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A artista portuguesa apresentou a ideia ao Lord Jacob Rothschild há 5 anos
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A artista portuguesa apresentou a ideia ao Lord Jacob Rothschild há 5 anos

Lionel Balteiro / LaMousse

A artista portuguesa apresentou a ideia ao Lord Jacob Rothschild há 5 anos

Lionel Balteiro / LaMousse

"Este foi o meu primeiro projeto impossível." Fomos à mansão dos Rothschild provar o bolo de casamento de Joana Vasconcelos

Nos arredores de Londres, a obra forrada com cerâmicas da Viúva Lamego demorou cinco anos a ficar pronta. Agora vai passar a receber visitas e casamentos verdadeiros.

“Esta peça é sobre amor, esperança, loucura e a magia de quando conseguimos trazer para o mundo uma coisa que não existe, que nunca existiu antes.” Da cabeça de Joana Vasconcelos para a vida real — embora mais pareça saída de um conto de fadas — a sua mais recente obra, um bolo de casamento de quatro pisos forrado em cerâmicas da Viúva Lamego, vai finalmente poder ser visitada em Waddesdon Manor, nos arredores de Londres, a partir do dia 18 deste mês, passados 5 anos daquilo que se revelou “um processo complexo e com muitos desafios.”

Foi assim que a artista portuguesa descreveu o seu “templo ao amor” ao Observador esta terça-feira, na leitaria da propriedade construída no século XIX pelo Barão Ferdinand de Rothschild. Mas as visitas ao “Wedding Cake” só começam depois da cerimónia de inauguração oficial, essa privada, onde vão estar presentes o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e o Duque de Wellington. Vai ser a 15 de junho, data em que se assinalam 650 anos do Tratado de Windsor, que estabeleceu a mais antiga aliança do mundo entre Inglaterra e Portugal.

As cerâmicas de cada piso têm a sua própria cor: verde, azul, cor-de-rosa e amarelo

CHRIS LACEY

Coincidência ou não, a própria materialização do projeto nasceu de uma aliança anglo-portuguesa, neste caso entre Joana Vasconcelos e Lord Rothschild, atual herdeiro da propriedade e entusiástico colecionador de arte. Em 2012, a primeira cedeu o seu bule de chá, conhecido como Pavillon de Thé, para uma exibição nos jardins de Waddesdon. Mais tarde, o segundo encomendou—lhe os dois castiçais preenchidos com garrafas de Château Lafite, da produção vinícola da família, que estão nos mesmos jardins desde 2015. Quando, antes da pandemia, o bolo de casamento ainda era só uma ideia da artista, Lord R — como a portuguesa carinhosamente o trata — quis levá-lo por diante. “É uma pessoa que adora uma boa aventura e um bom desafio. Andámos para trás e para a frente e ele manteve sempre a sua posição, que foi: vamos fazer isto.” E elogia a visão e o encorajamento do patrono de 87 anos “generoso e extraordinário”, que conseguiu acreditar no seu potencial.

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O “projeto impossível”

“Este projeto de cinco anos é o meu primeiro projeto impossível”, explica, e insiste: “Quando digo impossível não estou a brincar, não é só uma graça.” Porquê? “Porque a escala e o preço de produção disto são uma loucura.” Que ingredientes são necessários para cozinhar, então, um bolo impossível? “Poder económico e a capacidade de dizer que vale a pena”, responde. “E isso é uma conjugação muito pouco provável. Não estamos a vender uma coisa que já existe, estamos a vender uma ideia. Agora imaginem uma mulher portuguesa, artista, que não é arquiteta. As pessoas pensam: será que ela sabe bem o que está a fazer?” Se houve quem duvidasse, isso agora pouco importa.

O Lord Jacob Rothschild com a artista, durante a fase de ideação do projeto

Adam Davy

Com a pandemia pelo meio, a construção do bolo levou mais tempo do que estava inicialmente previsto. “O maior desafio foi este projeto sobreviver à Covid-19.” Se tudo corresse conforme planeado, podia ter ficado pronto em cerca de dois anos.

Contam-se 12 metros até ao topo da estrutura forrada com 365 metros quadrados de azulejos e estatuário feitos à medida pela Viúva Lamego, são mais de 26 mil peças no total. “A Viúva Lamego foi uma grande aventura. Algumas destas coisas não eram construídas há mais de 100 anos, nem eles sabiam que as tinham.” Joana Vasconcelos foi buscar o espólio da fábrica para que recuperassem peças antigas, fizessem de novo esses moldes. “Voltou-se a produzir um passado que já não era produzido. Isso foi muito giro, voltar a dar vida ao património que estava esquecido. Mas foi duro, porque eles não sabiam, por exemplo, como se faziam os Santo Antónios. Partiam-se os pés, partiam-se as mãos…”

O "Wedding Cake" vai receber casamentos verdadeiros na propriedade dos Rothschild

Lionel Balteiro / LaMousse

Um bolo de casamento como local de casamentos

O santo tido como casamenteiro é protagonista no piso térreo, tanto em pequenas figuras brancas na decoração da parede exterior, aí mais discretas, como em estátuas coloridas no interior, que abençoam de todos os ângulos os futuros casais que o visitem — ou que nele se casem. “Vou ter aqui muita gente a ser casada. Pensei: como é que eu crio um espaço para casamentos e não trago um Santo António? Para um português lisboeta, é impossível não ter um Santo António.”

“Nunca tinha pensado que ia fazer o bolo de casamento num sítio onde efetivamente há casamentos. Isto foi bater a um sitio verdadeiramente incrível que é: há as duas coisas. Raramente há as duas. Quando eles [equipa da Waddesdon Manor] me disseram que também faziam casamentos, pensei, ‘uau, altamente’. Porque isso completa a obra. Não é só a obra a falar de uma coisa, é a coisa a acontecer dentro da obra.” As cerimónias vão acontecer no piso de baixo, mas noivos e convidados podem depois subir à estrutura para tirarem fotografias de família. “Vai ser uma animação.”

Com alguma atenção, o leitor vai encontrar no topo da imagem um dos Santo Antónios que estão na estrutura exterior

Lionel Balteiro / LaMousse

“Eu fui porteira do Lux durante uns anos, portanto…”

Faltam poucos pormenores para estar totalmente finalizado e receber os seus visitantes, incluindo a colocação do chão, que também será em cerâmica, a cada piso na cor principal dos seus azulejos do seu nível: verde em baixo, depois azul, depois cor-de-rosa e amarelo no topo. O acesso ao último piso deve ser feito a dois, cada um numa das duas escadas em caracol amarelas que se entrelaçam e encaminham para o topo sossegado, idealizado para encher os olhos com a paisagem verdejante da propriedade.

Foi a própria artista quem esperou lá em cima pelos vários jornalistas que iam fazendo a subida, dois a dois. No topo encontrámo-nos com ela, vestida de amarelo como a própria estrutura em ferro. “Só quando chegam cá acima é que o projeto está finalizado”, explica. Olhámos tranquilamente para a paisagem que nos rodeava antes de Joana Vasconcelos, a própria, por tudo em marcha de novo, saem uns e entram os próximos, sempre calma, segura, organizada. “Eu fui porteira do Lux durante uns anos, portanto…”

Elementos no interior do primeiro piso, que tem uma cúpula estrelada ao centro

Lionel Balteiro / LaMousse

Os três símbolos do casamento

O bolo faz parte de um conceito de casamento que tem vindo a desenvolver há vários anos. “É um evento que marca a vida das mulheres, a transição de uma vida em família para uma vida em que criam a sua própria família.” É composto por três símbolos: o pedido de noivado — representado pelo anel que criou para a exposição do Guggenheim em 2018—, o vestido de casamento — representado na “Noiva”, o lustre de tampões e exibido na Bienal de Veneza de 2005 — e agora o bolo.

“A ideia é construir mais bolos destes pelo mundo fora”, revela. Tem algum sítio pensado para o próximo? “Não, mas gostava de fazer em Portugal.”

A receita do Bolo de Casamento

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  • 1 artista
  • 1 colecionador
  • 2 equipas internacionais
  • Uma pitada de especialistas
  • 3.500 peças em ferro forjado
  • 21.815 quilos de chapa de ferro
  • 25.150 azulejos e 1.238 peças em cerâmica da Viúva Lamego
  • Variedade de ornamentos, incluindo sereias, Santo Antónios, golfinhos, velas e globos
  • 350 chamas de vidro que recebem vibra ótica
  • 592 pontos de luz
  • “rios” de esmalte

A 15 de junho, Joana Vasconcelos regressa a Londres para a cerimónia de inauguração, onde se vai encontrar com Marcelo Rebelo de Sousa, que vem a propósito dos 650 anos do Tratado de Windsor. O Observador sabe que o Presidente deverá assistir a uma missa em Londres onde deverá estar presente o Rei Carlos III, e almoçar de seguida com o Duque de Wellington, dirigindo-se mais tarde para a Waddesdon Manor. “Tive o grande prazer de me poder associar a essas celebrações”, comenta a artista.

“[O Presidente] vai honrar-me com a sua presença e vai ser fantástico. É uma pessoa que, como eu, é muito dedicada à valorização da imagem do nosso país. Há uma partilha e uma comunhão nessa ideia que temos de mudar a imagem do nosso país e mostrar que somos profissionais, contemporâneos, que temos uma qualidade que raramente conseguimos valorizar. ”

Joana Vasconcelos gostava que este fosse um de vários bolos. Tem algum sítio pensado para o próximo? “Não, mas gostava de fazer em Portugal"

O que se segue para a artista? Em julho, a Valquíria que criou para o desfile da Dior em Paris voa até à China para mais uma apresentação da casa de moda francesa. A estrutura é toda feita em insufláveis e fechada com zips. “Tiramos o ar, montamos e vai”, explica. “As montagens é que são complicadas. São 10 ou 11 dias.” Essa mesma estrutura vai ser exibida no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. Terá também uma instalação nas Galerias Uffizi e no Palácio Pitti, em Florença, no Museu de Ibiza e no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa.

Artista Joana Vasconcelos instala Valquíria no desfile da Dior da Semana da Moda de Paris

Em breve, o Pavillon de Thé que esteve em exibição na propriedade dos Rothschild em 2012 regressa para os jardins e neles se deverá manter permanentemente. Ficará a coleção de Lord R com três peças de Joana Vasconcelos: bolo, bule e castiçais. “Até teres três peças de um artista, não tens realmente uma representatividade, as três já criam um discurso.”

O Observador viajou a convite da Sutton, agência de comunicação britânica que representa a artista Joana Vasconcelos.

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