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32ª Cimeira Luso-Espanhola. A Cimeira de Trujillo permitirá aprofundar as discussões mantidas com o governo de Espanha sobre a interligação entre dois processos importantes: a implementação da Estratégia Comum de Desenvolvimento Transfronteiriço e a execução dos Planos de Recuperação e Resiliência. Terá também como um dos seus pontos altos a celebração do novo Tratado de Amizade e Cooperação, a assinar pelo Primeiro-Ministro português António Costa e pelo Presidente do Governo espanhol Pedro Sanchez. Trujillo, Espanha, 28 de outubro de 2021. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR
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Crise, dia um. Costa foi a Espanha e visitou Sánchez, o fã da geringonça que também pede "maioria reforçada"

Primeiro-ministro esteve na cimeira luso-espanhola. Sánchez é fã da geringonça, tem Governo de esquerda com equilíbrios precários e problemas com lei laboral. E acredita nos "diálogos" de Costa.

Garantir que a legislatura podia — e devia — durar até 2023. Pedir uma grande “dose de responsabilidade” aos partidos para encontrar consensos. E desejar uma maioria parlamentar maior da próxima vez que for a votos. Maior, não: uma “maioria reforçada”.

Estas frases parecem compor, ponto por ponto, o guião seguido por António Costa nestas últimas semanas, que acabaram por desembocar na crise política e no provável fim do seu Governo. Mas não: todas foram ditas, esta quinta-feira, pelo outro chefe de Governo que estava na sua companhia, o espanhol Pedro Sánchez, que por várias vezes se referiria calorosamente ao homólogo como o seu “querido António”.

As coincidências são difíceis de ignorar. Quando Costa aterrou esta manhã, de helicóptero, perto do castelo de Trujillo, em Cáceres, para em poucos minutos dar um abraço a Sánchez, admirar a vista para as ruelas estreitas e passar revista às tropas, ainda nem um dia passava desde que a crise política rebentara em Portugal. E, por ocasião da 32ª cimeira luso-espanhola, encontrava-se assim, por coincidência, junto de um dos seus aliados europeus que mais elogiaram a solução da ‘geringonça’ — e que mais dificuldades tiveram em construir uma solução política estável pelas próprias mãos, olhando para Costa como um exemplo.

32ª Cimeira Luso-Espanhola. A Cimeira de Trujillo permitirá aprofundar as discussões mantidas com o governo de Espanha sobre a interligação entre dois processos importantes: a implementação da Estratégia Comum de Desenvolvimento Transfronteiriço e a execução dos Planos de Recuperação e Resiliência. Terá também como um dos seus pontos altos a celebração do novo Tratado de Amizade e Cooperação, a assinar pelo Primeiro-Ministro português António Costa e pelo Presidente do Governo espanhol Pedro Sanchez. Trujillo, Espanha, 28 de outubro de 2021. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Portugal, o “exemplo de estabilidade”. E Costa, o negociador europeu

As semelhanças foram evidenciadas pelos jornalistas que os questionariam, horas mais tarde, numa conferência de imprensa conjunta. Costa evitaria responder a perguntas sobre a situação política, escudando-se no facto de estar em Espanha para um momento de diplomacia — “mesmo que o calor do acolhimento” o fizesse sentir-se em casa. Resumiria a mensagem a uma ideia: “A realidade portuguesa desenvolver-se-á serena e calmamente em Portugal”. E empurraria, mais uma vez, a ideia das eleições antecipadas para o Presidente da República: “É a única pessoa que pode e deve responder”.

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Já à saída, a pé e rodeado pelos dez ministros que o acompanharam a Trujillo, questionado sobre se fora do evento já poderia falar da situação portuguesa, apontaria para o chão para gracejar: “Isto ainda é Espanha!”. Mas, lá dentro, Sánchez aproveitava as perguntas dos jornalistas para fazer uma acérrima defesa do primeiro-ministro português: “António, se me permites, com toda a confiança que temos, acho que Portugal é um exemplo de estabilidade”.

E fazia questão de acrescentar um elogio à fama de negociador de Costa, num momento em que se multiplicam as análises sobre o falhanço das negociações à esquerda: “Posso garantir que no Conselho Europeu há poucos presidentes de Governo com as capacidades de diálogo para chegar a acordo como o primeiro-ministro português”.

32ª Cimeira Luso-Espanhola. A Cimeira de Trujillo permitirá aprofundar as discussões mantidas com o governo de Espanha sobre a interligação entre dois processos importantes: a implementação da Estratégia Comum de Desenvolvimento Transfronteiriço e a execução dos Planos de Recuperação e Resiliência. Terá também como um dos seus pontos altos a celebração do novo Tratado de Amizade e Cooperação, a assinar pelo Primeiro-Ministro português António Costa e pelo Presidente do Governo espanhol Pedro Sanchez. Trujillo, Espanha, 28 de outubro de 2021. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Sánchez, adepto da geringonça, sem estabilidade em casa

Costa agradeceria com as mãos o rasgado elogio. Mas a sintonia não é de agora. Ao seu lado neste dia de crise sabia que tinha um fã da solução da geringonça desde os primórdios da solução política encontrada em 2015. Em janeiro de 2016, pouco depois da assinatura dos acordos à esquerda em Portugal, Sánchez visitava Costa enquanto fazia a defesa da solução dentro de portas, depois de umas eleições que tinham deixado Espanha num impasse político. E assegurava: “Sempre que falo com António Costa, aprendo”.

Como Costa inspirou Sánchez para uma geringonça que saiu Frankenstein

A vontade de importar a solução política de Costa e aplicá-la a Espanha seria trazida a público por Sánchez por várias vezes (em fevereiro desse ano, lembrava que “em Portugal as forças da mudança entenderam-se”, enquanto Espanha continuava sem encontrar solução de Governo). A geringonça não se concretizaria no país vizinho e Sánchez não chegaria, nessa altura, ao Governo, mas anos depois, em 2018, o líder dos socialistas espanhóis conquistaria finalmente o poder, depois de uma moção de censura que derrubou o PP de Mariano Rajoy. Em 2019, voltaria a elogiar Costa, a propósito da vitória nas legislativas: “A sociedade portuguesa volta a escolher estabilidade, igualdade e justiça social. Com a vitória do PS, apostam num projeto de esquerda, progressista e modernizador”, assinalava.

32ª Cimeira Luso-Espanhola. A Cimeira de Trujillo permitirá aprofundar as discussões mantidas com o governo de Espanha sobre a interligação entre dois processos importantes: a implementação da Estratégia Comum de Desenvolvimento Transfronteiriço e a execução dos Planos de Recuperação e Resiliência. Terá também como um dos seus pontos altos a celebração do novo Tratado de Amizade e Cooperação, a assinar pelo Primeiro-Ministro português António Costa e pelo Presidente do Governo espanhol Pedro Sanchez. Trujillo, Espanha, 28 de outubro de 2021. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR 32ª Cimeira Luso-Espanhola. A Cimeira de Trujillo permitirá aprofundar as discussões mantidas com o governo de Espanha sobre a interligação entre dois processos importantes: a implementação da Estratégia Comum de Desenvolvimento Transfronteiriço e a execução dos Planos de Recuperação e Resiliência. Terá também como um dos seus pontos altos a celebração do novo Tratado de Amizade e Cooperação, a assinar pelo Primeiro-Ministro português António Costa e pelo Presidente do Governo espanhol Pedro Sanchez. Trujillo, Espanha, 28 de outubro de 2021. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR 32ª Cimeira Luso-Espanhola. A Cimeira de Trujillo permitirá aprofundar as discussões mantidas com o governo de Espanha sobre a interligação entre dois processos importantes: a implementação da Estratégia Comum de Desenvolvimento Transfronteiriço e a execução dos Planos de Recuperação e Resiliência. Terá também como um dos seus pontos altos a celebração do novo Tratado de Amizade e Cooperação, a assinar pelo Primeiro-Ministro português António Costa e pelo Presidente do Governo espanhol Pedro Sanchez. Trujillo, Espanha, 28 de outubro de 2021. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR 32ª Cimeira Luso-Espanhola. A Cimeira de Trujillo permitirá aprofundar as discussões mantidas com o governo de Espanha sobre a interligação entre dois processos importantes: a implementação da Estratégia Comum de Desenvolvimento Transfronteiriço e a execução dos Planos de Recuperação e Resiliência. Terá também como um dos seus pontos altos a celebração do novo Tratado de Amizade e Cooperação, a assinar pelo Primeiro-Ministro português António Costa e pelo Presidente do Governo espanhol Pedro Sanchez. Trujillo, Espanha, 28 de outubro de 2021. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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A gestão política de Sánchez continuaria a não ser fácil: só após duas dissoluções do Parlamento (e duas eleições antecipadas) conseguiria, no final de 2019, chegar a acordo com o Podemos (hoje Unidas Podemos) para estabelecer um programa comum, apoiado por partidos mais pequenos. Não seria exatamente uma geringonça e, neste caso, o partido então liderado por Pablo Iglesias entraria mesmo numa coligação formal para fazer parte do Governo, onde hoje continua (já sem Iglesias), pela primeira vez na história da democracia espanhola — nunca tinha existido um Executivo de coligação, apenas apoios parlamentares. Mas a capacidade de diálogo e de estabelecer pontes que tanto elogiara a Costa seria crucial para tentar chegar à tão desejada estabilidade política.

As dificuldades continuam, mas Sánchez assegura, como reiterou hoje, que vai conseguir segurar o Governo até 2023 — esta semana, noutra coincidência assinalável, fez aprovar o seu Orçamento do Estado depois de chegar a acordo com o parceiro de coligação numa lei para intervir no preço das rendas.

Sánchez enfrenta a “mãe de todas as batalhas” à esquerda — e a adversária tem lugar no seu governo

E se, ao contrário de Costa, Sánchez tem o seu Orçamento aprovado, certo é que um dos grandes conflitos que se arrastam com o Unidas Podemos tem precisamente a ver com a mudança das leis laborais — o nó que, em parte, levou ao desentendimento da esquerda portuguesa; Costa comentaria que existe “um grande consenso a nível europeu” sobre a necessidade de puxar pela agenda do emprego digno.

Quando Sánchez pediu uma “maior dose de responsabilidade” aos partidos espanhóis, falou de um Orçamento que deve ser de “recuperação” e de “prioridade aos interesses do país” — a fazer lembrar a narrativa e as prioridades do próprio Costa. Depois, mencionaria a vontade de ter, numas próximas eleições, uma “maioria reforçada” — exatamente o que Costa pedia na quarta-feira, no Parlamento, a minutos de ver o Orçamento chumbado e a crise política consumada. E quando lembrou os tempos de Governo PP, a propósito do caso Bárcenas, falou da “enorme” crise económica, “ajustes e austeridade com cortes muito dramáticos” e “mais impostos para a classe média trabalhadora”… poucas alterações teria um discurso de Costa a falar do antigo Governo de Passos Coelho e Paulo Portas.

32ª Cimeira Luso-Espanhola. A Cimeira de Trujillo permitirá aprofundar as discussões mantidas com o governo de Espanha sobre a interligação entre dois processos importantes: a implementação da Estratégia Comum de Desenvolvimento Transfronteiriço e a execução dos Planos de Recuperação e Resiliência. Terá também como um dos seus pontos altos a celebração do novo Tratado de Amizade e Cooperação, a assinar pelo Primeiro-Ministro português António Costa e pelo Presidente do Governo espanhol Pedro Sanchez. Trujillo, Espanha, 28 de outubro de 2021. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Os acordos de cooperação foram assinados pelos dez ministros que acompanharam Costa e pelos seus homólogos espanhóis, com a atualização do Tratado de Amizade (1977) entre os dois países à cabeça, mas incluindo também acordos nas áreas da mobilidade sustentável às infraestruturas digitais e a criação de um estatuto do trabalhador transfronteiriço. Alguns concretizar-se-ão em projetos comuns como “escolas interculturais bilingues” e um centro luso-espanhol de energias sustentáveis ali ao lado, em Cáceres, adiantaram os dois chefes de Governo. Por entre a sintonia e as promessas de compromissos frutíferos, Costa lá acabaria por se despedir do “querido Pedro” e devolver o elogio: “Posso testemunhar que Sánchez é a voz mais forte da Europa progressista que temos ouvido no Conselho Europeu”.

Foi um dia de sintonia raro, por esta altura. De noite, Costa já voava de volta para Portugal e para as turbulências políticas e orçamentais. A crise seguirá dentro de momentos.

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