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Assinado pelo arquiteto José Marques da Silva, o Teatro Nacional São João comemorou 100 anos em 2020
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Assinado pelo arquiteto José Marques da Silva, o Teatro Nacional São João comemorou 100 anos em 2020

IGOR MARTINS / OBSERVADOR

Assinado pelo arquiteto José Marques da Silva, o Teatro Nacional São João comemorou 100 anos em 2020

IGOR MARTINS / OBSERVADOR

Encerar o chão, mudar lâmpadas ou aspirar cadeiras. O que acontece em agosto no Teatro Nacional São João?

Sem público na plateia ou espetáculos na agenda, o Teatro Nacional São João fechas as portas em agosto, mas o trabalho continua. Da limpeza à manutenção, das cortinas aos camarins, a azáfama é grande.

Quem passa pela Praça da Batalha, no Porto, está habituado a ver as portas de vidro do Teatro Nacional São João (TNSJ) abertas, cartazes de peças afixados e luzes no interior, mas este mês o cenário é diferente. No átrio imponente, pavimentado com mármores e com quatro colunas jónicas, o burburinho do público nas filas, seja para comprar bilhetes ou para se sentar na plateia, foi substituído por sons ritmados de aspiradores, máquinas de limpeza e pequenos diálogos entre quem ali trabalha durante o mês de agosto.

Há baldes de água, panos e esfregonas a deslizar pelo chão e veem-se batas azuis, luvas de látex e um calçado especial. “O chão cola, por isso é que usamos estas Crocs”, explica ao Observador uma das duas funcionárias responsável por aquele lugar. “Depois de limparmos, retiramos a cera antiga com uma máquina especial com vapor de água, depois é necessário encerar novamente para dar brilho. É um processo que demora pelo menos uma semana.”

O chão do átrio é composto por vários tipos de mármore e é necessário retirar a cera, limpá-lo e voltar a encerá-lo. "O brilho é fundamental", diz quem sabe

IGOR MARTINS / OBSERVADOR

Não muito longe dali, nas galerias, está Goreti Coelho, descalça e entre baldes, panos e aspiradores. Nos corredores de acesso, há cadeiras desordenadas, cortinas desalinhadas e já algum cansaço. “Trabalho em limpezas há 25 anos, já passei por fábricas e universidades, mas é a primeira vez que limpo um teatro”, começa por dizer, enquanto vai buscar mais produtos.

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Depois de aspirar as mais de 400 cadeiras, estofadas com um tecido vermelho antifogo, o chão e as cortinas de veludo, Goreti limpa o pó cuidadosamente nos corrimãos e no final passa a esfregona com água e detergente pelo chão. “Penso que em dois dias conseguimos terminar, mas entrei às 8h e já me doem os joelhos de subir e descer tantas escadas. Fora isso, este teatro é lindo e vai ficar ainda mais.

As muitas escadas que a funcionária se queixa de subir estão forradas com uma carpete bordeaux que foi limpa e aspirada com uma máquina própria no início do mês e só é retirada do local quando está danificada, sendo trocada por outra exatamente igual. “As maiores saem para serem limpas, mas estas têm de ser cortadas à medida, coladas e ajustadas com esta ripa de madeira à mão, o que dá mesmo muito trabalho e demora pelo menos uma semana. No mínimo, elas devem durar uns 10 anos e sei que são feitas numa empresa aqui do Norte.”

O TNSJ tem entre 450 a 500 lugares e todas as cadeiras estão estofadas com um tecido especial com características anti-fogo

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Das galerias, Goreti Coelho consegue ver no palco vários homens a testar o som e a teia de luzes, mas são os imponentes lustres que fazem brilhar mais os olhos de quem visita o teatro. Há três, dois no salão nobre e outro no bar, e são tão pesados que têm que ser limpos pendurados, exatamente como estão.

“É um trabalho feito por uma empresa especializada externa que, com andaimes, limpa peça a peça à mão, durante pelo menos uma semana”, diz Celso Costa, coordenador do departamento de manutenção do TNSJ, acrescentando que os restantes candeeiros das zonas comuns, apelidados de coberturas, foram limpos recentemente pela sua equipa com uma máquina de lavar pincéis e trinchas de tinta, onde a água quente é diluída num produto próprio. “Quem vem aqui não repara nestas coisas, mas eles tinham muito pó. Tivemos que os desmanchar praticamente todos para limpar todas as pedras e depois reconstruí-los com os fios metálicos.”

Celso trabalha há sete anos no teatro e é dos que conhece melhor o edifício centenário, já não se perde entre os corredores mais silenciosos e menos luminosos, passa ligeiro entre portas altas e baixas e garante que em agosto o mais difícil é mesmo parar. “Está a ver este caixote azul com fios elétricos todos coloridos? Era o sistema antigo de iluminação da sala, foi colocado em 1995 e estava a funcionar em pleno, mas estamos a mudá-lo todo agora.” A razão é simples: poupar dinheiro. “A sala tem 598 lâmpadas e cada uma consumia 30 watts, desde o início do mês que estamos a substituí-las por lâmpadas LED que consomem apenas 4 watts. É uma poupança significativa.”

Até ao final do mês, a equipa de manutenção é responsável por trocar todas as lâmpadas da sala. O objetivo? Poupar dinheiro

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Outras das mudanças que estão em curso são os pontos de comando de iluminação, se antigamente existia apenas um, agora passam a três. “Uma está na mesa da direção de cena, outro na régie e outro ficará no espaço do vigilante porque muitas vezes nas visitas os nossos guias precisam de controlar a iluminação da sala. Neste novo sistema conseguimos fazer até 24 desenhos diferentes de luzes, é espetacular”, mostra entusiasmado entre fios, cabos, bordas e quadros metálicos com botões de todas as cores.

Mas nem todos os dias são de entusiasmo, recentemente Celso Costa teve uma “prova de fogo” em mãos, em seis horas trocou 344 lâmpadas na cúpula do teatro, deitado de barriga para baixo e apenas com a ajuda de uma almofada no peito. “A empresa que pensámos contratar disse que precisava de dois técnicos e duas semanas, mas consegui fazer tudo em seis horas sozinho. Já troquei centenas de lâmpadas aqui e nunca deixei cair nenhuma, sei que são bastante caras. Decidi assumir a responsabilidade e correu tudo bem, mas fiquei com o corpo todo dorido, confesso”, recorda.

Candeeiros, carpetes e cortinas são alguns elementos da decoração do teatro que merecem a máxima atenção

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Se no topo do edifício o esforço é grande, no subsolo o cenário não é muito diferente. Ao descer cada lance de escadas é possível sentir-se o cheiro a tinta, há caixotes de madeira, placas de metal e baldes nos corredores apertados e sons de martelos e escadotes a movimentarem-se de um lado para o outro.

Dos quase 20 camarins, dois estão situados abaixo do nível da rua e eram frequentes os problemas de infiltrações visíveis no chão, nos rodapés, nas paredes e até no teto, esperou-se então por agosto para mudar o chão, de madeira para tijoleira, e pintar tetos e paredes. “Era um tipo de obra muito difícil de fazer com o teatro a funcionar em pleno. Neste camarim, por exemplo, existiam dois lavatórios que também retiramos para o tornar mais amplo.”

É na zona dos camarins que as maiores intervenções acontecem em agosto. O chão é alterado e todas as paredes são pintadas

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Antes de cada espetáculo existem vários procedimentos a fazer, como verificar a iluminação, a limpeza das casas de banho e até a temperatura da sala, tarefas que se tornaram mais fáceis a partir do ano passado. Entre março de 2020 e outubro de 2021 o TNSJ fez obras de reabilitação num investimento de mais de dois milhões de euros, que incluiu a renovação da fachada, parque técnico, sistemas elétricos e condições de climatização.

“Tínhamos caldeira elétrica de 1994 para aquecer o edifício e no pico de inverno gastava uns 300 euros por dia, agora temos bombas de calor instaladas na cobertura, um sistema que aquece a água para estes radiadores em cobre. Além do sistema ser mais recente é também mais económico”, refere Carlos Miguel Chaves, diretor de manutenção e edifícios do TNSJ.

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Outra das mudanças mais visíveis foi a intervenção na fachada do edifício histórico — classificado como Imóvel de Interesse Público em 1982 e Monumento Nacional 30 anos depois — que mereceu ruas cortadas pela polícia e vários camiões com gruas a funcionar. “Agora falta vir uma equipa cá fora para limpar os vidros dos vestígios deixados pelas gaivotas e pelos produtos que usaram na obra e verificar algumas tubagens das casas de banho.” Tudo em contra-relógio para que em setembro “o teatro reabra como deve ser”.

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