789kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

i

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Efeito Cristas. PSD teme "canibalização" dos votos da direita

PSD de Rio não está preocupado com Cristas, mas PSD anti-Rio vê espaço vazio a ser ocupado. "O país não é Lisboa", argumentam os mais otimistas. E sondagens até já vão dando dão razão a Rui Rio.

Domingo, 18 de fevereiro, congresso do PSD em Lisboa. Assunção Cristas chegou ao pavilhão da antiga FIL, em Lisboa, e a primeira coisa que fez quando as câmaras e os microfones saltaram na sua direção foi nada mais do que um elogio a Pedro Passos Coelho. “Creio que é importante neste momento de mudança de ciclo sublinhar uma palavra de grande apreço, de reconhecimento e de agradecimento ao doutor Pedro Passos Coelho por todo o trabalho que desenvolveu na liderança do anterior Governo”, disse. Mas aquele domingo era dia da entronização de Rui Rio na liderança dos sociais-democratas, por isso a líder do CDS absteve-se de fazer mais comentários. A não ser no fim, onde, medindo bem as palavras, valorizou a “convergência de pensamento” com Rui Rio, notando a “coincidência” entre os temas e “preocupações do dia-a-dia” ali levados pelo novo presidente do PSD e os temas que, “desde há dois anos a esta parte”, o CDS tem levado a debate. Era o tiro de partida para o que se seguiria três semanas depois, em Lamego.

Domingo, 11 de março, congresso do CDS em Lamego. Tal como Cristas tinha feito, também Rui Rio chefiou ele próprio a delegação do PSD que foi assistir à reeleição de Assunção Cristas no congresso do CDS. Diferença: Rio chegou debaixo de chuva e nada disse aos jornalistas. Comentários só no fim: o palco era de Assunção Cristas. E foi mesmo. A líder do CDS subiu ao palco do congresso centrista e disse que queria liderar o centro-direita em Portugal e ser “a alternativa” ao PS. Mais: queria ser candidata a primeira-ministra, e queria ser eleita primeira-ministra. Depois do que aconteceu em Lisboa, não há impossíveis, argumentava, debaixo de um grande foguetório azul e lilás. “Fez o seu papel”, comentaria depois um Rui Rio descontraído, que até ousou subir ao palco dos centristas para cumprimentar a presidente do partido. “Naturalmente que há uma diferença muito grande de votações e intenções de voto, mas ela está a fazer o papel dela e muito bem”, disse aos jornalistas. Mas com uma ressalva: “Eu serei o melhor candidato a primeiro-ministro não só do que a doutora Assunção Cristas, como do que o doutor António Costa”.

A ambição de Cristas, a organização do congresso e o SEU mediatismo fazem com que alguns do PSD temam alguma canibalização. FOTO: JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Estava aberta a competição. “Não foi inocente o facto de [Assunção Cristas] ter chegado ao nosso congresso a elogiar o Passos”, diz ao Observador uma fonte social-democrata que assistiu com atenção ao congresso da “euforia” do CDS. A verdade é que, afinal, Passos Coelho era visto não só como a cola que unia a “geringonça” contra as políticas de direita, mas sobretudo como a cola que unia PSD e CDS numa espécie de pacto de não-agressão. Participaram no Governo juntos, Cristas foi ministra de Passos, Nuno Magalhães e Luís Montenegro entendiam-se na perfeição no Parlamento, por isso a relação entre os dois partidos era tratada com pinças. Sem se magoarem (pelo menos publicamente). Até agora. 

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“A saída de Passos foi a emancipação de Cristas”, ouve o Observador de outra fonte social-democrata, que usa essa como a principal explicação para o inflamar do discurso de vitória da líder do CDS. Muitos no PSD dizem que, no lugar de Cristas, fariam exatamente o mesmo, sobretudo depois de umas autárquicas em que a líder do CDS arriscou e ganhou; mas, por outro lado, todos concordam que houve “deslumbramento”, “fogo de vista”, e um discurso “insuflado”, que não devia beliscar o PSD porque no day after PSD e CDS vão precisar um do outro.

"O país não é Lisboa, mas não podemos ignorar que foi aberto um precedente em Lisboa"
Fonte do PSD, próxima de Rio

Canibalismo. CDS “quer crescer dentro do nosso espaço”, diz-se no PSD

O máximo que CDS conquistou nas urnas — nos anos mais recentes — foi de 11,7%, em 2011, com Paulo Portas (o melhor resultado tinha sido de 16% em 1976). Em 2015, o CDS concorreu em coligação com o PSD, pelo que é mais complicado perceber quantos dos 38% dos votos foram direcionados aos democratas-cristãos. “Quando fomos juntos, o CDS não valia mais do que 5% ou 7%”, ouve-se nos corredores laranja. “Aquela coligação era o Passos, ninguém ligava muito ao Portas”.

A verdade é que o último barómetro da Eurosondagem para o Expresso, divulgado esta sexta-feira, uma semana depois do congresso do CDS e no meio de polémicas no PSD, põe o CDS como quinta força, a valer apenas 6,6% dos votos. Já o PSD de Rio aparece a crescer, apesar das convulsões internas, subindo para 28,4%, num aumento de 1,5 pontos que já não se verificava desde 2015 — mas ainda longe dos 41,5% do PS. Mas sondagens são sondagens, e, no que toca ao CDS, nunca foram de fiar.

“O congresso do CDS mostrou, até do ponto de vista mediático, uma grandeza que o CDS não tem, afinal só vale 5%…”, comentava ao Observador um deputado social-democrata na semana seguinte à “festa” de Lamego, que foi vista pelos restantes partidos como exagerada. Marques Mendes chamou-lhe “ridícula”; António Costa, no debate quinzenal, não deixou de usar da ironia para congratular a líder do CDS pelo seu “congresso muito mediático”.

Nas primeiras sondagens depois do congresso do PSD, Rui Rio subiu, embora sem ameaçar o PS. Cristas mantém-se abaixo dos 7% e abaixo das suas ambições. FOTO JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

No PSD, sobretudo na ala do PSD que não apoia a estratégia de aproximação ao PS, há uma preocupação com o passo largo de Assunção Cristas. “É evidente que [Assunção Cristas] está a ocupar um espaço que nós deixamos que ocupe”, comenta um deputado social-democrata, explicando como, no seu entender, “o PSD acaba por perder nos dois lados do eleitorado: ao centro e à direita”. O raciocínio de alguns sociais-democratas é perceptível em palavras simples: quem não gosta de António Costa vota mais facilmente em Assunção Cristas do que em Rui Rio, porque olham para Cristas e dizem “esta nunca vai alinhar com ele”. Depois olham para Rio e dizem “este está feito com ele”. Além disso, há outro fator que não se deve esquecer: “Os descontentes do PS com a ‘geringonça’, votam PS na mesma para tirarem de lá a ‘geringonça'”. Portanto, segundo esta lógica, será Cristas e não Rio quem pode beneficiar dos votos do centro-direita.

Na dura reunião da bancada parlamentar da semana passada, Rui Rio pediu aos deputados que não se preocupassem com o CDS. Se Cristas não tinha aproveitado o vazio de liderança do PSD na altura da transição para dar o salto, não era agora que o ia fazer. Outra fonte social-democrata, que até apoiou Rui Rio na disputa contra Santana, também partilha da mesma “preocupação”. “É notório que o CDS se está a posicionar, não como alternativa ao PS, mas como alternativa ao PSD, e há uma hostilidade que se percebe: quer crescer dentro do espaço do PSD”, diz ao Observador. “Agora é óbvio que estamos a disputar com eles [CDS] a mesma fatia de 30% dos eleitores”, diz outra fonte.

A preocupação é tanto maior quanto maior for a “desorientação” que reina no PSD. “Preocupa [a ambição de Cristas] nesta primeira fase em que a estratégia e a oposição do PSD ainda não são claras. Preocupa se houver uma ausência de estratégia do PSD. Mas ainda estamos na fase de assentar poeira pós-Congresso…”, diz outro social-democrata. Dá o benefício da dúvida, mas lembra que, “desde outubro”, os deputados sociais-democratas e as estruturas do partido andam “nisto”: nem sequer têm “argumentos para fazer política de mesa de café”, desabafa. Ou seja, sem diretrizes e orientações da direção nacional sobre a narrativa que o PSD deve ter neste novo ciclo político.

A criação de um Conselho Estratégico Nacional, com coordenadores e porta-vozes setoriais, é um dos exemplos dessa “desorientação”: Rio anunciou a ideia, mas não a concretizou, nem reuniu ainda com as distritais, sabe o Observador. É aí que as diferenças internas entre PSD e CDS mais saltam à vista: um é grande e está em mudança e ebulição, o outro é pequeno e está “estabilizado”.

Problema: no fim do dia, PSD e CDS têm de conseguir, juntos, ter mais votos do que “as esquerdas unidas”, como Cristas designa a solução governativa. E é aí que o PSD mais teme pelo discurso “hostil” do CDS. “O problema não é a ambição de Cristas, ambição todos têm, o problema é a forma como se está a transmitir essa ambição”, diz ao Observador uma fonte social-democrata, explicando que ninguém ganha com a “hostilização do CDS ao PSD”. “O CDS não devia fazer este discurso contra o PSD: pode procurar os votos do eleitorado do PSD mas sem ter de os pedir”, afirma a mesma fonte, sublinhando o receio de os votos voarem do PSD não para o CDS mas sim para o PS.

O mesmo diz outro social-democrata ouvido pelo Observador, que está mais próximo da direção de Rio: “O que não pode haver é uma canibalização dos votos, porque isso, no fim do dia, prejudica os dois”. Lá está: que é normal os dois partidos disputarem o mesmo eleitorado, mas sem hostilização. No dia seguinte a umas eleições, um vai precisar do outro para conseguirem ambos a tal maioria de 116 deputados (o número de ouro para o governar).

Um “precedente” chamado Lisboa

Não há melhor arma do que um adversário distraído, já dizia o dirigente centrista Francisco Mendes da Silva, num artigo de opinião publicado no Jornal de Negócios após o Congresso do CDS — intitulado “A subvalorização de Assunção Cristas”. Mas não se pode dizer que o PSD esteja totalmente distraído. Apesar de Rio desvalorizar a ambição de Cristas, e ter começado por afirmar que o PSD estava à mesma distância do PS que está do CDS (o que irritou os centristas), há no PSD “rioísta” quem lembre que foi aberto um “precedente” com o resultado eleitoral do CDS em Lisboa. “O país não é Lisboa, mas não podemos ignorar que foi aberto um precedente em Lisboa”, diz um apoiante do atual líder.

5 fotos

Não é difícil, de resto, ouvir deputados e dirigentes sociais-democratas reconhecer méritos e vantagens à presidente do CDS. Ora dizem que tem a vantagem de estar no Parlamento, enquanto o líder do PSD não está nem no Parlamento nem sequer em Lisboa parte do tempo; ora lembram que a lógica partidária de um partido como o CDS é diferente, e mais pacífica do que a lógica partidária de um partido como o PSD.

Também lembram a conjuntura: o PSD sai de um congresso difícil, com uma cisão, enquanto o CDS sai de um congresso sem oposição interna que se visse. Realçam outra vantagem significativa: “Eles comunicam melhor do que nós”, ouve o Observador de um deputado social-democrata, que também admite que “o resultado que teve em Lisboa dá-lhe capital político para ambicionar mais”. Apesar de, notam outras vozes, o CDS só teve o resultado que teve “porque o PSD não foi a jogo”. E isso não acontecerá nas legislativas, acreditam.

Quando se encontraram na sede do CDS, Rui Rio colocou a anfitriã no mesmo patamar de diálogo do PS. Não caiu bem aos centristas. ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Certo é que o CDS de Cristas reconhece que, “em política, é tão importante fazer como comunicar e mostrar o que se fez” — foi este o lema da presidente do partido para justificar a criação de uma CDS-TV na véspera do congresso. Há muito que o PSD se queixa de não conseguir fazer passar a sua mensagem. Ao Observador, há até quem aponte o dedo aos colegas do partido, que apoiaram Santana e não alinham com Rio, numa tentativa de justificar que às vezes as minas são postas por dentro.

Mas falar de Cristas “é dar-lhe importância”, e o PSD não quer fazer isso. Ao Observador, há quem no PSD confidencie que a estratégia que o CDS vai seguir até às eleições de 2019 é “não fazer nada para não dar um passo em falso”. Ou seja, é aproveitar o capital político herdado das autárquicas, dar gás à figura “humilde mas ambiciosa” de Assunção e apresentar o mínimo de propostas possível — sobretudo propostas fraturantes e conservadoras. “Se forem buscar eleitores ao PS também não se queixam”, e não o conseguem com temas típicos da direita.

“Moderação” e “responsabilidade”. A receita do PSD contra o “populismo” de Cristas

Acontece que o PSD de Rio não está preocupado. O PSD de Rio olha para o país fora de uma lógica partidária — fora da “bolha do Parlamento, que é uma bola de espelhos”, diz um “rioísta” — e não acredita que o “populismo” de Cristas lhe dê a credibilidade que os potenciais eleitores do PSD procuram. Por isso, aposta na “moderação” e na “responsabilidade”. As sondagens parecem dar-lhe razão: de acordo com o barómetro da Eurosondagem, divulgado esta sexta-feira pela SIC e Expresso, a maioria dos portugueses quer que PSD e PS se entendam em várias áreas, não só na descentralização e nos fundos comunitários como também na saúde, que é considerada uma prioridade.

"Muito do gás que está a ser dado a Assunção Cristas está a partir de pessoas do PSD, que antes criticavam os 'Pachecos Pereiras e Manelas' por dizerem mal do seu partido, e que agora estão a escrever nas redes sociais que o CDS é que está a fazer bem"

“A questão está em saber que tipo de alternativa queremos construir: populista ou responsável? O populismo nunca foi bem acolhido, inclusive pelo o eleitorado conservador”, diz outra fonte social-democrata, que acrescenta que “o PSD tem uma visão mais responsável nas questões estruturais, enquanto o CDS tem uma visão mais egoísta, menos abrangente. Não tem tanto sentido de Estado, tem mais sentido de partido”.

É esse que se acredita ser o trunfo de Rio. “Não vamos estar a inventar temas à pressão só para estarmos por cima, temos que falar das coisas com sustentação, com fundamentação para sermos credíveis. É assim que o eleitorado se vai rever em nós”, diz um membro da comissão política de Rio, que nota ainda que é “preciso calma”. Até 2019 restam poucos meses. “O tempo é o problema, mas é um fator que é igual para todos. Cada um tem a sua forma de estar nesse tempo. O eleitorado flutua, tem comportamentos diferentes, é normal que o CDS queria ir buscar votos a todo o lado, todos querem”, comenta.

A crença é esta: “Rui Rio tem um discurso muito acessível à população em geral“. Que é o mesmo que dizer: mesmo que haja anti-Rios dentro do PSD, não os há lá fora. E é lá fora que se disputam as legislativas. Lá dentro sobra a “bolha”, ou a “bola de espelhos” parlamentar..

Assine por 19,74€

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Assine por 19,74€

Apoie o jornalismo independente

Assinar agora