786kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

GettyImages-1241583677
i

Desde janeiro de 2022, e até à data, entraram na Argentina cerca de 22.200 cidadãos russos, segundo os números oficiais: 10.776 mulheres e 11.399 homens

SOPA Images/LightRocket via Gett

Desde janeiro de 2022, e até à data, entraram na Argentina cerca de 22.200 cidadãos russos, segundo os números oficiais: 10.776 mulheres e 11.399 homens

SOPA Images/LightRocket via Gett

"Estou embriagada de liberdade." Maria, grávida, foi detida num aeroporto da Argentina. Hoje faz parte do êxodo russo para a América Latina

Seis grávidas impedidas de entrar na Argentina puseram o país a olhar para os milhares de russos que chegam, alguns com o objetivo de que os filhos nasçam argentinos. Imigração fala em máfias.

    Índice

    Índice

Maria Konovalova fala inglês com um ligeiro sotaque do Leste europeu. “Quando não tens filhos é perigoso, claro, porque podes ir para a prisão, só porque alguém quer que vás para a prisão. Mas podes mudar-te, tentar fazer alguma coisa. Correr, se for caso disso.” Maria é russa e fala sobre o seu país. Tem 26 anos e está grávida. Chegou à Argentina a 9 de fevereiro, sozinha, longe de imaginar que iria ser notícia em vários jornais. Foi detida pela Imigração no aeroporto, com mais cinco mulheres, mas antes dessa história conta outra, a da guerra e repressão que a levou a deixar o seu país. “Se tens um filho — diz, voltando a falar sobre a Rússia —, o governo tem uma grande forma de te pressionar.” Um dos seus maiores medos, confessou ao Observador, era que lhe tirassem a criança.

Maria é contra a guerra na Ucrânia e faz parte da comunidade LGBT, alvo de severas leis na Rússia. “Não foi uma gravidez planeada. Quando soubemos que estava grávida, percebemos que tínhamos de nos mudar por ser perigoso. Somos poliamorosos, vivemos numa família de três, eu e os meus dois maridos”, partilha a futura mãe, durante uma conversa telefónica. A Argentina, um destino cada vez mais procurado pelos russos, tornou-se também a sua escolha. A sua detenção no aeroporto à chegada, o terem-lhe dito que iria ser expatriada, acabou por ser diferente do que esperava encontrar. Mas nem por isso pensou regressar à Rússia. E da Argentina continua a falar com gratidão.

Em janeiro deste ano, o número de russos que chegaram ao país foi quatro vezes superior ao de janeiro do ano anterior (4.523 versus 1.037). As mulheres, com gravidez avançada, saltam à vista todos os dias nos aeroportos argentinos — Maria estava de 26 semanas, pouco mais de seis meses, quando foi detida. E, todos os dias, nos hospitais nascem crianças argentinas, filhas de pais russos. A lei do país, com uma política de jus solis, assim o dita: quem nasce na Argentina é argentino. Os pais do bebé poderão pedir o visto de residência permanente e o passaporte mais tarde.

O passaporte argentino é considerado um dos mais fortes do mundo, devido ao elevado número de países em que o seu portador pode entrar sem visto.

"Cheguei por volta da 11 da noite e nas cinco ou seis horas seguintes ficámos à espera da decisão do controle de passaportes, do gabinete de Imigração. Então disseram-nos que todas as grávidas que tinham chegado com as mães, com os maridos, com os filhos, iam ser autorizadas a entrar no país. Três mulheres, eu incluída, do meu voo, que chegamos sozinhas deveríamos voltar para a Rússia."
Maria Konovalova

Por que motivo Maria saiu da Rússia? “Nem sei por onde começar. Em primeiro lugar, pela guerra, claro. A segunda grande razão é o Presidente e a forma como ele age. Quando vives na Rússia, não sabes quando, nem de onde, algo de mau te vai acontecer”, conta a professora de inglês para crianças. “Depois de 24 de fevereiro, percebemos que Putin conseguia fazer qualquer coisa. Realmente qualquer coisa.” Muitos russos eram contra a guerra, conta Maria, lamentando que o Governo e o Presidente possam fazer o que quiserem. “As pessoas simples não têm poder para mudar nada. Se és contra o governo, podes ser preso e não me parece que seja um país confortável para viver.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O facto de ter sido aprovada a nova lei que proíbe a chamada “propaganda de relações sexuais não tradicionais” entre todas as faixas etárias só aumentou os temores de Maria.

Milhares de crianças ucranianas institucionalizadas transferidas e adotadas na Rússia

“Isto, por exemplo, aconteceu muitas vezes: a polícia vai a tua casa e tira-te o teu filho. ‘Tu não és como nós queremos, é mau para a criança, ele não devia ver, és um mau pai.’ E, sim, podem tirar-te o filho, e esse é o meu maior medo.” Maria recorda que houve muitos casos em que pais russos tiveram de fugir da Rússia com os filhos só por serem da comunidade LGBT. “Houve um caso há um ano ou dois: uma mulher que escrevia um blog, como se fosse um homem, e a polícia tentou tirar-lhe as crianças. Ela fugiu para a Alemanha. Esta é uma história normal na Rússia.”

GettyImages-56263060

Em janeiro deste ano, o número de russos que chegaram ao país foi quatro vezes superior ao de janeiro do ano anterior (4.523 versus 1.037)

Getty Images

O incidente do aeroporto: tudo começa com seis grávidas russas

Até sair do avião, tudo correu como esperado. Maria chegou às 11 horas da noite ao maior aeroporto internacional da Argentina, conhecido como Ezeiza, província de Buenos Aires, embora o nome oficial seja Ministro Pistarini. Durante cerca de cinco horas ficou à espera da decisão do controlo de passaportes e do Gabinete de Imigração.

Finalmente, alguém apareceu para falar com os passageiros. “Disseram-nos que todas as grávidas que tinham chegado com as mães, com os maridos, com os filhos, iam ser autorizadas a entrar no país. Três mulheres do meu voo, eu incluída, que chegámos sozinhas deveríamos voltar para a Rússia”, relembra Maria, sublinhando que nenhuma das três falava espanhol.

“O homem que nos explicou o que estava a acontecer disse que era estranho estarmos sozinhas e grávidas. E que tínhamos dito que éramos turistas, quando não éramos. Mas todos os outros disseram as mesmas coisas. Eles entraram, nós não. Foi estranho, foi injusto. Não fiz nada de mal, de errado. Tinha dinheiro, um bilhete de regresso, tinha tudo”, sublinha Maria Konovalova. “Houve muita gente a dizer que nós não tínhamos nada. Nós tínhamos. Tínhamos tudo o que precisávamos. Mas não nos deixaram entrar.”

Foi nessa altura que Maria sentiu a primeira diferença entre o seu país e a Argentina. Escreveu o que estava a acontecer num chat de Telegram e um argentino ofereceu-se para a ajudar, mesmo sem a conhecer. Foi ao aeroporto e arranjou-lhe um advogado.

“Foi tão pouco usual para mim. Na Rússia não encontras essa simpatia, não se preocupam contigo, a não ser que sejas um amigo ou familiar”, frisa. No dia seguinte, com ordem para regressar à Rússia no primeiro voo disponível, Maria e as duas outras mulheres foram levadas para os portões de embarque. “Tínhamos guardas. Mas para quê? Não podíamos fugir, tiraram-nos os passaportes. Os guardas iam connosco para todo o lado, íamos à casa de banho com eles, se quiséssemos água ou comida tínhamos de lhes pedir para virem connosco”, recorda Maria.

Assim foi durante 24 horas, mas houve um momento em que o grupo de grávidas se tornou maior. “Havia mulheres que já lá estavam há três dias. Finalmente, puseram-nos todas juntas, porque era mais fácil guardar-nos assim. Depois, tivemos um julgamento online. Tínhamos dois advogados, três mulheres para cada um deles”, conta a jovem russa. Esses advogados foram Liliana Rubysiuk e Christian Rubilar, que também falaram com o Observador.

Liliana Rubysiuk lembra que no voo destas três mulheres vinham vários cidadãos com passaporte russo, e várias grávidas acompanhadas. No total, foram seis grávidas detidas no aeroporto, de voos que desembarcaram entre 7 e 9 de fevereiro. “Elas chegaram em três voos diferentes. Uma delas estava detida desde terça-feira, chegaram mais duas na quarta, e três na quinta. E desde o dia da chegada, todas ficaram detidas, até sexta-feira, 10 de fevereiro, sem poder entrar na República Argentina.”

“Espero que esta seja a nossa casa durante muito tempo”, confessa Maria. “Só quero viver. É tudo estranho e novo para nós e estamos embriagados pela liberdade."

Daniel Berehulak/Getty Images

Segundo a advogada, a Imigração alegou que as seis mulheres declararam falsamente o seu propósito de viagem. “Não vinham para fazer turismo, mas para ter o seu bebé na Argentina. Com este pretexto, disseram que não as podiam deixar entrar. Apresentou-se um habeas corpus, pedimos uma audiência ao juiz federal e ele considerou que se estava perante uma detenção sem motivos.”

Na Argentina, explica Liliana Rubysiuk, não há, como noutros países, declarações de negócios ou de turismo. “Temos um convénio com a Federação Russa de ter livre entrada por 90 dias. Mesmo sem especificar o motivo, elas tinham direito a entrar. E esses 90 dias podem ser prorrogáveis por outros 90.”

A decisão do juiz permitiu que as seis mulheres saíssem do limbo e, com a sua ordem, a Imigração deixou-as entrar na Argentina. “Foi uma detenção ilegal por ter sido uma coerção ilegal. Ficaram numa zona franca, de intermédio, sem condições, e ali estiveram à espera, com a Imigração a exigir que a mesma companhia as levasse ao local de origem”, esclarece a advogada. No entanto, o juiz considerou que não tinham nada de diferente em relação às outras pessoas que chegaram nesses voos.

“Apenas havia uma diferença: estavam sozinhas. Portanto, a Imigração justificou-se com uma disposição legal que não existe. Foram libertadas sábado à uma da manhã. Estão no país, estou em contacto com elas e está tudo bem”, acrescenta Liliana Rubysiuk.

Pelo menos 3.500 detidos na Rússia por se manifestarem contra invasão

Entre as conversas que Maria Konovalova teve com as outras mulheres, enquanto estavam impedidas de entrar na Argentina, percebeu que duas delas já tinham os maridos em Buenos Aires, mas esse argumento não convenceu a Imigração.

Os maridos que já se encontravam na Argentina, sendo reservistas, podem ser considerados desertores da Federação Russa. Esse é o entendimento do advogado Christian Rubilar, que diz que entre as três grávidas que representou há quem seja casada com um desertor do exército russo e quem tenha família ucraniana — motivos que seriam suficientes para serem consideradas refugiadas, na sua opinião.

“Na leitura do habeas corpus, o procurador interrogou os representantes da Imigração e eles disseram que elas foram presas por serem mulheres, porque estavam grávidas e porque não estavam escoltadas por um homem. Foi absolutamente hilariante. Este critério é aceitável se estiveres no Afeganistão, mas não se estiveres em Buenos Aires”, argumenta Rubilar.

"Há montes de russos na rua. A sério. Estamos sempre a ouvir falar em russo. Mas há outra coisa curiosa. Sinto que, no estrangeiro, as pessoas russas se evitam umas às outras. Sentimos-nos envergonhados. Nas ruas falo inglês, não russo. Sinto vergonha de ser russa neste momento, porque o meu país começou uma guerra. E mesmo na Argentina nem sempre os russos se portam da melhor maneira. Todas aquelas agências... Fico envergonhada por ser da mesma nacionalidade que elas." 
Maria Konovalova

No mesmo voo, diz o advogado, havia mais 25 grávidas, mas que estavam acompanhadas e não tiveram problemas. “O juiz disse ter provas suficientes para afirmar que houve discriminação por serem mulheres e ordenou a sua libertação imediata e isto nunca mais voltará a acontecer”, acrescenta Rubilar. “Foi um precedente que conseguimos. Nunca mais voltarão a prender ninguém no aeroporto, especialmente mulheres grávidas.”

Feliz com a libertação, Maria percebeu pouco sobre o que estava a acontecer na audiência virtual. “Entrámos por zoom, foi muito estranho para mim, não imaginava que pudesse ser online. Depois, não percebíamos nada, era tudo em espanhol. Havia um tradutor russo, mas só traduzia as perguntas que nos faziam e as respostas que nós dávamos. O resto não.” Mesmo sem perceber o resto, Maria percebeu o essencial: o juiz decidiu a favor dos pedidos de habeas corpus — documentos a que o Observador teve acesso — e todas as seis grávidas puderam entrar na Argentina.

Os números, o turismo de passaporte e as redes mafiosas

A pergunta foi direta: “Há algum problema por estas mulheres quererem vir para a Argentina?” A resposta foi dada por Florencia Carignano, que chefia a Direção Nacional de Migração do país, numa videoconferência com jornalistas de diversos jornais nacionais e estrangeiros — gravação a que o Observador teve acesso.

“Não é um problema que venham viver para cá, desde que o façam da forma correta”, afirmou Florencia Carignano, na conferência de 13 de fevereiro. Foi nessa altura que os números ficaram claros, depois de vários dias de confusões, e de terem sido apontados valores que um dos advogados das grávidas, Christian Rubilar, considerou irreais. Nos dias anteriores, várias declarações da diretora causaram polémica, num país que vive de braços abertos à imigração. “Não podemos transformar o nosso país numa maternidade para o mundo inteiro”, chegou a dizer, repetindo a frase quase ipsis verbis na conferência de imprensa.

Desde janeiro de 2022, e até à data, entraram na Argentina cerca de 22.200 cidadãos russos, segundo os números oficiais: 10.776 mulheres e 11.399 homens. Entre as russas, a diretora de Migração diz não saber quantas estavam grávidas, porque essa não é uma pergunta que se faça a quem chega ao país.

Desde então, mais de metade dos cidadãos russos que entraram já abandonaram o país e, de novo, com números muito semelhantes na divisão por género. Dos mais de 13 mil que saíram, 6.733 eram do sexo masculino e 6.401 do feminino.

Outro dado revelado por Florencia Carignano foi sobre os pouco mais de 9 mil russos que ficaram na Argentina, embora a diretora de Migração não tenha revelado se eram homens ou mulheres. Menos de um terço (2.412) deu início ao processo para pedir residência, e a diretora não esclareceu se eram vistos temporários, concedidos por dois anos, ou permanentes —  aqueles a que se podem candidatar diretamente pessoas com familiares argentinos ou os que completaram o tempo exigido de permanência no país. Esta seria a situação das grávidas cujos filhos nasceram na Argentina.

GettyImages-1239956182

“Não vinham para fazer turismo, mas para ter o seu bebé na Argentina. Com este pretexto, disseram que não as podiam deixar entrar, explica uma advogada

Photonews via Getty Images

No entanto, foi avançado mais um número: 1.026 candidaturas foram pedidas por requerentes que têm um familiar argentino (neste caso, pedido de residência permanente que dá direito à cidadania). A explicação dada pela Migração foi a de que estes pedidos podem obviamente ser referentes a filhos nascidos no país, mas também a pessoas que se casaram com argentinos (nascidos no país ou naturalizados por opção).

Assim, olhando para os números globais, cerca de 10% dos russos que aterraram na Argentina nos últimos 14 meses iniciaram o processo burocrático para alcançarem a residência. Outro dado destacado na conferência de imprensa foi o aumento exponencial de um ano para o outro. Em janeiro de 2022, antes do início da guerra na Ucrânia, 1.037 russos entraram no país. No ano seguinte, no mesmo mês, o número aumentou mais de quatro vezes, com 4.523 cidadãos da Federação Russa a chegar a território argentino.

Voltando à questão sobre se é um problema para a Migração ter tantos russos a querer instalar-se na Argentina, Florencia Carignano prefere recordar a existência de máfias e a possibilidade de algumas destas pessoas serem vítimas de redes de tráficos. “Há máfias”, disse. “Nós adoraríamos que viessem para cá, o problema é que não querem vir, querem o passaporte.”

À pergunta sobre quantas das pessoas pediram residência permanente e também passaporte, Florencia Carignano não soube responder. “A Migração não dá passaportes, dá residências. O resto é com a justiça.”

Os advogados das seis mulheres detidas no aeroporto reconhecem a existência deste turismo de nascimento que, na Argentina, é mais do que isso: é turismo de passaporte.

“Estas mulheres aparecem grávidas porque o seu propósito é ter um filho argentino e, depois, conseguir a sua residência permanente através do filho. Mas isto não é ilegal. É uma zona cinzenta. Não há nenhuma lei que diga que não se pode fazê-lo”, refere Liliana Rubysiuk. Entre os muitos clientes que tem, a advogada vê muitos russos que querem mudar-se para a Argentina, com uma residência temporária, e decidir o futuro mais tarde. Outros, diz, claramente fazem parte do grupo de homens que podiam ser mobilizados, mas não falam na guerra. Dizem apenas querer mudar de vida.

"Mudei-me por causa do casamento, tenho alguns amigos chegados que foi por causa do casamento também — conheceram-se no Mundial na Rússia. E depois começou a tornar-se popular o turismo do passaporte, ou seja, ter um filho a nascer na Argentina. Uma vez que é um país de imigrantes é super aberto e é um dos países mais fácil de obter o passaporte."
Ekaterina Nekrasova

Maria, já depois de ter encontrado um apartamento que alugou por seis meses e espera renovar por outro tanto, começou a dar mais atenção às notícias que falavam sobre turismo de passaporte e redes mafiosas.

“Acabei por perceber, através de chats e de notícias, que há, de facto, agências que nos usam, a nós mulheres russas, para vender a sua gravidez a um homem rico, de forma a que eles fiquem com passaporte argentino, registados como pais da criança. E a Imigração estava com medo de que fossemos essas mulheres, que estivéssemos ali para vender os nossos filhos”, detalha a grávida russa, que ainda está a algumas semanas de ver nascer o seu filho.

Acredita que o receio da Imigração é de que “algo de mau esteja a acontecer”, tentando evitar a atuação de redes mafiosas. “Estavam a olhar para nós como criminosas, e foram os advogados quem disseram que nós éramos vítimas. Só posso falar por mim, mas eu não era nem uma vítima, nem uma criminosa. Era apenas uma mulher”, acrescenta Maria.

Sobre as agências — algumas sob investigação na Argentina —, Maria só conheceu o outro lado. “Encontrei agências que estão prontas para ajudar com os papéis e outras coisas, mas vi os preços que praticam e disse ‘não obrigada’. Eu resolvo tudo sozinha.”

“Há de certeza uma rede de tráfico humano”, afirma o advogado Christian Rubilar. Há, de facto, sites conhecidos e referidos pela imprensa argentina, que prestam informação aos russos que querem chegar a Buenos Aires. O problema é outro. “Eles dão informação falsa aos russos. Fingem ser especialistas, advogados, cobram 500 dólares por uma consulta e dizem às pessoas que podem vir à Argentina, ter o bebé e partir, e não precisam de voltar para vir buscar o passaporte. Isto é falso, é mentira”, frisa o advogado, especialista em Imigração.

Ao Observador, Rubilar conta que há uma história que ouve cada vez com mais frequência: “Muitos clientes dizem-me: ‘Chegámos aqui, através desta fraude, e agora queremos saber qual é a realidade.’ E eu explico que, depois de ter o bebé, têm de viver na Argentina pelo menos sete meses. Tens de estar cá para dar início ao processo. De outra forma, é impossível.”

Uma coisa, sublinha o advogado, é haver uma agência que trata das viagens, outra que tem intérpretes, outra que tem táxis. “Quando tens toda a cadeia de produção, desde captar as pessoas fora do país com uma mentira, quanto te pagam imenso dinheiro, quando os advogados são falsos e tudo termina com uma mentira, então tens tráfico. Não tem de ser algo sórdido. Feio. Mas é uma rede de tráfico”, afirma Rubilar.

Na opinião do advogado, esse é também o motivo porque dizem às mulheres para viajarem no final da gravidez. “É tudo muito rápido quando chegam à Argentina, não têm tempo de consultar um advogado, têm o bebé e é demasiado tarde. A mentira continua.”

GettyImages-1243409360

Protestos nas ruas de Moscovo depois de anunciada a mobilização parcial

Getty Images

América Latina tornou-se o destino preferido dos russos

Os dedos de uma mão de Vladimir Rovinski, russo de nascimento, professor na Universidade Icesi, na Colômbia, chegam para enumerar os motivos por que a Argentina, e a América Latina em geral, passaram a ser um El Dorado para os russos. Não são precisos visas para viajar, as leis de imigração são abertas, a qualidade de vida é boa e os preços são acessíveis, frisa o professor associado do Departamento de Estudos Políticos.

A sua história não se enquadra nas dos russos que agora viajam para aquele continente. Chegou à Colômbia, ainda jovem, com a mulher, ambos com convites para dar aulas na universidade, em 1997, “quando a Rússia era um país muito diferente”.

Hoje, descreve aqueles que vê chegar aos países latino-americanos como russos de classe média alta, que têm experiência de ter os seus próprios negócios na Rússia e não têm medo de fazê-lo, de novo, na América Latina.

“Uma das razões é técnica”, diz ao Observador, em videoconferência a partir de Cali, a terceira cidade mais populosa da Colômbia, com mais de 2,3 milhões de habitantes. “Os detentores de passaportes russos podem viajar para qualquer ponto da América Latina sem precisar de visa. É uma das poucas regiões do mundo que oferece este luxo aos russos. Compras um bilhete, entras no avião e estás aqui.”

A outra explicação é a mudança nas leis. “Vários países latino-americanos estão a tornar as suas leis de imigração muito mais flexíveis. São muito mais abertos à migração, em relação ao que eram há 30 ou 40 anos. A Argentina é um dos países que sempre recebeu bem os imigrantes, mas outros países tinham leis mais restritivas.” Na opinião de Vladimir Rovinski, esses países não consideravam os imigrantes importantes para a economia, cenário que mudou significativamente.

“O terceiro fator é que a qualidade de vida na América Latina é muito melhor do que costumava ser. As pessoas estão muito conscientes das condições e das oportunidades de quem vem para a América Latina”, explica. Como? Graças às redes sociais e pelo número elevado de comunidades online de russos estabelecidos nesta zona do mundo. “Normalmente conhecem alguém que facilita esta movimentação. Antes era uma grande distância para uma zona inexplorada. Agora é mais fácil.”

A capacidade financeira de quem viaja, aliada aos grupos de advogados e empresas especializadas, torna tudo mais fácil. “São russos de classe média alta, têm dinheiro para investimentos iniciais, para poderem pagar a advogados que facilitam a mudança, têm dinheiro para sustentar a sua estadia durante algum tempo, durante seis meses, um ano.”

A comparação que pode ser feita é com a Europa e os EUA já que, olhando para o custo de vida, a América Latina é bastante acessível. As sanções impostas a cidadãos russos e a forma como as fronteiras se começaram a fechar também os levou para outras paragens.

“O custo de chegar à América Latina é proibitivo para pessoas pobres. A língua também é uma barreira, mas para as pessoas com muito dinheiro é uma oportunidade, por causa das sanções na Europa e nos EUA”, destinos que, argumenta Vladimir Rovinski, seriam os preferidos dos russos. Muitas pessoas estão a chegar à América Latina pela primeira vez. Não conhecem o país que escolheram, mas como as portas da Europa estão fechadas, e sabem onde arranjar informação porque são muito qualificados, encontram na internet a informação de que precisam para decidir o destino. “O Facebook está cheio de grupos. Russos na Costa Rica, na Colômbia. Reparei que há um grupo dedicado a arranjar emprego a médicos russos na Argentina ou no Chile. É muito interessante.”

GettyImages-1243930727

A 21 de setembro, um dia depois de ter anunciado a anexação de quatro províncias ucranianas — Donetsk, Lugansk, Zaporíjia e Kherson — Putin anunciou a mobilização parcial

AFP via Getty Images

Nada disto acontecia antes. A América Latina simplesmente não era atraente para os russos que preferiam mudar-se para a Europa, por várias razões: pela proximidade geográfica e porque muitos têm amigos e familiares na Rússia. “Antes da guerra, era fácil viajar, especialmente para a classe média alta de Moscovo, São Petersburgo, de Ecaterimburgo e de outras grandes cidades russas. Viajavam para Praga, durante o fim de semana, só para beber cerveja e aproveitar a vida. Para Itália e outros sítios muito acessíveis”, recorda Vladimir.

Na memória, tem a visão de painéis com as chegadas e partidas, onde os destinos se multiplicavam. “Se estiver num dos quatro aeroportos em Moscovo vê-se literalmente centenas de voos para todos os cantos da Europa. Os russos definitivamente escolhiam a Europa”, conclui.

Havia uma nuance, apesar de tudo. Na parte asiática da Rússia, a escolha é a Tailândia. “Tenho alguns amigos que decidiram mudar-se para a Tailândia no ano passado. Têm familiares na Sibéria, e é mais fácil manterem contacto com a família. A China é outro desses sítios.”

As leis, a guerra, e a mobilização parcial

“Isto começou antes da guerra”, recorda Vladimir Rovinski. “Os primeiros sintomas começaram com as mudanças que Putin fez à Constituição em 2020. Muitas pessoas tiveram medo porque sentiram que as coisas estavam a mudar. Havia um certo consenso de que Putin fazia o que fazia, mas que não seríamos prejudicados individualmente”, recorda o professor de Ciência Política e Relações Internacionais.

No verão de 2020, o referendo à Constituição Russa permitiu mudanças como, por exemplo, ser possível a Vladimir Putin continuar a governar a Rússia até 2036, já que desapareceram as anteriores restrições ao número de mandatos presidenciais (em 2036, Putin terá 83 anos). O seu poder também aumentou, tendo mais meios para dissolver o parlamento e a possibilidade de demitir juízes federais. O casamento gay foi proibido na Constituição.

Nessa altura, conta Vladimir Rovinski, muitas pessoas começaram a pensar que a Rússia não era um país onde quisessem viver. Começaram a considerar algumas opções, mas não era urgente. “Com a guerra isso mudou, passou a ser urgente, as pessoas querem sair enquanto é possível porque começámos a pensar que, em algum momento, Putin começaria a impedir a saída do país.”

"Setembro chegou e começou a mobilização. Foram tempos muito stressantes, os meus maridos podiam ser mobilizados e ser enviados para uma guerra que são contra. E era assustador porque podiam fazê-lo de uma forma que não é legal. Andavam a apanhar homens na rua, mandavam-nos para a esquadra da polícia e eram mobilizados. Foram tempos assustadores, porque de manhã eu via-os sair para o trabalho e não estava certa de que os ia ver de novo à noite."
Maria Konovalova

Isso não aconteceu, embora fosse um dos grandes medos de Maria Konovalova a partir de fevereiro de 2022. “Foi um tempo assustador. Todos os dias esperávamos más notícias. Levantas-te. Ouves as notícias. O que aconteceu hoje? Fechaste as fronteiras? Deste oficialmente início à guerra? O que é que fizeste hoje? Nada. Uau. Que presente!”, recorda a jovem russa, lembrando o temor que tinha de novas decisões de Putin.

Embora as fronteiras estejam abertas aos russos, há outras mudanças que desassossegam quem não está de acordo com o regime. “Até agora não aconteceu proibir saídas, mas tudo isto, as novas leis, as declarações de que irão confiscar as propriedades de quem deixar a Rússia, as ameaças de que lhes ser retirada a cidadania russa… Isto contribuiu para um ambiente em que as pessoas querem sair o mais depressa possível”, acredita o professor.

Em janeiro, um velho aliado de Putin, Vyacheslav Volodin, porta-voz da Duma, sugeriu que as propriedades dos “canalhas que partiram e vivem confortavelmente graças ao nosso país” sejam confiscadas. No seu canal de Telegram frisou que estas pessoas saem do país, mas alugam os seus imóveis continuando a receber dinheiro à custa de outros russos.

Estudante russo condenado a oito anos e meio de prisão por desacreditar Exército russo

As fronteiras não fecharam, os russos não foram expropriados pelo próprio país, mas uma lei mudou tudo e levou a um êxodo. A 21 de setembro, um dia depois de ter anunciado a anexação de quatro províncias ucranianas — Donetsk, Lugansk, Zaporíjia e Kherson — Putin anunciou a mobilização parcial. O objetivo era levar 300 mil reservistas para a batalha

Em relação às mães que têm filhos na Argentina, o deputado da Duma reagiu de forma semelhante, a 11 de fevereiro, falando na possibilidade de mudar leis. “Quem vai ter filhos no exterior não deve pedir apoio estatal”, disse Vitaly Milonov em entrevista à rádio Govorit Moskva, falando em específico das mães que escolhem a Argentina para garantir dupla cidadania para si próprias. “Acho que o Estado está interessado em ajudar as mães russas, mas se elas querem tornar-se mães argentinas, deixem que seja a Argentina a cuidar delas.”

O que é que a Argentina tem que os outros países não têm?

Com toda a América do Sul à disposição, por que motivo a Argentina está a receber mais cidadãos russos do que outros países vizinhos? “A Argentina não é o único país que oferece cidadania por nascimento”, recorda o professor catedrático. “Na Colômbia, onde eu vivo, não oferece. Portanto não faria sentido grávidas virem para aqui. Mas na Argentina e no Chile fazem-no e o passaporte do Chile é até mais poderoso do que o argentino — podem entrar nos EUA sem visa.”

O problema, acrescenta Vladimir, é outro. No Chile, por exemplo, é muito mais complicado dar cidadania aos pais da criança.

Ekaterina Nekrasova é de Volgograd, antiga Estalinegrado. Saiu da Rússia em 2017 e a Argentina foi o seu segundo destino de imigração. Não pelo passaporte, mas pelo marido. Esteve no Dubai e trabalhava como tripulante de bordo para a Emirates Airlines quando, no seu primeiro voo para a América do Sul, conheceu o futuro marido. “Ele era meu passageiro. O meu voo com ele foi entre Buenos Aires e Rio de Janeiro, e foi o ponto de viragem para a minha imigração para a Argentina.”

"Para os russos, a vinda para a Argentina começou antes da guerra, uns anos antes. Mas desde o ano passado houve um boom. As circunstâncias atuais também ajudam. Algumas pessoas que têm oportunidade de sair do país, especialmente agora durante a guerra, que é muito mais difícil e caro, preferem sair. As grávidas, estas famílias, também preferem deixar a sua terra e viver pacificamente. Embora não sei que paz encontrarás enquanto continuas a ler as notícias e a saber o que se passa."
Ekaterina Nekrasova

Em março de 2019 casou e festejava o quarto aniversário de casamento quando falou com o Observador. Ekaterina é uma das pessoas sem medo de arriscar, de que fala o professor Vladimir Rovinski: criou o seu próprio negócio, a venda de tortas de mel tipicamente russas, pelo qual é bastante famosa. E essa exposição na internet torna-a uma fonte que muitos “falantes de russo”, como prefere dizer, procuram em busca de conselhos.

“Foi decisão minha sair da Rússia, embora na altura pensasse que ia regressar. Agora passaram mais de seis anos desde que deixei o meu país. Foi perfeito, primeiro estava a adorar o meu trabalho, a viajar à volta do mundo, depois mudei-me para a Argentina. Temos algumas semelhanças, por isso não foi muito difícil adaptar-me à nova cultura, mas, ao mesmo tempo, tive as minhas lutas”, conta. No final, “super ama a Argentina” e a sua vida ali.

Quanto à comunidade russa, diz que recentemente começou a crescer, muito mais do que antes. “Eu mudei-me por causa do casamento, tenho alguns amigos chegados que mudaram pelo mesmo motivo — conheceram-se no Mundial na Rússia. E depois começou a tornar-se popular o turismo do passaporte, ou seja, ter um filho a nascer na Argentina, uma vez que é um país de imigrantes é super aberto e é um dos países onde é mais fácil obter o passaporte.”

Tal como Vladimir Rovinski, acredita que o fluxo para a Argentina começou antes da guerra. “Mas o ano passado houve um boom. As circunstâncias atuais também ajudam. Algumas pessoas que têm oportunidade de sair do país, especialmente agora durante a guerra, que é muito mais difícil e caro, preferem sair. As grávidas também preferem deixar a sua terra e viver pacificamente. Embora, não sei que paz encontrarás quando continuas a ler as notícias e a saber o que se passa.”

Como faz bolos tradicionais russos, as vendas são uma forma de saber como anda a imigração, já que foi sentindo as diversas vagas com os aumentos de venda: muitas vezes acontece ter diversas entregas no mesmo dia e são todas para falantes de russo. “Agora tenho 39 nacionalidades de clientes que adoram os meus bolos. Ultimamente comecei a perceber que tinha mais falantes de russo — também há muitos ucranianos a mudarem-se para cá. Antigamente, era um mix, agora a maioria são falantes russos. Com base no meu trabalho, posso dizer que a imigração teve um novo boom.

Como blogger, recebe perguntas frequentes sobre a vida na Argentina. “Até sobre o clima recebo perguntas frequentes”, diz, rindo.

Se acredita que a guerra teve um papel muito importante na ida de russos para a Argentina, o país já era popular antes. “Passou para outra escala, com cada vez mais reportagens e entrevistas a ser publicadas. A Argentina, para quem tem trabalhos online, ou para quem tem as suas próprias empresas na terra mãe, é fácil de viver. E está a ficar cada vez melhor. Podemos ter uma super vida aqui.”

No caso de Maria Konovalova, o turismo de passaporte não foi o elemento determinante. Quando a família de três começou a pesquisar a Argentina como destino, fê-lo mais por curiosidade do que uma opção que levava muito a sério. No verão, uma notícia mudou a maneira como olhava para o país. “Houve uma situação parecida com a nossa em que os três pais tinham o seu nome no documento da criança. Dois pais e uma mãe. Era o nosso caso. Então, pareceu-nos um país interessante e começámos a ler mais sobre ele. Mas nunca muito seriamente”, relembra Maria.

Depois da mobilização parcial ter sido decretada na Rússia, tornou-se urgente tomar uma decisão. “Decidimos ir para a Argentina, por causa daquele caso de poliamorosos, pensei que iríamos os três e que, de alguma forma, iríamos viver ali. Em dezembro, o meu segundo marido decidiu ir para outro país. Decidiu que a Argentina não era para si. Como gostava de tudo o que tinha lido sobre este país, decidi vir à mesma.” Maria diz que a forma como o país abraça os imigrantes foi também decisiva e acreditou que na Argentina não se sentiria uma pessoa estranha. Voou primeiro e um dos seus maridos chegou duas semanas depois, já resolvido o incidente do aeroporto.

“Espero que esta seja a nossa casa durante muito tempo”, confessa Maria. “Só quero viver. É tudo estranho e novo para nós e estamos embriagados pela liberdade. Quando se vive na Rússia não se percebe o que é a liberdade. Os teus amigos estrangeiros dizem-te que podes ser quem tu quiseres. Percebes o que isso quer dizer, claro, mas não percebes o que é senti-lo”, relata a jovem russa de 26 anos.

Na rua, está sempre a ouvir a sua língua materna. “Há montes de russos na rua. A sério. Estamos sempre a ouvir falar em russo. Mas há outra coisa curiosa. Sinto que, no estrangeiro, as pessoas russas se evitam umas às outras, sentimo-nos envergonhados. Nas ruas falo inglês, não russo. Sinto vergonha de ser russa neste momento, porque o meu país começou uma guerra. E mesmo na Argentina nem sempre os russos se portam da melhor maneira. Todas aquelas agências… Fico envergonhada por ser da mesma nacionalidade que elas.”

Outra das coisas que notou foi a naturalidade com que pessoas da comunidade LGBT andavam pelas ruas de Buenos Aires. “Vimos casais gays, sem medo, de mãos dadas na rua. Era uma coisa tão normal para estas pessoas que eu me senti como uma selvagem, de uma ilha. Olha, olha, olha. Eles não têm medo. Uau.”

Ninguém fica chocado quando Maria fala de poliamor. E ao fim de um mês ainda não se habituou: “Estou chocada por poder ser eu mesma e nada de mal me poder acontecer por causa disso. Vamos tentar viver, não sobreviver. Vamos aprender a viver.”

Assine por 19,74€

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Assine por 19,74€

Apoie o jornalismo independente

Assinar agora