Os vencedores
Inês Sousa Real
É a primeira vitória com a ‘marca Sousa Real’. A porta-voz do PAN foi eleita líder pela primeira vez em 2021, mas a sua eleição foi quase uma sucessão monárquica. Já era a delfim de André Silva — com quem se zangaria ainda antes de chegar a líder — e nem sequer teve oposição interna no primeiro confronto. O facto de agora não ser candidata única e de bater a oposição com números expressivos (97 contra 35), faz dela uma clara vencedora. Inês Sousa Real não perdeu a compostura perante os ataques (deixou para outros membros da sua lista) e conseguiu controlar o aparelho PAN, aproximando-se por pragmatismo do eixo Bebiana-Albano que controla a distrital do Porto. Resta saber se é suficiente para voltar a ser candidata em legislativas. Até porque a oposição interna vai manter a tolerância zero.
Alexandra Moreira
Foi uma espécie de ‘le PAN c’est moi’. Alexandra Moreira, escudada na interpretação que fez dos estatutos, decidiu como presidente da Mesa quem falava, quanto tempo falava e em que condições falava. As decisões quase unilaterais foram irritando a oposição interna a Sousa Real que chegou a acusar a Mesa de “fascismo”. O que é certo é que Alexandra Moreira conseguiu impor a ditadura do tempo e realizar a difícil tarefa de fazer um congresso eletivo num dia. Chegou a sugerir que os críticos estavam a comportar-se como alunos do básico e a prometer que obrigaria os incumpridores do tempo a fazerem flexões, aí já com graça e ironia refinada. Foi-lhe tomando o gosto e, no fim, até críticos reconheceram: a condução dos trabalhos foi espartana, mas competente.
António Costa
Apesar das críticas recentes e crescentes ao Governo socialista, Inês Sousa Real tem sido uma parceira confiável de António Costa. Recorde-se que, em 2021, antes da crise orçamental que motivou as eleições antecipadas, a porta-voz do PAN absteve-se na votação e criticou os demais partidos. Desde então, o PAN, reduzido a único deputado, e apesar de ser dispensável num contexto de maioria absoluta, já se absteve em dois Orçamentos do Estado. A proximidade entre o PAN e o PS foi tema do Congresso, com vários opositores de Sousa Real a condenarem a transformação do partido numa “bengala” socialista. Ora, apesar das críticas, a vitória expressiva de Sousa Real validou a estratégia de alianças seguida até aqui. Tudo somado, Costa manteve um parceiro parlamentar. Pelo menos, para já.
Gato Mikas (e os outros animais)
A sorte do Mikas, o gato de Inês Sousa Real, continuará extensível a muitos mais animais. A questão do animalismo foi colocada em cima da mesa pela oposição, que acusa a atual direção de ter transformado o PAN num partido que apenas se preocupa com os animais e que esquece os outros pilares fundamentais do partido. Com a vitória de Inês Sousa Real, os esforços pelos animais serão para manter. E durante a reunião magna houve até quem virasse o jogo para acusar a lista de Nelson Silva de “encaixar os animais na ecologia”, sugerindo que o espaço dado ao animalismo era pouco. No final do dia, os animais continuam com um peso maior no partido do que teriam com outro resultado — e continuarão a ter Sousa Real como uma grande defensora.
Os vencidos
Nelson Silva
Nelson Silva foi um cordeiro sacrificado em terra de vegetarianos. Qualquer candidato do movimento “Mais PAN” sabia que o mais provável era perder as eleições e mesmo assim decidiu ir a jogo. Em determinado momento o challenger de Sousa Real alimentou a ideia de poder ter um resultado melhor (por o voto ser secreto) ou de conseguir (pelo mérito da ideia) aprovar a passagem da eleição de líder do PAN para um sistema de diretas. Não conseguiu nada disso. Conseguiu que as suas tropas fizessem um barulho incomodativo para o status quo do universo PAN, mas foi inconsequente. Teve palco mediático, mas provavelmente perdeu a vez (para Soraya Ossman) quando for a hora de o “Mais PAN” desafiar a ala que atualmente dirige o PAN.
Movimento Mais PAN
Se havia algo para ser posto à prova no Congresso era o movimento Mais PAN. Criado após a catástrofe eleitoral que deixou o partido reduzido a um deputado único, que levou a várias saídas da comissão política nacional e que apostou na narrativa de que o partido precisava de mais democracia interna, o Mais PAN saiu derrotado de Matosinhos. Ainda assim, leva uma medalha de consolação pela forma como conseguiu que o partido não ficasse a falar a uma só voz, por ter conseguido em quase todas as circunstâncias mostrar que estava presente e que tinha uma forma diferente de olhar para (quase) tudo. Apesar da derrota, dificilmente o Mais PAN desaparecerá no dia seguinte.
André Silva
Foi líder do PAN no período de maior expansão do partido. Conseguiu eleger-se deputado, garantir um lugar em Bruxelas e depois, em 2019, quadriplicar a representação parlamentar. Em 2021, e de forma surpreendente, abandonou o cargo e a Assembleia da República para “apanhar o comboio da paternidade”. Menos de um ano depois, já estava a acusar a sucessora de “desbaratar” o seu legado e de pôr “o partido na lama”. Tinha uma boa oportunidade para dizer o que pensa no sítio próprio. Mas não apareceu. Pior: nem sequer foi mencionado. Aparentemente, não deixou muitas saudades no PAN.
O ambiente…
… na sala, claro. O 9.º Congresso Nacional teve momentos quentes e quase surreais — só não foram mais e mais intensos porque Alexandra Moreira geriu com pulso de ferro a condução de trabalhos. Os críticos de Sousa Real queriam provar a tese de que havia falta de democracia interna e foi acusações de “estalinista” e “fascista” para cima. Com ou sem razões de queixas, os apoiantes de Nelson Silva perderam um bocadinho a noção da proporção das acusações. Talvez porque a sala, um auditório à pinha, estava (literalmente) muito quente. E, nesse caso, o Ambiente saiu vencedor — com o que se poupou em ar condicionado, não se pode dizer que o PAN tenha deixado uma grande pegada ecológica.