776kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

i

Matt Cardy/Getty Images

Matt Cardy/Getty Images

Como Windsor se está preparar para o grande dia

Fãs que dormem na rua com medo de perder o lugar, hotéis cheios, bolos de casamento em miniatura e uma explosão de "souvenirs" reais. Windsor está em ebulição com o casamento do ano.

    Índice

    Índice

Junto aos portões do Castelo de Windsor, que recebe o casamento de Harry e Meghan Markle já este sábado, quatro mulheres são duplamente entrevistadas: antes de entrarem em direto para uma rádio britânica, são convidadas a olhar para a câmara de um repórter de imagem norte-americano, que quer registar a conversa. Quando finalmente chega a nossa vez de falar com elas, apresentam-se como as “United Nation of Friends”, por serem de diferentes países — Inglaterra, América, Canadá e Austrália. As mulheres, que se conheceram “há cinco minutos”, fazem parte do conjunto de pessoas que, para não perder pitada, está a dormir na rua. A devoção à realeza é imune ao frio da noite e ao desconforto de sacos-cama e cadeiras de praia.

Foram precisas 30 horas de voo e quase 700 euros para que a australiana Michelle conseguisse finalmente pisar solo britânico. Passou mais de um dia em viagem, mas valeu a pena. Não só está em Windsor para assistir ao casamento do ano, como conseguiu, juntamente com as recém-adquiridas amigas, assegurar a melhor vista para a cerimónia. Assim que a carruagem Ascot Landau ultrapassar os portões do castelo, Michelle vai ser das primeiras pessoas a ver, em carne e osso, o príncipe Harry e Meghan Markle, já casados. Cynthia, que veio de Montreal, vai estar ao lado dela com a bandeira do Canadá erguida sobre os ombros. Vai abaná-la e, se preciso, vai gritar, tudo para chamar a atenção da ex-atriz. Quer destacar-se entre a multidão, que será imensa — são esperados entre 100 a 200 mil visitantes.

Michelle veio da Austrália e Cynthia veio do Canadá. As duas mulheres juntaram-se de modo a assegurar a melhor vista da cerimónia.

© Ana Cristina Marques/Observador

Nos dias que antecedem o casamento de Harry, o filho mais novo da princesa Diana, Windsor está em ebulição. Não só as ruas começam a estar intransitáveis, com milhares de pessoas a calcorrear a pequena cidade de 25 mil habitantes de uma ponta à outra, como as lojas enchem-se de souvenirs temáticos — canecas, canetas, lenços, chapéus e até máscaras da rainha Isabel II, de Harry e de Meghan Markle. Margaret Tyler, a fã n.º 1 da monarquia, sentir-se-ia em casa. Os cartazes dos noivos em tamanho real são, talvez, o item sensação: todos querem tirar fotografias na sua companhia. A Union Jack, a bandeira do Reino Unido, também está por toda a parte: nos enfeites que decoram montras e varandas, hasteada nos enormes pilares que percorrem Windsor e nas bandeiras em miniatura que parecem andar coladas às mãos de residentes e de turistas. A cidade pintou-se de azul, branco e vermelho para ver passar a realeza.

“A cidade está cheia de turistas”, diz-nos Julie Sellar, que vive em Windsor há 24 anos. “A polícia está por todo o lado, a controlar tudo, a inspecionar edifícios e carros”, continua. A segurança é, de facto, notória. Perdemos conta ao número de agentes da polícia, alguns deles armados com metralhadoras, que patrulham as ruas. Dizem-nos que, durante o ensaio do cortejo, realizado na manhã de quinta-feira, eram facilmente identificáveis snipers no topo de telhados. Grandes barreiras pretas, com o aspeto de pesarem toneladas, foram colocadas em cruzamentos, interseções e curvas mais apertadas, numa tentativa clara de prevenir veículos descontrolados. E centenas de grades, senão milhares, ladeiam as estradas por onde vai passar a carruagem dos noivos — o trajeto vai durar sensivelmente 25 minutos.

5 fotos

Com tanta coisa a acontecer, os 140 voluntários vestidos com camisolas e calças vermelhas atuam como embaixadores da cidade e revelam-se essenciais para ajudar os muitos visitantes. É o caso de Karen, professora na Langley College, que convenceu os alunos a juntarem-se à causa e que, agora, anda pelas ruas a ajudar multidões e a responder a pedidos de informação. “Somos um acrescento na segurança e na comunicação. Mas o papel principal é, sem dúvida, ajudar as multidões a divertirem-se”, diz ao Observador. Vão ser eles que vão avisar os fãs quando o tão aguardado cortejo estiver prestes a começar.

Até lá faltam algumas horas, que podem ser facilmente gastas a provar, por exemplo, as miniaturas do bolo de casamento, um produto de sucesso servido na pastelaria Heidi, inserida num pequeno centro comercial em Windsor. Por dia, são vendidas 250 a 300 unidades (cada uma custa 5 euros). Existem duas receitas, igualmente concorridas — uma delas leva, à semelhança do verdadeiro bolo real, limão, cobertura de creme de manteiga e flores. Os bolos podem ser acompanhados por um café latte com as caras do casal ou da rainha impressas no topo, batizado “Megharrycino”. Maria José, a madeirense que gere a pastelaria há 14 anos, assegura que não tem mãos a medir com tanto trabalho, mesmo conseguindo fazer 78 bolos de uma só vez. Prova disso é a bancada atrás da montra, cuja superfície está coberta pelas bases dos muitos bolos, constituídas por três anéis de massa.

Os muitos estabelecimentos de Windsor souberam aproveitar a massa crítica de turistas que invadiu a cidade à procura de tudo o que faça lembrar a família real britânica. Não são apenas as lojas de souvenirs a estarem atentas — a venda de merchandising real vai de vento em popa, asseguram-nos –, mas também os restaurantes. A Clarence Brasserie & Tea Room, gerida pelo também português Alberto Barrocas, de São Pedro do Sul, já tem os preparativos em marcha. Além do menu de pequeno-almoço inspirado no casal — o prato “Meghan Markle” leva batata doce cortada aos palitos, guacamole, ovos mexidos, bagel, sumo de laranja fresco e um copo de Prosecco, enquanto o de Harry consiste num peixe fumado servido com ovos mexidos, muffin, creme de mostarda e Prosecco –, o restaurante vai ter uma carta específica de almoços, de modo a garantir que a cozinha está preparada para a avalanche de pedidos. Alberto, que mora ali perto, vai abrir a brasserie às 05h, para servir cafés aos fãs madrugadores, e vai extinguir por completo a esplanada — uma refeição calma, no próximo sábado, vai ser uma miragem.

6 fotos

Numa tarde em que até a rainha Isabel II esteve em Windsor — a bandeira foi hasteada para assinalar a sua presença, tal como manda a tradição –, também Ellie trabalhava. Encontrámo-la sob o sol primaveril a enfeitar as grades que acompanham um dos lados da Long Walk, a avenida por onde também vai passar a carruagem dos noivos. Ellie, que trabalha para a BBC Radio Berkshire, ficou encarregue de colocar, ao longo de um quilómetro, cerca de 1.000 desenhos feitos por crianças e idosos de 31 instituições locais, convidadas para o efeito. “Dá para ver a diferença entre o desenho de uma criança e de um idoso de 92”, brinca. “Os mais velhos gostam sempre de colocar as idades”.

A Long Walk é precisamente o local que mais visitantes vai acolher. Percorrê-la desde o Cambridge Gate, que dá acesso ao interior do castelo, até ao cruzamento com a estrada de alcatrão leva sensivelmente 20 minutos (nós testámos). Em toda a sua extensão é possível ver televisões de enormes dimensões montadas sobre o relvado, as quais vão transmitir a cerimónia em direto, mas também muitas rulotes de comida — à escolha dos milhares de visitantes haverá gelados, fish and chip, café, cerveja, crepes e hot dogs, entre outras sugestões. A acompanhar estes serviços estão ainda dezenas de casas de banho portáteis e postos médicos, muito à semelhança de um festival de verão.

6 fotos

Relativamente perto da Long Walk fica o hotel Royal Adelaide, que por estes dias é famoso por ter ficado completamente cheio no dia em que o casamento real foi anunciado. Vagas para o fim de semana de 19 e 20 de maio nem vê-las, mesmo tendo o hotel 43 quartos, com preços que variam entre 200 e 300 libras por noite (230 e 340 euros, sensivelmente). A euforia tem razão de ser, com o estabelecimento a estar voltado para a Kings Road, por onde também Harry e Meghan vão passar durante o cortejo.

A tarde está prestes a chegar ao fim e o grupo “United Nations of Friends” continuam a dar entrevistas, sem sair do lugar. Repetem respostas, sorriem para fotografias e explicam como decoraram o curto espaço que é só delas. O mesmo acontece a Diane e Emma, mãe e filha, que rumaram do centro de Inglaterra para acampar junto às grades que circundam a capela de São Jorge, onde acontece o casamento deste sábado. Este é o quinto casamento a que assistem, incluindo o da princesa Diana, em 1981. Estão mais do que habituadas e explicam que facilmente se arranjam e refrescam nas casas de banho dos estabelecimentos. Trazem consigo dois carros de compras com a roupa de que precisam — no sábado, Diane vai usar blusa branca com duas coroas bordadas. Não dormem porque faz frio e barulho, e não descansam durante o dia porque a oferta para conversas, fotografias e entrevistas é muita. Diane não se importa de falar, ser fotografada e entrevistada, mas queixa-se que ninguém lhe oferece uma bebida.

O sol está quase a escorregar do céu e as ruas de Windsor estão ainda mais cheias. A caminho da estação de comboios — cujos serviços vão ser alargados no dia 19 de maio –, reparamos na fachada do hotel que está voltado para a capela. Em cada uma das varandas há equipas de filmagem a preprarem-se para o grande dia — montar tripés, preparar luzes e estudar ângulos. Até lá, Windsor e os seus habitantes não vão conseguir descansar. A cerimónia está em marcha e não há travão que a pare.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Assine a partir de 0,10€/ dia

Nesta Páscoa, torne-se assinante e poupe 42€.

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver oferta

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Assine a partir
de 0,10€ /dia

Nesta Páscoa, torne-se
assinante e poupe 42€.

Assinar agora