Yaima Rivero Canasi tem o seu nome inscrito num recorde histórico. Nunca tantos cubanos fugiram para os EUA como em 2022. Os números do ano passado bateram os do êxodo que se seguiu ao triunfo da revolução de Fidel Castro em 1962. Quando partiu de Havana, a 10 de novembro, já 270 mil tinham tomado a mesma decisão. Quando chegou a Miami, a 21 de dezembro, já iam em cerca de 300 mil, 2,7% dos 11,1 milhões de habitantes da ilha. Só que, mais de um mês depois, ainda não sai à rua sozinha. Continua consumida pelo medo. A travessia de cinco semanas, em que cruzou cinco países, incluiu um sequestro a seis quilómetros da fronteira norte-americana. Yaima foi ameaçada de morte. Tornou-se mais uma vítima dos violentos cartéis mexicanos, que viram nos imigrantes uma nova e multimilionária fonte de lucro.

Muitos cubanos ainda cruzam os 400 quilómetros, ou 250 milhas náuticas, que separam o estreito de Havana a Miami, em balsas improvisadas ou barcos mais sofisticados. Mas o canal dá menos garantias, é mais perigoso e mais caro. Yaima sabe bem disso. Já viu muitos amigos fazer esse caminho. Um primo há dois anos. Há meses um dos três irmãos que, como muitos outros, vendeu a casa para poder pagar a viagem e partir com a mulher e um amigo. Na altura hesitou segui-lo. A filha, Verónica, de 5 anos, prende-a à ilha. Acaba por decidir partir no verão, incentivada por uma amiga, também já a viver nos EUA há algum tempo, que lhe promete casa e trabalho e lhe empresta o dinheiro que nenhum cubano tem para pagar a travessia.

Prefere contudo aquela que é, desde 2021, a nova porta para a América: a ‘rota dos vulcões’. Com o acordo que facilitou as viagens de Cuba para a Nicarágua como turista, arrisca fazer os outros milhares de quilómetros pela América Central, guiada por ‘coiotes’, os  homens dos traficantes que negoceiam estas viagens. Voa até Manágua, cruza o país, para depois atravessar ainda as Honduras, a Guatemala e o México, até poder saltar a fronteira no Texas e apanhar um novo avião no sul dos EUA até à Florida. Só que o sonho não é o que lhe vendem por 9 mil dólares (8.200 euros).

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