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Web Summit: Segundo dia da Web Summit, no Parque das Nações, em Lisboa. Lisboa, 2 de novembro de 2021. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR
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A Web Summit 2021 decorreu entre 1 a 4 de novembro

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

A Web Summit 2021 decorreu entre 1 a 4 de novembro

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Como a Web Summit provou que os grandes eventos são possíveis, mesmo com ausências e deslizes nas regras

Tinha tudo para correr mal. Greves, multidões, uma crise política e tudo isto no meio de uma pandemia. Contudo, o evento que teve Marcelo, mas não Costa, aconteceu. Como foi o retorno da Web Summit.

A fórmula para um desastre tinha os ingredientes todos necessários para uma explosão. Dezenas de milhares de pessoas vindas de todos os cantos do mundo concentraram-se em plena crise pandémica num país com uma situação epidemiológica em deterioração, com um número de casos que voltou a ultrapassar os mil; que esperava respostas do Presidente da República — que foi ao evento, ao contrário do primeiro-ministro António Costa — sobre a crise política que se abateu sobre o país; e numa cidade perturbada pelas greves no setor dos transportes públicos. Tinha tudo para correr mal e, mesmo assim, tudo parece ter corrido bem na primeira Web Summit pós-Covid-19. Pelo menos até ver.

Só mesmo as máscaras e as embalagens de álcool-gel espalhados pelos eventos desvendavam que esta Web Summit se fazia após quatro vagas de uma pandemia viral. A julgar pela profusão de participantes entre os quatro pavilhões da FIL e o palco principal no Altice Arena, tudo parecia familiar em relação ao que se viveu há dois anos — mesmo com pouco mais de metade dos participantes contabilizados em 2019 (cerca de 70 mil). Ou quase tudo: pelo menos este ano, ao contrário do que aconteceu em edições passadas, os agentes da polícia à porta do evento não encontraram brinquedos sexuais nas mochilas. Só garrafas de vinho do Porto, frascos de mel e guarda-chuvas de cabo longo, que ficaram à porta acabando muitos deles esquecidos num canto da tenda. À saída do recinto no último dia do evento, contámos três deixados ao abandono.

Web Summit: Segundo dia da Web Summit, no Parque das Nações, em Lisboa. Lisboa, 2 de novembro de 2021. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

O ambiente num dos pavilhões da FIL no último dia da Web Summit

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Claro que houve quem se tenha desleixado nas medidas que impunham a utilização de máscara no recinto da Web Summit. Até por parte do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que, no palco principal, chamou o fundador do evento, Paddy Cosgrave, para partilhar não só um aperto de mão, mas também um abraço nada distanciado fisicamente.

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Mas entre os restantes participantes, eram raros os casos que passavam despercebidos à organização ou à própria polícia. O distanciamento físico nem sempre era cumprido, sobretudo nas palestras mais aguardadas, mas a atmosfera era de segurança: só entrava no recinto quem estivesse vacinado, quem tenha recuperado recentemente da Covid-19 ou tivesse testado negativo. E, afinal, estavam todos no país mais vacinado no mundo.

Segurança sanitária? Houve testes feitos na Web Summit que deram positivo

Com mais de 40 mil participantes, ensinou-nos a matemática do último ano e meio — e não falamos daquela monótona de que Brad Smith, presidente da Microsoft, usou para falar do clima — que ia haver pelo menos um caso positivo de Covid-19 no recinto. O Observador questionou a organização do evento sobre este assunto, não tendo obtido resposta até à publicação deste artigo. Porém, questionados os laboratórios da Unilabs, que estavam responsáveis por fazer testes no recinto a quem tivesse sintomas ou quisesse entrar sem um certificado de vacinação europeu, a resposta foi: “A percentagem de casos positivos está em linha com o que acontece na generalidade dos testes realizados pela Unilabs”. Como os laboratórios fizeram ​​”cerca de 5000 testes nas unidades de testagem para a Web Summit”, e apesar de não se revelar o número absoluto de casos positivos detetados, diz-nos a tal matemática — que ainda esta quinta-feira contabilizou mais mil casos novos casos de Covid-19 — que terá havido positividade.

“A percentagem de casos positivos está em linha com o que acontece na generalidade dos testes realizados pela Unilabs”. Como os laboratórios fizeram ​​”cerca de 5000 testes nas unidades de testagem para o Web Summit”, e apesar de não se revelar o numero absoluto de casos positivos detetados, diz-nos a tal matemática — que ainda esta quinta-feira contabilizou mais mil casos novos casos de Covid-19 — que foram detetados.

Para poder entrar no evento, a organização da Web Summit exigia, à falta de um certificado, “um teste PCR realizado até 72 horas antes do evento ou um teste de antigénio realizado até 48h antes do evento”, como o Observador explicou antes do evento. Assim, como explicavam os laboratórios, “para realizar a testagem para a Web Summit existem duas modalidades possíveis: agendar o teste através da landing page que temos disponível para o efeito nas unidades em que estamos a realizar a testagem e apresentar o comprovativo do bilhete da Web Summit ou dirigirem-se a uma das nossas unidades destinadas a este efeito, mesmo que não exista marcação prévia”. Mais uma vez, a contabilidade dos números finais de participantes determina que nas próximas duas semanas se esteja com atenção à evolução de casos positivos.

Os pontos de testagem que a Unilabs instalou nas proximidades da Web Summit

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

A primeira Web Summit de Moedas teve o Governo presente com Siza Vieira, mas não houve Costa

A ausência do primeiro-ministro António Costa mostrou como os dias da Web Summit são uma bolha para quem está no evento, e não falamos só na pandemia. Dentro da FIL e do Altice Arena, apesar de um ou outro comentário nos corredores sobre as polémicas políticas do país — “o CDS vai marcar Congresso?”, “e o PSD?”, “o Marcelo já marcou eleições?” — foram os temas discutidos em palco que dominaram as conversas dentro do evento. O descrédito às controvérsias políticas do país escapou até às conferências de imprensa nas quais participou Paddy Cosgrave, que relativizou um estudo feito para o Ministério da Economia com a conclusão de que o impacto da Web Summit para Portugal ficara aquém das expectativas, sugerindo que a sua divulgação era “por causa das eleições”.

Mesmo quando Siza Vieira, a principal cara do atual Governo no evento, falou, o clima não foi o de ouvir um homem que daqui a dois meses pode deixar de ser ministro. A confiança foi tal que o governante anunciou, juntamente com o secretário de Estado da Inovação, André de Aragão Azevedo, intenções de crescimento do ecossistema de empreendedorismo “para daqui a três anos”. Anunciou, ainda, mais dinheiro (100 milhões) para startups e uma aliança de nações. Portugal, foi claro, quer ter mais unicórnios.

Web Summit: Primeiro dia da Web Summit, no MEO Arena, em Lisboa. Pedro Siza Vieira, ministro da Economia tira selfie com Carlos Moedas, presidente da câmara municipal de Lisboa. Lisboa, 1 de novembro de 2021. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Carlos Moedas e Pedro Siza Vieira tiram uma selfie juntos na Web Summit

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

É o espírito de mostrar ao mundo através da Web Summit que não é por Portugal estar em plena crise política que não se olha para o futuro. Como pano de fundo do evento ainda há constrangimentos internacionais que podem afetar a economia do país, como os crescentes preços dos combustíveis ou da energia, mas os discursos foram, literalmente, de novos tempos, como mostrou Carlos Moedas — seja um esperançoso novo normal pandémico ou um distópico mundo tecnológico em que vivemos no metaverso. Com o anúncio da futura fábrica dos unicórnios em Lisboa, que Moedas já tinha no seu plano eleitoral, o novo presidente da Câmara mostrou que esta Web Summit continuou a olhar otimista e ambiciosamente para o futuro, quer se realize quer não, quer a pandemia de Covid-19 piore ou não.

Mesmo presencialmente, houve quem só estivesse no evento por videochamada depois de elogios a uma denunciante

O arranque desta Web Summit teve apelos para que os participantes utilizassem máscaras, mas o mote de Paddy Cosgrave foi o tirar a máscara a uma empresa específica: o Facebook. Com aclamação, Frances Haugen, a mulher que expôs alegadas más práticas da empresa que agora se chama Meta e foi fundada por Mark Zuckerberg, deu o tiro de partido para muitos do temas que esta Web Summit queria definir nos dias seguintes. E, apesar de ser presencial, foi à distância que o Facebook teve direito de resposta.

É inegável que Nick Clegg, o ex-vice-primeiro ministro britânico que é vice-presidente de assuntos globais do Facebook, e Chris Cox, o diretor de operações da mesma empresa, eram dois dos nomes mais esperados. Porém, à semelhança de António Costa, não pisaram o Altice Arena ou a FIL nestes dias. No palco principal, Nick Clegg apareceu na terça-feira de surpresa e atrasado num ecrã. Sobre isso, a organização e o Facebook apenas disseram que “não foi possível” que o político “estivesse em Lisboa”. No dia seguinte, foi Cox que apareceu em videochamada. Porém, sobre isso, a Web Summit disse não ter havido qualquer alteração de planos — apesar de não ter mencionado isso na agenda oficial.

Críticas de quem não encontrou investimento e os que encontram mais do que isso

Falando de planos que saíram furados, até mesmo quem não esteve na Web Summit este ano tem críticas a tecer. Francisco Azevedo Coutinho, fundador e presidente executivo da Wikinight, um diretório digital de discotecas, defende que “na parte que mais interessa, a dos investidores, não compensa”. Pagou mais de mil euros por um pequeno stand e acesso à conferência durante três dias, mas encontrou um evento “muito confuso”. É “muita gente, muitas startups, muitas empresas”. Resumindo, “são mil cães a um osso”.

Tudo isto aconteceu em 2017. Ou 2018 — Francisco não se recorda bem. Mas apesar da desilusão inicial, decidiu voltar em 2019, desta vez de modo gratuito por ter sido convidado a estar presente pela Startup Portugal. Mas a desilusão repetiu-se: “É muita coisa a acontecer ao mesmo tempo, empresas a mais, pessoas a mais” e, “em relação à quantidade de investidores para startups, não vale a pena”, afirma. Dos 150 mil euros investidos na Wikinight, nenhum montante terá chegado por contactos feitos na Web Summit, mas sim de “capitais próprios”: “Pelo preço que pagamos, não temos retorno direto”, concluiu.

“São mil cães a um osso”. Um empreendedor que não quis estar na Web Summit

Outras empresas esperam escrever histórias mais felizes na Web Summit. Esta marca presença na Web Summit desde 2017. Já foi empresa Alpha, Beta e este ano chegou a Growth, mas já com um pé em Partner. Talvez no próximo ano, confidencia ao Observador Telmo Santos, sócio fundador da Eupago, uma empresa de pagamentos financeiros, que vai à Web Summit sem ser à procura de financiamento. Esse tem-no feito com os capitais próprios e com os lucros gerados pela operação. Ainda recentemente concluiu um aumento de capital de 1 milhão de euros e assume ter fundos próprios de 3 milhões. “O dinheiro que vamos ganhando é investido na empresa”, atira Telmo Santos, um entusiasta da participação da empresa nesta “meca” dos empreendedores.

Em 2017 entrou pela porta da Web Summit como startup Alpha — empresas em fase de pré-investimento ou que tenham amealhado menos de 1 milhão de financiamento. “Correu muito bem, pelo impacto de sentir a energia internacional. Começámos a ter os primeiros clientes internacionais”, reconhece Telmo Santos que contabiliza em cerca de dois mil euros o custo – que a Startup Portugal ajudou a pagar – dessa primeira presença. Telmo Santos recorda, em particular, da apresentação feita a Marcelo Rebelo de Sousa e da selfie que correu mundo e que lhes trouxe notoriedade.

E que lhe dava passaporte para chegar em edições posteriores à Web Summit como empresa Beta (lançadas com sucesso) e este ano entrar na categoria Growth – com crescimento significativo e na maior parte dos casos com financiamentos acima de 3 milhões. Só quatro empresas portuguesas entraram este ano nesta categoria. Esta nesta montra pode custar cerca de 5.000 euros.

O passo em frente é ter um stand próprio, como Partner. “É um objetivo”.

Admite que outros empreendedores possam considerar a Web Summit confusa e com demasiadas pessoas, mas para a Eupago tem sido um encontro de clientes e este ano já andou à procura de potenciais aquisições. E confessa que até encontrou quem se enquadre no crescimento que pretende para a sua empresa que está a aproveitar as possibilidades de expansão que a nova diretiva dos pagamentos vai permitir. No balanço final, este empreendedor repetente não tem dúvidas do valor da Web Summit: “conhecemos clientes potenciais, conhecemos ideias novas, tivemos projeção e divertimo-nos”.

As portas da Web Summit fecharam por volta das 17 horas. Aos jornalistas foi dada mais uma hora para terminarem o trabalho… “Make your way out”, avisaram os segurança assim que o relógio bateu as 18 horas. Da mesma forma que a Web Summit tirou o Observador da sala de imprensa para encerrar o espaço, fechamos este artigo sobre a edição de 2021″

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