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Elle Macpherson, Carla Bruni, Helena Christensen e Claudia Schiffer na sua passagem pelo Porto
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Elle Macpherson, Carla Bruni, Helena Christensen e Claudia Schiffer na sua passagem pelo Porto

Elle Macpherson, Carla Bruni, Helena Christensen e Claudia Schiffer na sua passagem pelo Porto

Elle, Carla, Helena e Claudia. O dia em que as supermodelos aterraram em Portugal, há 25 anos

De uma Claudia pouco sorridente a uma Helena absolutamente amável, o Porto não esquece o verão de 1995. As supermodelos abrilhantaram o primeiro Portugal Fashion. A conta chegou aos 45 mil contos.

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Há 25 anos, eram as mulheres do momento. Manequins de proporções quase sobre-humanas, ícones de estilo e presenças que enchiam qualquer sala, invariavelmente pagas a peso de ouro. Quatro destas figuras endeusadas, dentro e fora da indústria da moda, estiveram no Porto no final de julho de 1995 para a primeira edição do Portugal Fashion.

Elle Macpherson, Carla Bruni, Helena Christensen e Claudia Schiffer foram, na altura, os rostos de uma aposta milionária no design e na força produtiva do país. O evento quis-se aparatoso e assim foi. As quatro estiveram no centro do circo mediático, que convocou ainda jornalistas e compradores internacionais para três dias de desfiles e atuações musicais. Portugal, periférico por tradição, deixou-se embevecer à medida que assistia de longe ao que, mais do que uma semana da moda, foi um festival de variedades.

Elle Macpherson com uma criação de Paulo Matos

Imagem cedida pelo Portugal Fashion

Por trás do evento, a estratégia era de rejuvenescimento do setor têxtil. Criada há pouco mais de uma década, a Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) procurava agora trazer os talentos mais promissores do design de moda — nomes como Nuno Gama, Luís Buchinho e Paulo Matos — para ocuparem um lugar na indústria. “O objetivo era esse, mas tínhamos de fazê-lo com ruído suficiente para que os players internacionais percebessem que Portugal era relevante nesta área”, contextualiza Paulo Barros Vale, fundador da associação, em conversa com o Observador.

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“Entre a primeira ideia e a realização do evento foram dois meses, dois meses muito intensos”, recorda o homem que até 1996 também ocupou a presidência da ANJE. O país assistia de longe ao fenómeno das supermodelos — elas eram globais, embora o made in Europa e América do Norte cunhasse esta constelação feminina, à exceção da australiana Macpherson. A escultural Naomi arrebatava o Reino Unido, Schiffer e Bruni vinham da Alemanha e de Itália, respetivamente. Christensen já tinha conquistado o mundo a partir da Dinamarca. Do lado de lá do Atlântico, Cindy Crawford, Linda Evangelista e Christy Turlington eram os rostos do momento.

“Portugal não tinha experiência nestes eventos”, exclama o ex-dirigente. Na sede da associação, com uma desafogada vista para o Douro, o jardim e a escadaria serviram de palco ao primeiro Portugal Fashion — a adaptação possível das escadas da Praça de Espanha, em Roma. Ainda assim, foi montada uma estrutura complexa — luzes, camarins, plateia e todo o aparato de telecomunicações que permitiu à RTP transmitir em direto. E ter as estrelas a desfilar, é claro, encareceu tudo ainda mais.

Claudia Schiffer com Nuno Gama durante o desfile

Imagem cedida pelo Portugal Fashion

“Custou muito dinheiro. Algumas tiveram de desmarcar outros compromissos para virem”, explica Barros Vale, apontando a falta de antecedência com que o evento foi planeado. Feitas as contas, ter as quatro supermodelos num único desfile superou a marca dos 40 mil contos, ou seja, mais de 200 mil euros — 10.000 contos de caché para cada uma, à exceção de Claudia Schiffer, cuja participação no desfile custou à organização 15.000 contos. Na altura o salário mínimo em Portugal era de 52 contos (259 euros).

Camarins separados, polaroids e uma miss simpatia

“Foi quase como ter a Meryl Streep a vir fazer um filme com um realizador português”, admite Sofia Aparício, que fez parte do casting nacional de manequins da primeira e histórica edição do Portugal Fashion. Habituada a lides internacionais, já se havia cruzado com algumas destas caras. No Porto, em julho de 1995, não houve misturas — confortavelmente instaladas no Sheraton, no local, as supermodelos tinham espaços próprios nos bastidores. Schiffer e Macpherson (na altura a mais velha, com 31 anos) exigiram camarins próprios. Christensen e Bruni, unanimemente descritas como as mais simpáticas e afáveis, partilharam a sala. “Eram acessíveis, andavam no meio de nós. A Helena é um amor, além de ser linda de morrer, claro”, acrescenta, em declarações ao Observador.

Helena Christensen com uma criação de José Carlos

Imagem cedida pelo Portugal Fashion

A passagem da modelo dinamarquesa pelo país foi mais marcante para uns do que para outros, que o diga Lucília Lara, que durante aqueles dias foi uma jovem manequim portuguesa em delírio. Numa época em que as redes socais eram algo de inimaginável, era através das revistas que seguia os passos da sua supermodelo de eleição. “Admirava-a. E sempre me identifiquei muito com o perfil e com o profissionalismo dela. Os nossos filhos até têm a mesma idade”, desabafa ao Observador.

Guarda até hoje uma polaroid onde posa lado a lado das quatro incríveis. Não obstante o momento de gáudio, foi com Helena Christensen que estabeleceu a ligação mais forte. “Ela ia gravar no dia a seguir, para um programa da MTV. Acabei por ir com ela e, para mim, foi o momento alto do evento. Havia na altura uma pista de carrinhos de choque no Cais de Gaia e andámos juntas e tudo”, recorda Lucília Lara, que em 2000 cessou a carreira de manequim e tornou-se maquilhadora profissional.

Com 24 anos, Claudia “não era assim tão acessível”, nas palavras de Lucília. Para Barros Vale, nada se comparava à beleza e simpatia de Elle (segundo o empresário, a australiana prolongou a estadia a aproveitou para passear pelo país com o marido). Carla Bruni também demonstrou ter um brilho especial. “Ela esteve cá no ano passado, num evento da Douro Azul, e eu é que fui maquilhá-la. Foi uma risota no hotel porque lhe mostrei a polaroid de há 25 anos. Ela foi muito querida”, conta.

Música, fogo-de-artifício e um desfile interminável

A primeira edição do Portugal Fashion decorreu entre 27 e 29 de julho de 1995 (para coincidir com o 11º aniversário da ANJE) e não se pareceu, em nada, com os atuais calendários que hoje regem este e outros eventos do setor. A começar pelo público, que comprava bilhete para assistir ao espetáculo — 25 contos, ou seja, 125 euros por pessoa. Eram poucas as exceções: jornalistas, nacionais e estrangeiros, responsáveis por grandes cadeias de lojas internacionais e pouquíssimos convidados dos próprios designers.

Luís Buchinho e Helena Christensen

Imagem cedida pelo Portugal Fashion

Luís Buchinho esteve lá. A marca homónima existia há cerca de cinco anos e até já tinha desfilado na ModaLisboa. Um quarto de século depois, recorda um evento confuso, cuja dimensão e logística haviam sido subavaliadas. “Eram muitas coleções e muitas manequins, tudo na sede da ANJE, que claramente não tinha capacidade para aquilo”, conta ao Observador. O desfile demorou entre duas a três horas, quase interminável, com dezenas de manequins, na maioria portuguesas e espanholas.

Quanto à vinda das supermodelos, distribuídas pelos vários criadores, Buchinho fala num clima de apreensão. “Havia aquela ideia de que eram divas insuportáveis e de que ia ser muito difícil trabalhar com elas. Nisso, tive uma agradável surpresa. Fiquei com a Helena e com a Carla e houve logo uma empatia total”, lembra. O sentimento terá sido recíproco. Além das fotografias que ficaram para contar a história, ficou também o momento em que ambas aceitaram descer novamente a escadaria de braço dado com o criador. Não estava no programa, mas ninguém contraria uma estrela, quanto mais duas.

Numa situação normal, a coleção primavera-verão 1996 estaria pronta em setembro, mas com o convite, que chegou “um pouco em cima da hora”, o trabalho foi antecipado em dois meses. “Era uma coleção muito minimalista, estávamos no auge dos anos 90. Tinha uma paleta de cores que ainda hoje gosto bastante e formas super simples, com fatos, calças cigarro, crop tops e saias travadas no joelho”, enumera. A megalomania da produção teve impacto direto no negócio — na estação seguinte, aumentou o interesse do público e, consequentemente, as vendas.

As quatro supermodelos durante a conferência de imprensa

Global Imagens

Pelas contas que faz hoje, desfilaram umas 20 marcas e designers — Nuno Gama, José Carlos (que vendeu um vestido a Elle Macpherson no final do desfile), Paulo Matos e Paulina Figueiredo, entre muitos outros. Mais do que um evento de moda, o Porto foi palco de um espetáculo “de variedades”. Algumas criações ficaram expostas, houve lugar para um desfile de roupa infantil e para atuações musicais — Pedro Abrunhosa e LaToya Jackson, foram as estrelas em cartaz. Apesar do gabarito, a cantora norte-americana foi uma terceira escolha. Na impossibilidade de trazer o rei da pop, tentou-se a irmã Janet, mas também saía demasiado caro.

O fogo-de-artifício foi, à data, o maior alguma vez visto na Invicta, segundo conta Paulo Barros Vale. Antes do próprio desfile, a conferência de imprensa colocou as quatro manequins internacionais perante a imprensa. “A sala tinha 200 lugares e estava ao barrote”, lembra o então presidente da ANJE. Os jantares e festas sucediam a programação oficial. Uma delas aconteceu na discoteca Twins e os convidados tiveram direito a transporte privado para o local, um elétrico portuense. Na verdade, nem tudo correu bem. Paulo recorda um jantar para cerca de mil convidados onde a comida faltou.

Os anos 90: o florescer da moda em Portugal

Manequins, desfiles, revistas e designers — num país sem tradição de moda, os anos 90 foram a década do despontar do braço criativo de uma indústria mundialmente responsável por gerar milhões. Apesar dos moldes sui generis, a primeira edição do Portugal Fashion aproximou designers e industriais. O evento nasceu em resposta a um momento de viragem para a economia nacional e à ameaça vinda do Oriente.

“A indústria têxtil e do vestuário era o principal setor económico do país, em mão-de-obra e em volume de exportações, mas a abertura do comércio mundial estava a pô-lo em risco. Muitas empresas desapareceram nessa altura”, esclarece Barros Vale. Com o intuito de pôr a moda portuguesa no mapa, a estratégia, nesse primeiro evento e nos seguintes, foi criar aparato. “A primeira edição deu prejuízo”, admite o antigo presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários. O investimento pesou, embora suportado em parte por patrocinadores e direitos televisivos.

Carla Bruni durante a conferência de imprensa do Portugal fashion

Imagem cedida pelo Portugal Fashion

Claudia Schiffer voltaria no ano seguinte, numa edição marcada pelo incêndio no Coliseu do Porto. Um mês depois, o evento recompunha-se e a alemã regressava para desfilar no Palácio de Cristal. Em 1998, era Linda Evangelista quem atraía novamente as atenções da moda nacional. Durante esses anos, Portugal teve tudo o que quis ou quase tudo. “Só nunca conseguimos trazer a Naomi Campbell”, admite Paulo.

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