Dia 1: “O Retrato de Dorian Gray”

de Oscar Wilde (Relógio D’Água)

Para lá de ser um clássico da literatura, O retrato de Dorian Gray é um repositório de mots d’esprit, epigramas, boutades, frases lapidares e asserções escandalosas, debitados não só pelo cínico-mor, Lord Henry Wotton, como pela beautiful people que com ele priva, nos jantares elegantes e nos clubes de gentlemen. Na verdade, seja qual for a personagem que fale, fica-se com a impressão de que quem se expressa é sempre Wilde: “Gosto de homens que têm um futuro e de mulheres que têm um passado”, “Os homens casam-se porque estão cansados, as mulheres porque estão curiosas; ambos ficam desapontados”, “Vivemos numa época em que as coisas desnecessárias são as nossas únicas necessidades”, “Escolho amigos pela boa aparência, conhecidos pelo bom carácter e inimigos pela inteligência superior. Nunca se é demasiado cuidadoso na escolha dos inimigos”.

“O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde

Por trás deste florilégio de observações espirituosas e acutilantes está um pacto demoníaco: o jovem e atraente Dorian Gray, seduzido pela filosofia de vida do decadente Lord Henry Wotton, entrega-se a uma vida de hedonismo e libertinagem, vendendo a alma a troco da conservação da sua juventude e beleza – só o retrato que Basil Hallward dele pintou registará os desgastes resultantes do tempo e da sua vida dissoluta. Preços: normal 14.13€, feira 11.00€, livro do dia 8.00€.

Dia 2: “Breve história de quase tudo”

de Bill Bryson (Bertrand)

O livro não é tão ambicioso quanto o título (necessariamente irónico) poderá dar a entender: fica-se pelas mais relevantes descobertas científicas dos últimos 200 anos – o que seria matéria para pelo menos uma vintena de volumes. Bryson, graças a um extraordinário poder de síntese, oportuno sentido de humor, colorido anedotário envolvendo excentricidades dos homens de ciência e invulgar capacidade para distinguir o essencial do acessório, consegue meter o Rossio na Betesga.

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“Breve História de Quase Tudo”, de Bill Bryson

Quem tenha formação na área das ciências poderá achar o livro superficial e tirará mais proveito da leitura das obras de divulgação consultadas por Bryson, mas Breve história de quase tudo é um eficaz (e saboroso) antídoto contra a iliteracia científica que, paradoxalmente, continua a reinar nesta sociedade hiper-tecnológica e em que uma proporção cada vez maior da população passou pelo ensino superior. Preços: normal 19.90 €, feira 13.93 €, livro do dia 9.95 €

Dia 3: “O homem que confundiu a mulher com um chapéu”

de Oliver Sacks (Relógio D’Água)

Para que possamos levar uma vida “normal” e funcional, é necessário que decorram sem sobressaltos numerosos e complexos processos mentais que operam bem abaixo do limiar da consciência e de cuja existência nem sequer suspeitamos. Só quando, devido a lesão, doença ou degenerescência do sistema nervoso, esses processos começam a falhar ou a desviar-se do padrão, compreendemos que funcionalidades essenciais que costumamos dar por garantidas e inquestionáveis – por exemplo, a consciência de que os nossos membros nos pertencem – podem estilhaçar-se e transformar a nossa vida num inferno desconcertante. É o caso do Dr. P. cuja desventura dá título ao livro: o seu cérebro deixou de conseguir integrar as parcelas de informação obtidas através dos olhos numa imagem mental coerente e, um dia, tenta colocar a esposa sobre a cabeça, por a ter confundido como seu chapéu.

“O homem que confundiu a mulher com um chapéu”, de Oliver Sacks

A rica experiência clínica, as qualidades humanas e o talento literário do neurologista Oliver Sacks (1933-2015) converteram os seus livros sobre casos de perturbações neurológicas num fascinante e revelador mergulho nos cantos mais obscuros da alma humana. Preços: normal 20.00 €, feira 16.00 €, livro do dia 12.00 €

Dia 4: “Folhas de erva”

de Walt Whitman (Relógio D’Água)

Um volume que não pode faltar na biblioteca de quem se interesse por poesia, ou que pode trazer para a poesia quem nunca lhe tenha dado grande atenção. Walt Whitman (1819-1892), publicou a 1.ª edição de Leaves of grass, em 1855 e passou boa parte do resto da vida a revê-lo e enriquecê-lo, de que resultou uma versão final (a que correntemente tem sido publicada) bem diversa da original.

“Folhas de Erva”, de Walt Whitman

É no longo poema Song of myself (Canto de mim mesmo) que está um dos mais famosos trechos de Whitman. “Contradigo-me?/ Muito bem, então contradigo-me/ (Sou imenso, contenho multidões)”. Leaves of grass exerceria forte influência sobre Fernando Pessoa, quer na descoberta de que também ele continha multidões, quer na poesia do heterónimo Álvaro de Campos – não só a célebre Ode triunfal é eminentemente whitmaniana como o poeta lhe faria uma homenagem explícita em Saudação a Walt Whitman (Edição bilingue, com tradução de Maria de Lourdes Guimarães). Preços: normal 28.27€, feira 22.00€, livro do dia 20.40€

Dia 5: “As guerras de Napoleão”

de Charles Esdaile (A Esfera dos Livros)

Apesar do título e do subtítulo – “Uma história internacional 1803-1815” – o livro extravasa largamente o domínio da estratégia militar e tanto providencia contexto para a emergência de Napoleão, antes de 1803, como analisa a evolução, após 1815, do novo equilíbrio geopolítico que resultou do Congresso de Viena.

“As Guerras de Napoleão”, de Charles Esdaile

A abundância de livros sobre Napoleão é plenamente justificada, pois o general corso teve um papel decisivo na História da Europa, uma vez que “desafiou de tal modo as outras potências que o funcionamento das relações internacionais teve de ser suspenso e mesmo, por fim, completamente reconsiderado”. A necessidade de fazer face às ambições imperiais hegemónicas de Napoleão levou as restantes nações europeias a, pela primeira vez, relegarem para segundo plano os seus desígnios nacionais, “em favor de uma causa comum que era genuinamente vista como sendo a de toda a Europa”. Esse “breve momento de unidade e auto-abnegação” dissipou-se com o fim da guerra, em 1814, mas não é descabido ver nele um precursor do espírito da União Europeia. Preços: normal 34.00€, feira 27.20€, livro do dia 16.00€

Dia 6: “O domínio do Ocidente”

de Ian Morris (Bertrand)

Este ambicioso ensaio procura discernir os grandes padrões da história e entender o que leva a que diferentes regiões do mundo tenham, em determinado momento, estado na dianteira em termos de tecnologia e riqueza e depois tenham começado a ficar para trás (e vice-versa) e insere-se numa estimável linhagem que inclui títulos como A Riqueza e a Pobreza das Nações (Gradiva), de David S. Landes, Armas, Germes e Aço (Temas & Debates), de Jared Diamond, ou História Global da Ascensão do Ocidente (Edições 70), de Jack Goldstone.

“O Domínio do Ocidente”, de Ian Morris

Na sua análise, que cobre 16.000 anos de história, o arqueólogo e historiador britânico Ian Morris faz assumpções discutíveis e generalizações abusivas e, a fim de quantificar os seus indicadores de desenvolvimento, envereda por aproximações e malabarismos pouco legítimos. O facto de os números a que chega serem pouco dignos de crédito e de algumas das suas teses serem controversas, não invalida que o livro ofereça uma original e iluminadora perspectiva da história da humanidade, que merece ser conhecida.

Após ter aplicado a sua perspectiva histórica “de grande altitude” à economia e à tecnologia, em O domínio do Ocidente, Morris fez exercício similar em dois livros igualmente ambiciosos, também publicados pela Bertrand: em Guerra! Para que serve?, examina o papel dos conflitos na história das civilizações, “dos primatas aos robots”, e em Caçadores, camponeses e combustíveis fósseis (acabado de editar) debate a evolução dos valores que regem as sociedades. Preços: normal 24.40€, feira 17.08€, livro do dia 12.20€

Dia 7: “O conde negro”

de Tom Reiss (Texto)

Gomes Eanes de Zurara relata que a 8 de Agosto de 1444 foram desembarcados em Lagos 235 escravos africanos, capturados na costa de Arguim por Lançarote de Freitas, escudeiro e “moço de câmara” do Infante D. Henrique – não foram, claro, os primeiros escravos africanos a serem comerciados na Europa, mas o episódio tem o valor simbólico de representar a primeira grande operação empresarial portuguesa em África no domínio do esclavagismo.

“O Conde Negro”, de Tom Reiss

À medida que outras potências europeias se foram lançando em aventuras ultramarinas e estabelecendo colónias, a presença de africanos ou de mestiços na Europa foi tornando-se mais frequente, embora se tenham mantido invisíveis perante a História, até porque eram invariavelmente relegados para as tarefas mais humildes.

O “conde negro” que é alvo desta biografia é uma notável excepção: nasceu em 1762 na colónia francesa de Saint-Domingue (o Haiti dos nossos dias), tendo por pai o aristocrata Alexandre Antoine Davy de la Pailletiere e por mãe uma escrava deste, Marie Cessette Dumas. Tom Reiss relata-nos a aventurosa e conturbada história desse rapaz baptizado como Thomas-Alexandre Davy de la Pailletiere, mas que adoptou para si mesmo o nome de Alex Dumas e foi pai do autor de O Conde de Monte Cristo e Os três mosqueteiros, e avô do autor de A Dama das Camélias. Desde o desembarque em França, aos 14 anos, até às Guerras Revolucionárias e às Guerras Napoleónicas, acompanhamos a ascensão de Dumas de soldado raso a general e os dissabores e obstáculos que enfrentou num tempo de discriminação racial e desvarios revolucionários. Preços: normal 20.00€, feira 16.00€, livro do dia 12.00€

Dia 8: “A bandeira vermelha”

de David Priestland (Texto)

Há quem atribua o desmoronamento da URSS e o fim da Guerra Fria à ousadia e visionarismo de Ronald Reagan, à inépcia e ingenuidade de Mikhail Gorbachov ou a rebuscadas teorias conspirativas. Há, todavia, explicações mais prosaicas e credíveis: “Nos anos 70, a URSS contava com um quarto dos cientistas mundiais, metade dos engenheiros em todo o mundo e um terço dos físicos, mas o potencial humano não determinava uma economia de alta tecnologia […] Nos anos 1980, o número de computadores na URSS equivalia a menos de 1% da quantidade existente nos Estados Unidos”.

“A Bandeira Vermelha”, de David Priestland

É uma das muitas análises certeiras contidas nas 780 páginas desta história do comunismo entre a Revolução Francesa e 2010 (ano de edição do livro). Priestland oferece uma perspectiva abrangente sobre uma ideologia que em tempos chegou a governar um terço da humanidade e está hoje reduzida a alguns redutos em situação periclitante, como seja a Coreia do Norte (se se admitir que a tirania hereditária dos Kim pode ainda ser classificada como “comunismo”).

O livro tem o mérito de não se distrair na discussão de minudências ideológicas e de saber evitar a aridez enciclopédica e a visão de conjunto não impede que se ouçam nitidamente as vozes dos protagonistas individuais e anónimos, como a deste membro da administração regional de Dresden, na RDA, angustiado pelas dificuldades de planear a produção de bens de consumo num sistema de economia centralizada: “Caímos sempre fatalmente na questão: o que é que está na moda?”. Com efeito, os muitos milhares de páginas escritas por Marx e Lenin são gritantemente omissas quanto a esta magna questão. Preços: normal 34.90€, feira 27.90€, livro do dia 20.90€

Dia 9: “Elogio da sombra”

de Junichiro Tanizaki (Relógio D’Água)

Uma vez que cada civilização julga as outras a partir dos seus próprios critérios e pontos de vista, é quase inevitável que as relações entre povos de locais geograficamente distantes se pautem pela incompreensão e pelo preconceito.

“Elogio da Sombra”, de Junichiro Tanizaki

As 65 páginas deste ensaio de 1933 não terão o condão de anular o fosso cultural que separa o Ocidente do Oriente, mas são um precioso contributo. O seu foco é o apreço japonês e chinês pela sombra e pela meia-luz, a reserva perante “o brilho superficial e gelado”, a valorização, nos objectos, dos sinais da usura do tempo, do “lustro da mão”, que Tanizaki contrapõe à agitação incessante dos ocidentais na “busca de uma claridade mais viva”, que os fez passar “da vela ao candeeiro de petróleo, do petróleo ao bico de gás, do gás à iluminação eléctrica, para cercar o menor recanto, o último refúgio da sombra”. Preços: normal 14.13€, feira 11.00€, livro do dia 8.00€

Dia 10: “Viva o povo brasileiro”

de João Ubaldo Ribeiro (Nelson de Matos)

Um colorido políptico da história brasileira, que atravessa várias gerações (inclui episódios entre 1647 e 1977) e cruza habilmente personagens e pontos de vista. Pelo fôlego épico, pela sucessão de personagens riquíssimas, pelas histórias individuais que se confundem com a história de uma nação sul-americana, é comparável a Cem anos de solidão.

A prosa de Ubaldo Ribeiro é originalíssima e o domínio da língua portuguesa é total: dobra-a, molda-a a seu bel-prazer, mescla o discurso mais erudito, académico e pomposo com o falar dos escravos da senzala. E tudo isto é servido com uma ironia acerada digna de um Eça de Queiroz. Preços: normal 28.00€, feira 22.40€, livro do dia 14.00€

Dia 11: “Maus”

de Art Spiegelman (Bertrand)

Maus é um ponto de viragem na história da banda desenhada, por ser o primeiro livro que fez perceber ao grande público que a BD não é um género de sub-literatura destinada ao entretenimento de crianças e adultos intelectualmente limitados, mas uma forma de expressão artística que combina imagens e texto num narrativa sequencial e que, como outras formas de expressão artística – literatura, teatro, cinema – pode tratar qualquer tema, em qualquer registo, sem ter obrigação de ser divertida, leve ou didáctica. Para esse reconhecimento contribui não só o talento de Art Spiegelman como o facto de a obra ter sido distinguida em 1992 com o Prémio Pulitzer, usualmente reservado a livros “sérios”.

“Maus”, de Art Spiegelman

Em Maus, o pai do autor, Vladek, um sobrevivente do Holocausto, rememora a sua experiência como judeu na Europa dos anos 30 e 40, recordações que Art Spiegelman escolheu ilustrar num estilo seco e despojado, a preto e branco, atribuindo estereótipos zoomórficos às diferentes etnias – os judeus são ratos, os alemães gatos, os polacos porcos – numa alusão à propaganda anti-semita dos nazis, que representava os judeus como ratos, e aos estereótipos racistas que prevalecem na percepção que os povos têm uns dos outros.

A presente edição da Bertrand reúne num volume de 296 páginas os dois volumes anteriormente publicados em separado pela Difel (correspondentes às edições originais de 1986 e 1991). Preços: normal 17.70€, feira 12.39€, livro do dia 8.85€

Dia 12: “Roma: Ascensão e queda de um império”

de Simon Baker (Casa das Letras)

O livro foi concebido como complemento à série televisiva da BBC, Ancient Rome: The rise and fall of an empire, transmitida originalmente, em seis episódios, em 2006. A série faz uma dramatização de seis episódios cruciais da história de Roma, enquanto o livro, embora também se concentre nesses seis momentos, tem uma visão mais contínua e abrangente. 350 páginas são manifestamente insuficientes para fornecer uma visão detalhada de 1000 anos de uma história tão rica em eventos e figuras proeminentes, mas são uma boa introdução, em prosa fluida e acessível, à história de Roma.

“Roma: Ascensão e queda de um império”, de Simon Baker

Para quem queira aprofundar o conhecimento neste domínio, a Bertrand editou em 2016, SPQR, de Mary Beard, especialista neste período e prefaciadora do livro de Baker. Preços: normal 18.90€, feira 15.10€, livro do dia 11.30€

Dia 13: “A Segunda Guerra Mundial”

de Antony Beevor (Bertrand)

Pode parecer estranho que alguém que, como Antony Beevor já tinha produzido volumes detalhadas sobre episódios específicos da II Guerra Mundial – a batalha de Creta (1991), a batalha de Stalingrado (1998), a queda de Berlim (1945), a batalha da Normandia (2009) – tenha em 2012 lançado um livro genérico sobre o mesmo conflito, quando, para mais, não faltam no mercado livros com esse escopo. Porém, graças a um aturado trabalho de pesquisa, um invulgar poder de síntese e uma apurada sensibilidade que permite fazer ouvir as vozes individuais no meio do fragor da barragem de artilharia, do ronco dos aviões e das movimentações de massas de homens e tanques, Beevor conseguiu, ao longo deste milhar de páginas, um livro que nada tem de redundante.

“A Segunda Guerra Mundial”, de Antony Beevor

A originalidade da abordagem de Beevor está patente, por exemplo, nas balizas temporais que escolheu: o livro abre com confrontos entre japoneses e soviéticos na Manchúria em Agosto de 1939 e fecha com confrontos entre japoneses e soviéticos na Manchúria em Agosto de 1945. Esta deslocação para cenários de guerra orientais é sintomática de outra virtude do livro: o de dar atenção a cenários de conflito usualmente tratados superficialmente ou ignorados por muitos dos autores que têm escrito sobre a II Guerra Mundial – nesta obra de Beevor a natureza planetária do conflito ocupa um lugar central. Preços: normal 29.90€, feira 20.93€, livro do dia 14.95€

Dia 14: “A arte da viagem”

de Paul Theroux (Quetzal)

Paul Theroux (n. 1941) é um dos mais notáveis escritores de viagens do nosso tempo, como atestam clássicos como O grande bazar ferroviário (1975), O velho Expresso da Patagónia (1979) ou Comboio fantasma para o Oriente (2008). Ao contrário dos livros anteriores de Theroux, A arte da viagem (2012) não relata uma viagem em particular, sendo antes uma reflexão e síntese sobre a sua experiência como viajante e uma compilação de considerações sobre viagens provenientes de viajantes-escritores, escritores-viajantes, exploradores e até de gente avessa a viagens, como Henry David Thoreau, que afirmava ser “mais fácil percorrer muitos milhares de milhas à vela no meio do frio, da tempestade e de canibais […] do que explorar sozinho o mar privado, o Oceano Atlântico e o Pacífico de cada pessoa”.

“A Arte da Viagem”, de Paul Theroux

O livro é um heteróclito, labiríntico e inesgotável repositório de erudição e sabedoria sobre viagens, onde coexistem meditações filosóficas de Richard Burton – “os homens que vão à procura da nascente de um rio estão simplesmente à procura de algo que falta dentro deles e nunca encontraram” – ao elogio do beliche da carruagem-cama por E.B. White – “esse pequeno buraco verde na noite escura em movimento, essa coelheira macia num mundo duro”. Preços: normal 16.60€, feira 11.62€, livro do dia 8.30€

Dia 15: “O grande Gatsby”

de Scott Fitzgerald (Relógio D’Água)

Scott Fitzgerald é tido como o grande romancista da Jazz Age e O grande Gatsby (1925) é o mais popular dos seus romances sobre esse período que teve o jazz como banda sonora e a Art Deco como corrente dominante na arquitectura e design, em que muitos produtos até aí reservados à elite – como automóveis e electrodomésticos – entraram no mercado de massas e em que muitos foram levados a crer que a prosperidade iria expandir-se ilimitadamente e se poderia passar a vida a dançar até ao nascer do sol. E se a classe média podia agora aspirar a possuir rádio e telefone, os ricos dissipavam fortunas em mansões ostentatórias, iates de luxo e festas extravagantes. Fitzgerald provinha da classe média-alta, mas tendo provado o estilo de vida dos ricos, ficou viciado nele, embora o que ganhava com os romances, os contos para revistas e os argumentos para Hollywood estivesse longe de bastar para sustentar tais gastos.

“O Grande Gastby”, de F. Scott Fitzgerald

Não seria O grande Gatsby a contribuir para equilibrar as suas sempre periclitantes finanças, pois o romance estava esgotado e meio esquecido quando o escritor faleceu em 1940, com a saúde arruinada por muitos anos de consumo imoderado de álcool, e só a partir da II Guerra Mundial ganharia o estatuto de clássico.

A capa desta edição da Relógio D’Água tem o mérito de recuperar a ilustração de Francis Cugat para a edição original de 1925 (embora lhe tenha sobreposto um lettering pouco feliz). Preços: normal 11.00€, feira 8.00€, livro do dia 6.00€

Dia 16: “As aventuras de Alice no País das Maravilhas + Alice do outro lado do espelho”

de Lewis Carroll (Relógio D’Água)

A 4 de Julho de 1862, Charles Dodgson, professor de matemática em Oxford, fez um passeio de barco a remos com o reverendo Robinson Duckworth pelo Isis (o nome dado ao Tamisa na parte do seu curso que passa por Oxford), na companhia das três filhas de Henry Liddell, vice-chanceler da Universidade de Oxford – Edith (de oito anos), Alice (de dez) e Lorina (de treze).

“As aventuras de Alice no País das Maravilhas + Alice do outro lado do espelho”, de Lewis Carroll

Para entreter as rapariguinhas, Dodgson contou-lhes uma história fantástica que improvisou no momento. A pedido de Alice, transpôs a história para o papel e em 1865 fê-la publicar como As aventuras de Alice no País das Maravilhas, sob o pseudónimo de Lewis Carroll. Cinco anos depois surgiria uma sequela, tão genial como a primeira, Alice do outro lado do espelho.

Quem julgar que se tratam de livros exclusivamente para crianças, labora num enorme equívoco. Preços: normal 14.13€, feira 11.00€, livro do dia 8.00€.

Dia 17: “Musicofilia”

de Oliver Sacks (Relógio D’Água)

Memórias musicais prodigiosas; ouvidos absolutos; gente que associa consistentemente notas musicais a cores, cheiros e sabores; canções que se repetem indefinidamente em loop dentro do cérebro; pessoas com capacidades intelectuais diminuídas mas que são capazes de executar correctamente de memória centenas de partituras; um pianista de concerto cujos dedos se recusam a obedecer-lhe quando se está sentado ao piano mas que são submissos no desempenho das tarefas quotidianas; compositores visitados por melodias belíssimas ou atormentados por ruídos demoníacos e notas repetidas sem cessar; um cirurgião ortopédico sem interesse por música que se torna pianista depois de ter sido atingido por um relâmpago…

“Musicofilia”, de Oliver Sacks

O neurologista Oliver Sacks reuniu e analisou uma formidável constelação de casos clínicos que põe em relevo a relação ímpar que o Homo sapiens tem com a música. Um livro imprescindível a quem se interesse por música ou pela natureza humana. Preços: normal 18.17€, feira 14.00€, livro do dia 7.75€

Dia 18: “A tempestade da guerra”

de Andrew Roberts (Texto)

Não faltam livros de divulgação histórica que oferecem uma panorâmica sintética sobre a II Guerra Mundial, mas poucos são capazes de rivalizar com o de Antony Beevor (ver dia 13) e com este. Andrew Roberts é uma autoridade em história militar e neste volume de quase 800 páginas dá especial atenção às tomadas de decisão que alteraram o rumo da guerra, quer do ponto de vista estratégico – por exemplo, a tenacidade de Churchill, nos negros dias de final de Maio de 1940, em prosseguir a guerra contra a Alemanha, enfrentando a opinião contrária do seu Gabinete de Guerra – quer do ponto de vista moral – quando planeavam a invasão da URSS, Hitler e Goebbels tiveram uma longa conversa, a 16 de Junho de 1941, em que o Führer justificou assim a sua visão implacável sobre como deveria ser conduzido o combate que se aproximava: “E uma vez que tenhamos ganho, quem vai questionar os nossos métodos? De qualquer modo, já temos tanto pelo qual responder que temos de vencer, caso contrário toda a nossa nação – connosco à cabeça – e tudo aquilo que nos é querido será eliminado”.

“A Tempestade da Guerra”, de Andrew Roberts

A II Guerra Mundial foi tão vasta e complexa que, apesar da bibliografia ser abundante, há sempre episódios inéditos ou factos conhecidos a que não foi dado o devido relevo: todos sabemos que a França se rendeu à Alemanha a 22 de Junho de 1940, mas nem sempre tem sido realçado que, entre as conquistas de Hitler, “foi o único país ao qual foi concedida a formalidade de um armistício” e (alguma autonomia) governativa. Preços: normal 34.90€, feira 27.90€, livro do dia 20.90€