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Stephan Morais é fundador e diretor-geral da Indico Capital Partners
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Stephan Morais é fundador e diretor-geral da Indico Capital Partners

FRANCISCO ROMÃO PEREIRA/OBSERVADOR

Stephan Morais é fundador e diretor-geral da Indico Capital Partners

FRANCISCO ROMÃO PEREIRA/OBSERVADOR

Exposição de Portugal ao SVB? É baixa porque startups nacionais "não estão na primeira liga", diz Stephan Morais

Stephan Morais, fundador da capital de risco, diz que empresas em que investiu com exposição ao SVB representam "menos de 15%" do portefólio. Acesso aos depósitos resolveu problema, garante.

O “banco das startups” colapsou. É a maior falência bancária nos EUA desde 2008. O Silicon Valley Bank (SVB), importante para as tecnológicas da Califórnia, caiu, o que levou a sociedade portuguesa de capital de risco Indico Capital Partners a fazer uma avaliação da exposição das empresas suas participadas.

Stephan Morais, fundador e diretor-geral da Indico, refere que as empresas nas quais a capital de risco investiu que têm exposição ao banco norte-americano representam “menos de 15%” do portefólio”. O gestor aproveita o acontecimento para lamentar até que Portugal não tenha mais startups nos Estados Unidos da América.

No final da semana passada, os reguladores encerraram o SVB, depois de ter havido uma corrida aos depósitos por parte de várias startups norte-americanas. Durante o fim-de-semana, o Departamento do Tesouro, a Reserva Federal (Fed) e a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) adiantaram, num comunicado conjunto, que os clientes teriam  acesso a todo o dinheiro depositado no SVB esta segunda-feira. O acesso aos depósitos é para Stephan Morais a resolução do problema.

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A Indico avaliou a exposição das suas participadas ao colapso do Silicon Valley Bank (SVB). Que conclusões retira dessa avaliação?
Efetivamente, nós temos muito poucas empresas que tinham contas abertas com o Silicon Valley Bank e, dentro dessas contas abertas, só tinham um valor residual, de forma geral. Acontece que, entretanto, tendo em vista a resolução que foi dada ao tema pelo governo americano durante o fim de semana, no fundo, o impacto é zero. Já era mínimo e [agora] não vai existir impacto nenhum.

Quando diz mínimo, é possível saber um número exato? Quantas empresas participadas pela Indico fazem parte do leque dos clientes afetados?
São menos de 15% do nosso portefólio. Ou seja, nós temos 28 empresas — tínhamos 34 originalmente — portanto estamos a falar de muito poucas, como se pode ver.

E a própria Indico tinha dinheiro no SVB?
Não, não. De todo. Aliás, o problema não é propriamente a exposição que empresas portuguesas, que startups portuguesas, da Indico ou sem ser da Indico, tenham ao SVB. O problema é um bocado o contrário, porque para se ter exposição ao Silicon Valley Bank é preciso que as empresas tenham uma presença nos EUA muito forte, que tenham, também, provavelmente investidores americanos e que o capital dos investidores americanos esteja depositado em nome das empresas numa conta do SVB nos EUA (também podia ser em Londres). E, por isso, acho que a pergunta relevante não é se há problemas com as empresas portuguesas, mas sim: porque é que há tão poucas empresas portuguesas com exposição ao SVB? Essa é que é a verdadeira pergunta. Isso [haver mais empresas portuguesas com exposição] demonstraria que o ecossistema português estava muito mais conectado com os EUA do que está, infelizmente. Nós temos algumas, mas sinceramente até gostava que tivéssemos tido mais, em particular até porque o problema [já] não existe, não é? Mas essa é a verdadeira pergunta, não é a pergunta de quanto é que as empresas portuguesas poderiam ter perdido, porque é muito pouco.

Quando diz que o problema foi resolvido, o que é que quer dizer exatamente? 
O governo dos EUA anunciou que todos os depósitos serão devolvidos. Apenas os acionistas do Silicon Valley Bank vão perder o seu capital.

"Não é bom que haja nem capital a mais, nem capital a menos", acredita Stephan Morais

FRANCISCO ROMÃO PEREIRA/OBSERVADOR

Mas podemos dizer que o problema está resolvido? Está resolvido para os depositantes, mas, como disse os acionistas não vão ser ressarcidos.
Mas isso são os investidores no Silicon Valley Bank, são os seus acionistas. Não tem nada a ver com as startups portuguesas. Quem for acionista de uma empresa que vai à falência perde todo o seu dinheiro, obviamente, perde o seu investimento. Haverá investidores americanos e estrangeiros, não sei. O Silicon Valley Bank era o 16.º maior banco dos EUA, portanto terá milhares de investidores de todo o mundo. E essas pessoas, naturalmente, se não venderam a tempo perderam. Repare que havia comentários ainda na quinta-feira à noite de investidores individuais a dizer ‘amanhã é uma boa altura para comprar ações do Silicon Valley Bank’ porque achavam que o banco não ia à falência. E a verdade é que foi. As únicas pessoas ou instituições que perderam realmente dinheiro nos seus investimentos foram os acionistas do Silicon Valley Bank porque o banco foi mal gerido em termos de liquidez. Neste caso, a liquidez [do banco] estava em grande parte colocada em obrigações, o seu valor desceu porque as taxas de juro foram subindo e de repente já não cobria os depósitos. Esse foi o problema que originou uma corrida ao banco e que originou a intervenção das autoridades americanas, que garantiram que nenhum depositante teria uma perda.

“Quem nos dera a todos nós que Portugal tivesse muito mais empresas que potencialmente tivessem sido afetadas pelo problema do Silicon Valley Bank”

Pensando ao contrário: se o governo dos EUA não tomasse esta decisão, até que ponto é que as capitais de risco, como a Indico, não poderiam ser chamadas a financiar mais as startups?
O que poderia ter acontecido era que se as empresas não conseguissem aceder aos seus depósitos teriam momentos de falta de liquidez para cumprir com pagamentos. E aí eventualmente poderia acontecer que as entidades, os acionistas dessas startups poderiam ser chamados a resolver o problema ou, enfim, ser feita uma reunião de sócios para se decidir qual seria o caminho a percorrer: que tipo de financiamentos intercalares ou outra forma. Mas, na realidade, esse problema não existiu.

Se tivessem detetado alguma situação das vossas participadas que precisasse de intervenção, agiriam só se o governo não tivesse tomado esta decisão?
Eventualmente. Mas também repare que depende muito das empresas porque as participadas grandes da Indico, que são precisamente algumas das que tinham uma exposição residual ao Silicon Valley Bank, hoje em dia têm acionistas de referência, de escala mundial. As nossas participadas angariaram mais de 1.700 milhões de euros nos últimos quatro anos de entidades como a Goldman Sachs, a KKR [Kohlberg Kravis Roberts], o fundo soberano de Abu Dhabi, o SoftBank, os grandes venture capitalists internacionais de Silicon Valley, de Londres, etc. Portanto, as grandes participadas — e por isso é que eu digo que o que é pena é não haver mais grandes participadas que tivessem exposição a Silicon Valley — estão ancoradas em investidores que são milhares de vezes maiores do que a Indico. Não seríamos nós que íamos resolver o problema. O que isto mostra é que Portugal tem ainda poucas startups que realmente estão de pedra e cal na primeira liga. Essa é que é a realidade. Nós temos algumas, mas quem nos dera a todos nós que Portugal tivesse muito mais empresas que potencialmente tivessem sido afetadas pelo problema do Silicon Valley Bank, que entretanto deixou de existir.

Mas não seria mau? Se Portugal tivesse mais empresas, existiriam mais empresas afetadas nesse momento. Não seria positivo…
Claro. Não seria positivo no curto prazo. O que eu quero dizer é que a grande pergunta que nos devemos fazer não é o que teria acontecido, porque não aconteceu [muitas empresas serem afetadas]. A grande pergunta para um ecossistema da nossa natureza é: porque é que nós ainda temos tão poucas empresas que estão em Silicon Valley, com contas no Silicon Valley Bank? Claro que não é bom ter contas congeladas, mas eu acho que as perguntas que se estão a fazer não são as corretas. Porque às vezes temos a sensação de que temos muitos, muitos, muitos unicórnios. Na verdade, nós ainda temos muito poucas empresas que estejam a dar cartas à escala mundial. Temos algumas, nós na Indico temos várias, mas gostávamos de ter mais. Essa é que é, para mim, a reflexão importante a nível de país porque a exposição de Portugal ao Silicon Valley Bank é mínima, para não dizer zero. Ou seja, a vasta maioria das startups portuguesas são muito pequenas, não estão nos Estados Unidos, que é o maior mercado de software do mundo. Para mim a grande conclusão de tudo isto é que nós temos poucas empresas de escala mundial em Portugal. Apesar de na Indico termos algumas, muito poucos outros fundos têm nem que seja uma.

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Na sua perspetiva, pode haver uma quebra de confiança nas capitais de risco e no financiamento de startups?
Não. Uma coisa é um banco que foi mal gerido e que as contas ficaram congeladas e teve que haver um pacote, digamos, de salvamento do governo americano. Outra coisa é o sistema de venture capital e de financiamento de empresas. Se não houver fundos de venture capital, não há empresas de tecnologia. Todas as grandes empresas de tecnologia que nós temos à nossa volta hoje em dia, desde a Microsoft à Google, passando pela Tesla e todas as outras, financiaram-se no seu início e nos seus primeiros 10, 15 anos por fundos de venture capital. Não é o sistema de venture capital que está aqui em causa. O que está aqui em causa foi um banco que foi mal gerido na sua componente de liquidez.

"Se não houver fundos de venture capital, não há empresas de tecnologia."
Stephan Morais

Portanto, não acredita que a queda deste banco deixou as empresas de venture capital expostas a um risco?
Com certeza, com certeza que há um risco porque os sistemas financeiros estão sempre conectados. Ou seja, imaginemos que há muitos fundos americanos que têm num banco o capital que vão investir nas empresas e que têm o dinheiro todo no Silicon Valley Bank. Esses fundos devem ter ficado muito preocupados porque, de repente, não tinham acesso ao seu capital para investir. Mas, enfim… poderia haver realmente um problema maior se houvesse fundos americanos que tinham [muito capital] no Silicon Valley Bank.

Mas existindo um risco não existe também uma vulnerabilidade da indústria?
Mas não há outra hipótese. Os bancos existem para se terem contas bancárias abertas.

Referia-me à indústria de capital de risco. Porque lhe tinha perguntado se poderia existir uma quebra de confiança e disse-me que não, mas depois admitiu que existe algum risco…
Não, ouça, claro. Um cidadão normal tem uma conta bancária num banco, o banco vai à falência e a pessoa fica com a conta congelada, o risco existe para quem lá meteu o dinheiro na conta. Mas isso não é um problema de credibilidade da pessoa, é um problema de credibilidade do banco. No sentido em que não é um problema da indústria de venture capital, como não é problema dos depositantes do Banco Privado Português ou do Banco Espírito Santo, que meteram lá o dinheiro. O problema foi dos bancos, não dos clientes dos bancos. Neste caso, as startups e as ventures capital, os fundos de venture capital eram clientes do banco. Não é uma questão de credibilidade dos clientes. É uma questão de credibilidade da instituição, que foi mal gerida.

"É que isto significa que Portugal não está na primeira liga. Não estamos afetados porque não estamos lá."
Stephan Morais

“Não é bom que haja nem capital a mais, nem capital a menos”

Fazendo um balanço dos dois primeiros meses do ano, é mais difícil conseguir financiamento face ao cenário económico atual?
Com a subida das taxas de juro, com a guerra, já antes com a pandemia, e com a inflação, obviamente que as condições de investimento se tornaram mais adversas para todas as classes de ativos. O venture capital não é diferente, mas os fundos continuam a ter capital. Os fundos também fazem levantamento de capital e é mais difícil levantar capital hoje em dia para depois se aplicar em startups. Os fundos, que não sabem quando, como e que quantidade de capital vão conseguir angariar junto de investidores institucionais e individuais, terão ainda mais reservas em fazer investimentos em startups. Não vemos um abrandamento do investimento em termos de números totais, vemos é que há menos empresas a serem financiadas. Mas o total dos investimentos não baixou necessariamente em todas as tipologias de investimento em venture capital. Continua a haver muito capital para investir em startups, mas o crivo apertou ainda mais e torna-se ainda mais complicado. Têm que ser projetos muito mais bem pensados, muito mais bem justificados para que as empresas de venture capital tomem as decisões de investimento. Mas capital existe e penso que nos dois anos anteriores tinha-se chegado a um ponto — particularmente nos EUA e alguns mercados europeus (não em Portugal) — em que havia capital a mais e talvez tivesse sido fácil demais para algumas empresas angariarem capital. Penso que agora estamos num ponto de equilíbrio mais correto, porque há, de certa forma, maior escrutínio e isso é bom para o mercado. Não é bom que haja nem capital a mais, nem capital a menos.

Ou seja, pode existir mais dificuldades a conseguir financiamento, mas não é porque não exista capital?
Não é porque não exista capital. Existe capital. Aliás, os fundos têm compromissos de capital a 10 anos, por isso não há menos capital disponível. Há é um critério ainda mais estrito do que antes e eu acho que isso é muito saudável. No caso da Indico, nós também já só investíamos em cerca de 1% das empresas que analisávamos e, portanto, o nosso critério não alterou […] Quem nos dera, sinceramente, que houvesse muito mais empresas afetadas [risos], mas não há. Há poucas. Não é por acaso. Essa é que é a ironia disto tudo.

Mas se tivessem existido muitas empresas afetadas, e esta medida do governo dos EUA não tivesse sido tomada, poderia ser um grande problema…
Claro, claro, claro… Mas esse não é o caso. É que isto significa que Portugal não está na primeira liga. Não estamos afetados porque não estamos lá. Nós, Indico, estamos, mas por acaso até tivemos sorte: as nossas empresas têm contas noutros bancos.

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