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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Entre um voto pela vida e um voto contra o passado. A manhã eleitoral numa escola de Brasília

Bruno foi votar desassossegado com a forma como a política estraga o lado íntimo. Enzo elogia Bolsonaro, mas colocou pais à frente. Elaine votou pela vida. A manhã de votação numa escola de Brasília.

“Houve pouquíssimas filas no território nacional. No exterior tivemos algumas filas, em Lisboa, em Paris… O Tribunal Regional do Distrito Federal enviou 70 servidores daqui para auxiliar nos consulados e embaixadas. Isso mostra que haverá necessidade de mais urnas, mais secções eleitorais, principalmente em Portugal, França e EUA, onde o número de eleitores brasileiros é grande.”

Na escola Parque 313/314 Sul, em Brasília, Elaine Welter, 49 anos, e o filho percebiam esta manhã a tranquilidade a que se referiu o Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre Morais, e que contrastava com a realidade sentida na capital portuguesa. Após Enzo Doria ter votado, são as primeiras eleições em que exerce esse direito, sentaram-se numa mesa que tinha um tabuleiro de xadrez em azulejos. O estudante do colégio militar D. Pedro não se lembra já como foram os governos do PT, mas gostou do que aconteceu nos últimos quatro anos e a maioria dos seus colegas são apoiantes de Bolsonaro.

Elaine, a sua mãe, também foi, quando se desiludiu com o PT em que tinha votado. Começou inclusivamente a ser uma ativista, presente em manifestações a favor do atual Presidente, mas tudo mudou quando apanhou Covid, numa dessas manifestações, e à sua volta só via a negação da ciência. No primeiro turno votou em Ciro Gomes, mas neste segundo só podia voltar ao Lula: “Votei pela minha vida”. A professora de Educação Física numa escola da rede pública sabe exatamente quando é que tomou a decisão de dar um cartão vermelho ao atual Presidente: “Quando deixei de sentir o olfato vi que o vírus era real, aí deixei de ser Bolsonarista.”

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Enzo Doria e a mãe foram esta manhã votar, com opiniões diferentes

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Atenta às promessas de Bolsonaro, no último debate, diz que um aumento do salário não é tudo. “Não me esqueço da ciência, sou uma cria da Universidade Federal de Brasília. Uma bula de remédio não se muda por política, é como a Bíblia”, diz, lembrando que muitas das pessoas com quem se dava a aconselharam a tomar cloroquina, um medicamento cujos benefícios não estão comprovados, para reverter a sua infeção.

Também na política eleitoral não entende muitas das opções do atual Governo e considera que o destaque que Bolsonaro está a dar às relações com a Rússia perigoso. “O Brasil tem o Itamaraty [Ministério das Relações Exteriores] e eu tenho muito orgulho no trabalho que permite ao Brasil estar sempre longe das guerras. Quando Bolsonaro foi à Rússia já tomou um lado, o de Putin. E ele faz isso, porque ele toma decisões pessoais em nome de uma nação”.

Também a visão que tinha das armas há uns meses — que era a de que poderiam servir para defesa pessoal — mudou, e agora é contra a política seguida, sobretudo depois de ver alguns episódios recentes de políticos aliados do Presidente a usarem armas de fogo em público. E entristece-a ver como os candidatos impulsionam esse clima de guerra: “Quando se pede para convencermos amigos a votarem é para gerar brigas. Eu sempre separo as pessoas, quando há problemas. Já fazia isso quando era do Bolsonaro, porque eu sabia o que era estar do outro lado”.

Nas urnas de voto o ambiente era de tranquilidade

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Enzo não concorda com muito do que a mãe pensa. É nítido na sua expressão corporal, talvez por isso Eliane se tenha levantado quando chegou a vez de ele falar. “Vou sair para ele se sentir mais à vontade para dizer o que pensa”, disse com um sorriso. No ambiente onde Enzo se move, um colégio militar, a maioria das pessoas apoia o candidato Jair Bolsonaro, a diferença é que não há tantas discussões como acontece com os mais velhos: “A política cega as pessoas, gera brigas, como aconteceu ontem [referência ao uso de uma pistola por uma deputada próxima de Bolsonaro]”. Ainda assim, Enzo justifica logo de seguida que Bolsonaro não tem culpa de isso acontecer: “Não foi ele que pegou na pistola”.

O seu voto de hoje foi muito pensado, refletiu os prós e os contras, o país que ele queria e o que os pais desejam. Admite que teve liberdade — o pai foi mais duro nesse debate —, mas escolheu pô-los a eles à sua frente na hora de votar: “Para mim é indiferente que ganhe um ou outro, para eles não é”.

“Não me importa o que Bolsonaro fala, mas o que ele faz”

Já passava das 12h00 quando Sílvia Schmidt, uma aposentada de 72 anos, chegou para votar. Vinha de camisola amarela e está alinhada com o pensamento de Enzo. E o que mais a entristece é o facto de Lula da Silva poder concorrer a Presidente: “Ele fez estragos no meu país e está solto, disputando umas eleições. Você fica vendo que a justiça não é igual para os dois lados”, diz, acrescentando que a sensação que tem é que “um candidato pode falar o que quiser e o outro não”.

Sílvia diz que se sente prestigiada enquanto mulher com o governo de Bolsonaro

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O tratamento de Bolsonaro às mulheres também não a incomoda minimamente, bem pelo contrário: “Sinto-me prestigiada, ele criou o Ministério da Mulher que antes não havia e o que ele fala não me importa, importa-me o que ele faz, os valores que ele defende, porque eu sou cristã e católica”.

Para Sílvia é importante que quando o Brasil se encontra com um outro estado para uma negociação haja um tratamento de igual para igual e é isso que Bolsonaro conseguiu restabelecer, na sua opinião: “Quando vai a outros países ele vai para negociar de igual para igual, não vai pedir esmolas. E se as negociações forem para beneficiar o meu país… isso é que me importa”.

Sempre sem filas e com uma afluência idêntica à do primeiro turno, Joaquim Braz, presidente de uma das secções de voto naquela escola, explicou ao Observador que não foram registados quaisquer incidentes e que tanto os eleitores de um lado como de outro entram, exercem o seu voto e saem sem sequer fazerem comentários. “Aqui estão registados 271 eleitores e até às 12h (horário de Brasília, menos 3 horas do que em Lisboa) já tinham votado 167 — um numero considerável se se tiver em conta que no primeiro turno o dia fecho com 226 votos”.

Joaquim Braz, presidente de uma das secções de voto naquela escola

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A tranquilidade foi, aliás, a regra na maioria dos locais de voto. Um agente da polícia brasileira a trabalhar num dos cartórios onde estão os juízes eleitorais da cidade, que preferiu não se identificar, revelou que foram poucas as ocorrências registadas em Brasília: “Ainda agora uma juíza saiu, mas porque um eleitor estava com o volume de som elevado junto a uma secção de voto, mas não têm existido outros problemas, só coisas assim”.

Noutros estados a realidade está longe de ser igual à de Brasília. Uma das notícias que está a marcar o dia é a decisão do diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques, de em desrespeito pela decisão do Tribunal Superior Eleitoral fazer centenas de operações stop visando autocarros que transportavam pessoas, sobretudo em estados do Nordeste onde o candidato Lula da Silva tem uma grande vantagem, dificultando assim a chegada dos eleitores aos locais de voto. Vasques foi até já chamado pelo Presidente do Superior Tribunal Eleitoral para que suspenda já as operações de fiscalização.

Um aniversário desassossegado

Bruno V. faz hoje 40 anos e foi votar perto da hora de almoço à escola Parque 313/314 Sul com a esperança de mais logo receber o presente que quer: uma mudança política no país. É servidor público, trabalha no Ministério da Justiça, e não consegue perceber como é que há eleitores em dúvida entre votar em Lula ou Bolsonaro. “A minha namorada ligou-lhe ainda há pouco, porque está a preparar-me uma surpresa e disse-me que estava indecisa. Eu respondi-lhe que não entendo como é que pode haver dúvidas, como é que se pode ponderar não votar pela democracia, pelo combate ao racismo, pelo fim das armas, pela competência técnica e sobretudo pelos diretos humanos”.

Em Brasília não houve grandes filas para se votar

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Brasília, o estado onde vive, votou maioritariamente em Bolsonaro no primeiro turno (51,65%) e Bruno sabe qual é uma das razões: “O Distrito Federal, Brasília, não é o país real, é uma amostra atípica”. “Aqui é Zurique, ou Potsdam, perto de Berlim, a diferença é que a cerca de 50 quilómetros daqui temos a África Subsariana”, reforça.

No seu caso, sabe que a política não vai ter influência na relação com a sua namorada — porque têm uma “boa base educacional”, mas preocupa-o o futuro do país e das relações entre as pessoas, porque esta divisão “estraga o lado íntimo”. “Lembrando-me de Fernando Pessoa, eu vivo desassossegado”, remata.

Enquanto professora de Educação Artística, Maria Gomes entrou centenas, se não milhares de vezes, naquela escola, onde os alunos vão felizes para ter as atividades complementares — até piscina tem. Desta vez ia “apreensiva, mas com esperança de que o bem vença a batalha contra o mal”.

“A minha mãe vacinou-se, graças a Bolsonaro”

Aos 76 anos e já aposentada, Maria admite que o atual Presidente nem sempre esteve bem, mas que é a única solução para os desafios que o país tem pela frente. Um dos pontos negros da sua governação foi a gestão da pandemia, porque “ele tem aquele temperamento, falta de habilidade política, ao contrário do Lula, ele nem sempre falou o que devia”.

Mas vê uma justificação para isso: “É um militar, não tem mi mi mi, como a gente fala aqui”. Assim que pôde vacinou-se, algo que segundo a filha Flávia, que está ali ao seu lado, deve a Bolsonaro: “Vacinou-se graças a Bolsonaro”.

Maria Gomes e a filha foram votar em Bolsonaro

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E se há um ponto em que acha que o atual Presidente tem de melhorar é na questão das relações internacionais, ainda que considere que era um trabalho mais difícil durante a pandemia. “Até já tinha falado com a minha filha que, se ganhar, Bolsonaro precisa de uma assessoria para algumas coisas, uma delas é as relações internacionais, precisa de um assessor”.

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