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Fundação de Serralves/ Nvstudio

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Conferência ASWP/Serralves foca-se na regeneração

“Regenerar o Futuro: Estratégias para Cidades e Indústrias Circulares” foi o tema da Conferência ASWP/Serralves 2024, onde se debateu a importância da economia circular para a sustentabilidade.

O auditório do Museu de Serralves foi o palco escolhido para acolher o evento, que aconteceu no passado dia 26 de novembro. Organizada pela Associação Smart Waste Portugal (ASWP), em parceria com a Fundação de Serralves, a conferência juntou especialistas, líderes, académicos e empresários que debateram a regeneração e a economia circular.

Durante a sessão de abertura, Ana Pinho, Presidente do Conselho de Administração e da Comissão Executiva da Fundação de Serralves, destacou a parceria com a ASWP, que nasceu da vontade de se associarem a uma causa comum: “a valorização da economia circular como o modelo económico mais sustentável para a construção e transição da sociedade contemporânea”. Ana Pinho referiu, ainda, o trabalho que tem sido feito pela Fundação, que há 35 anos assume como um dos pontos-chave da sua missão a promoção da sustentabilidade ambiental.

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De seguida, Aires Pereira, Presidente da Direção da Associação Smart Waste Portugal, afirmou que o evento representou um momento crucial, pois reuniram “especialistas, líderes, académicos e empresários para discutir um princípio fundamental da economia circular: a regeneração”. Aires Pereira destacou, ainda, o trabalho que tem vindo a ser feito pela ASWP, que se tem afirmado como uma entidade de referência, promovendo sinergias, colaboração e o envolvimento dos vários setores da cadeia de valor.

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Por fim, Filipe Araújo, Vice-Presidente da Câmara Municipal do Porto, destacou a importância da economia circular para o município. Para Filipe Araújo, as cidades têm um papel crucial na mudança para modelos económicos mais sustentáveis e, por isso, o Porto tem dado passos significativos para transformar a cidade, integrando a circularidade nas mais diversas oportunidades. O Vice-Presidente referiu também que atualmente enfrentamos desafios complexos que requerem visões e ações que vão além dos ciclos políticos tradicionais e, nesse sentido, a visão do município não se fica apenas pelas iniciativas municipais: “estamos comprometidos em envolver a sociedade civil e em liderar pelo exemplo, porque só promovendo as boas práticas é que somos capazes de inspirar a mudança”.

As cidades circulares

Durante a sua intervenção, Tanya Jiménez, Senior Cities Strategist da Circle Economy Foundation, deu a conhecer o desafio linear e como é que a economia circular pode dar uma resposta. A oradora apresentou os dados de 2023 da publicação “The Circularity Gap Report”, que se focou em avaliar como é que o sistema económico atual afeta as fronteiras planetárias.

As fronteiras planetárias

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As fronteiras planetárias dizem respeito aos limites seguros dentro dos quais a humanidade pode continuar a desenvolver-se. São nove – alterações climáticas, novas entidades, destruição da camada de ozono na estratosfera, carga atmosférica de aerossóis, acidificação dos oceanos, modificação dos fluxos biogeoquímicos, alterações na água doce, alteração do sistema terrestre e integridade da biosfera -, que juntas mantêm a Terra estável e resiliente.

Os limites planetários são interdependentes, o que significa que ao ultrapassar um, estaremos a afetar os outros. Ultrapassar as fronteiras aumenta o risco de gerar alterações ambientais abruptas ou irreversíveis em grande escala.

De acordo com o relatório, consumimos anualmente cerca de 100 mil milhões de toneladas de materiais, o que significa que no espaço de seis anos, entre 2018 e 2023, consumimos tantos materiais quanto aqueles utilizados durante todo o século XX. Outro dado relevante, é que, atualmente, apenas 7,2% da economia global é circular, quando há seis anos esse valor estava nos 9,1%, o que mostra que a tendência não é positiva. Aliás, cinco das nove fronteiras planetárias já foram ultrapassadas.

100000000

Toneladas de materiais consumidos anualmente

7,2 %

Percentagem da economia global que é circular

5

Fronteiras planetárias já ultrapassadas

Como refere Tanya Jiménez, a economia linear baseia-se no conceito de “retirar, criar, desperdiçar”, em que “o valor só é extraído uma vez durante o tempo de vida de um produto”. É aqui que a circularidade propõe uma solução. “Na economia circular, os materiais e produtos são utilizados ao máximo e continuamente reutilizados, reparados e reciclados, num ciclo que é praticamente livre de desperdício”.

Mas “a economia circular é muito mais do que gestão de desperdício. É sobre tomar decisões conscientes ao longo de todo o ciclo de vida dos produtos. Isto é muito importante porque é a única forma de nos mantermos abaixo dos 1,5ºC de aumento de temperatura que são necessários para sobrevivermos enquanto espécie”, afirmou a oradora.

Continuando no tema das cidades, o primeiro painel de oradores da conferência juntou Filipe Araújo, Vice-Presidente da Câmara Municipal do Porto, Guta Moura Guedes, Presidente da ExperimentaDesign, Helena Freitas, Diretora do Parque de Serralves, e Leonor Picão, Diretora Coordenadora da Direção de Recursos e Oferta do Turismo de Portugal.

“As cidades são as que têm causado mais impacto, por isso são elas que têm de trazer as soluções para cima da mesa”, referiu Filipe Araújo. Dando o exemplo do Porto, o Vice-Presidente da Câmara deu a conhecer alguns dos projetos que já estão em curso na cidade e que têm como objetivo mitigar o impacto humano e ajudar à adaptação climática dos territórios, sendo que as soluções de base natural são fundamentais. Para Filipe Araújo, “as cidades têm de saber aproveitar o que a natureza nos ensinou”.

Guta Moura Guedes focou o papel dos designers e dos arquitetos, que têm uma posição determinante na relação das cidades com a economia circular. “Não há um designer nem um arquiteto que não tenha um pensamento sustentável e circular na sua atividade. Já não é possível desenhar sem se pensar em materiais recicláveis e sustentáveis”, afirmou a Presidente da ExperimentaDesign. No entanto, ainda que tenham um papel preponderante, designers e arquitetos não podem agir sozinhos e têm de trabalhar em conjunto com os restantes stakeholders – autarquias, empresários e cidadãos – para alterarem as cidades.

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Falando do ponto de vista do turismo, Leonor Picão afirmou que se deve olhar para o setor como uma oportunidade e um parceiro nas preocupações ambientais. Segundo a Diretora Coordenadora da Direção de Recursos e Oferta do Turismo de Portugal, tem-se trabalhado cada vez mais para um turismo bom para os cidadãos e que seja sustentável, apresentando-se também como uma arma para a circularidade. “Temos a oportunidade de ter um setor económico dinâmico que pode fazer a diferença e queremos continuar a crescer da forma mais sustentável possível, entendendo a sustentabilidade não como sendo neutros, mas como tendo um impacto positivo”, referiu Leonor Picão.

Helena Freitas destacou a circularidade como sendo uma imposição da sustentabilidade, uma vez que “consumimos mais recursos do que aqueles de que dispomos, produzimos mais recursos do que aqueles que temos capacidade para tratar, perdemos natureza todos os dias e estamos a distribuir riqueza de forma cada vez mais desigual”. Por isso, como refere a Diretora do Parque de Serralves, é imperativo adotar uma mudança de paradigma e a cidade tem de ser um agente fundamental neste processo.

As indústrias circulares

Na parte dedicada às indústrias, Rafael Campos Pereira afirmou que a economia circular é uma inevitabilidade: “é um novo paradigma civilizacional, cultural”. O Vice-Presidente da Direção e do Conselho Geral da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) referiu que precisamos da economia circular para proteger os recursos naturais e o ambiente e para ajustar o modo de vida das novas gerações, mas também para sermos sustentáveis do ponto de vista económico e financeiro.

Quanto ao papel da indústria na circularidade, Rafael Campos Pereira referiu que “não há economia circular sem indústria. Porque não há economia circular sem novas tecnologias e não há novas tecnologias sem indústria”. Assim, a indústria é vista como a solução e não o problema. Como afirmou o Vice-Presidente, o processo de reconversão para a economia circular tem de ser feito, mas é necessário salvaguardar os postos de trabalho e dar resposta às aspirações da sociedade.

Para Rafael Campos Pereira, a maior fragilidade das empresas neste processo é a fragilidade das instituições europeias, que não conseguem travar a concorrência desleal. O Vice-Presidente da Direção e do Conselho Geral da CIP considera que se deve melhorar a qualidade e reduzir a quantidade de legislação e burocracia, envolver as empresas como parceiros e aumentar o investimento público e privado no domínio das tecnologias.

O último painel do dia reuniu em conversa António Isidoro, Presidente do Conselho de Administração da Soja de Portugal, João Pedro Azevedo, CEO da Amorim Cork Composites, Luís Almeida, Chief Commercial Officer da Logoplaste, e Paulo Sousa, CEO da Colep Packaging.

Para António Isidoro, existe um desafio enorme em termos de legislação europeia e integração da sustentabilidade no reporte financeiro e no cumprimento legal, que será obrigatória a partir de 2026. O Presidente do Conselho de Administração da Soja de Portugal considera que as empresas, na sua generalidade, não estarão preparadas quando virem o impacto que esta obrigatoriedade terá.

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Já João Pedro Azevedo focou-se na inovação tecnológica, que é uma competência central da Amorim Cork Composites e afirmou que a empresa “tem a obrigação de experimentar e desenvolver o que não existe”. De acordo com João Pedro Azevedo, a empresa olha para os materiais de economia circular como uma oportunidade e, nos últimos anos, desenvolveu e implementou várias tecnologias, que permitem “levar a cortiça a espaços competitivos completamente diferentes”.

Luís Almeida deu a conhecer o modelo de negócio da Logoplaste, que consiste em entregar diretamente nas fábricas dos clientes as embalagens de que este precisa. “As grandes vantagens deste modelo de negócio são que o facto de não ser necessário haver stocks intermédios e de se poupar no transporte, paletização e todas as embalagens secundárias, com ganhos de custos e sustentabilidade”, afirmou o Chief Commercial Officer. Segundo Luís Almeida, a Logoplaste diferenciou-se da concorrência através do conhecimento do capital humano e da inovação: “o conhecimento é o que nos tem permitido trazer soluções mais sustentáveis”.

Por fim, Paulo Sousa referiu que a indústria dos plásticos tem desafios acrescidos no que toca à aplicação de conceitos como a economia circular, porque “neste momento a Europa quer ir além de tudo o que existe em todos os outros mercados” e está a tomar um nível de exigência enorme. Para o CEO da Colep Packaging, atualmente estão a ser geridos custos de contexto muito significativos na Europa que tornam as empresas europeias, que estão a operar em contexto europeu, não competitivas do ponto de vista internacional. Paulo Sousa afirmou, ainda, que é necessário fazer o trabalho de descarbonização da indústria e reciclar mais, mas sempre com vista ao aumento da competitividade.

“Vozes Circulares”, o novo podcast da ASWP em parceria com o Observador

O encerramento da conferência ficou marcado pela intervenção de Emídio Sousa, Secretário de Estado do Ambiente, e pela apresentação do podcast da Associação Smart Waste Portugal, “Vozes Circulares”, por Luísa Magalhães, Diretora Executiva da ASWP. Este podcast, em parceria com o Observador, vai debater temas relacionados com a economia circular e tem como objetivo inspirar e educar a sociedade.

O podcast será quinzenal e o primeiro episódio sai já no dia 9 de dezembro, às 14h35, ficando, depois, disponível em todas as plataformas de streaming e no site da Smart Waste Portugal. Não perca!

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