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As tempestades dentro da coluna de fumo do Taal são criadas pelas cargas elétricas das partículas expelidas pelo vulcão
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As tempestades dentro da coluna de fumo do Taal são criadas pelas cargas elétricas das partículas expelidas pelo vulcão

Ezra Acayan/Getty Images

As tempestades dentro da coluna de fumo do Taal são criadas pelas cargas elétricas das partículas expelidas pelo vulcão

Ezra Acayan/Getty Images

É um dos vulcões mais pequenos do mundo, mas ameaça arrasar as Filipinas. Por que é o Taal tão perigoso?

Taal está numa categoria de vulcões potencialmente tão devastadores como o Vesúvio. Porque a ilha filipina onde se situa fica em cima de uma grande fissura da Terra. Há 266 anos, arrasou a ilha.

Há uma lista de 16 vulcões espalhados pelo mundo constantemente vigiados e sob especial atenção. Porque, segundo a Associação Internacional de Vulcanologia e Química da Terra, já deram provas de ser os mais devastadores e mortíferos do planeta. O Taal, nas Filipinas, é um deles. E para o provar, desde domingo que está a colocar o país e o mundo na iminência de testemunhar uma explosão tão destruidora como a que causou há 266 anos. Mas, embora ameaçador, o Taal até é um dos vulcões mais pequenos do nosso planeta. Como pode então causar o mesmo nível de destruição que o Vesúvio, que apagou Pompeia dos mapas em 79 a.C.?

É que o Taal é o resultado da colisão entre duas placas tectónicas, ou seja, de duas peças que compõem a superfície terrestre. Quando a Placa das Filipinas e a Placa Euroasiática se encontram, esta última mergulha por baixo da primeira. Isto faz com que magma por baixo delas suba através de fissuras no solo, dando origem a vulcões. O Taal é apenas um deles. Mas Luzon, a ilha que abriga este vulcão, fica mesmo por cima do limite entre estas duas placas tectónicas — um limite chamado Cinturão Móvel das Filipinas. Por isso é que o Taal, apesar de pequeno, é o segundo vulcão mais ativo das Filipinas, ultrapassado apenas pelo Mayon.

Mas não ficamos apenas por aqui. Porque o Cinturão Móvel das Filipinas é uma pequena porção da região mais ativa do planeta, onde acontecem os sismos (e tsunamis) mais devastadores e as erupções vulcânicas mais perigosas da Terra — o Anel de Fogo do Pacífico. O maior oceano do planeta assenta quase todo ele numa enorme e densa placa tectónica, a Placa do Pacífico. À volta dele, outras placas medem forças com esta, criando colossos enormes no fundo do mar, como a Fossa das Marianas: o locar conhecido mais profundo do solo marinho (ao pé dela, o Grand Canyon não é mais que uma valeta de estrada — estamos a falar de 10 mil metros de profundidade em comparação com dois mil).

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Continuando a explicação geológica, a movimentação das placas dá origem a dois fenómenos: quando uma dessas placas mergulha debaixo da outra — normalmente é a do Pacífico que se destrói por ser mais densa — abrem-se verdadeiras janelas para o interior da Terra, para o manto, onde estão as reservas de magma, sempre em rotação devido às correntes de convecção que, à superfície, fazem mover as placas tectónicas. Quando sobe para a região mais próxima à superfície, e encontrar falhas, o magma escapa e transforma-se em lava. E assim nasce um vulcão.

Os movimentos das placas tectónicas também criam terramotos como o que atingiu a Indonésia no Natal de 2004, originando um grande tsunami que atingiu vários países da região. Morreram mais de 230 mil pessoas.

No caso do vulcão Taal, quando a Placa Euroasiática e a Placa das Filipinas chocam, as rochas que compõem a superfície terrestre acumulam a energia resultante desse encontro. Se a rocha for submetida a uma tensão superior àquela que consegue suportar, então o material que a compõem cede, a energia é libertada e dá origem a um sismo. Muitos sismos podem significar uma grande erupção. Como a que parece estar prestes a suceder.

Este fenómeno geológico é mais um dos motivos que torna o vulcão Taal tão perigoso. O Instituto Filipino de Vulcanologia e Sismologia colocou-o no nível de alerta 4 em cinco porque há agora “uma agitação intensa, exames sísmicos contínuos, tremores vulcânicos e terramotos de baixa frequência, muitos dos quais sentidos”. A mais recente atualização do governo filipino diz que, pelo menos até seis da manhã locais, tinham sido registados 286 sismos, 125 dos quais sentidos, com magnitude até 4,1 na escala de Richter e intensidade até ao nível V de destruição na escala de Mercalli.

Vinte e cinco mil pessoas foram retiradas das proximidades do vulcão Taal

TED ALJIBE/AFP via Getty Images

Isto significa que a iminência de uma catástrofe é real. Estes sismos estão a provocar “a abertura de novas fissuras” no interior das povoações habitadas a partir das quais o magma, a meros metros da superfície, pode escapar e engolir infraestruturas e terrenos. Neste momento, e segundo o instituto de vulcanologia filipino, a lava está a apenas 500 metros do topo do vulcão e a coluna de fumo está a intensificar-se. Num raio de 14 quilómetros, podem cair piroclastos — os objetos/rochas magmáticos expelidos pelo vulcão — que podem ter desde dois milímetros de diâmetro até um metro. E a 60 quilómetros dali, a qualidade do ar baixou significativamente por causa das cinzas expelidas desde domingo.

Tudo isto indica que uma erupção explosiva está a “dias” — ou horas — de acontecer. Se o Taal começar a expelir piroclastos de maior dimensão, isso trará  um novo problema: a possibilidade de tsunamis. Há quatro mecanismos que podem desencadear este fenómeno destruidor: se estes piroclastos caírem no mar em grandes quantidades e a grande velocidade, podem causar ondas que vão devastar as margens das ilhas filipinas; se o fundo do lago em que o vulcão se formou sofrer uma deformação, empurrará a água para fora da caldeira e para dentro das cidades, encontrando caminho até ao mar; se os tremores de terra criados pelo Taal tiverem origem no mar, a poucos quilómetros de profundidade, também podem causar ondas gigantes; e se houver um colapso da costa da caldeira onde o vulcão está inserido, causando derrocadas de efeitos imprevisíveis. Todos estes cenários são comuns num cenário de grande atividade vulcânica. E todos eles são possíveis nas Filipinas.

O vulcão Taal fica dentro de um lago numa caldeira cujas encostas podem ser vistas ao longe nesta fotografia de 2003

De Agostini via Getty Images

Mais: é possível, embora tenha acontecido raramente ao longo da História, que uma erupção explosiva do vulcão Taal desencadeie outras erupções noutros vulcões vizinhos deste. De acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos, “na medida em que esses vulcões em erupção têm reservatórios e sistemas hidrotérmicos comuns ou sobrepostos, o magma que sobe para entrar em erupção num vulcão pode afetar o sistema de outro vulcão”. É verdade que Taal não partilha o reservatório de magma com nenhum outro vulcão — e as análises feitas no Hawai, muito rico em vulcões, sugerem que, sendo assim, dificilmente o que acontecer em Luzon vai afetar algum vulcão vizinho. Mas também é verdade que esta é uma das zonas com mais vulcões activos no mundo.

Parte das Filipinas está enterrada num deserto de cinzas. Veja o vulcão Taal em direto, prestes a entrar em erupção

Erupção de 1754. O pior que ainda pode estar para vir

A mais destruidora erupção do vulcão Taal ocorreu há quase três séculos, em 1754. A 15 de maio, eram “nove ou dez da noite” nas Filipinas, a ilha de Luzon ouviu o rugir do vulcão. Não tardou até que toda a região parecesse estar em chamas por causa dos piroclastos incandescentes expelidos Taal. Só no primeiro dia de dezembro, seis meses e meio depois de explodir, é que o vulcão deu tréguas.

Os relatos da erupção de 1754 foram redigidos por um padre europeu, Buencochillo, que trabalhava numa comunidade próxima ao vulcão naquela altura, explica o Instituto de Mineralogia Aplicada alemão. Contou ele que o vulcão acordou “inesperadamente”: “Começou a rugir e emitir chamas formidáveis ​​no alto do céu misturadas com rochas brilhantes que, caindo sobre a ilha e rolando pelas encostas da montanha, criaram a impressão de um grande rio de fogo”. Ali perto, a povoação de Bayuyungan foi atingida por piroclastos e ficou totalmente destruída.

O vulcão Taal desenhado no século XIX

DeA / Biblioteca Ambrosiana

Três semanas depois, a 2 de junho, o Taal tornou-se ainda mais perigoso: “A erupção atingiu proporções tão elevadas que os piroclastos em queda fizeram com que toda a ilha parecesse estar a incendiar; e temia-se que a catástrofe envolvesse as margens do lago”, relatou Buencochillo. O vulcão expelia fogo e lama “tão negros que a melhor tinta não causaria uma mancha tão escura”.

Nesta altura, de acordo com o diário mantido pelo padre, o Taal já tinha explodido. Isso ainda não aconteceu desta vez, mas os especialistas dizem que pode estar por “dias”. No entanto, Buencochillo descreve outros fenómenos que já têm sido observados nos últimos três dias nas Filipinas.

Um deles são as tempestades dentro das nuvens de cinza emitidas pelo vulcão. Ao longo da noite de 25 de setembro de 1754, tal como tem acontecido desde domingo, “na coluna negra de fumo que saía do vulcão, formavam-se frequentemente tempestades”, escreveu o padre. “E aconteceu que a enorme nuvem de tempestade quase nunca desapareceu durante dois meses”.

Esses relâmpagos acontecem porque as partículas milimétricas expelidas pelos vulcões, as cinzas, adquirem cargas elétricas por causa da fricção a que são sujeitas ao roçarem umas nas outras ao longo da coluna de fumo. Quando as partículas com cargas elétricas positiva se acumulam numa espécie de nuvem e as cinzas com cargas negativas também se reúnem noutra nuvem, é possível que nasçam relâmpagos tal como acontecem nas trovoadas.

O vulcão Taal, em Luzon, visto de Cavite.

Pacific Press/LightRocket via Ge

Outra semelhança entre a erupção de 1754 e a que foi registada esta semana, 266 anos depois, é a chuva de cinzas que tornaram as povoações desertos de poeira cinzenta, matando animais e árvores, e destruindo casas em terrenos que costumavam ser verdejantes. No dia seguinte à tempestade de trovões no topo do vulcão, a população abandonou o local “com medo que os telhados cedessem ao peso das cinzas e das pedras que caíram desgraçadamente durante a noite”.

À época, segundo Buencochillo, os piroclastos emitidos pelo vulcão Taal “excederam duas cuartas“, o que corresponde a uma altura de 45 centímetros, “e o resultado foi que não houve árvore ou outra planta que as cinzas não arruinassem ou esmagassem, dando à região inteira um aspeto como se um incêndio devastador tivesse destruído tudo“. É exatamente neste panorama que as cidades de Laurel, Talisay, Balete, Manila, Agoncillo, Santo Tomas, Lerey e Tanaunan se estão a transformar.

Os habitantes mais pobres, que se estabeleceram mais próximos ao vulcão, ficaram debaixo de um manto de cinzas em Luzon.

Getty Images

Poucas semanas depois, em novembro de 1754, além das “massas de fogo e piroclastos” que “o vulcão vomitou”, registou-se outro fenómeno que também se tem verificado desde domingo nas Filipinas: os tremores de terra. Contou o padre que “as colunas de fogo e fumo ascedenderam mais alto que nunca, aumentou a cada momento em volume, e lançando fogo por toda a ilha”. “Tudo isto foi acompanhado por relâmpagos extraordinários e trovões, e terramotos violentos”.

Foi quando os piroclastos expelidos pelo vulcão começaram a cair no mar que a maior parte das povoações foi completamente esvaziada. Tinha-se medo dos tsunamis, explicou Buencochillo — um medo que também surgiu agora, com a nova erupção: “A nuvem de piroclastos, transportada pelo vento, elevava-se para oeste e sul, e vimos algumas pedras caírem perto de nossa costa. Por isso, gritei a todos que ainda estavam na cidade para fugir e todos corremos com pressa. Caso contrário, teríamos sido engolidos no local pelas ondas do lago que já tinham começado a inundar as casas mais próximas da praia”.

Só a 29 de novembro de há 266 anos é que a população começou a regressar às vizinhanças do vulcão, quando “o topo parecia limpo e aparentemente calmo”. Eram “entre as três e as quatro da tarde” quando “começou a chover lama e cinzas” em Caysasay, tal como está a chover agora em Talisay: “A circunstância mais aterradora era que o céu inteiro estava envolto numa escuridão tão grande que não poderíamos ter visto a mão colocada diante do rosto se não fosse pelo brilho sinistro dos relâmpagos incessantes”.

Em Talisay, as pessoas protegem-se com chapéus, cartões e sacos de plásticos porque a chuva tem caído com cinzas, criando uma lama por cima da cidade.

Getty Images

Três dias depois, o Taal adormeceu. “Os nossos olhos contemplaram em todos os lugares ruínas e destruição. A camada de cinzas e lama tinha mais de 5,10 metros de espessura”, descreveu Buencochillo. O vulcão só viria a dar sinais de vida já no século XIX. Em 1911, uma nova erupção de grandes dimensões matou 1.335 pessoas e feriu outras 199 — em 1754 tinha havido pelo menos 12 vítimas mortais, mas o rasto de destruição fora mais intenso.

É este o cenário, que o padre comparou ao episódio bíblico de Sodoma e Gomorra, que as Filipinas arriscam reviver agora.

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