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"É possível que a tecnologia deixe algumas pessoas mesmo muito ricas e outras muito pobres"

Professor numa das mais prestigiadas universidades dos EUA, David Autor diz que a ansiedade provocada pela revolução tecnológica é legítima, mas que é a distribuição de riqueza que nos deve preocupar.

“Nada garante que vamos todos beneficiar da revolução tecnológica, é legítimo preocuparmo-nos.” A frase é dita por David Autor a mais de 5.200 quilómetros de distância do Bairro Alto, em Lisboa, durante uma videochamada com o Observador. No gabinete que ocupa no Departamento de Economia do Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde é diretor-adjunto, o professor e investigador explicou porque é que a ansiedade e a preocupação das pessoas com a revolução tecnológica é “legítima”: porque não vamos todos ganhar o mesmo com ela. Apesar de acreditar que as novas máquinas não farão com que desapareçam categorias de empregos por inteiro, o especialista em mercado de trabalho reconhece que se estas fizerem o mesmo que a mente humana faz, então as pessoas não saberão competir com elas. Recursos essenciais? Flexibilidade, criatividade, adaptabilidade, capacidade de resolver problemas, desenvolver ideias e saber conquistar investidores para elas.

Galardoado com vários prémios ao longo da sua carreira, David Autor foi apontado pela Bloomberg, em 2017, como uma das 50 pessoas que definiram o negócio à escala global e vai estar em Portugal a 15 de setembro, nos Encontros da Fundação Francisco Manuel dos Santos — que decorrem de 14 a 16 de setembro no Jardim Botânico Tropical, em Belém — para falar sobre “a corrida entre o homem e a máquina“. Ao Observador, Autor explicou que aquilo que distingue as pessoas das máquinas é “este trabalho que envolve ter flexibilidade em estruturas rígidas”. É aqui que ganhamos a corrida: “Somos muito bons nisto, somos muito bons a identificar problemas e a saber que isto que está aqui é o que preciso de fazer para o resolver. Usamos o senso comum, percebemos que coisas se estão a passar”.

David Autor tem dedicado a sua área de estudos aos impactos da revolução tecnológica e globalização no mercado de trabalho

Há razões para termos medos da revolução digital e do impacto que terá no mercado de trabalho?
“Medo” é uma palavra forte. Acho que há razões para estarmos otimistas, mas também para estarmos preocupados. O motivo que nos devia deixar otimistas não é muitas vezes referido e tem a ver com o facto de a revolução tecnológica implicar um aumento na produtividade das pessoas, de criar novas possibilidades e, seguramente, criar mais riqueza. Isso permite-nos fazer mais coisas ou coisas mais interessantes com menos recursos. Podemos estar a falar de entretenimento, de serviços pessoais, de medicina, de ciência. Acho que a [revolução tecnológica] nos abre muitas possibilidades e que devíamos estar entusiasmados para perceber que coisas boas são essas.

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Aquilo que nos devia preocupar tem a ver com coisas como a distribuição da riqueza. Como é que vai ser feita? Isto vai fazer com que algumas pessoas fiquem muito ricas e outras fiquem privadas de trabalhar, porque haverá substitutos para executar aquilo que fazem? Acho que essa é a grande preocupação das pessoas: que haja um deslocamento do seu trabalho. Confirmámos que este tópico está a criar múltiplas ondas de ansiedade sobre automação, sobre o que vai ser automatizado. Já vimos isto acontecer noutros momentos da história, no séc XVIII, nos anos 1950 e 1960.

Portanto, esta preocupação não é nova, mas também não deve ser minimizada. De uma forma surpreendente, apesar do quão diferente é o trabalho de hoje comparativamente ao que fazíamos há centenas de anos, continuamos a ter um problema de perda: nos EUA, 40% do nosso emprego estava na agricultura, hoje contamos menos de 3%. Ainda assim, há uma percentagem de pessoas que está a fazer outras coisas, que hoje recebe dinheiro por trabalhos que, antes, nem eram pagos. A preocupação é esta: a de que a automação substitua cada vez mais as competências primárias. Mas também nos liberta de algumas coisas: não temos de repetir tarefas e podemos fazer um trabalho interessante, usando mais a mente e menos o nosso corpo.

Essa é outra das preocupações: que as máquinas façam o trabalho da mente e, caso isso aconteça, não saberemos como competir com elas. Se as máquinas conseguirem fazer um trabalho que equivale à nossa força física, mas também ao nosso pensamento, qual é, então, o valor produtivo de uma pessoa? Como vamos receber o nosso salário? Como é que isso vai ser medido? Não sabemos as respostas a estas questões, mas sabemos que, historicamente, com o desenvolvimento da automação, também vem o desenvolvimento da educação. As pessoas têm mais formação agora do que há 100 anos. Naquela altura, uma grande fração da população ficou sem emprego, porque só sabiam fazer o trabalho básico, não sabiam ler nem escrever. Então, educámo-nos para crescer.

Agora, as pessoas têm uma formação mais qualificada e são aquelas que têm níveis mais baixos de educação que vão ter menores oportunidades, porque há menos trabalho. Antigamente, se tivesses força e um bom carácter, encontravas sempre um trabalho físico qualquer para fazer, mas agora isso não é verdade.

"Tudo o que possa fazer com que as pessoas sejam melhores no seu trabalho, vai aumentar o valor desse mesmo trabalho. E isto, às vezes, acontece por causa das competências e, outras vezes, acontece por causa da tecnologia"

Não sabemos se os robôs vão ter a mesma produtividade ou se farão o mesmo trabalho cerebral, mas existe esta ansiedade de que falou. Qual é a melhor forma de as empresas lidarem com a ansiedade?
Acho que o que as pessoas temem é a segurança do seu posto de trabalho, por isso, se as empresas quiserem mesmo resolver esta ansiedade, devem dizer: “Não te preocupes, o teu emprego está seguro; ou, se o teu emprego já não for preciso, nós vamos treinar-te para que faças outra coisa”. Acho que aqueles que são os interesses da empresa e aqueles que são os interesses dos trabalhadores podem não estar alinhados. As empresas sentem que podem cortar custos [com a automação] e isso também significa que podem reduzir empregos, que as máquinas vão chegar e fazer o mesmo trabalho que o trabalhador faz, durante 24 horas por dia, sete dias por semana, sem precisar de pausas. As pessoas podem querer resolver esta ansiedade, mas também acho que os trabalhadores vão entender que os interesses de ambos não estão necessariamente alinhados aqui.

Acha importante que as empresas se mantenham disponíveis para dar formações aos colaboradores? Para que as pessoas se mantenham motivadas?
É muito importante, mas também acho que os trabalhadores não devem esperar que sejam as empresas a ter esse papel. As empresas existem primeiramente para benefício dos proprietários. Agora, também é possível taxar as organizações e usar esse dinheiro para financiar a educação. Não podes esperar que sejam as empresas a resolver isto, porque quando as empresas retêm um trabalhador têm custos. Acho que vão ser precisos uma série de mecanismos para que isto tenha sucesso. Pode ser através de mais investimento público na educação, de taxas que são criadas para suportar a segurança social, tecnologia que pode ser utilizada como complemento… Há muito trabalho que tem de ser feito, mas há muito trabalho do ponto de vista pessoal, como o dos serviços, o das atrizes, etc, que não vai sucumbir à robótica ou à inteligência artificial num futuro recente.

Mas, se a tecnologia conseguir que as pessoas sejam mais produtivas no trabalho, mais eficientes nos restaurantes, enquanto empregados de limpeza, seja o que for… Tudo o que possa fazer com que as pessoas sejam melhores no seu trabalho vai aumentar o valor desse mesmo trabalho. E isto, às vezes, acontece por causa das competências e, outras vezes, acontece por causa da tecnologia. Por exemplo, um trabalhador da construção civil, no séc. XXI, já tem apoio de muitas máquinas, não tem tanto trabalho árduo e isso torna-o incrivelmente produtivo. Pode fazer muito mais trabalho de construção, e como resultado, também pode ser melhor remunerado do que os trabalhadores de construção civil de há 100 anos, que só tinham algumas ferramentas.

A nossa noção é a de que o trabalho humano é primário, naturalmente pensamos que as máquinas substituem as pessoas, mas elas também nos complementam. As coisas que ainda fazemos com a sua ajuda tornam-nos mais produtivos, conseguimos mais porque temos tido estas ferramentas. Por isso, o ponto aqui não é saber como conseguimos eliminar todos os trabalhadores, é saber como é que tornamos as coisas que não vamos conseguir automatizar, durante um longo período de tempo, mais produtivas?

"Para organizares uma conferência, por exemplo, precisas de recursos, de informação, de tecnologia, mas, acredita em mim: se não conseguires perceber quais são as necessidades das pessoas, se não conseguires identificar os problemas que são mesmo importantes, então...  A  forma como interligamos as competências técnicas com as interpessoais está a tornar-se mais valiosa."

Acredita que serão as competências sociais e a inteligência emocional que melhor nos distinguirá? Passarão a ser competências com mais valor?
Sim, vemos que as competências sociais se têm vindo a tornar mais importantes com o tempo. Os desafios têm a ver com a interação entre pessoas, com a forma como resolvem um problema real, como se organizam e o solucionam — isto é a parte complexa de um problema simples. Para trabalhares com uma folha de Excel, não precisas de muitas competências sociais, uma máquina pode fazer isso. Mas para organizares uma conferência, por exemplo, precisas de recursos, de informação, de tecnologia, mas, acredita em mim: se não conseguires perceber quais são as necessidades das pessoas, se não conseguires identificar os problemas que são mesmo importantes, então…  A  forma como interligamos as competências técnicas com as interpessoais está a tornar-se mais valiosa. Há mais trabalho que envolve ter de saber lidar com as pessoas, mas também o de ter de saber lidar com estruturas.

As 20 profissões mais em risco de serem substituídas por computadores:

Mostrar Esconder
  1. Operador de telemarketing: 99%
  2. Operador de caixa: 97%
  3. Cozinheiro em restaurante: 96%
  4. Funcionário dos correios: 95%
  5. Empregado de mesa: 94%
  6. Contabilista: 94%
  7. Talhante: 93%
  8. Motorista de táxi: 89%
  9. Padeiro: 89%
  10. Corretor de imóveis: 86%
  11. Pedreiro: 82%
  12. Cozinheiro de fast-food: 81%
  13. Barbeiro: 80%
  14. Carpinteiro: 72%
  15. Técnico de eletrodomésticos: 72%
  16. Mecânico de avião: 71%
  17. Mulher a dias: 69%
  18. Carteiro: 68%
  19. Motorista de autocarro: 67%
  20. Arquivista: 65%

"O Futuro do Trabalho", publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, com base em dados do Fórum Económico Mundial, "The Future of Jobs: Employment, Skills and Workforce Strategy for the Fourth Industrial Revolution (2013) e "The Future of Employment: How Susceptible are Jobs to Computerisation"

Já deveríamos estar a redefinir políticas de mercado de trabalho? As universidades deveriam estar já a ensinar mais destas competências sociais e emocionais aos estudantes?Primeiro, não lhes chamaria necessariamente competências emocionais e sociais, diria que é preciso ter uma ambição apurada, saber trabalhar em equipa ou escrever um argumento apelativo. Todas estas competências e aquelas que implicam resolver problemas, assim como desenvolver uma ideia, convencer as pessoas a investir na tua ideia, tudo isto é importante na educação primária. É o tipo de competências de que as crianças precisam. Muito honestamente, as coisas não vão mudar, mas podemos esperar que um dia sejam assim. Claro que a Matemática vai sempre ser Matemática, mas saber pensar como é que analítica e cientificamente pensas sobre um problema, como comunicas a informação, como trabalhas com outras pessoas… Todas estas competências são extremamente importantes.

Aquilo em que as pessoas são muito boas, mas as máquinas não são, tem a ver com este trabalho que envolve ter flexibilidade em estruturas rígidas. Somos muito bons nisto, somos muito bons a identificar problemas e a saber que isto que está aqui é o que preciso de fazer para o resolver. Usamos o senso comum, percebemos que coisas se estão a passar. E competências como a flexibilidade, criatividade, capacidade de julgarmos são cada vez mais importantes. Por isso, cultivar este tipo de competências, que torna as pessoas mais adaptáveis e capazes de resolver problemas enquanto as máquinas fizerem as coisas mais fáceis, é mesmo muito valioso. Não se revoluciona pela educação, mas é importante que a educação se assegure disto, que as crianças memorizam estas coisas.

"Não queremos que as crianças fiquem presas a determinadas oportunidades porque os pais não tiveram acesso a bons empregos. Elas merecem mais oportunidades, o que significa que é preciso investir nas crianças e nas famílias."

E quanto à legislação e políticas que rodeiam o mercado laboral? 
Acho que vão ter de existir muitas novas políticas de educação, porque haverá trabalhos que vão ser substituídos e é preciso saber como fazer para que as pessoas se possam reeducar, como é que essa transação acontecerá, que faculdades podem fazer isso. As pessoas podem ter aulas sobre tudo: sobre como ser um vendedor, um marinheiro, como ser mecânico de carros, mas muitas dessas coisas são extremamente difíceis de aprender enquanto estás sentado à frente de um computador. Então, o que seria muito bom para nós era saber como tirar esses recursos e treiná-los numa espécie de aulas, onde se possam desenvolver as competências que faltam, caso o seu trabalho mude. Este tipo de políticas é importante.

No mundo ocidental, vivemos em países que estão a envelhecer rapidamente e nos quais vão ser necessários trabalhos relacionados com os cuidados destas pessoas: serviços pessoais, relacionados com a segurança. O problema é que estes empregos não pagam bem porque o tipo de competências que precisam não requer uma formação qualificada. Como podemos garantir que isto pode promover emprego estável, padrões de vida? Devemos estar preocupados em proteger estes indivíduos, mas também a família e as crianças? Não queremos que as crianças fiquem presas a determinadas oportunidades porque os pais não tiveram acesso a bons empregos. Elas merecem mais oportunidades, o que significa que é preciso investir nas crianças e nas famílias.

Que empregos é que acha que vão deixar de existir daqui a 10 anos?
O único emprego que quase toda a gente tem a certeza que vai deixar de existir é o de operador de elevador, a pessoa que conduz o elevador para cima e para baixo. Todos os outros empregos continuam a existir, nem que seja numa extensão mínima, mas, genuinamente, não acredito que haja categorias inteiras de empregos que vão desaparecer. Há empregos que vão mudar muito, cujas tarefas vão mudar. Há profissões que foram mais automatizadas, mas nas quais continuam a existir pessoas para ajudar a resolver problemas, esses empregos ainda existem, mas são muito, muito diferentes daquilo que eram. Não acho que vão desaparecer muitos empregos, acho é que vão mudar muito.

No longo prazo, vão existir menos pessoas a conduzir veículos como forma de ganhar a vida, mas durante muito tempo haverá pessoas que podem fazer isso, mas que perderão menos tempo a fazer algumas coisas, porque serão os computadores a fazê-las. Acho que muitas das pessoas envolvidas no setor dos transportes vão ver os seus papéis mudar e que vão ter menos horas de trabalho. Não acho que vão haver muitos empregos a desaparecer por completo, mas muitos deles vão mudar bastante e outros vão ser reduzidos. E alguns vão crescer.

Quais são aqueles que vão crescer?
Muitos serão no setor dos cuidados de saúde. Há muita necessidade de mãos no setor dos cuidados de saúde, porque a população está a envelhecer e as tecnologias estão a provar que há mais coisas que podemos fazer. Acho que a oportunidade vai estar nos empregos ligados à educação e, depois, haverá muitos empregos na área dos serviços pessoais, porque é nesse tipo de coisas que as pessoas andam a gastar os salários: em restaurantes, viagens, entretenimento, e por isso acho que haverá muitas pessoas envolvidas em criar serviços para outras pessoas.

Ainda acredita que temos empregos a mais?
Claro. Nas economias industriais, há um crescimento da economia e um crescimento do emprego, mas isso não quer dizer que todos os trabalhos sejam bons. Muitos destes trabalhos não são economicamente seguros e não têm progressão de carreira.

"Fala-se muito nos efeitos que os carros autónomos terão nos trabalhadores, mas acho que os maiores efeitos vão sentir-se é na forma como as cidades estão organizadas, onde as pessoas vivem. Uma das preocupações é esta: imagina que podes agarrar no carro e ir para outro sítio e, enquanto o carro se conduz a si próprio, dormes ou vês televisão."

Tem vindo a estudar isto durante a sua carreira. Quando olha para o passado, identifica um grande erro que tenhamos feito noutras revoluções?
Sim, acho que nos preocupámos com a substituição direta das pessoas pelas máquinas e falhámos em reconhecer quais seriam os grandes efeitos que isso iria provocar. No caso do setor automóvel, por exemplo, os efeitos não recaíram tanto no setor em si, mas no pós-setor: foi nos sistemas de organização, na criação de autoestradas inter-estaduais, em toda a indústria do turismo. Estas coisas foram muito maiores. Na altura, dissemos: “Ó meu Deus, os carros vão correr com os cavalos e vão tirar as pessoas dos seus trabalhos”. E isto de alguma forma aconteceu, mas as coisas foram muito mais dramáticas noutros campos. No setor agrícola, por exemplo, o desemprego cresceu, mas não a agricultura, porque agora temos mais comida do que a que tínhamos. Fazemo-lo é com menos pessoas, mas isso não nos levou a um desemprego em massa ao longo do tempo.

Fala-se muito nos efeitos que os carros autónomos terão nos trabalhadores, mas acho que os maiores efeitos vão sentir-se é na forma como as cidades estão organizadas, onde as pessoas vivem. Uma das preocupações é esta: imagina que podes agarrar no carro e ir para outro sítio e, enquanto o carro se conduz a si próprio, dormes ou vês televisão. Se calhar, não importa o quão longe moras do teu trabalho… Se isto acontecer, as cidades vão tornar-se muito diferentes, porque podes não querer guiar meia hora todos os dias, mas também, se calhar, não te importas de te sentares no carro durante três horas, se puderes ver televisão ou outra coisa qualquer. E, muito em breve, isto pode congestionar a cidade. Como as pessoas não estão a guiar, acho que isto pode mudar a forma como as cidades estão organizadas e onde as pessoas decidem viver. E isto pode ser uma consequência mesmo muito grande, muito maior do que aquela que recai apenas nas pessoas que trabalham no setor.

O setor dos transportes é o que vai ficar mais danificado?
Não acho que vai ficar danificado, acho que vai ser transformado. Nem sequer acho que vá haver menos necessidade de nos transportarmos. Acho que pode envolver menos motoristas, mas não acho que viajaremos menos ou durante menos tempo, vamos ter é necessidades diferentes. Agora, o que interessa num carro é ouvir um podcast. Num futuro próximo, vamos poder sentar num carro e fazer o que quisermos, não nos retira muito do nosso tempo disponível.

"É uma coisa importante sobre a qual o Governo tem de se debruçar: perceber se os ganhos são razoavelmente bem distribuídos e se as pessoas não perdem muito, mesmo que os benefícios dos outros sejam maiores. Essa é a preocupação, não que não vá haver grande valor económico a sair daqui."

Quanto tempo falta para que todo este cenário de carros autónomos e de pessoas com um novo estilo de vida possa ser uma realidade? Cinco anos, 10 anos, 50 anos?
Não acho que haja muita coisa que vá mudar nos próximos cinco anos, mas, em 25 anos, muita coisa vai mudar. Nos últimos 25 anos, o trabalho mudou e a nossa educação também. Temos empregos que pagam melhor, com mais qualificação, mais serviços pessoais e isso teve muito a ver com automação. Este fenómeno deu uma sensação de insegurança, porque não é que haja menos trabalhos, mas aqueles que são considerados bons trabalhos mudaram. Por isso, ou fazes como eu, que tenho muita sorte e ganho a vida a fazer investigação, por exemplo, ou então trabalhas num call-center ou numa fábrica, a ganhar o ordenado mínimo, a trabalhar em serviços de limpeza ou de comida e, aí, és facilmente substituível por outra pessoa.

Como podemos combater a resistência social à mudança tecnológica?
A ansiedade é compreensível, porque vamos ver efeitos diretos e indiretos de tudo isto. É muito difícil perceber onde estão os benefícios em vez dos custos. Outra coisa é que as pessoas podem perceber que o aumento de produtividade pode tornar as pessoas mais ricas, mas também haverá aquelas que vão perder coisas. É ótimo para as pessoas que desenham computadores e hardware, software, para as grandes empresas, etc, mas é mau para mim se não for um desses trabalhadores. E isso é uma preocupação legítima: as consequências de distribuição podem ser negativas, mesmo se argumentarmos que os efeitos em termos de produtividade são esmagadores. E isso é uma coisa importante sobre a qual o Governo tem de se debruçar: perceber se os ganhos são razoavelmente bem distribuídos e se as pessoas não perdem muito, mesmo que os benefícios dos outros sejam maiores. Essa é a preocupação, não que não vá haver grande valor económico a sair daqui.

Como se pode convencer os céticos?
O que estou a dizer é que não há aqui nada que garanta que toda a gente vai beneficiar [da revolução tecnológica]. Nada garante que a parcela [de riqueza] de toda a gente vai ficar maior. Acho que é legítimo estarmos preocupados, não acho que a tecnologia nos vá transformar a todos em pessoas mais pobres, mas é possível que a tecnologia deixe algumas pessoas mesmo muito ricas e outras com muito menos. É legítimo estarmos preocupados, mas temos é de estar preocupados com as coisas certas e não com o número de empregos ou com o facto de ficarmos mais pobres. Acho que vamos ter mais dinheiro, mas será que toda a gente vai ter condições para ter uma boa vida? E isso vai depender da formação, entre outras coisas, que possam dar às pessoas as competências que elas precisam para serem produtivas.

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