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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Fecho da fronteira com Espanha deixou turistas retidos. "Vamos ter de esperar quase um mês?"

Apanhados pela medida que proibiu entradas e saídas a todos os cidadãos estrangeiros, muitos turistas de autocaravana acabaram por ficar horas à espera. Reportagem na fronteira de Caia, em Elvas.

René Gaens está à espera há mais de oito horas, parado numa espécie de “terra de ninguém”, quando o encontramos num descampado entre Portugal e Espanha, na fronteira de Caia, em Elvas. O fotógrafo francês esteve em Portugal com a sua mulher, Nicole, de autocaravana, durante quatro semanas. Passaram pelo Algarve, subiram depois até Bragança, Porto, Lisboa e Alentejo. Era por ali que planeavam entrar em Espanha, para depois seguirem até Lyon, em França, de volta a casa.

Não conseguiram. Esta terça-feira, foram barrados pelas autoridades espanholas: não eram espanhóis, não tinham autorização de residência no país nem transportavam mercadorias. Estavam, por isso, em lazer — e atravessar a península ibérica em lazer foi proibido desde segunda-feira, uma decisão conjunta dos governos português e espanhol.

Com o fecho das fronteiras terrestres entre Portugal e Espanha, “apenas será autorizada a circulação de veículos de mercadoria, de cidadãos nacionais ou de residentes em Portugal, tal como residentes em Espanha no sentido contrário, pessoal diplomático, e para acesso a cuidados de saúde”, descreveu o ministro da Administração Interna.

A medida tem efeitos em novo locais onde era possível fazer a travessia entre os dois países. E acabou por reter várias pessoas, durante várias horas, na fronteira de Caia, por exemplo. Espanha não deixa entrar ninguém que não seja espanhol e os principais lesados são os inúmeros turistas que estavam em Portugal, antes de a decisão ter sido tomada, e que, com caravanas, não têm alternativa senão atravessar o território espanhol para chegar ao seu país de origem, muitos dos casos França e Alemanha.

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O SEF perguntava aos automobilistas: "de onde são?"; "de onde vieram?" JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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É o caso de René e Nicole, que saíram de Elvas e queriam chegar a França o mais rápido possível: “Temos lá os nossos filhos e, com isto tudo que se está a passar, estarmos longe deles não nos ajuda nem nos deixa descansados“, desabafa a mãe. Seguiram pela autoestrada 6 até chegarem ao “checkpoint” onde a Guardia Civil espanhola e o Corpo Nacional de Polícia mandam encostar todos os carros. “A fronteira é um sítio onde não quero voltar”, desabafava.

René Gaens um fotógrafo francês aguardou mais de oito horas naquela "terra de ninguém", num descampado entre Portugal e Espanha, na fronteira de Caia, em Elvas. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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O procedimento é sempre o mesmo: “Bom dia. É cidadão espanhol?”. Se a resposta for ‘não’, não é dada oportunidade de dizer praticamente mais nada, é feito um sinal com as mãos e os braços a mostrar que é preciso contornar os cones de sinalização cor de laranja que delimitam o espaço, dar meia volta e regressar — voltar para Portugal.

Quem tentou atravessar para o lado espanhol notou um cerco super musculado de forças de segurança. Dez agentes policiais, todos de máscara e dois com uma metralhadora cada um. A cada condutor a quem era dada a indicação de que tinham de regressar a Portugal, um destes polícias, com a metralhadora em punho, acompanhava o carro até aos cones, até este dar meia volta.

Nesta ação conjunta participam militares da GNR, inspetores do SEF e membros da DGS. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Foi isso que René e Nicole fizeram. Tiveram de voltar a Portugal e, cerca de 500 metros metros depois, tiveram de ser submetidos às mesmas perguntas: “De onde são?”; “De onde vieram?”. Qual é a solução? Voltar para Portugal e atrasar o fim das férias ou esperar ali, num descampado, na tal “terra de ninguém”, não sabem quantas horas.

A polícia portuguesa não sabe de nada, eles bem tentam ajudar, mas também não têm como, as autoridades espanholas é que nos trataram com uma frieza enorme“, contou ao Observador mais uma turista alemã que, sozinha, fez uma viagem pela Europa de autocaravana.

No entanto, no sentido contrário, ou seja, Espanha-Portugal, acontece exatamente a mesma coisa: há quem saia tranquilamente de Espanha, mas, ao tentar entrar em Portugal, se não preencher todos os requisitos, é escoltado pela GNR até junto das autoridades espanholas para voltar novamente ao país de origem.

A fronteira portuguesa naquele local divide-se em duas: uma faixa de rodagem para os camiões de mercadorias e para os carros ligeiros. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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“Já há novidades? Podemos passar?” Solução chegou já à noite

A fronteira portuguesa naquele local divide-se em duas: uma faixa de rodagem para os camiões de mercadorias e outra para os carros ligeiros — uns para o lado esquerdo e os outros em frente, respetivamente. Aos ligeiros era pedido que parassem, por um militar da GNR. Os ocupantes da viatura eram depois abordados por um inspetor do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), sempre de máscara e luvas, e era este inspetor que fazia as perguntas: “É português?”; “O que vem fazer a Portugal?”. Em alguns casos, também foram feitas revistas às bagageiras.

Muitos foram os veículos que não conseguiram entrar em território português por não preencherem os requisitos e eram escoltados até Espanha, mas a grande maioria eram cidadãos portugueses que trabalham em Espanha e pretendiam regressar às suas casas. A esses bastava-lhes mostrar o cartão de cidadão português, sem mais nenhuma pergunta.

Há quem saia tranquilamente de Espanha mas ao tentar entrar em Portugal, se não preencher todos os requisitos, é escoltado pela GNR até junto das autoridades espanholas. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Às mais de 60 caravanas que se acumularam no descampado entre os dois países desde a manhã desta terça-feira, já do lado português ,e que preferiram ali esperar até que as autoridades espanholas lhes dessem autorização para seguir a sua viagem, só lhes restava uma coisa: esperar.

O Observador sabe que, ao início da tarde de terça-feira, as autoridades responsáveis pelas fronteiras de Portugal (o SEF), de Espanha e França estiveram reunidas para debater estes casos excecionais, mas as horas teimavam em não passar. O ambiente ali vivido era de incerteza: “Será que vamos conseguir seguir viagem ou vamos ter de esperar quase um mês até abrirem novamente as fronteiras?“, desabafava outra turista francesa ao Observador. Muitos optaram por ir para as suas caravanas e procurar informação nos meios de comunicação social, outros iam fazendo pressão junto dos militares da GNR: “Já há novidades? Podemos passar?“.

A resposta a estas perguntas chegou já bem depois das 22h00, quando as autoridades autorizaram a passagem destas caravanas e destes turistas. Uma fonte do SEF confirmou ao Observador que Espanha tinha autorizado a passagem das mais de 60 caravanas: “Foi autorizada a passagem para Espanha de todas as caravanas que aguardavam no Caia. Já partiram“. Estas caravanas foram acompanhas pela GNR até à fronteira com Espanha e entregues ao Corpo Nacional de Polícia de Espanha.

Todos os inspetores do SEF, os únicos que falavam diretamente com as pessoas, tinham todos máscaras e luvas. Alguns automobilistas também usavam máscara. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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