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Antes do fecho, gerou-se uma "corrida aos depósitos" no Silicon Valley Bank

Anadolu Agency via Getty Images

Antes do fecho, gerou-se uma "corrida aos depósitos" no Silicon Valley Bank

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Da exposição limitada à relevante em Portugal ao SVB, fica a questão: quem vai substituir o banco das startups?

Empresas de capitais de risco falam na generalidade em exposição “limitada” das startups portuguesas ao SVB, mas a Portugal Ventures assume que tem no portefólio participadas mais expostas.

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Não há números concretos sobre as startups portuguesas com ligação ao banco norte-americano Silicon Valley Bank (SVB), mas há relatos de exposição “limitada”. É pelo menos este o retrato traçado ao Observador por várias empresas de capital de risco a operar em Portugal. Ainda assim a Portugal Ventures, sociedade de capitais públicos, assume uma “exposição relevante” de algumas startups do seu portefólio.

Além da exposição direta de empresas ao SVB, as implicações poderão arrastar-se mais além. A Bynd VC, empresa de capital de risco que investe em startups no mercado ibérico, reconhece que o colapso de uma instituição financeira tão associada ao setor tecnológico “tem sempre implicações e consequências muito sérias para toda a indústria”, mas que a entrada em cena dos reguladores para garantir o acesso à totalidade dos depósitos ajuda a mitigar o efeito dominó.

O SVB era um dos principais parceiros de startups. O banco descrevia-se como uma “one-stop shop” para os empreendedores ligados à tecnologia e inovação, com oferta que ia desde os depósitos aos empréstimos e hipotecas pessoais, nota a Bloomberg. Criada em 1983, a instituição financeira acompanhou a expansão de empresas que se tornaram em algumas das maiores tecnológicas do mundo.

A relação entre o SVB e o ecossistema de startups manteve-se até à sua queda. Quase metade das empresas de tecnologia apoiadas por capital de risco em 2022 tinha ligação ao banco, de acordo com dados divulgados em janeiro pelo SVB. No ano passado, houve menos empresas a entrar em bolsa (1.333 ofertas públicas iniciais, um tombo de 45% em relação a 2021), mas ainda assim 44% das tecnológicas e empresas do setor da saúde apoiadas por capital de risco eram clientes do SVB. O banco era a escolha de startups interligadas a alguns dos maiores fundos de investimento em empresas do género dos EUA, como a Sequoia Capital ou a Andreessen Horowitz. Mas não era apenas o “banco das startups” – também fornecia empréstimos às capitais de risco (venture capital ou VC) e às firmas de private equity, uma parte relevante para o ecossistema empreendedor, assegurando o financiamento de startups. Segundo dados do banco, no fim de 2022 os empréstimos a VC e a private equities representavam 56% do crédito concedido.

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Cerca de 40 mil clientes com depósitos no SVB eram pequenos negócios. Na semana passada, quando surgiram os primeiros sinais de alerta, houve uma corrida aos depósitos. Os reguladores fecharam o banco na sexta-feira e, durante o fim de semana, chegou a garantia de que os clientes iam ter acesso à totalidade do dinheiro depositado. Mas o SVB não foi caso único – também o Silvergate Bank e o Signature, ligados ao mundo dos criptoativos, fecharam portas.

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Startups portuguesas com “impacto limitado” à queda do SVB

A queda do Silicon Valley Bank gerou ondas de choque. No “banco das startups”, os clientes eram na maior parte particulares e empresas ligadas ao setor tecnológico, incluindo startups europeias. Na Europa são cerca de 16 as empresas de tecnologia e ciências da vida que revelaram exposição ao banco, de acordo com dados compilados pela Reuters. Na lista — que tem nomes como a dinamarquesa TrustPilot Group ou a sueca Kinnevik AB — não consta qualquer empresa portuguesa.

Mas existem startups nacionais afetadas pela queda do SVB. João Pereira, diretor da Unidade de investimento de Digital & Tecnologia da Portugal Ventures, revela que do portefólio da capital de risco existem “algumas [empresas]” expostas ao Silicon Valley Bank, indicando mesmo que a “exposição é relevante”. “Em algumas destas empresas que têm contactos com o SVB, a exposição, não sendo 100% de dependência do banco enquanto entidade de depósito e empréstimo, de crédito, era relevante”.

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Questionado sobre o número exato de empresas afetadas, João Pereira diz que o “universo é relativamente curto do ponto de vista de número”. “Numa carteira de 100 empresas, se eu lhe disser que no máximo foram cinco parece negligenciável”, no entanto, salienta, “estamos a falar provavelmente de empresas que estão em fase de maturidade significativa”.

Outras organizações que investem em startups portuguesas fazem um relato diferente, dando conta de um impacto limitado à queda do Silicon Valley Bank. Gil Azevedo, diretor executivo da Startup Lisboa, afirma que “nenhuma” das startups que apoiam foi “diretamente” afetada. “Indiretamente não se pode saber. Não lhe sei responder. Porque indiretamente é via investidores […] não conseguimos saber todos os investidores, se foram afetados ou não”.

Como a Startup Lisboa apoia empresas “numa fase inicial ou numa fase de crescimento também inicial”, Gil Azevedo considera que “a exposição direta” dessas tecnológicas ao Silicon Valley Bank é, “logo à partida, muito limitada”. O mesmo aconteceu com a Startup Portugal, que afirma que “as startups e scaleups portuguesas que estão nos EUA” não reportaram problemas “associados a esta falência, estando, pelo contrário, convictas da sua capacidade para honrar compromissos com trabalhadores e credores”. Desta forma, a organização não tem “qualquer indicação” que aponte para que as empresas que são apoiadas pelos seus programas tenham feito parte do leque de clientes afetados pelo colapso do SVB.

Já a Shilling admite ter empresas no portefólio com exposição ao SVB, nos EUA e no Reino Unido, onde a subsidiária SVB UK passou para as mãos do britânico HSBC por uma libra. Ainda assim, “menos de 5% das empresas” foram expostas e “algumas ainda tiraram depósitos antes do fecho”, nota Pedro Ramalho Carlos, partner da capital de risco portuguesa. A exposição de empresas com financiamento da Bynd (capital de risco) também foi “muito limitada”, diz Francisco Ferreira Pinto, diretor executivo, que afirma que “as garantias dadas aos depositantes permitiram mitigar a pouca exposição que existia”.

O Observador contactou os sete unicórnios com ADN português — com avaliações superiores a mil milhões de dólares — para perceber se mantinham relações com o Silicon Valley Bank. Entre a Feedzai, Outsystems, Anchorage, Sword Health, Talkdesk, Remote e Farfetch, só as primeiras quatro responderam .“A Anchorage Digital tem uma exposição limitada ao SVB, a nossa exposição ao SVB é menos de meio por cento da nossa tesouraria. Mantemo-nos vigilantes na proteção de bens da empresa e os bens dos clientes continuam sem ter sido afetados. Além disso, nenhum capital de reserva da Anchorage Digital Bank é mantido no SVB”, disse fonte da empresa cofundada pelo português Diogo Mónica. A OutSystems indica que “não há impacto material ao negócio e que não está exposta” ao SVB.

Já a Feedzai afirma não ter qualquer “relação bancária (depósitos, empréstimos ou conta) com o SVB”. A Sword Health indica que “não sofreu qualquer impacto na [sua] operação relacionado com a situação do SVB”. Por sua vez, a Remote tinha informado no Twitter que não tinha exposição ao banco californiano, mas não respondeu ao Observador.

Das restantes empresas portuguesas contactadas, a RealFevr disse não ter “relação” com o SVB. Por sua vez, a Didimo, a Unbabel e a Bright Pixel Capital (braço de investimento tecnológico do grupo Sonae) optaram por não contribuir para o artigo.

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Colapso do Silicon Valley Bank “tem sempre implicações e consequências muito sérias para toda a indústria”

A queda do Silicon Valley Bank pode ainda causar “dores de cabeça” ao mercado, apesar da garantia, por parte do governo norte-americano, de que os depósitos seriam devolvidos aos clientes. As entidades ligadas ao setor do empreendedorismo português ouvidas pelo Observador concordam que o risco de contágio foi mitigado com a decisão de assegurar os depósitos do SVB e do Signature Bank.

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O colapso “repentino e inesperado de um banco top 20 nos Estados Unidos” tão ligado às startups e investidores em capital de risco tem “sempre”, no entender de Francisco Ferreira Pinto, “implicações e consequências muito sérias para a indústria”. Para o diretor executivo da Bynd VC, “a rapidez e a dimensão da intervenção que se seguiu — proteção de todos os depósitos pelo governo dos EUA e venda do SVB UK ao HSBC — conseguiu mitigar os efeitos negativos e facilitou a retoma rápida da confiança no setor bancário”. “Ainda é cedo” para concluir que o risco está “mitigado”, embora as perspetivas sejam positivas.

A opinião de Pedro Ramalho Carlos, partner da empresa de capital de risco Shilling, vai no mesmo sentido:

Felizmente a resposta quer nos Estados Unidos, quer no Reino Unido foi rápida e eliminou a maior parte dos impactos para os clientes de bancos, designadamente as startups e os fundos/aceleradoras de capital de risco”. Por isso, conclui que não parecem existir “consequências materiais na Europa e em Portugal” no mundo das startups.

“Felizmente a resposta quer nos Estados Unidos, quer no Reino Unido foi rápida e eliminou a maior parte dos impactos para os clientes de bancos, designadamente as startups e os fundos/aceleradoras de capital de risco."
Pedro Ramalho Carlos, partner da empresa de capital de risco Shilling,

Quanto à possibilidade de a atividade de financiamento poder ficar fragilizada com o colapso do SBV, Pedro Ramalho Carlos, da Shilling, não antecipa “impacto material”. “Os bancos, como o SVB, são importantes, mas têm um impacto muito lateral aos ecossistemas no ‘early stage’ do capital de risco. Nas etapas mais avançadas, o venture debt, em que o SVB era forte, pode ter algum impacto no curto prazo, mas não nos parecem insubstituíveis”. Apesar do colapso do SVB ter sido inesperado, o setor tecnológico está habituado à volatilidade. A Shilling não considera que tenha sido o portefólio creditício desse banco a estar no “centro do problema”, pelo que não é antecipado um “impacto significativo no mercado de startups” até porque “existem alternativas”.

É precisamente devido aos créditos para fase inicial das empresas e às possíveis consequências na capacidade de encontrar financiadores que João Pereira, da Portugal Ventures, considera que existe um grande “ponto de interrogação”, principalmente para as que dependiam do financiamento do Silicon Valley Bank: “Quem é que no mercado [o] vai eventualmente substituir?”

“Haverá algum mecanismo tão forte como o que o SVB tinha para trabalhar com as startups’ tech? Essa é a grande questão. Até porque o venture debt [empréstimos enquadrado em capital de risco] era um mecanismo muito procurado já que completa muito bem aquilo que é o investimento dos fundos — nomeadamente em períodos de transição, entre rondas”, detalha, referindo que, da sua experiência, este é um instrumento “muito importante”.

Colapso de bancos ligados a criptoativos “não ajudam ecossistema a ganhar momentum

O Silicon Valley Bank tem sido o nome mais referido, mas há mais dois bancos que encerraram portas na semana passada, ambos conhecidos pela postura favorável ao mundo dos criptoativos. A 8 de março, foi anunciado o encerramento do Silvergate Bank, com a dona Silvergate Capital, a falar numa “liquidação voluntária” das operações. A queda do SVB ainda arrastou mais um banco, o Signature.

Tanto o Silvergate como o Signature tinham como clientes empresas a operar na área dos criptoativos. Aliás, numa publicação no Nostr, Mike Brock, CEO da TBD (empresa criada por Jack Dorsey, fundador do Twitter, para finanças descentralizadas) disse que “eram os dois bancos mais amigáveis para a bitcoin”.

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Pedro Ramalho Carlos, partner da empresa de capital de risco Shilling, explica que não tem no portefólio participadas com exposição ao Signature, mas reconhece que neste momento ainda “é difícil antecipar as consequências dos colapsos” destes dois bancos para “um setor que faz a ponte com Web3 e cripto, que já de si tem uma dinâmica muito própria”. E, embora deixe a ressalva de que a primeira análise é feita de “uma forma pouco sustentada e qualitativa”, este responsável admite que “parece seguro dizer que estes colapsos não ajudam o ecossistema cripto a ganhar momentum”.

Hugo Volz Oliveira, porta-voz da Federação Portuguesa das Associações da Cripto Economia (FACE), indica que os relatos que foram recebidos sobre a exposição do setor português aos bancos em questão “não indicam nenhum caso de relevo”. Ainda assim, antecipa que o “desaire no setor bancário norte-americano” que servia a cripto economia “pode ter algumas consequências de curto prazo no financiamento de empresas desta indústria por todo o mundo, porque as empresas precisam de bancos para receber o financiamento, que raramente é transferido em criptoativos”. Mas acredita que essa falha de mercado será “rapidamente colmatada – se não nos Estados Unidos, então noutras jurisdições”, lembrando que a “Europa já tem regras claras para a indústria bancária e as empresas de cripto”.

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Além do SVB, o Silvergate e o Signature também fecharam portas

NurPhoto via Getty Images

No caso do Silvergate, o porta-voz da FACE nota que o banco “sofreu com a sua exposição a uma indústria volátil, mas isso diz apenas respeito à escolha da sua gestão de não diversificar os seus clientes – algo crucial em qualquer setor”. A situação do Signature Bank foi outra, assegura. “Acabou por ser forçado a encerrar de forma inesperada, o que tem sido considerado um sinal de aviso às restantes instituições financeiras dos EUA, mostrando que bancos que lidem com certas indústrias sofrerão a mão pesada do regulador.” Volz Oliveira descreve que “isso é nocivo” mas acredita que é um fator que “afeta sobretudo o ecossistema cripto norte-americano”.

Já a portuguesa Bynd VC, que no ano passado contratou um sócio para o mercado dos criptoativos, refere que a atuação dos reguladores norte-americanos permitirá fazer com que “o impacto negativo associado também seja minimizado”. Mário Martins, analista da ActivTrades, acredita que a “regulação virá de novo à tona, mas provavelmente mais focada nos bancos de menor dimensão, uma vez que os bancos com riscos sistémicos têm um cinto mais apertado do que um banco regional, como o SVB”.

As preocupações com os salários no momento antes da queda do SVB

As consequências da queda do Silicon Valley Bank começaram rapidamente a ser sentidas nas startups dos Estados Unidos, com vários fundadores receosos de não terem fundos disponíveis para pagar salários. O banco caiu como um castelo de cartas e de forma rápida. Passaram apenas 48 horas entre os alertas de quarta-feira e a decisão dos reguladores de encerrarem o banco na sexta-feira, 10 de março. Nesse intervalo de tempo, muitos fundadores de startups esperaram em longas filas à porta de agências do SVB na região de São Francisco, numa verdadeira corrida aos depósitos, retirando 40 mil milhões de dólares do banco. O facto de Peter Thiel, um dos investidores mais influentes de Silicon Valley, ter alegadamente encorajado as empresas onde tem investimentos a resgatar os fundos, não terá ajudado.

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Muitos fundadores de startups esperaram em longas filas à porta de agências do SVB na zona de São Francisco

Boston Globe via Getty Images

Muitas empresas do setor tecnológico tiveram de tomar decisões rápidas para tentar mitigar as consequências da queda do SVB. A Rippling, empresa norte-americana que disponibiliza serviços de processamento de salários, não conseguiu evitar um atraso nas operações. O CEO Parker Conrad escreveu no Twitter que a empresa “dependia historicamente do SVB” para os pagamentos mas que, assim que tiveram conhecimento da intervenção dos reguladores, encerraram a ligação e viraram-se para o JP Morgan Chase (JPMC). “Com efeitos imediatos daqui para a frente, o processamento de salários da Rippling vai ser feito através do JPMC”, transmitindo que a empresa deixaria de ter “exposição ao SVB”.

Mas não conseguiu evitar contratempos na operação. “O atraso dos pagamentos de hoje é resultado do processamento que começámos no início da semana, com fundos em trânsito através do SVB. O nosso foco total está em fazer com que estes empregados recebam o mais depressa possível”, escreveu o CEO da empresa.

A Remote, unicórnio com ADN português, também fez um anúncio de emergência devido à situação do SVB. No Twitter, Marcelo Lebre, diretor de operações e cofundador da companhia que agiliza a forma como as empresas contratam remotamente, explicou na noite de sexta-feira que ia assegurar o pagamento de salários dos respetivos clientes que não conseguissem aceder aos fundos depositados no SVB. “A Remote continua a estar ao lado de todas as pessoas e companhias que nos confiaram o seu sustento e negócio. Vamos processar os pagamentos de todos os empregadores e funcionários empregados através da Remote que sejam afetados pelo SVB, independentemente de conseguirem financiar os salários a tempo do ‘payroll’ de março.”

“Se o seu patrão o emprega através da Remote não conseguir pagar o salário de março imediatamente, se não tiverem acesso aos fundos, a Remote pagará na mesma o salário.” A empresa explicou que conseguia fazê-lo “devido a um balanço saudável e de uma rede forte de parceiros bancários” e pelo facto de não estar exposta ao Silicon Valley Bank. O Observador questionou a Remote sobre quantos clientes é que poderiam estar nesta situação, mas não obteve resposta.

Empreendedores norte-americanos saíram em defesa do SVB

O colapso do banco gerou reações entre algumas das principais instituições ligadas às startups nos Estados Unidos, com alertas para como a queda do SVB pode ter um efeito dominó no setor. “Isto é um acontecimento de nível de extinção para as startups”, escreveu na sexta-feira no Twitter Garry Tan, CEO da aceleradora Y Combinator, uma das mais influentes em Silicon Valley. O tweet foi feito na mesma tarde em que os reguladores encerraram o SVB. “Vai fazer as startups e a inovação regredir dez anos ou mais.” E, segundo Tan, “as big tech não estão preocupadas com isto”, já que “têm dinheiro noutros lados”. “Todas as pequenas startups, as Google e Facebook de amanhã, vão ser extintas se não houver solução.”

A Y Combinator, que está principalmente focada em startups numa fase inicial, boa parte do público-alvo do SVB, lançou uma petição dirigida a Janet Yellen, secretária do Tesouro, a pedir proteção ao setor da inovação nos EUA e que os clientes do banco tivessem acesso à totalidade dos depósitos. “Milhares de startups e centenas de milhares de empregos em startups estão em risco”, é possível ler na petição, assinada por mais de 5 mil líderes de startups a operar nos Estados Unidos. “Estamos profundamente preocupados com a rápida queda do Silicon Valley Bank, uma instituição financeira que desempenhou um papel vital no apoio à indústria de tecnologia nos EUA. Não estamos a pedir um resgate para os acionistas do banco ou para a sua gestão; estamos a pedir-vos que salvem a inovação na economia americana”.

A petição foi feita a 11 de março, um dia antes de os reguladores norte-americanos garantirem que os clientes do SVB iam conseguir aceder à totalidade dos depósitos. Nos primeiros momentos de incerteza, a Y Combinator alertou para que um terço das startups que apoia tinha exposição ao SVB e que não conseguiria pagar salários. A estimativa era feita por alto, mas antecipava despedimentos em mais de “10 mil pequenos negócios e startups”. “Se em média uma pequena empresa ou startup emprega dez trabalhadores, isto vai ter um efeito imediato de licenças, despedimentos ou encerramento de empresas que pode afetar mais de 100 mil empregos num dos setores mais vibrantes de inovação na nossa economia”, alertou o CEO da Y Combinator.

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Sam Altman, que foi CEO da Y Combinator e lidera a OpenAI, a criadora do ChatGPT, deixou uma sugestão no Twitter. “Para os investidores que estão a perguntar ‘como posso ser útil’: hoje é um bom dia para oferecer dinheiro de emergência às vossas startups que precisam dele para os salários ou algo do género. Sem documentos, sem condições, enviem só o dinheiro”, escreveu no dia em que o SVB foi encerrado. Depois de a poeira assentar e ficar claro que as empresas iam recuperar os depósitos, não dourou a pílula. “Agora que o primeiro ponto de trabalho está arrumado: precisamos de mais regulação nos bancos e este foi um banco mal gerido.”

Michael Moritz, sócio da Sequoia Capital, partiu em defesa do banco num artigo de opinião no Financial Times. “O SVB apoiou a tecnologia quando toda a gente nos ignorou” foi o título escolhido. “Para quem tem trabalhado em Silicon Valley nos últimos 40 anos, o SVB tem sido o nosso parceiro de negócio mais importante”, escreveu Moritz, assegurando que até à semana do colapso era o nome que a Sequoia recomendava aos fundadores quando decidia financiar uma startup. A recomendação não seria inocente, disse Moritz, já que o negócio de fundos do SVB também tinha investimentos nos fundos da Sequoia.

“Antes de o SVB ganhar vida, era difícil, se não impossível, para uma startup assegurar uma ligação com um banco grande e estabelecido. As pequenas empresas de tecnologia da costa oeste eram incompreensíveis ou insignificantes para os grandes bancos da costa leste” e que, nos anos 80, eram “frequentemente ignoradas” pelas grandes instituições financeiras. Mas quando “a tecnologia entrou em todas as áreas da economia, o SVB acompanhou gradualmente” esse movimento. Moritz disse que o banco escolheu “abrir agências onde o bichinho do empreendedorismo estava vivo – tanto nos EUA como no estrangeiro”.

O sócio da Sequoia reconheceu que o banco “teve os seus altos e baixos” e que, “de uma forma perversa, pagou o preço da sua lealdade” para com o setor. “Muita coisa vai ser dita sobre as razões para a sua queda”, considerou Moritz, que pediu que o foco incida sobre “os passos adequados para garantir que dezenas de milhares de empreendedores possam continuar a pagar salários e as suas obrigações”.

Além da iniciativa da Y Combinator, também as empresas de capital de risco fizeram um comunicado de apoio ao Silicon Valley Bank, após uma reunião de emergência para discutir as consequências do colapso do “banco das startups”. Até ao momento, foi assinada por pelo menos 668 entidades de capital de risco, incluindo nomes como a Sequoia, Bain Capital Ventures ou a BMW iVentures.

No texto da petição, o SVB era descrito como “um parceiro de confiança e de longa data” da indústria de capital de risco e dos fundadores. “Ao longo de 40 anos, tem sido uma plataforma importante que desempenhou um papel central a servir a comunidade das startups e a apoiar a economia de inovação dos Estados Unidos”. A comunidade de VC reconheceu que o rápido colapso do banco “foi profundamente desapontante e preocupante”, mas deixou um conselho: “No cenário de o SVB ser comprado e apropriadamente capitalizado, recomendamos fortemente e encorajamos as empresas nos nossos portefólios a retomarem a sua relação bancária com o banco.”

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