Índice
Índice
Eles é que são os presidentes da câmara. Eles é que defendem o território das investidas dos adversários. Eles são o saco de pancada em todos os debates em que participam. Fernando Medina, Rui Moreira, Basílio Horta, Carlos Carreiras, Hugo Martins, e Bernardino Soares andam por aí a convencer o povo de que são os melhores para continuar a presidir aos seus municípios — Lisboa, Porto, Sintra, Cascais, Odivelas e Loures. Com variantes: uns querem manter as maiorias absolutas, outros tentam ganhar maiorias que não tiveram, enquanto haja apenas que lute para não perder. As campanhas dos presidentes de câmaras são mais defensivas do que as dos desafiadores, apostam na propaganda da obra feita e os contactos com a população tornam-se numa espécie de gabinetes ambulantes de apoio ao munícipe. Quatro jornalistas do Observador acompanharam estes autarcas e contam o que viram: porcos no espeto, polícia a intervir em caravanas automóveis e presidentes cujo nome os eleitores não sabiam dizer. Muitas bandeiras, gritaria nas ruas, cor e animação, elogios e reclamações.
Lisboa. Medina lançado tenta evitar uma “geringonça”
Obra mais emblemática: O Eixo Central. A obra começou já com Medina em funções e reabilitou toda a via pública entre o Marquês de Pombal e Entrecampos.
Obra mais polémica: O Eixo Central. A realização do projeto virou do avesso a vida dos lisboetas, envolvidos em obras que ainda não estão completamente fechadas (que o diga quem passa em Entrecampos) durante largos meses.
Principal promessa: Proteger o mercado de habitação. As propostas não dependem apenas da câmara, mas Medina aposta nelas como prioritárias. A única que está na sua dependência é a criação de uma bolsa de casas de renda acessível, dirigida à classe média. O resto depende do Parlamento e do Governo.
Grau de conforto para a eleição: Pode dizer-se que é elevado. Mas a ambição de Fernando Medina é igualar Costa na maioria absoluta, ainda que não o proclame. É isso que o tem feito insistir com as pessoas que “não está ganho, que é preciso votar”. A fasquia está alta: 11 mandatos, 50,9% dos votos.
Numa esquina da Feira é abordado por três pessoas seguidas. Medina mostra-se disponível, ouve e muitas vezes até chama alguém do pelouro mais indicado: “Onde é que está a Paula [Marques, vereadora da Habitação]?”; “Ó Duarte [Cordeiro, vice na Câmara]!”. Depois de ouvir dá sempre uma de três resposta: promete que vai inteirar-se da situação; responde diretamente à questão; impacienta-se porque não concorda, porque considera a abordagem injusta, porque não gosta do tom.
Nestes últimos casos argumenta com os eleitores, muitas vezes impaciente a revirar os olhos e outras tantas a poisá-los no ecrã do telemóvel. Verifica mensagens, passa o dedo pelos emails. Tudo menos a conversa de que não gosta. Foi o que fez nessa tarde na Luz, quando uma senhora veio reclamar do surgimento em modo cogumelo das lojas “daqueles senhores do Paquistão”. Ali conteve-se na resposta, mas em Alvalade mostrou que não gostou de ouvir a mulher que lhe atirou: “Desaparece daqui que já enriqueceste!”. O caso da compra da casa onde reside nas Avenidas Novas estava fresco. O presidente-candidato respondeu-lhe: “Ai é? Não insulte as pessoas. Faça o favor de não insultar as pessoas”. Quando não gosta, ou responde, como fez nesta caso, ou despacha com um “ok, adeus” ou um “ok, está bem”.
Fernando Medina não é tido como caloroso entre quem o conhece melhor e trabalha de perto com ele, mas foi rápido a apanhar o ritmo da rua. Se nos primeiros dias cumprimentava as pessoas num estilo toca-e-foge e sem quase estabelecer contacto visual, à entrada da segunda semana da campanha, já ia em velocidade de cruzeiro na distribuição de beijinhos, apertos de mão, selfies e até abraços. Ajudou perceber que a sua cara é reconhecida por muitos dos que encontra na rua, mas também ajudou a prática dos primeiros dias.
Entre a caravana socialista que o acompanha chamam-lhe sempre “senhor presidente” e, nas ruas, quem o reconhece acaba por se dirigir a ele também nessa qualidade. Apesar de nunca ter sido eleito como cabeça de lista e de ter herdado, a meio, o mandato de António Costa — que em abril de 2015 deixou a cadeira de presidente ao seu vice, Fernando Medina, para concorrer às legislativas — o candidato socialista colhe as mesmas reações que suscita qualquer autarca que tenha cumprido o mandato completo.
E repete a maioria absoluta de Costa? Ninguém arrisca. Pelo sim pelo não, o candidato evitou manifestar preferências nesta campanha. Apesar de ter a “geringonça” a funcionar no Governo, sob a orquestração socialista, não dá de barato que a repita na câmara. Sobre isto diz, dentro do politicamente correto, que respeitará “o voto dos eleitores” e ainda que, mesmo conquistando a maioria absoluta, vai procurar estabelecer pontes. À esquerda, sobretudo no Bloco, desconfia-se desta intenção. De qualquer forma, acautelando o caso de necessidade extrema de negociação, Medina fez como o seu mentor na câmara, António Costa, e foi deixando tudo em aberto.
Em alguns momentos desta campanha tem ajudado a máquina partidária, que está em toda a força com Medina, bem como as grandes figuras do partido. António Costa já esteve duas vezes com o candidato, em tempo de campanha oficial, e vai participar na tradicional descida do Chiado, na sexta-feira. Não raras vezes, o candidato socialista conta com figuras de peso do Governo ou do PS. O caso mais emblemático desta campanha — pelo grau de insólito — foi o do ministro das Finanças. Mário Centeno participou numa visita a uma startup, coisa que é rara nas figuras que ocupam esta pasta.
A equipa de Medina vê em Centeno o rosto das boas notícias nesta fase do Governo e o próprio disse isso mesmo, ao lado do ministro: “É um dos principais responsáveis por puxar a economia do país para a frente”. Mas já teve também o ministro do Trabalho, Vieira da Silva, ou o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos. E a secretária de Estado do Turismo, a secretária de Estado Adjunta do primeiro-ministro ou o secretário de Estado da Defesa.
Do PS pesado contou com Ana Catarina Mendes, Manuel Alegre, Sérgio Sousa Pinto ou João Soares — um dos seus antecessores. E a lista de participações vai engrossar conforme a campanha se for aproximando do seu final. O candidato desvalorizou, em declarações ao Observador, esta antecipação do partido, dizendo apenas que “é importante ter apoio dos socialistas”.
Não faz referência aos cargos desempenhados por estes apoiantes. Nem admite diretamente que tenha uma relação privilegiada com o poder central que possa desbloquear alguns entraves. Até elenca problemas que antevê: “Não tenho dúvidas que várias questões em matéria de transportes vão ser de difícil gestão com o Governo central”. Mas a verdade é que conta com essa via direta que tem com o atual Executivo e também com uma fatia de peso na atual maioria de esquerda na Assembleia da República. Tanto que, quando fala nas suas propostas para proteger o mercado de habitação — que dependem do Parlamento — fala na importância do “peso político” que leva consigo. É um trunfo que exibe. Afinal é o homem a quem António Costa entregou a Câmara para concorrer ao cargo de primeiro-ministro, que acabou por ocupar. A proximidade entre os dois é grande.
Por estes dias, o candidato e presidente teve a agenda suspensa na Câmara Municipal de Lisboa. Não houve sequer reuniões de trabalho nos Paços do Concelho. Na pré-campanha não tinha sido assim, ainda que grande parte do tempo também fosse dedicado à preparação de debates que preencheram a sua agenda nesse período. A cadeira do poder em Lisboa está desocupada, mas o PS e Medina estão convencidos que a vão continuar sentar-se nela por mais quatro anos.
Nestes últimos casos argumenta com os eleitores, muitas vezes impaciente a revirar os olhos e outras tantas a poisá-los no ecrã do telemóvel. Verifica mensagens, passa o dedo pelos emails. Tudo menos a conversa de que não gosta. Foi o que fez nessa tarde na Luz, quando uma senhora veio reclamar do surgimento em modo cogumelo das lojas “daqueles senhores do Paquistão”. Ali conteve-se na resposta, mas em Alvalade mostrou que não gostou de ouvir a mulher que lhe atirou: “Desaparece daqui que já enriqueceste!”. O caso da compra da casa onde reside nas Avenidas Novas estava fresco. O presidente-candidato respondeu-lhe: “Ai é? Não insulte as pessoas. Faça o favor de não insultar as pessoas”. Quando não gosta, ou responde, como fez nesta caso, ou despacha com um “ok, adeus” ou um “ok, está bem”.
Fernando Medina não é tido como caloroso entre quem o conhece melhor e trabalha de perto com ele, mas foi rápido a apanhar o ritmo da rua. Se nos primeiros dias cumprimentava as pessoas num estilo toca-e-foge e sem quase estabelecer contacto visual, à entrada da segunda semana da campanha, já ia em velocidade de cruzeiro na distribuição de beijinhos, apertos de mão, selfies e até abraços. Ajudou perceber que a sua cara é reconhecida por muitos dos que encontra na rua, mas também ajudou a prática dos primeiros dias.
Porto. Moreira com uma campanha deslizante
Obra mais emblemática: Quando se apresentou a votos, em 2013, Rui Moreira elegeu como absoluta prioridade a aposta na Cultura. A melhoria da vida cultural da cidade é um dado reconhecido por todos, incluindo oposição. A municipalização do Teatro Rivoli é, talvez, o maior símbolo do mandato do autarca portuense.
Obra mais polémica: O Mercado do Bolhão. Foram criadas tantas expectativas que a obra se tornou não num elefante branco, até porque o projeto nunca saiu do papel, mas num grande elefante na sala do autarca. Quatro anos depois, o projeto está finalmente concluído e decorre o concurso público para a obra. A oposição, por sua vez, vai concorrendo entre si para ver que lembra mais vezes a promessa falhada por Rui Moreira.
Principal promessa: A requalificação da zona de Campanhã, seja através da concretização do Pólo Logístico em Campanhã, no edifício do antigo Matadouro Industrial do Porto — promessa não cumprida no anterior mandato — seja com a construção de um Terminal Intermodal de Campanhã.
Grau de conforto para a reeleição: Mesmo com sondagens mais tremidas, a reeleição não deve fugir a Rui Moreira. A meta da maioria absoluta — assumida esta quarta-feira — já não parece alcançável. Mas a história política do Porto já provou que as sondagens valem pouco.
O ponteiro mais pequeno do relógio aproxima-se a passos largos das 11 horas da noite. O Teatro Rivoli, no Porto, a romper pelas costuras, queda-se em silêncio. Começam a ouvir-se as primeiras palmas, em crescendo. No corredor central, surge a figura de Rui Moreira. A coreografia estava encenada para a entrada triunfal. O candidato, que já tinha subido ao palco para apresentar o manifesto eleitoral, saiu do edifício e voltou a entrar para a apoteose final. Minutos antes, tinha sido exibido um filme inédito dos bastidores da vitória eleitoral em 2013, que deixara muitos dos ali presentes em lágrimas. Lá ao fundo, no ecrã gigante, ilumina-se o símbolo da candidatura. E Rui Moreira subiria ao palco para assumir: “Apostámos tudo“.
Esta frase resume na perfeição o que tem sido a campanha eleitoral de Rui Moreira. Em maio, seriam poucos a arriscar um cêntimo que fosse contra a reeleição do autarca. Em bom rigor, em matéria de apostas, as probabilidades caíam todas para uma eventual maioria absoluta de Rui Moreira. Afinal, com o apoio do PS e a falta de comparência do PSD, que preferiu apostar num candidato pouco reconhecido a escolher um nome verdadeiramente forte para tomar a cidade, o presidente da Câmara do Porto tinha tudo para transformar as eleições num passeio. Mas o divórcio conturbado com Manuel Pizarro e a dificuldade em gerir o caso Selminho, um ás de espadas nas mãos dos adversários, parecem ter equilibrado ligeiramente a mesa onde se joga o futuro do Porto.
Desde os primeiros sinais de que as fichas lhe estavam a voar das mãos até à última semana de corrida eleitoral, a campanha de Rui Moreira parece ter entrado numa espiral de acontecimentos e contra-acontecimentos. Primeiro, o facto de ter faltado a alguns debates, sob o argumento de que tinha de gerir a agenda de presidente da câmara com a de candidato. Depois, a condução de uma campanha “discreta” — como classificou o próprio –, longe das ruas e dos grandes ajuntamentos populares, mais voltada para as visitas institucionais (mais protegida, também), sem cartazes (apenas quatro, que seriam colocados mais tarde) e sem a chama de uma verdadeira campanha eleitoral. Isto valeu-lhe acusações de “soberba”, “arrogância” e de falta de sentido democrático. “Rui Moreira acredita que tem o direito natural de se suceder a si próprio“, chegou resumir Manuel Pizarro.
Antes, durante e depois, o caso Selminho, com Rui Moreira a recusar-se entrevista após entrevista, debate após debate, a esclarecer o que quer que fosse, remetendo qualquer explicação para o que dissera em Assembleia Municipal, em entrevistas anteriores ou para conteúdo disponível na própria página da candidatura. No debate organizado pela RTP3, chegou a acusar uma jornalista do Público que escreve sobre o tema de manter conflitos de interesses por ser casada com um dos responsáveis pela assessoria do PSD — nota: a profissional em questão era divorciada há anos do visado. O pináculo de uma estratégia de comunicação desastrada.
O caso das sondagens da Universidade Católica — que dão um empate entre Rui Moreira e Manuel Pizarro –, foi o mais recente solavanco a travar a campanha do candidato independente, com acusações de “manipulação”, “erros grosseiros” e a sugestão de uma campanha em curso contra o autarca do Porto. De quem, como e com que propósito? Moreira não esclarece, limitando-se a repetir, de forma críptica, que “não aceita telefonemas de Lisboa”.
Na rua, no entanto, tudo parece ser diferente. Não sendo um candidato particularmente efusivo, é um fenómeno de popularidade. Sempre que foi testado, Rui Moreira cumpriu com distinção: em Ramalde, quando explicou pacientemente a uma senhora que não podia instalar um elevador no prédio porque o espaço era demasiado exíguo; ou em Campanhã, quando foi a uma IPSS local e aproveitou para cantar os parabéns a uma menina que celebrava os seus 98 anos e confortar a aniversariante, que se queixava de já não ter família, num gesto genuíno de afeto. “Pode adotar-me. A minha mãe não se importa, garanto-lhe“.
Pode ver aqui o Best of do Carpool do Observador com Rui Moreira:
Ou na Pasteleira, quando a responsável da associação de moradores lhe perguntou pelo estado de saúde da mãe e respondeu com carinho: “A minha mãe sofre de uma doença horrível: a mania das doenças. E automedica-se. Quando deixa de tomar medicamentos, fica impecável. Está muito melhor agora”. Ou em Ramalde, mais uma vez, quando brincaram com a sua barriga arredondada e respondeu com humor: “Já não tenho idade para perder pança”.
Na segunda semana de campanha eleitoral, o ambiente da candidatura e o semblante de Rui Moreira alteraram-se. Até a agenda pública — o candidato tem tido uma agenda privada que não divulga à comunicação social — se tornou mais intensa. Na tarde de quarta-feira, dia em que foi divulgada a sondagem da Católica, o candidato recusou-se a responder a mais perguntas dos jornalistas e afastou-se do local, gesto inédito nestas duas semanas. A comitiva que habitualmente o segue, ficou para trás e decidiu, como forma de apoio moral, aplaudir o candidato. Era o reconhecimento evidente de que as coisas não estão a correr como era previsto. As eleições de dia 1 de outubro vão permitir perceber se o all in de Rui Moreira foi ou não uma decisão acertada. O receio entre os simpatizantes do candidato é bem real: não o de ver fugir a maioria absoluta; mas o de perder o mandato nos Aliados para o seu antigo aliado.
Sintra. Basílio promete “absolvição geral” para o pós-eleições
Obra mais emblemática: centro de saúde de Queluz é a obra mais relevante com que o autarca de Sintra fecha o mandato.
Obra mais polémica: Sintra surge, em 2016, no final da lista de câmaras municipais da área metropolitana de Lisboa, no que toca às despesas. Isso, acusam os adversários, significa que foi também das que menos investimentos fez.
Principal promessa: o novo hospital de Sintra está a dar os primeiros passos e deverá estar concluído durante o próximo mandato.
Grau de conforto para a reeleição: a eleição é o cenário mais esperado. Maioria absoluta é uma incerteza.
A arruada junto à praia das Maçãs, em Sintra, estava a começar quando o núcleo duro de Basílio Horta — fundador do CDS, candidato independente nas listas do PS — se juntou, em pé, à volta de um tablet. Olhavam para os números de uma sondagem que estava para sair e que dava ao autarca um destaque na corrida eleitoral, a mais de uma dúzia de pontos de Marco Almeida, o independente que foi do PSD e que agora é apoiado pelo PSD. Era a terceira sondagem numa semana, sempre com o mesmo resultado, mais ponto, menos ponto. Na equipa, já ninguém duvida de que a vitória está garantida, mas a “contenção” continua a ser a palavra de ordem, até porque não há sinais de uma maioria absoluta.
Naquela manhã de domingo em que o Observador acompanhou a comitiva de Basílio Horta, o autarca de Sintra foi a Almoçageme mostrar obra feita. Localidade pequena, obra humilde. Um grupo de seis homens está sentado à sombra das novas instalações do espaço de convívio. Um cubículo de seis metros quadrados, três cadeiras encostadas à parede da direita, outras tantas à esquerda. “Isto ficou bem, foi como vocês pediram, han?”.
Pode ver aqui os melhores momentos do Carpool com Basílio Horta:
A campanha de Basílio tem servido para “espremer” o trabalho feito desde que assumiu funções. São “os últimos 100 metros de um processo que começou há quatro anos”, diz ao Observador. Basílio está tranquilo quanto à noite de 1 de outubro. Não festeja antes do tempo – “não gosto de triunfalismos” – mas por ali percebe-se que o resultado será mais dilatado do que se poderia imaginar há alguns meses. É que, há quatro anos, o autarca ganhou por uma margem de 1.700 votos.
Agora, é outra a dúvida que se impõe num dos maiores concelhos do país: para onde vai o candidato do PS virar as atenções no dia 2 de outubro para encontrar soluções de governo? “Tudo o que eu entender que serve melhor a comunidade, farei. E ponho questões pessoais fora de tudo”, garante Basílio Horta ao Observador.
Ressentimentos, se os há, não se confessam. Basílio sugere tréguas. “No momento em que for contado o último voto, se eu ganhar as eleições, há um clima de absolvição geral”, garante. Isso e lugares para todos os eleitos. “Quanto maior for a maioria, maior terá de ser a nossa generosidade, mais necessidade teremos que chamar outras pessoas”.
Cascais. Carreiras com porco no espeto. Domingo pode ser agridoce
Obra mais emblemática: O novo campus da Universidade Nova (School of Business and Economics) em Carcavelos. Embora não seja construído com dinheiro do município e ainda não esteja terminado, pode ser a obra do mandato. O município cedeu os terrenos, está envolvido no projeto e no próximo ano letivo devem entrar alunos.
Obra mais polémica: O Plano de Pormenor do Espaço de Reestruturação Urbanística de Carcavelos-Sul, que permite construção em zona que antes era baldia em terrenos próximos do mar.
Principal promessa: Criação de cinco mil postos de trabalho, com a instalação no concelho de fábricas como a Nestlé, a Legrand ou o pólo da Nova.
Grau de conforto para a reeleição: Carreiras já tem maioria absoluta. Na comitiva, todos acreditam que se repetirá.
Não havia tias, nem surfistas, nem os típicos estereótipos que se colam a Cascais. No Bairro da Irene, em Alcabideche, a direita — PSD e CDS estão coligados — organizou um churrasco com porco no espeto à moda antiga das campanhas. Entre os “jotinhas”, lá se viam os fios de prata entre as camisas abertas e o restante look “agrobeto” (sapatos de vela, calças de sarja, camisa e, por vezes, o polo enrolado à cintura) meio disfarçado por debaixo das t-shirts laranjas e azuis da coligação “Viva Cascais”.
A música pimba dava interpretações malandras à palavra “buraco”, ao porco no espeto juntavam-se fatias de pão, batatas fritas onduladas, refrigerantes numa arca de gelo, um barril de imperial e ainda uma roulote com farturas com fartura. Quando Carlos Carreiras chegou já estava a festa montada. E já o cabeça-de-lista à Assembleia Municipal, Luís Pedro Mota Soares, tinha uma bifana na mão, uma imperial na outra, mas com moderação: chegara minutos antes, como é habitual, a conduzir a própria vespa.
Churrascada da coligação PSD/CDS em Cascais. pic.twitter.com/fdekz4ec9e
— Rui Pedro Antunes (@RuiPAnt) September 24, 2017
Tanto Mota Soares como Carreiras, quando chegou a hora de almoçar, foram para o fim da fila com duas fatias de pão na mão, como qualquer popular. Se Sintra correr mal, o município maior conquistado pelo PSD (em coligação do CDS) poderá ser Cascais. A comitiva está confiante (o partido também), mas Carlos Carreiras — à semelhança do que tem feito Fernando Medina, — não quer deitar foguetes antes da festa: “Não há derrotas nem vitórias garantidas à partida. E, por isso mesmo, acredito que até ao final da campanha nós temos que apresentar todo o trabalho que fizemos.
O atual presidente avisou também que não quer nada com os socialistas. O candidato do PSD e do CDS diz que Gabriela Canavilhas, candidata do PS, tem uma “equipa fraca”, que “manifesta um profundo desconhecimento do concelho”. É por isso que dificilmente os irá convidar para exercerem pelouros na autarquia: “Para isso seria necessário que os vereadores socialistas pedissem e fizessem um grande pedido de desculpas por tudo aquilo que andaram a dizer. Porque a atitude que têm roça atitudes anti-democráticas, juntamente com o PCP, e por isso vai ser muito difícil haver uma plataforma de entendimento depois das autárquicas.”
Mesmo que ganhe com maioria absoluta, Carlos Carreiras pode perder no domingo. Perder, ganhando. Isto porque foi o coordenador autárquico nacional do PSD, cujo objetivo — definido pelo líder Passos Coelho — é conquistar, pelo menos, mais uma autarquia que o PS e recuperar, dessa forma, a liderança da Associação Nacional de Municípios Portugueses. Ainda antes de ir almoçar, questionado, se podia ter um domingo agridoce (o doce da vitória em Cascais, o amargo da derrota no país), Carlos Carreiras afirmou: “Eu até gosto de comida agridoce por isso não tem de ser uma coisa má“. Lembra que foi coordenador nacional, mas a nível local fez uma “coligação PSD-CDS, que tem funcionado bem”, num entendimento que se estendeu a “muitas zonas do país”.
Aplica a nível nacional o que disse a nível local, acreditando numa win-win situation: “Como disse há pouco, não há nem derrotas garantidas à partida, nem vitórias garantidas também à partida. Neste momento, estamos a uma semana da votação, ela será também no domingo e que, eu saiba, não há nenhum voto que tenha entrado na autarquia”. Ou seja: acredita que como o PSD tem “boas candidaturas” e “boas equipas”, os portugueses — como “cidadãos esclarecidos” — saberão separar muito bem a sua análise no momento da votação.
Já o ex-ministro Luís Pedro Mota Soares, em declarações ao Observador, também não quer embandeirar em arco, dizendo que “não vale a pena antecipar cenários” antes das eleições. Sobre a coligação, diz que tem sido o caminho para evitar que Cascais evitar regressar a um regresso “aos tempos de Judas [o último autarca do PS presidente]”, em que “houve uma construção desenfreada e massificada”.
O dirigente centrista diz que apesar “diferenças legítimas” entre PSD e CDS, os dois partidos mostram que conseguem colocar os “interesses de Cascais à frente de tudo o resto”. Recusando-se a dizer se Carreiras já conseguiu o capital político ou o gravitas que António Capucho atingiu em tempos, Mota Soares elogia o candidato dizendo que sempre reconheceu a capacidade do atual presidente de “sonhar Cascais” e de colocar “os interesses de Cascais acima do partido”.
Já o ex-ministro Luís Pedro Mota Soares, em declarações ao Observador, também não quer embandeirar em arco, dizendo que “não vale a pena antecipar cenários” antes das eleições. Sobre a coligação, diz que tem sido o caminho para evitar que Cascais evitar regressar a um regresso “aos tempos de Judas [o último autarca do PS presidente]”, em que “houve uma construção desenfreada e massificada”.
Loures. Acabou-se o vodka-laranja para o comunista Bernardino Soares. Qual é o novo cocktail?
Obra mais emblemática: acertar as contas do município é aquilo de que a candidatura de Bernardino Soares mais se orgulha neste mandato.
Obra mais polémica: a oposição acusa a CDU de ter espremido a transferências para as juntas de freguesia, com uma redução de cinco milhões de euros ao longo dos últimos quatro anos.
Principal promessa: Bernardino Soares defende que o metro de Lisboa deve ser alargado até à Portela, Sacavém, Loures, Santo António dos Cavaleiros e Infantado.
Grau de conforto para a reeleição: a vitória será o menor dos problemas do autarca da CDU — o pesadelo começa depois.
Bernardino Soares corre as ruas do Tojal com um assunto na agenda: todos os boletins com a cruzinha no candidato comunista serão poucos para evitar o “bloqueio” que o presidente da câmara de Loures já antecipa que terá de enfrentar no dia a seguir às eleições de 1 de outubro. A entrada em cena de André Ventura (PSD, com quem a CDU está coligada neste mandato que agora termina) e a indisponibilidade do PS para coligações deixam Bernardino de mãos atadas.
O chamado “vodka-laranja” dos últimos quatro anos não se vai repetir. A garantia é dada pelo próprio autarca ao Observador, durante uma arruada que passa por uma dúzia de cafés e várias lojas de comércio de rua e que soma dezenas de beijos e passou-bens aos eleitores, com abraços pelo meio. Afinal de contas, além de jogar em casa (mora a uns poucos quilómetros dali), Bernardino está entre camaradas.
O PSD tem tomado “posições que são incompatíveis com os princípios da CDU e, portanto, não haverá qualquer entendimento com esta candidatura” encabeçada por André Ventura, sintetiza Bernardino. O PS poderia ser uma alternativa, mas aí o autarca esbarra na indisponibilidade já assumida pela socialista Sónia Paixão. “Tem havido várias declarações de indisponibilidade para falar, para [estabelecer] acordos, para conversar”, recorda o autarca, lamentando, a respeito de uma e outra candidatura, que se esteja a montar uma “campanha muito agressiva”.
A vitória, a julgar pelas intenções de voto já divulgadas, não deverá escapar ao comunista. O problema é mesmo a estabilidade. “Podemos vir a ter uma situação de grande agressividade e bloqueio” na câmara, antevê o ex-líder parlamentar do PCP. Como tal, a solução está na rua. “O que se está a preparar aí é que outras forças se estão a preparar para bloquear a câmara. É preciso força para mostrar com quem está o povo”, diz Bernardino Soares a cada encontro com eleitores. A mensagem é repetida com insistência à exaustão numa freguesia em que, há quatro anos, a CDU arrecadou com maioria absoluta dos votos.
É na multiplicação desse cenário por todo o concelho que o autarca agora aposta. Será esse o seu argumento decisivo para desbloquear as duras negociações no pós-eleição. “Se houver um sinal claro de progresso da CDU nestes três órgãos – assembleia de freguesia, câmara municipal e assembleia municipal –, isso torna mais difícil a quem queira boicotar o nosso trabalho contrariar esse sinal forte”.
Oeiras. Paulo Vistas e o regresso dos fantasmas do passado
Obra mais emblemática: os três centros de saúde construídos e abertos pela autarquia, em Barcarena, Carnaxide e Algés.
Obra mais polémica: a oposição acusa a CDU de ter espremido a transferências para as juntas de freguesia, com uma redução de cinco milhões de euros ao longo dos últimos quatro anos.
Principal promessa: Bernardino Soares defende que o metro de Lisboa deve ser alargado até à Portela, Sacavém, Loures, Santo António dos Cavaleiros e Infantado.
Grau de conforto para a reeleição: é complicado e a incerteza vai manter-se até ao fim. Isaltino Morais voltou e Joaquim Raposo (ex-presidente da câmara da Amadora) também promete fazer mexer os resultados.
Pode ver aqui os melhores momentos do Carpool com Paulo Vistas:
Uma pedrada num carro, aos primeiros quilómetros da caravana de Paulo Vistas pelo concelho de Oeiras, podia ter acabado logo ali com a festa. Depois, foi a PSP que mandou parar um dos carros porque duas jovens apoiantes estavam penduradas na janela. A campanha do presidente faz-se assim, com pompa. Oeiras ferve até dia 1 de outubro.
A festa prometia animação. Domingo à tarde, mais de 200 carros com bandeiras rosa-choque penduradas do lado de fora da janela e centenas de apoiantes de Vistas com t-shirt a condizer. A “caravana automóvel” está alinhada e pronta para passar as próximas quatro longas horas às voltas por Oeiras. Arrancam. E logo interrompem a marcha. Menos de 20 minutos depois de sair da sede de campanha, numa passagem pelo bairro do Moinho das Rolas, um dos carros trava subitamente, ao levar com uma pedra na chapa. Já só se ouviu, ao fundo, um grito: “Isaltino! Isaltino!”
Pode ver aqui entrevista de Paulo Vista ao Observador a sugerir que o assalto à sede de candidatura de Isaltino Morais foi feita pelos próprios:
Uma apoiante de Paulo Vistas ainda chegou a sair do carro para pedir explicações, mas foi travada de imediato. “Não reage, não reage! Vamos seguir!”, grita um dos responsáveis da campanha do presidente da câmara de Oeiras. Havia indicações expressas para não responder a provocações orais, mas aquela amolgadela fugia ao guião previsto pela organização da marcha. Buzinadelas, comentários de desagrado — “se fosse para trabalhar não aparecia ninguém” –, nada que espante: é domingo, há quem queira chegar à praia ou regressar a casa e que não aprecie a extensa procissão.
Já a meio, o entusiasmo da comitiva obrigou a polícia a entrar em campo. No carro que seguia mesmo à frente de Paulo Vistas, as apoiantes gritavam à janela, sentadas na porta. Foi o próprio autarca quem se chegou à frente. Dois minutos de conversa, explicações e pedidos de desculpa aos agentes e o assunto ficou resolvido. Com um aviso: a partir dali, tolerância zero.
A campanha está quente em Oeiras. Há duas semanas, a sede de Isaltino Morais foi vandalizada. A de Joaquim Raposo (PS) também já tinha amanhecido com as portas arrombadas. Episódios que não serão indiferentes ao facto de a corrida se adivinhar renhida até ao último voto, sem que algum dos três candidatos mostre uma vantagem clara sobre os outros dois adversários. Nem sequer é certo que Vistas consiga manter a autarquia. Cumprida a pena de prisão, a aura de Isaltino continua a pairar como uma sombra sobre os candidatos. O ex-autarca arrisca-se a regressar a uma casa que conhece bem. Se for assim, Paulo Vistas pode ser dos raros presidentes de câmara do distrito de Lisboa a perder a eleição.
Odivelas. Presidente desconhecido enfrenta candidato famoso
Obra mais emblemática: o novo centro de saúde de Odivelas é uma das obras que Hugo Martins apresenta aos eleitores como a marca do meio mandato que cumpriu.
Obra mais polémica: neste caso, é uma não-obra, uma vez que a falta de uma solução para os problemas da mobilidade continua a ser uma queixa recorrente dos eleitores do concelho.
Principal promessa: construção de “um grande parque urbano”.
Grau de conforto para a reeleição: não há sondagens publicadas, resta a sensação que resulta de uma visita à feira da Arroja em que poucos reconheceram o seu presidente da câmara. Fernando Seara, do PSD, pode ser uma ameaça para o socialista.
Nuno Gaudêncio é presidente da junta de freguesia de Odivelas. É ele quem faz as introduções. Hugo Martins segue ao lado. É ele o presidente da câmara. “Ah, eu já o conheço”, diz uma feirante. “Então agora conhece o nosso presidente da câmara”, responde Gaudêncio. Quando Nuno pára, Hugo faz um compasso de espera. Quando um eleitor faz uma queixa, muitas vezes é o presidente da junta quem parte para o contra-ataque. Problema: há um candidato chamado Fernando Seara com 12 anos de poder local e mais alguns de presença regular na televisão. Reeleição para o PS em risco em Odivelas?
Há quatro anos, Susana Amador foi a cabeça de lista do PS à câmara de Odivelas. Mas a meio do mandato houve eleições legislativas e a autarca — que estava a cumprir o terceiro mandato, que teria de ser o último — integrou as listas do partido à Assembleia da República e deixou a câmara. O atual presidente estava na autarquia desde 2009 e acabou por saltar para o primeiro plano.
Com Fernando Seara como principal adversário, o presidente da comissão política concelhia de Odivelas do PS, e membro da Comissão Nacional, não teme a máquina mediática de Seara. “As pessoas sabem escolher e decidir em prol do trabalho realizado, penso que as já não vão atrás do mediatismo televisivo”, considera o socialista. Ao Observador, o autarca que recebeu a maioria absoluta conseguida por Susana Amador assume ter “expetativas muito positivas de conseguir um bom resultado nas eleições” de domingo e fala mesmo numa “vitória muito clara e expressiva”.
De volta às tendas da feira da Arroja, a dupla Martins-Gaudêncio traz um trunfo na manga. Naquele domingo manhã, se há uma queixa que corre a boca das dezenas de comerciantes é a falta de um espaço em condições para fazerem o seu negócio. E os autarcas têm a resposta pronta: a obra para um novo mercado está em marcha, para que os legumes, os queijos, os pintos e as peúgas possam mudar de donos — das mãos dos comerciantes para as mãos dos moradores — a cada manhã de domingo.
Na verdade, essa mudança de instalações ainda vai ter de esperar. É que só no início da semana (exatamente na véspera do arranque da campanha eleitoral) o estaleiro foi montado. Não há previsão de quando estará concluída a intervenção, mas certamente não haverá bancas novas antes de domingo, 1 de outubro.