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Entre o passado e o futuro do Brasil, o canto suave de Alaíde Costa renasce: “Enfim, 86 anos? Hoje estou aqui, ainda"

"O Que Meus Calos Dizem Sobre Mim" é o álbum do renascimento da cantora da Bossa Nova com jovens compositores: Emicida, Tim Bernardes ou Céu. 60 anos depois, o Brasil volta a ser de Alaíde Costa.

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A silhueta do Pão de Açúcar envolve a avenida, um resguardo do céu para os milhares de estudantes enfileirados em frente à Universidade Católica do Rio de Janeiro, expectantes para um concerto gratuito, organizado aos trancos e barrancos pela associação de estudantes. A moldura humana evidencia uma certa gravidade, aparentemente injustificada para um mero recital universitário. Na plateia estão os responsáveis da editora Odeon, que ainda no outro dia, neste ano de 1959, abalroaram a música brasileira com “Chega de Saudade” de João Gilberto, e ao seu lado estavam os compositores desta obra-prima, Vinicius de Moraes e Tom Jobim. No palco é a segunda apresentação ao público de uma miudagem que conspira uma revolução, mas agora, diante do auditório, que amadorismo embaraçador, mal se ouvem e tremem como varas-verdes. No final, ergue-se uma figura majestosa, de canto manso, Alaíde Costa:

“Chora que a tristeza
Foge do teu olhar
Brincando de esquecer
Saudade vai passar
E amor já vai chegar”

A canção “Chora tua tristeza”, de Oscar Castro Neves e Luvercy Fiorini, é uma das composições inéditas desta miudagem carioca, e seria o primeiro grande sucesso da tal revolução anunciada, em jeito de elegantes sincopados, que entretanto se convencionou chamar de Bossa Nova. Neste concerto, Alaíde Costa é a única a pronunciar de forma esclarecedora a boa-nova, e atentos à receção clamorosa, a editora Odeon renova contrato com a Alaíde Costa e não só edita “Chora tua tristeza”, como mais composições destes ilustres desconhecidos — Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Carlos Lyra — e interpretações de Tom Jobim que, ponham a mão no fogo, dificilmente seriam superadas.

A capa de "O Que Meus Calos Dizem Sobre Mim", de Alaíde Costa

“As chances começaram a surgir, mas sempre tive muita dificuldade por escolher um tipo de música que não era muito comum na época”, desabafa Alaíde Costa ao Observador, em São Paulo, mais de sessenta anos depois de Canta Suavemente, o álbum de “Chora tua tristeza” que revelou uma das vozes mais singulares da sua geração, com jovens compositores a entregarem-lhe canções à medida, até cair no ingrato esquecimento. “Sempre vivi bastante dificuldade por causa da minha escolha de reportório”. A Bossa Nova inchou até explodir, entre as ruínas, emerge a Jovem Guarda, a Tropicália, a Soul, e mais década menos década, é um novo Brasil: que venha o axé, o sertanejo, o pagode e o funk. O chinfrim não abalou Alaíde Costa, que aguardava pacientemente este ano de 2022, quando outros jovens compositores, de Emicida a Tim Bernardes, costuraram novamente canções à justa. “Enfim, 86 anos? Hoje estou aqui, ainda.”

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As pessoas falavam: “você canta bem, mas canta difícil”

O Que Meus Calos Dizem Sobre Mim é o inesperado retorno de Alaíde Costa a um álbum de canções inéditas, disco para colocar o Brasil musical na memória de 2022, com produção do rapper Emicida e Marcus Preto e direção musical de Pupillo, percussionista dos Nação Zumbi. A carreira de Alaíde Costa vai longa, mais de 25 álbuns editados, mas a cantora nunca pisou em Portugal, o que pode levar qualquer português bem intencionado a comparar o renascimento musical de Alaíde Costa com o de Elza Soares em A Mulher Do Fim Do Mundo — o álbum catártico onde a rainha engoliu o samba sujo de São Paulo. No entanto, O Que Meus Calos Dizem Sobre Mim é o exato oposto: Alaíde não engoliu ninguém, sequer se moveu um milímetro, está exatamente onde sempre esteve, o resto do Brasil é que lhe pediu — enfim — outro pezinho de dança, algum auxílio para reconfortar nestes tempos conturbados. A ordem está dada, abram as torneiras e escorram as lágrimas, deixemos a tristeza fugir do olhar.

[“Ilusão à Toa” — com Johnny Alf em 1969:]

“Acho que todos nós temos um pouquinho de melancolia”, reflete a cantadeira de samba-canções de uma sumptuosidade desoladora. “Sempre escolhi músicas que não tinham muito a ver com a época. E as pessoas falavam: ‘você canta bem, mas canta difícil’”. A primeira apresentação em público foi especialmente difícil, com “Nocturno em tempo de samba”, uma melodia sepulcral que assombrava as rádios na voz de Sílvio Caldas. “O meu irmão mais moço foi o responsável por eu cantar, porque ele é que me inscrevia nos programas de calouros, e eu, como sou uma pessoa bastante tímida, não queria cantar publicamente. Mas ele insistia e me levava. E estou aqui até hoje, cantando”. A adolescente de 15 anos, a viver em Água Santa, Rio de Janeiro, estreia-se na Rádio Tupi, no célebre programa de amadores “Calouros do Desfile” de Ary Barroso, enquanto fazia entregas de roupa lavada pela vizinhança. “‘Nocturno em tempo de samba’ é uma música belíssima, mas muito incomum, era mais elaborada, e era isso que eu queria cantar”.

Na década de cinquenta, a música brasileira era um interregno, entre a época dourada da rádio — as grandes vozes operísticas de Francisco Alves ou de Silvio Caldas — e os experimentos delicados de um novo samba — de Dick Farney a Johnny Alf, a tal canção mais elaborada. Neste meio-tempo, Alaíde cantava em frente a uma orquestra no Dancing Avenida, um bar com uma logística particular: os homens recebiam um bilhete à entrada, e por cada dança com uma das bailarinas do estabelecimento, um funcionário furava os quadradinhos do bilhete até preencher todos os bailaricos que tinha direito. “E foi nesse dancing que um técnico de som da Odeon me ouviu e disse que o Aloysio de Oliveira, diretor da editora, gosta muito da música moderna, está gravando Sylvinha Telles e que me ia pedir um teste”. O timing era prodigioso: a recente morte de Carmen Miranda levou o seu companheiro musical de longa data, Aloysio de Oliveira, a regressar ao Rio de Janeiro, assumindo as rédeas da Odeon, e em breve, acompanhado por Tom Jobim e João Gilberto, a alterar drasticamente a história do Brasil.

O Golpe Militar enterra o sossego das calmarias à beira mar, os compositores descem do pedestal para de encontro com o povo, com o samba do morro, a canção nordestina, a Jovem Guarda adolescente. Em suma, nasce a música popular brasileira. “Eu não era contra, mas aquilo não era para mim, não era eu”, lamenta Alaíde, que ficaria os próximos sete anos sem contrato discográfico.

“Quando eu estava fazendo o segundo 78 rotações para a Odeon, o João Gilberto estava no estúdio, e daí ele falou para o Aloysio de Oliveira que eu tinha tudo a ver com uma música que uns meninos estavam fazendo. Eram os compositores da Bossa Nova, que nem nome tinha na época”. Em breve, foi convidada por João Gilberto para uma das célebres reuniões privadas da Bossa Nova, conheceu Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Carlos Lyra, Nara Leão, e Oscar Castro Neves — só João Gilberto, olha quem, nem vê-lo. O segundo LP de Alaíde Costa, Canta Suavemente, é dedicado à nova batida carioca, com uma notável distinção, a cantora não renuncia ao encanto melancólico dos boleros e samba-canções, com uma entrega genuína melodramática que aquela miudagem burguesa não atingia.

“Alaíde Costa constitui um dos pontos altos da moderna escola da música popular brasileira — ou seja, da bossa nova”, garantem na contracapa de Canta Suavemente. Céu, tão grande é o céu, o único limite para esta cantora que encontra-se no local e momento certo da história: Rio de Janeiro, início da década de sessenta. No álbum seguinte, Afinal…, revela-se uma elegante compositora, acompanhada por uma banda de craques, de Théo de Barros a César Camargo Mariano; e logo em 1962, auge da Bossa Nova, ano de “Garota de Ipanema” e do concerto no Carnegie Hall, em Nova Iorque, quando aquele sensual batimento cardíaco conquista definitivamente os EUA. No entanto, hoje o concerto do Carnegie Hall é mais recordado pela exclusão do que a inclusão: Johnny Alf, Baden Powell, João Donato, sequer a insuperável Alaíde Costa: ninguém recebe o bilhete dourado para uma carreira internacional.

“Carnaval, desengano
Deixei a dor em casa me esperando
E brinquei e gritei e fui vestido de rei
Quarta-feira sempre desce o pano”

Alaíde Costa com a dupla que assumiu a produção deste novo álbum e que transformou o regresso da cantora num cruzamento de gerações

“Eu não era contra, mas aquilo não era para mim, não era eu”

Quem está mal muda-se, e porque não para São Paulo. Em 1965, Alaíde evoca Stravinsky, Heitor Villa-Lobos e Bossa Nova num mesmo espetáculo, no Teatro Paramount, continua a cantar Oscar Castro Neves na lacrimejante “Onde está você”, e grava a primeira versão de “Sonho de um Carnaval” do novato Chico Buarque. Mas quarta-feira sempre desce o pano. O Golpe Militar enterra o sossego das calmarias à beira mar, os compositores descem do pedestal para de encontro com o povo, com o samba do morro, a canção nordestina, a Jovem Guarda adolescente. Em suma, nasce a música popular brasileira. “Eu não era contra, mas aquilo não era para mim, não era eu”, lamenta Alaíde, que ficaria os próximos sete anos sem contrato discográfico.

Em frente à televisão, um paz-de-alma de trinta anos está extasiado com uma programação surpreendente, se não fosse o ano opressor de 1972, juraria que estava em qualquer época distante, quando a rádio embalava em doces lamentos. Naquele momento, Milton Nascimento encontrou um ponto de contacto entre o dedilhado sincopado da sua juventude, e o sentimento de solidão face a um Brasil lastimoso:

“Evitar a dor
É impossível
Evitar esse amor
É muito mais
Você arruinou a minha vida
Me deixa em paz”

Ele me ouviu cantando o ‘Me deixa em paz’, que foi um samba de carnaval cantado pela Linda Batista. Mas eu não via aquele ‘Me deixa em paz’ como samba de carnaval, não via aquela alegria toda. Então eu fiz uma adaptação e cantei daquele jeito”. A participação de Alaíde no emblemático Clube da Esquina foi alento para um regresso aos discos, com produção de Milton e arranjos de João Donato: Coração. “Meu pai grande/ Quisera eu ter raça pra contar”, canta Alaíde Costa com as cicatrizes de fora. “A história dos guerreiros/ Trazidos lá do longe/ Trazidos lá do longe/ Sem sua paz”. “Tenho a impressão que, finalmente, as coisas estão melhorando”, consente ao jornal O Globo, que descreve o álbum Coração como “o renascimento” da cantora. “Mas sabe qual é o pior problema? É a incerteza em relação ao futuro, a falta de continuidade”, alerta, acalmando os ânimos do jornalista. “Eu vou fazer este espetáculo agora, e depois?”.

“Jamais pensei que isto pudesse acontecer novamente”, garante a cantora. “O Emicida tem um estilo muito diferente do meu, fiquei surpresa, e muito feliz também, por saber que uma pessoa como ele me admira a ponto de querer trabalhar comigo.”

“Por ser negra queriam que eu cantasse samba”, revela Alaíde, que após o suposto “renascimento” continua a sentir na pele a indiferença das editoras, afastando-se progressivamente dos holofotes. Nas décadas seguintes grava uma série de projetos independentes, dedica-se às canções de Hermínio Bello de Carvalho, Milton Nascimento, Johnny Alf, e mais recentemente, José Miguel Wisnik. “Se fosse uma cantora menos sofisticada, talvez tivesse conseguido encontrar alguma brecha nesse racismo e alcançasse mais repercussão”, pondera Marcus Preto, produtor a par de Emicida deste derradeiro volte-face na carreira de Alaíde, O Que Meus Calos Dizem Sobre Mim. “Jamais pensei que isto pudesse acontecer novamente”, garante a cantora. “O Emicida tem um estilo muito diferente do meu, fiquei surpresa, e muito feliz também, por saber que uma pessoa como ele me admira a ponto de querer trabalhar comigo.”

“Minha vontade começou na pandemia, quando usei o tempo ocioso para limpar meus LPs. Ouvi vários deles e fiquei especialmente tomado ao reouvir os de Alaíde”, justifica Marcus Preto, produtor de serviço da MPB, desde Gal Costa a Bala Desejo. “Mais adiante, ela anunciou uma live cantando Johnny Alf e eu compartilhei a arte de divulgação com algumas pessoas — Emicida entre elas. A resposta dele à minha mensagem foi muito mais animada do que eu poderia esperar. Dois dias depois, juntei coragem e enviei outra, sugerindo que fizéssemos juntos um álbum para ela. Na sequência, comentando disso tudo com o produtor musical Pupillo, ouvi dele algo como: ‘Ou você me chama para fazer esse disco com vocês ou eu te mato’”.

[ao vivo em dezembro de 2021 com Milton Nascimento e Fernando Brandt:]

“Gosto mais da calmaria, das músicas lentas”

O Que Meus Calos Dizem Sobre Mim é um álbum de passada lenta para o tumulto brasileiro de 2022, vagarosas samba-canções que amansam um carnaval de dois meses, uma pandemia, o desmatamento indiscriminado na Amazónia, e a iminente guerra civil das eleições, ainda na terra de ninguém. Alaíde Costa está aqui para nos sossegar: reclinem a cadeira e coloquem os auscultadores, o cenário é uma boate de teto baixo, a brisa é leve, e a dor de corno é pesada, mágoas afogadas em copos de whisky, duas pedras de gelo. A entrada em cena é “Turmalina Negra”, canção de Céu e do irmão Diogo Poças, encenação de metais de Antonio Neves, acarinhados pela voz preciosa de um tesouro nacional:

“Pedra Preciosa
Turmalina Negra
Meu canto assiste
A busca da delicadeza
De um mundo melhor”

“Eu gosto de todas as músicas que consigo interpretar, mas gosto mais da calmaria, das músicas lentas”, diz-nos Alaíde Costa, enfim a entoar canções inéditas de mestres da composição brasileira, desde Ivan Lins a Nando Reis. “Quando Alaíde topou fazer o álbum, a ideia inicial era ter Emicida como letrista quase único”, explica o produtor. “Pensávamos que Emicida colocaria letras em todas elas e o álbum seria esse. Mas vários compositores com quem falei acabaram enviando canções prontas, fechadas. E eram tão lindas, que não tínhamos como deixar de lado”. É um regresso em pleno aos desamores macambúzios, a formosa “Nenhuma Ilusão” de Fátima Guedes — “Nem sei quantas vezes morri da mesma dor sem fim” — e “Praga” da dupla de sonho Erasmo Carlos e Tim Bernardes — “Ouve a minha praga agora / Sussurrando em seu ouvido/ Você vai se arrepender de me tratar assim”. “O álbum tem vida própria e toma decisões que não temos como controlar”, sintetiza Marcus Preto, e deixa-nos uma promessa que em breve vamos cobrar: “Outras canções já estão prontas e serão gravadas logo mais, em um segundo volume.”

[ouça “O Que Meus Calos Dizem Sobre Mim” na íntegra através do Spotify:]

O rapper que desenhou um elo entre as expressões negras brasileiras no documentário “Emicida: AmarElo — É Tudo Pra Ontem”, desde o arquiteto barroco Aleijadinho ao hip hop de São Paulo, é o engodo da sereia de O Que Meus Calos Dizem Sobre Mim. As toadas meigas com letra de Emicida ocultam uma meditação das tragédias sociais brasileiras: “Sempre é momento/ De analisar o tempo/ De preparar o chão/ De semear/ Para onde sopra o vento/ Onde faremos lares”, canta Alaíde em “Aurorear”, a parceria de Emicida com Joyce Moreno. “Os silêncios dos tempos, o sonho dos Palmares/ E algumas bobagens particulares”, continua, a homenagear o célebre quilombo de escravos livres, um paraíso mitológico da resistência negra. E a crónica desta cantora esquecida, durante décadas sem lar onde assentar a voz, é mais um episódio que tentamos remediar em cima da hora, a correr atrás da história. “Histórias aos milhares se é por elas que seguro/ Não julgo e digo/ Vou continuar”. Na hora da despedida, a impressão é que Alaíde Costa nunca foi embora, sempre esteve aqui a dar todo o seu amor. E esteve.

“O meu caminho eu mesma fiz
Não foi ninguém que me apontou
Eu me virei sozinha
Comi o pão todinho que o diabo amassou
Eu não faço fiado
Mas dou sempre tudo por amor”

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