciativas cruzadas, não esclarece ninguém”, afirma Nuno Melo aos jornalistas quando questionado sobre a coincidência de agendas. E quanto à ideia de apresentar um livro em nome próprio em plena campanha, justifica que foi propositado porque “a campanha também deve ser feita de pensamento e reflexão, estando neste caso as ideias refletidas em livro”. E porque “a ideologia faz falta à política”, defende o candidato, que diz que a política não deve ser apenas feita de “pragmatismo”. Quanto à rua, “o CDS tem estado todos os dias na rua”.

Em causa está um livro de crónicas, que compila as crónicas escritas pelo eurodeputado centrista nos últimos quatro anos e publicadas no Jornal de Notícias. São 220 páginas de 155 textos de opinião contra a “geringonça”. Segundo Nuno Cerejeira Namora, advogado e antigo jornalista, amigo de Nuno Melo, trata-se de “um livro de combate, escrito por um guerrilheiro, e uma lufada de ar fresco que contrasta com ‘os galambas, mortáguas e jerónimos'”. Para o advogado que fez a apresentação elogiosa do livro, Nuno Melo representa, na vida e no livro, “o único partido não-marxista de Portugal”, “o único partido que não tem como fim o socialismo”.

O prefácio é escrito por Paulo Portas, que caracteriza Nuno Melo como “um conservador na política, um liberal na economia, mas uma pessoa que, acima de tudo, tem na sua maior qualidade a lealdade”. Depois de agradecer a Paulo Portas, que é “leal onde é mais difícil de ser leal, que é de cima para baixo”, Nuno Melo tomou a palavra para sublinhar que a “política deve ser feita de ideologia, não apenas de pragmatismo”. “Porque nós somos a direita da moderação. Somos moderação, mas somos o lado direito e não temos medo de o assumir”, disse.

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Quanto ao título, “Direito de oposição”, Nuno Melo diz que espelha o facto de ser um livro que “toma partido”, que diz o que pensa e que, por isso, “não terá os elogios de João Galamba”. “É um livro que denuncia e que diz o que pensamos, não nos remete para a zona cinzenta”, afirma, sublinhando que a decisão de publicar o livro — “que faz uma radiografia da governação da ‘geringonça'” — se deveu ao facto de “muita gente que lia as crónicas à quinta-feira [no Jornal de Notícias], ter pedido para compilar”.

CDS aposta tudo nos “seus” e “rouba” frase a feirante

“É pena sermos poucos”, comenta um feirante que puxa Pedro Mota Soares pela manga da camisa. “Somos poucos mas bons”, responde-lhe o candidato. Com aquele voto, pelo menos, o CDS pode contar de certeza — nem que “vá de ambulância”, é seguro que aquele feirante de Barcelos vai pôr a cruz no CDS no domingo. É só um voto, mas todos contam. “Se os nossos [militantes e simpatizantes do CDS] forem lá todos, já ajuda”, comenta o ex-ministro da Segurança Social. É essa a mensagem que o CDS tem procurado passar em todas as terras por onde vai: falar aos seus, aos que já torcem por este clube, para não se fiarem na sorte e irem dar força às urnas. Caso contrário, (aí vem o papão), caso contrário o Bloco de Esquerda, o partido que o CDS mais “deplora”, pode mesmo ficar à frente.

É isso que dizem as sondagens. As tais a que o CDS não liga, porque nunca traduzem o que se vê nas ruas. Dia sim, dia não tem havido uma sondagem que, mais coisa menos coisa, coloca o CDS algures entre o empate com a CDU e a posição atrás do Bloco de Esquerda, mantendo viva a esperança de eleger dois eurodeputados, mas sem certezas. Esta quinta-feira, contudo, a sondagem da Pitagórica para a TSF/JN contraria as ambições do CDS (6,7%) e, pelo contrário, reforça as do Bloco de Esquerda (12,7%). Ou seja, prevê-se que o BE possa ter o dobro dos votos do CDS. Por uma questão de “sanidade mental”, contudo, Nuno Melo recusa-se a comentar sondagens com margens de erro na ordem dos 4%. “No limite, com uma margem de erro de 4% significa que até podemos ter 11%”, diz aos jornalistas visivelmente irritado com a valorização que é dada a uma método muito pouco “científico”.

Sondagem. Bloco já vale metade do PSD e o dobro do CDS, PS cria fosso com sociais-democratas

A ciência, diz, está na rua, e é aí que o CDS tem estado. Feiras e mais feiras, mercados e mais mercados. “Melinho das Feiras” continua a dizer que não há nada como o original, “o Paulinho das Feiras”, mas como “o que é bom repete-se”, segue-lhe as pisadas. Ainda há uns meses o CDS tinha estado ali naquela feira de Barcelos — “uma das maiores do país” –, a propósito do aniversário do partido, e esta quinta-feira, quase na véspera da ida às urnas, voltou para reforçar o apelo ao voto.

Entre os feirantes, há quem comente que se “lembra bem” do que os centristas fizeram “quando estavam no governo”, mas também há quem faça relatos que pintam na perfeição a história de um Estado “que não é pessoa de bem” — a história que o CDS quer contar. Muitos são os populares que vão ter com Nuno Melo, e sobretudo com Mota Soares, para lhes falar das pensões muito baixas que recebem. Ou o caso de quem tem 70% de incapacidade e de, em 2016, ter ido a uma junta médica para lhe passar o atestado de invalidez, mas ao fim de três anos, continuar à espera que lhe seja atribuída a pensão.

É a estes “casos de vida difíceis” que o CDS, outrora partido dos pensionistas e dos contribuintes, quer dar voz. E até conta com a ajuda de um feirante para uma deixa que Nuno Melo admite “roubar” para usar nos comícios que ainda tem pela frente até ao dia D. “O que precisamos é de impostos portugueses e salários europeus”, dizia o tal feirante, explicando que o problema é “termos impostos europeus e continuarmos a ter salários portugueses”, ou seja, impostos altos e salários baixos. Enquanto assim for, dizia, não há Europa “que nos valha”. “Vou-lhe roubar a frase para os comícios, pode ser?” Autorização concedida.

Governo está a “esconder as cativações” por motivos eleitorais

Nuno Melo está satisfeito com o feedback que recebe das ruas, e nota um dado curioso: “Em 2009, as pessoas não assumiam à frente das câmaras de televisão que iam votar no CDS, e hoje assumem”. E se em 2009 “correu bem”, o CDS elegeu dois eurodeputados, 2019 tem obrigação de correr melhor. Porque, diz o candidato,”as pessoas estão cansadas das zonas cinzentas, dos que dizem basicamente o mesmo [PS e PSD]”. “E nós não temos medo de dizer o que os outros não dizem, temos coragem e temos coerência, assumimos de forma clara o que somos”, acrescenta.

É neste exercício de se distanciar dos partidos da “alternância” e, sobretudo do PS, para se afirmar como “alternativa”, que Nuno Melo lança um repto a António Costa: que divulgue antes das eleições o decreto-lei de execução orçamental, onde se vê que parte do orçamento estimado foi de facto executado e que fatia do orçamento foi mantida na gaveta. “Este decreto-lei costuma ser publicado nos três primeiros meses do ano, e estamos no fim de maio e nada”, diz o candidato em declarações aos jornalistas, acusando o primeiro-ministro de estar a “esconder as cativações” por motivos eleitorais.

“O Governo esconde as cativações e só quer que sejam conhecidas depois das eleições, porque isso seria mostrar o estado miserável em que está a ferrovia, o serviço nacional de saúde, a escola pública”, diz. E acrescenta: “Os serviços públicos precisam de recursos, não de ideologia”.