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Uma jovem a prestar homenagem à porta da estação de metro de Maelbeek, em Bruxelas
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Uma jovem a prestar homenagem à porta da estação de metro de Maelbeek, em Bruxelas

AFP/Getty Images

Uma jovem a prestar homenagem à porta da estação de metro de Maelbeek, em Bruxelas

AFP/Getty Images

"Estava na estação quando aconteceu". Mas o "azar" salvou-o

"Vocês negros estão sempre a tentar entrar sem pagar bilhete”. Quando Eric ouviu esta frase, pensou que o seu dia não podia correr pior. Mal sabia que aquela atitude viria a salvá-lo de uma bomba.

Pouco passava das 9h00 quando no coração de Bruxelas uma terceira bomba explodia. Desta vez, era na estação de metro de Maelbeek, na muito movimentada Rue de La Loi, a alguns passos dos principais edifícios das instituições europeias e por onde passam todos os dias milhares de pessoas que por ali trabalham, muitas delas oriundas de outros países. A explosão foi a mais mortífera, tirando a vida a vinte pessoas. Mas entre as histórias de dor e perda, também há aquelas dos que escaparam por muito pouco. Eric Pania, um holandês de 27 anos, é um deles.

Naquele dia, como faz sempre, Eric Pania ia apanhar o metro na estação de Maelbeek. O que é a sua rotina habitual foi interrompida por o que parecia ser um azar. Ao chegar à estação viu que não tinha passe, nem bilhete: “Esqueci-me da carteira em casa”, diz ao Observador.

A história até poderia ficar por aqui e era mais uma daquelas para contar aos netos, mas não ficou. O holandês, que trabalha numa seguradora, já estava atrasado para o trabalho e pede a um outro passageiro para que o deixasse passar o torniquete com ele, tentando explicar a situação, pensando, diz, em voltar a casa durante a hora de almoço.

A resposta, naquela altura, não foi a melhor: “Nem pensar. Vocês negros estão sempre a tentar entrar sem pagar bilhete”, terá dito o outro passageiro, segundo o relato de Eric. E seguiu caminho. O jovem holandês ainda terá tentado mais um passageiro, mas ao fim de cinco minutos desistiu e voltou à superfície.

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Foi aí que tudo aconteceu. A terceira explosão em Bruxelas, depois das duas no aeroporto, provocou mais de duas dezenas de mortos e mais de cem feridos só no metro de Maelbeek. Eric, atordoado, foi assistido pelos serviços de emergência à entrada, mas nada de grave tinha acontecido com ele, só o choque, dores nos ouvidos e muita poeira.

“Eu estava na estação quando aconteceu!”, clama. Perante as dúvidas quanto à história, mostra um vídeo, de uma televisão holandesa, no seu telefone. O vídeo mostrava a altura das explosões e o que se passou logo a seguir: “Espera, aguenta só um minuto. Vais ver…”, diz em jeito de desafio. No final, lá aparece Eric, sentado no chão junto à estação, ainda com poeira na roupa, com um ar atordoado e a ser assistido por um membro das equipas médicas.

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Eric Pania, a seguir à explosão, imagens da televisão holandesa NOS

Ainda não é aqui que a história acaba. O jovem, segundo o seu relato, ainda foi prestar declarações à esquadra, como todos os que ali estavam, a pedido da polícia. Eric diz que viu uma pessoa a passar com uma mochila quando entrou na estação e que depois viu a mesma pessoa a regressar da estação, mas já sem mala, algo que contou à policia, que fez um retrato robô. As perguntas das autoridades giravam à volta da idade, do que tinha vestido: “Perguntaram-me se tinha entre 20 e 25 anos e como é que estava vestido. Todos os pormenores de que me pudesse lembrar”.

“Tive muita sorte”, admite, para concluir. O Observador tentou verificar a história do jovem holandês, mas as autoridades dizem que não falam sobre a investigação.

Nem todos têm a mesma sorte

O encontro com Eric aconteceu durante a manhã desta quarta-feira, junto à estação de Maelbeek, onde algumas dezenas de pessoas se juntaram para prestar homenagem às vítimas da explosão na estação de metro.

Empunhando cartazes a dizer “make waffles, not war”, o grupo juntou-se do outro lado da rua da estação de metro, que está fechada e cercada pela polícia, que ainda está a investigar no local. O cenário é mais uma cena repetida do que se passa em várias partes da cidade. Ramos de flores depositados junto a uma coluna, mensagens de paz em vez de ódio, velas acesas por aqueles que não tiveram a sorte de Eric, lágrimas a escorrerem.

Duas dezenas de pessoas perderam a vida, mas muitos ficaram feridos e o seu estado de saúde ainda é muito grave. Entre os muitos relatos que ouvimos, há informações de doentes ainda em estado de coma. Há também quem esteja em risco de ver um membro amputado.

Há ainda quem não saiba do paradeiro dos seus familiares, devido à dificuldade de identificação de algumas das pessoas que morreram nas explosões, em especial as que estavam mais perto do local onde as bombas detonaram. Há ainda pessoas consideradas desaparecidas. Este é o caso de Johanna Atlegrim, uma cidadã sueca, cuja família lançou uma campanha pela cidade a pedir ajuda para a encontrar.

Para isso, a família colocou fotos e os seus contactos em postes de eletricidade, caixotes do lixo ou paredes, um pouco por toda a cidade, apelando a quem tenha informação sobre a jovem para contactar a família.

Tributos não perdem força

Na Praça da Bolsa, no centro de Bruxelas, as manifestações de apoio e as homenagens continuaram esta quinta-feira. As paredes e o chão à volta do edifício da Bolsa de Bruxelas revestem-se de cor, com as muitas mensagens a apelar à paz e de homenagem às vítimas a preencherem quase todo o espaço à volta.

No chão em frente ao palácio, as velas, bandeiras e mensagens que começaram num círculo pequeno são cada vez mais e nas escadarias os jovens, empunhando bandeiras de Marrocos, Argélia, Tunísia, cantam e dançam.

A cidade já contava com mais pessoas na rua e com mais transportes públicos a funcionar, o que acabou por criar problemas, já que os controlos à porta das estações de metro e comboio que estão abertas continuam nas mãos do Exército e da polícia belga. O resultado são massas cada vez maiores de pessoas à espera para poderem entrar, como se pode ver na Gare Central de Bruxelas.

Já no caso dos autocarros, o controlo praticamente não existe, já que não há qualquer polícia ou militar a fazer revista, como tem acontecido inclusivamente no interior das carruagens do metropolitano de cada vez que este chega à estação terminal.

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