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Diogo Piçarra: "Os miúdos não crescem com a educação de que têm de trabalhar e só depois vêm as redes sociais"

Depois dos concursos de televisão, após o "caso Festival da Canção", com um terceiro disco e a caminho da Altice Arena: por onde anda um dos nomes de maior sucesso da música pop portuguesa?

No dia em que falamos com Diogo Piçarra, o músico estava a terminar uma entrevista sobre o seu novo, e terceiro, álbum, o “South Side Boy”. Apenas mais uma, numa lista de compromissos que é preciso assegurar. Ainda assim, o cantor português ainda sente que luta por um lugar na indústria da música portuguesa, mesmo que se diga “mais maduro”. Quase a chegar aos 30 anos, Diogo está prestes a ser pai e vai estrear-se, em nome próprio, na Altice Arena, a 28 de março. Apesar de ter estado um mês em silêncio nas redes sociais, agora que o projeto está finalizado, não pode fugir às responsabilidades de uma estrela pop, com posts e stories para produzir.

“Popstar”, termo esse que ainda não lhe cabe na cabeça, porque cada vez que inicia um novo trabalho volta sempre a Faro, “à sua base”, à sua terra, e até ao Farense — o título do disco é o nome da claque do clube. Por “não ser intriguista”, o cantor já ultrapassou o episódio do Festival da Canção de 2018, em que foi acusado de plágio, e que o levou a desistir do concurso. Estava confiante de que iria vencer, mas, olhando para trás, agora “não teria participado”.

A maturidade, o percurso solitário e o saber que primeiro vem o trabalho deram-lhe ainda uma certeza: a de que hoje muitos pensam que o sucesso se atinge rapidamente, à distância de um like: “Um dia quando acabar o Instagram para onde vão os instagramers?”. Entrevista com o rapaz do sul que quer provar que não é só uma cara bonita que saiu dos concursos de talentos na televisão.

A capa do novo álbum, “South Side Boy” (Universal)

O título do novo álbum, South Side Boy, é uma homenagem à claque do Farense?
Nunca tinha pensado em usar este nome como título de disco ou de uma música. Mas quando gravei a segunda parte do disco, em Faro, comecei a pensar no nome. Voltei às origens pela primeira vez para gravar um trabalho. E percebi que fazia sentido trazer um bocadinho meu, porque sou do Algarve, sou um “south side boy”, ou seja, queria homenagear a região. Não ia usar algo como “sol e praia”…

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Ou “Allgarve”…
Sim, ou isso. Queria usar algo que não fosse tão óbvio e que também tivesse um lado artístico, que é a claque da minha cidade.

Já alguém da claque lhe mandou uma mensagem?
Mandaram logo, logo. A primeira vez que anunciei, no próprio dia tinha uma mensagem do representante da claque a agradecer. Já o tinha tentado contactar antes de lançar, para pedir autorização. Muitas pessoas disseram que não havia problema, mas depois recebi a mensagem e disseram-me que devíamos fazer algo juntos.

Eles podem subir à primeira liga…
Sim, é verdade. Gostava de acompanhá-los mais, mas a minha agenda não permite. Espero poder encontrá-los agora com este trabalho, faria sentido fazer alguma coisa com eles.

Olhando agora mais para o álbum, podemos dizer que é mais melancólico, talvez… Porque é que numa fase mais feliz fizeste um trabalho no sentido oposto?
Não compus as músicas a pensar no que viria a seguir. Quando o álbum estava feito é que saíram as notícias do bebé e até do concerto no Altice Arena. Acho que faltava no meu trabalho algo mais profundo, sobre o qual ainda não tinha falado. Todos os outros discos foram honestos, mas se calhar não fui tão ao fundo da questão. Sempre fui mais platónico nas músicas de amor. Acho que pela primeira vez consegui meter em papel muitas coisas que senti há muitos anos.

Porque é que alguém muito tímido quando era criança, decide ser autobiográfico no trabalho? Há muitos artistas que não gostam de ir por aí.
Não falo diretamente, falo de algo genérico para as pessoas se identificarem. Acho que devia isso às pessoas, um lado meu das pessoas que não conhecem. Ainda vou no início da minha carreira, tenho apenas dois trabalhos originais e um EP. E senti que não me queria repetir. Tento sempre não fazê-lo.

"Para alguns tanto faz participar naqueles programas e conseguir algo da música, ou ser ator ou apresentador. Muitos que concorrem, não digo todos, mas muitos não estão necessariamente preocupados em ter uma carreira na música."

Vai querer mostrar o lado da paternidade aos seus fãs através das redes sociais?
Vou ser igual como sempre fui, nunca escondi nada da minha vida. As pessoas sabem da minha história, não há podres do passado, não há nada. Tive uma infância feliz, uma juventude estável. O que veem nas redes é a mesma coisa que veem pessoalmente. Se calhar agora vou ter a tendência de ser mais protetor. Porque o bebé não tem o poder de decidir se quer aparecer ou não, de ser famoso ou não. Vou ter mais isso em conta. Quando ele crescer, aí talvez terei mais liberdade.

E se ele não quiser ser músico?
Espero que não! [respira de alívio]

Mas porquê? Está a chegar aos trinta anos e a perceber que não quer que o seu filho tenha as mesmas dores de cabeça que teve?
Não, não. Mas estou por dentro e percebo a dificuldade de corresponder à expectativa. Por um lado vai ser uma pessoa que vai viver à sombra de um sucesso do pai, que espero que continue para sempre. Vão apontar-lhe o dedo: conseguiste porque és filho “deste”. Quero que o consiga por mérito próprio. Por outro, se não conseguir ter sucesso vai ser frustrante. É uma pressão enorme.

Quando saltou para o palco mediático, após ganhar o Ídolos em 2012, também passou por isso? Se não tivesse  passado por onde passaste, não tinhas chegado até aqui?
Sim, sem dúvida. Não teria crescido sem os “nãos” que recebi nos castings. Não escondo, nem é nenhuma vergonha, o facto de ter ganho o “Ídolos”. Se não tivesse acontecido, não estava aqui sentado neste sofá desta editora, nem tinha feito metade do que fiz. Todo o caminho fez sentido, e onde estou foi por causa desse caminho. No caso de um filho… é sempre difícil porque vai ter outro caminho, não quero que repita os mesmos passos. Se entrar na música quero que saiba as dificuldades. E manter as expectativas baixas… se não der, enveredar por um plano B, como eu fiz. Sempre tive um plano B. Cada vez que recebia um não, voltava à minha vida normal. À escola, à minha casa…

Entendia com naturalidade?
Sim, sim. Com naturalidade, era sempre frustrante, mas tinha sempre o meu cantinho. Chegava a casa, compunha, tinha o meu computador, os meus projetos, fazia os meus vídeos de covers na internet. Sempre sem grandes planos. E depois do “Ídolos”, com contrato, aí sim, já tinha pressão e sabia que tinha de superar as expectativas de uma empresa que estava a investir em mim.

Antes de passar para a sua carreira: daqui a pouco tempo vai ser pai e vai pela primeira vez tocar na Altice Arena. Já teve  tempo para pensar na primeira parte?
Ainda não… ainda sentimos que é cedo. Ainda nem temos nada preparado em casa. Tinha este projeto prestes a sair, agora já saiu, é um alívio. Isso estava mais presente na minha cabeça, porque o bebé está onde está. Só a partir de março, quando nascer. Quando estiver cá fora é que vou perceber.

[“Coração”:]

Mas está assustado?
Não, não. Se toda a gente consegue, eu também vou conseguir.

Portanto o bebé pode nascer quando subir ao palco, é isso?
Há uma hipótese, mas vamos tentar que não seja. Não seria a primeira vez, tenho colegas a quem já aconteceu, infelizmente. E estavam longe… nós estamos aqui em Lisboa. Mas isso também não me assusta, até é giro, uma história para contar. Um disco especial, o nascimento do bebé, a primeira vez no Altice…

Se não se sente assustado por ser pai, não está nervoso pela estreia na maior sala de Portugal?
A parte musical assusta-me sempre um bocadinho. Já pisei aquele palco, mas não com um espectáculo meu e isso é que vai ser diferente. Tem a ver com gosto, expectativas, encher ou não a sala. Se o espectáculo está bom ou não, sei lá. Tem de ser tudo estudado e treinado.

Esse concerto já está a começar a ser pensado?
Já estou a montar as bases, sou eu que faço tudo, conteúdos para os vídeos e para concertos. Será sem dúvida das maiores produções que já tive.

A ideia será esgotar… estás confiante?
Sim, estou confiante. Mas sei que é mais difícil em Portugal, sendo português, porque as pessoas têm aquela perspetiva de que me podem ver numa festa ou num festival durante o verão, e assim não vão. Mas o meu conselho é: vai ser diferente. Se calhar não consigo levar a 100% o conceito deste disco para a vossa cidade e por isso aconselho a virem à Altice Arena.

Como aconteceu nos Coliseus.
Sim, esse conceito eu não consegui mostrar durante dois anos nas minhas tournés. E finalmente pode materializar-se aí. No Altice vou conseguir fazer isso.

Puxando a cassete atrás, acha que ainda existe preconceito por ter começado num programa de televisão?
Nunca senti isso. Não sei se não fui dos primeiros a conseguir fazer algo depois de um programa, com o contrato que o programa oferecia, por exemplo. Sinto que houve alguns concorrentes anteriores que tinham essa oportunidade e a quem não aconteceu nada, ou o que aconteceu foi o de não corresponderem às expectativas do público que votou. E não me querendo gabar, sinto que mudei um bocadinho o paradigma desses programas porque aconteceu alguma coisa, apesar de ter demorado três anos. Mostrei trabalho, coisas escritas por mim e que correram bem. E isso abriu portas e a mente de algumas pessoas. Nem toda a gente que aparece no programa é só uma “cara bonita”, eu já ia ali com coisas preparadas, com originais já na bagagem e guardados na gaveta. Sempre tive o trabalho de casa bem feito. É claro que isto não é a regra, para alguns tanto faz participar naqueles programas e conseguir algo da música, ou ser ator ou apresentador. Muitos que concorrem, não digo todos, mas muitos não estão necessariamente preocupados em ter uma carreira na música.

"Basta a fotografia bonita ou algo mais chocante e pensam: ‘eu chego lá e consigo’. Os miúdos não crescem com a educação de que têm de trabalhar e só depois vêm as redes sociais. A ordem está ao contrário."

E porque é que acha que conseguiu ter uma carreira depois do programa?
Não diria que fui o primeiro a ter carreira, mas a corresponder às expectativas das pessoas que votaram em mim. O que é que aconteceu de diferente? O tempo foi um grande fator. Juntei as melhores canções durante três anos. Se tivesse lançado logo a primeira música na semana seguinte tinha corrido mal.

Algo que ocorre até em concursos internacionais…
Acontece, o tempo é o nosso melhor amigo e inimigo. Mas neste caso foi um grande amigo. Lancei o primeiro disco aos 25 anos, aquele tempo fez a diferença. Se não fosse esse tempo não tinha surgido o “Tu e Eu”, ou o “Verdadeiro”. Amadureci, filtrei canções más e acima de tudo juntei-me com as pessoas certas.

O facto de ter um núcleo duro, e estando numa indústria que pode ser ingrata, teve  um percurso solitário?
A primeira coisa que fiz foi mudar-me para Lisboa, sair da zona de conforto. Foi o melhor e o pior. Queria mudar de vida para me aproximar da indústria. E isso ajudou-me, pude saber com quem estava a lidar, com quem queria trabalhar. Tive muita sorte. Mas antes disto tudo já era igual, só mudei o cenário. Em Faro estava no meu quartinho a fazer maquetes, a fazer originais. Sempre me senti mais confortável porque tinha o tempo a meu favor, estava sozinho, não estava num estúdio a pagar e à espera das oito da noite e ter de me ir embora. Esse trabalho solitário por um lado é mau porque não oiço muitas opiniões e quando estou bloqueado não tenho uma ajuda. Por outro, sinto mais orgulho porque saiu daqui de dentro.

Mas isso era porque era desconfiado?
Não. Era porque queria bater o pé, provar que não sou uma cara bonita que saiu da televisão a cantar covers. Canto, sou intérprete, mas sou mais compositor e produtor do que cantor.

E sente que prova isso com este álbum?
Sim, neste principalmente. Já provei mais a minha faceta de produtor. Só não produzi três temas, foram coproduzidos. O resto produzi tudo. Sinto mais orgulho nisso e sempre me vi assim. Antes de cantar, era guitarrista. Nos tempos de juventude comecei a meter a voz por cima. Esta foi a ordem. Uma vez os meus pais forçaram-me a cantar mais alto e comecei a cantar. Antes disso tudo era mais músico e compositor.

Então se os seus pais não o tivessem puxado para esse lado não estava aqui.
Não, não estava aqui.

Em relação à forma como escreves e produzes… o teu público, que é mais jovem, é uma influência?
Influencia sempre. Tento fazer algo que goste, sempre. Mesmo antes do primeiro disco, pensava ‘gostava de ouvir isto na rádio, será que isto faz falta?’. Sempre fiz tudo com essa perspetiva. Se não, penso no que posso mudar ou jogo fora. Depois, tento meter-me no lugar da outra pessoa, mais jovem ou mais velha. Não quero agradar a todos, esse é o erro número um. Não quero que todos gostem de mim, de longe. Quero fazer parte da vida das pessoas, quero que sejam fiéis, que me acompanhem. Isso é importante, não faço música para ouvir no quarto sozinho.

“Percebi muitas das críticas que me faziam quando me diziam que não, que era bom mas que não era a voz que estavam à procura. Demorou mas percebi.”

Isso influencia a tua imagem?
Não, isso é o gosto pessoal. Quando quis deixar crescer o cabelo, deixei, quando quis cortar, cortei. Fases da vida, uma tatuagem a mais, agora uso mais botas, dantes usava sapatos mais formais. Sou uma pessoa normal como as outras.

És bastante crítico em relação a alguns aspetos das gerações mais jovens…
Com o livro [Diogo Piçarra em Pessoa] fiz várias apresentações das escolas, nestes quatro anos percebi que há uma mudança no paradigma dos mais jovens em relação aos objetivos de vida. Noto alguma superficialidade na maneira como eles encaram o futuro. Eles olham para um rapaz de trinta anos e pensam que, aos vinte anos, querem ter o mesmo sucesso e mais rápido. Mas o rapaz de trinta anos anda a trabalhar desde os vinte. Eles querem atingir já. E como? ‘Ah, ele tem um Instagram, ok, eu tenho seguidores como ele, também tenho um canal e likes. Somos iguais, então consigo’. Acham que não há obstáculos. Basta a fotografia bonita ou algo mais chocante e pensam: ‘Eu chego lá e consigo’. Os miúdos não crescem com a educação de que têm de trabalhar e só depois vêm as redes sociais. A ordem está ao contrário. Eu sempre aprendi: primeiro trabalho.

Qual a reação à mensagem que lhe tenta  passar?
Tento dar-lhes a minha experiência pessoal mais no fim dessas apresentações nas escolas. Que tive de estudar e acabar o curso. Que não comecei a cantar ontem, estou nisto há dez anos. E que ainda luto pela minha posição na música. Tento também incentivá-los a não pensar em ser famoso por ser famoso. Trabalhas e depois o sucesso vem como consequência. Um dia, quando acabar o Instagram, para onde vão os instagramers? Quando acabar o Youtube para onde vão os youtubers? Cresci numa era em que não havia nada disso. Ou eras cantor ou ias para outra área. Há que pensar antes disso, com a perspetiva de que se isto acabar um dia, o que é que eu sou? O que é que eu tenho? Qual o meu conteúdo?

Também tentas passar essa mensagem no “The Voice”, como jurado?
Sim, acima de tudo que não é o fim. Quando sinto que eles querem fazer tudo rápido, principalmente miúdos com 15 anos já a cantar melhor do que eu…

Isso é caso para inveja?
Não, respeito. Porque sinto que é um dom. Não sinto que tenha um dom, mas sim que aprendi. Acho que não nasci com isto, apareceu-me um bichinho aos meus quinze, dezasseis anos e tive de trabalhar. Há miúdos que nasceram com aquele dom. Dou os parabéns, mas digo: agora trabalha. Tive de trabalhar o dobro.

Sentiu que era demasiado novo para ser jurado?
Foi assim uma mistura. Mas tive que dizer logo que sim, sempre tive esse desejo. Como vim desses concursos sempre quis estar desse lado, que é tão ou mais desafiante do que estar a ser julgado no palco. Ligas-te emocionalmente às pessoas, custa dizer que não. Se és bom, porque é que não continuas? E aí percebi muitas das críticas que me faziam quando me diziam que não, que era bom mas que não era a voz que estavam à procura. E percebi, demorou mas percebi. Se calhar a minha voz não estava madura o suficiente ou a imagem não era a melhor. Hoje percebo tudo e tento transmitir, da maneira mais clara. A nós, os quatro mentores, que já demos cartas, acho que conseguem ouvir-nos de forma explícita. Mas no meu caso eu sei, desde o pré-casting, até à final, porque já estive lá. Já passei por tudo.

"Senti que de alguma maneira, se voltasse atrás, não teria participado. Não precisava, tinha a minha carreira, tinha o meu EP, ia começar uma tourné bonita. Aquilo não passou de uma pequena minoria nas redes que quis deitar-me abaixo. Foi só isso. Explodiu na internet, a poeira ficou lá, e fechas o computador e não se passa nada. Porque nunca fui acusado legalmente nem vou ser."

Disse ao Manuel Moura dos Santos que agora é jurado? Isto porque ele foi um pouco duro consigo num dos seus castings…
Não, não… Sempre foi duro comigo. Mas é o papel dele. Fora do painel dos jurados, ele é um homem sensível, o papel que fazia no programa era importante. A música não é só feita de coisas cor de rosa. O Manuel representava a parte dura da indústria.

Acha que este tipo de concurso ainda faz sentido? Numa era em que é possível chegar a milhões de pessoas através das redes sociais?
A televisão continua a ser um meio forte. Junta as famílias, é importante manter essa cultura. O que as redes sociais nos trouxeram é que cada um tem os seus gostos e programas, pode ver o que quer à hora que quer, e afasta-nos de alguma maneira. A televisão ainda é um meio que nos junta. O “The Voice” também faz isso. Já quando participava nos programas pensava: porque é que não ouvem só a voz? E nas provas cegas deste programa acontece isso. Vou carregar no botão por causa da voz. É uma decisão muito complicada, estar de costas, não saber quem é. As pessoas deviam experimentar isto em casa.

Disse que ainda  se sente a lutar dentro do meio, mas podemos considerar-te uma popstar. Tens consciência disso?
Mas afinal o que é ser uma popstar? No meu estúdio não tenho discos de ouro para me influenciar. O estúdio está vazio, não quero isso. Nunca me vou sentir uma popstar. Mesmo quando estou com a Marisa Liz ou o António Zambujo, ou quando privo com artistas como o João Pedro Pais ou os Anjos… sinto que não me insiro.

O que é que falta?
Vai ser sempre assim. Se calhar quando estiver nos meus sessenta, setenta anos, aí talvez não tenha tantos filtros. Se já tiver uma vida plena, talvez me sinta popstar. Não é “ser uma lenda”, mas que sinta que já deixei algum património.

Como o Rui Veloso ou o Pedro Abrunhosa.
Sim, mas mesmo eles ainda não pararam. Sei que nunca vou sentir que faço parte dessa turma de famosos.

Alguns artistas têm posições sociais e políticas públicas. Já pensou em ter esse papel?
Tento abstrair-me de opiniões políticas, futebolísticas, religiosas… primeiro porque já faz parte da minha natureza não ser uma pessoa intriguista. E ao estar a querer mostrar a minha opinião, parece que estou a dizer que eu é que estou certo. Para mim, o ativismo é isso. E eu não pretendo isso. Há muitas verdades, e eu ao mostrar uma posição, tendo a visibilidade que tenho, vai sempre chegar a pessoas erradas.

Não  se quer comprometer?
Não, eu posso comprometer-me. Posso defender a minha posição, mas sinto que estou a puxar à expressão ‘eu é que sei’. Não sou contra ninguém, tirando extremismos. claro.

O facto de dizer que não és intriguista, levou-o a resolver melhor aquele episódio do Festival da Canção, em que foi acusado de plagiar uma canção da IURD?
Quis mesmo meter um ponto final e não alongar mais a situação.

[“Normal”:]

E como é que olha para isso agora?
Sinto que não me afetou a longo prazo, mas sim no momento. Queria realmente representar o nosso país na Eurovisão, mas nenhum artista quer passar pelo resto. A pessoa que quer fazer isso é burra, e eu não sou. Senti que de alguma maneira, se voltasse atrás, não teria participado. Não precisava, tinha a minha carreira, tinha o meu EP, ia começar uma tourné bonita. Aquilo não passou de uma pequena minoria nas redes que quis deitar-me abaixo. Foi só isso. Explodiu na internet, a poeira ficou lá, e fechas o computador e não se passa nada. Porque nunca fui acusado legalmente nem vou ser. Foi um abre olhos. Como é que consegues afetar uma pessoa só com um ecrã?

Se soubesse o que sabe hoje, não teria participado, portanto.
Não, porque não precisava, como disse no meu comunicado. Não preciso de polémicas, porque a minha vida e a minha carreira nunca foram construídas assim. Por isso é que saí.

Acha que teria  ganho?
Acho que sim. Mesmo por causa das votações, da opinião pública. Fui das poucas pessoas no Festival da Canção que juntou o mesmo número de votos do público e do júri.

Diogo Piçarra: “Tenho de admitir as parecenças, claro. É óbvio”

E na Eurovisão?
Isso já não sei. É muito difícil voltar a ganhar, a probabilidade é de quase 1%. O feito do Salvador Sobral foi um num milhão. Se demoramos cinquenta anos a ganhar, não íamos ser campeões duas vezes seguidas. Até porque a indústria funciona como estímulo. Os países que perderam vão agora trabalhar o dobro, o que ganhou nem tanto. E a seguir ao Salvador ficámos injustamente em último lugar [com a canção “Meu Jardim”  de Cláudia Pascoal e Isaura]. Podia perfeitamente ter ficado no no top10.

Depois deste novo disco e do que aí vem em 2020, o que se segue?
Como produtor já tenho conseguido chegar mais longe. Queria trabalhar mais lá fora. Tenho estado muito entre Madrid e Lisboa, a trabalhar com artistas mais novos. Fiz uma música para a Anitta, onde ela canta com o Vitão. Fico feliz por algumas terem conseguido furar.

À medida que for viajando, produzindo mais lá fora, não terás a tentação de voltar a Faro, aos tempos do Bar Académico, dos Fora de Boia? Voltar à tal base de que falavas.
Por enquanto sou muito feliz na capital, mas sim claro. Talvez daqui a uns anos sinta a necessidade de voltar à paz do Algarve. Quem sabe, voltar às origens. Mas por enquanto, tenho de viajar mais e trabalhar cada vez mais.

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