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Clive Mason/Getty Images

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Fernando Santos em discurso direto. Sentem-se aqui, o mister explica

Uma conversa informal com Fernando Santos onde o seleccionador respondeu a tudo e mais alguma coisa. E explicou como Portugal "já não vai jogar à bola". Daqui para a frente, só futebol.

No campo, só bolas paradas

“Só tivemos três dias para preparar o jogo, ao segundo já tinha dito aos jogadores tudo o que íamos fazer. A seguir ao dia de descanso, na palestra, disse-lhes o que pensávamos da Croácia, o que tínhamos analisado, quais achava que eram os pontos fortes e, alguns, muito fortes, em termos de dinâmica de jogo. E também os menos fortes, dos quais íamos procurar tirar partido. Portanto, foi muito rápido, nem tempo tivemos para treinar, foi quase tudo em termos de quadro.”

“No treino, salvo uma ou outra exceção, praticamente só fizemos bolas paradas, porque esta equipa da Croácia tinha apresentado, nos jogos anteriores, muita pretensão à segunda bola. Muitas vezes só colocavam quatro homens na área e deixavam muita gente à entrada da área. Era assim que causavam muito perigo aos adversários, por isso trabalhámos isso no treino que aqui fizemos — a possibilidade de porem quatro ou cinco jogadores na área, no pontapés de canto. De resto, foi tudo explicado ao nível de quadro, pormenores táticos.”

“Se tivéssemos tempo para treinar outras situações, algumas coisas podiam ter sido melhores. As transições, talvez. Em vez de termos explicado no quadro, se fosse no campo, onde podia retificar o posicionamento depois da saída de bola ou, quando a ganhássemos, como é que podíamos sair, obviamente que isso seria significativo. Era termos mais dois ou três dias para exemplificar isso no treino. Como não tivemos, obviamente que sabíamos que havia um eixo central da Croácia que era muito forte. Depois tinham dois alas fortíssimos, com entradas interiores. Havia alguns momentos claros nesta equipa, com grandes jogadores, que eram muito difíceis de anular. Foi isso que tentámos explicar, com detalhe, no quadro. Em termos coletivos, acho que saiu bem”.

As clubites e o Renato Sanches

“Espanta-me um pouco e custa-me um bocadinho ver análises feitas de uma forma muito clubística. Esta é a seleção nacional, a equipa de Portugal, a seleção de todos nós, e vejo algumas análises não tanto a realçar o espírito da equipa. O que ela tem feito e fez neste jogo, com uma qualidade coletiva fantástica. Analisamos tudo de uma forma muito individualizada, muito de clube. Mas pronto, é uma forma de analisar e eu, como sempre, tenho de respeitar. Mas às vezes também posso discordar.”

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“Acho que nos devíamos centrar mais no que foi a equipa, como um todo. Não me parece justo realçar só um jogador e esquecer os outros, que fizeram um trabalho fantástico. Acho isso muito curto em termos de análise. Isto não tem significado nenhum para mim.”

FRANCISCO LEONG/AFP/Getty Images

A atitude que muito elogia a Quaresma

“Ele é um dos jogadores que percebeu muito bem a questão dos 23, acho que é talvez quem melhor retrata isso. Desde o início, quando o chamei, percebeu muito bem que fazia parte de um lote de 23 e que, nesses 23, qualquer um pode ser escolhido a qualquer altura. E acho que isso lhe mudou claramente a forma de pensar. O Ricardo, hoje, quer jogar, como sempre e como os outros, mas é um jogador que percebe que há partidas em que ele nem deve jogar ou entrar. Aceitou isto com muita naturalidade e isso não quer dizer que perdeu vontade ou ambição nem todas essas características.”

“Mas, percebendo isto, passou a ser um jogador claramente diferente na sua produção. Aquele stress de quem acha que tem de jogar e não sei quê… Muitas vezes isso tolda as ideias, depois precisas do jogador e se calhar ele já não está tão disponível. Mas o Ricardo tem sido um exemplo ímpar nestes dois anos comigo, nesse aspeto. Custa a compreender, mas é verdade.”

O jogo foi aborrecido? Só se for para o croatas

“Com as grandes equipas acontecem sempre estas coisas. Aborrecido para quem vê? Aborrecido foi para os croatas, que foram para casa. Peço desculpa, mas não consigo entender este lirismo do futebol. Digo sempre uma coisa muito simples aos meus jogadores — no futebol não há bonito e feio, bonitos e feios são os homens e as mulheres. A minha mulher diz que sou o homem mais bonito do mundo e ela sabe que eu não sou. No futebol há bem e mal, ou se jogam bem ou se joga mal. E Portugal jogou bem. Agora, bonito ou feio não é uma coisa que me preocupe muito. Estou ali para procurar que a equipa ganhe, é isso que me interessa.”

“Quando jogas contra um adversário como a Croácia, que antes do jogo era considerada super favorito, uma das melhores equipas desta fase, jogadores de altíssima qualidade, de grandíssimo nível. Nós anulámos completamente a Croácia, mas depois achamos muito mau porque a Croácia também nos conseguiu anular. Como é possível? Do outro lado estava quem, afinal? A Letónia ou coisa parecida? Não, estava uma equipa candidata a ganhar este Europeu. Não é normal que, do outro lado, também tenham estudado Portugal e nos tenham conseguido anular? Claro. Os espetáculos são depois o que são.”

“Alguns grandes treinadores do mundo, talvez até os melhores, sempre disseram que defender é uma grande arte no futebol. O que é preciso é também saber apreciar o futebol por esse lado. Portugal, nesse aspeto, esteve muito bem. Em termos ofensivos tentámos fazer outras coisas, mas a Croácia, em muitos casos, não deixou que os nossos movimentos entrassem. Mas penso que os melhores movimentos coletivos, em espaços, foram portugueses.”

“A única coisa para a qual avisei a equipa, a partir do prolongamento, foi de algo que estava a ser muito claro. A Croácia tentou fazer Portugal esquecer-se do jogo. Começou a trocar a bola, a trocar, a trocar, de maneira a que Portugal fosse perdendo a concentração. Os croatas têm três ou quatro jogadores na frente muito rápidos, muito fortes nas costas das linhas defensivas, com o Perisic e o Brozovic nas alas e o Mandzukic na frente, era assim que ganhavam muitos jogos, com o Rakitic sempre a entrar nas costas dos defesas também. Eles aí estavam claramente a tentar adormecer Portugal. E avisei os jogadores: atenção que a gente não pode ir nisto.”

Jogar futebol e não jogar bola

“Em outros jogos, a equipa algumas vezes perdeu-se um pouco do jogo, perdeu a concentração, jogou um bocadinho à bola e não futebol, teve alguns momentos assim. Neste jogo, chamei-lhes imediatamente a atenção de que não podíamos jogar à bola, tínhamos de jogar sempre futebol. Por isso tínhamos que estar concentrados e não ir atrás desse cheirinho do adversário. Um bocadinho como ia acontecer com a Hungria, em que achámos que podíamos ter ganhado o jogo de qualquer maneira. Esquecemo-nos foi que o podíamos ter perdido também. Procurámos tentar ser pragmáticos, sempre na perspetiva de, quando tivéssemos bola em ataque organizado, ou em contra-ataque, pudéssemos ganhar o jogo. Foi isso que fizemos.”

“Quando for preciso vai ser assim, não brinco com estas coisas. Eu quero é ganhar. Claro que quero que a minha equipa jogue bem, todos queremos, mas à maluca não. À bola já não jogamos mais. As finais só se ganham a jogar futebol. A jogar à bola não se podem, nem se conseguem, ganhar finais. Exige rigor tático, exige concentração, exige blocos compactos. Depois, naturalmente, exige que os jogadores consigam desenvolver o seu jogo, mas nem todos os adversários deixam. Vi lances muito bons e movimentos excelentes da nossa equipa, mas houve outros em que eles não deixaram, não foi por os meus jogadores não tentarem. Eles exerceram sempre grandes pressões, sobretudo na zona do meio campo.”

“Isto é que eu acho estranho. Portugal defendeu bem, mas diz-se que a Croácia teve demérito. O contrário também é verdade. Não foi Portugal que não quis jogar ao ataque, que não quis fazer, foi a Croácia que teve mérito. Quando há mérito de uns, os outros têm que se aguentar um bocadinho à bomboca.”

PHILIPPE HUGUEN/AFP/Getty Images

Toscos e altos é que os polacos não são

“Estou à espera de uma Polónia como a que jogou a primeira parte contra a Suíça, da que só tem um golo sofrido e que na fase de grupos não sofreu nenhum. Da que tem o Lewandowski, que por si só já chegava, é um avançado terrível. Da que tem o Błaszczykowski e o Piszczek no lado direito, que durante muitos anos formaram juntos a ala do Borussia Dortmund. É uma equipa muito personalizada, muito forte no ataque rápido e no contra-ataque, é disso que estou à espera. Toscos e altos não são, acho isso uma depreciação clara de uma seleção que tem muito valor e que, na primeira parte, dominou claramente a Suíça. Claramente.”

Mais alterações para a Polónia?

“Pode acontecer. Depende muito do que pretendemos e do adversário. Eu sei como posso chegar mais à frente ou ter mais garantias em determinadas posições do campo. É tendo isso em conta que vou montar a estratégia de Portugal contra a Polónia.”

O cansaço de André Gomes

“Pensei fazer a substituição no intervalo, naturalmente. Ele já estava a dar sinais de cansaço. Até podia ter feito um pouco antes. O André tem andado com algum problema, pensámos que estava a 100%, mas começou a dar alguns sinais de fadiga e isso podia ser preocupante para o jogo e para o jogador. Só que o Renato tinha de aquecer, não tinha tempo. Depois, rapidamente, tive que decidir se preferia que ele fosse aquecer ou que entrasse frio. Ou ele ficava na cabine para lhe explicar tudo o que queria e ele não ia aquecer, ou ele ia aquecer e eu depois explicava-lhe rapidamente, em dois ou três minutos, o que pretendia. Porque a entrada do Renato iria sempre alterar um bocadinho a forma de jogar. Daí a decisão de tirar o André nessa altura.”

Moutinho só está a 50%

“O caso do João Moutinho é do tipo que já tivemos aqui. Felizmente não temos tido lesões graves, das que impeçam um jogador de participar mais. Tivemos pequenos casos, como o Quaresma, o Raphaël, o André Gomes e temos agora com o João Moutinho. Não é um caso irresolúvel. Se fosse necessário cinco ou 10 minutos, num momento de aperto em que achasse muito importante tê-lo lá dentro, teria. Mas não estava, seguramente, em condições para jogar de início, porque podia sentir alguma dor rapidamente e era uma substituição forçada. Mas é uma situação igual à que o Quaresma teve.”

“É um jogador que não está, de maneira nenhuma, a 100%. Está para aí a 50%, se calhar, em termos clínicos. Estivemos até ao fim para perceber as melhorias dele. A indicação que tínhamos era que, se precisássemos, talvez desse uns 10, 15 minutos. Mais que isso era esticar a corda. Foi para o banco na possibilidade de jogar, mas, na minha cabeça, seria só em caso de extrema necessidade. Ele tem umas dores nas coxas como tiveram o Quaresma e o André Gomes e o miúdo, o Raphaël. Miúdo não, que ele é bom jogador.”

“Estamos convencidos de que vai recuperar, como fez o Raphaël e até o Quaresma, que era um caso que, ao início, nos deu maiores dúvidas. Não há comportamentos iguais nisto, há jogadores que recuperam mais rápido. Esperamos que, em cinco dias, o João fique a 100%.”

Não festejou o golo? Ora essa

“Não festejei? Então até há uma imagem, que até achei que não era eu, em que apareço a dar um salto desta altura [eleva o braço bem acima do chão]. Então é algo de muito estranho. Pensava que isso tinha sido no golo. Se não foi, devo ter ficado preso ao chão por ter dado aquele salto [ri-se bastante e a sala ri-se com ele].

Viu-se pouco de Modric, ainda menos de Rakitic. Fernando Santos explica

“O Rakitic, anormalmente, entre aspas, jogava em função do ponta de lança e não dos médios. Era mais um segundo avançado do que um médio. Era importante retirá-lo do jogo em muitos momentos, porque as ligações ou se faziam através do Modric, ou do Rakitic. O Rakitic fazia sempre um movimento muito claro e complicado — saía para o lado contrário da bola, permitindo que o 14 [Brozovic], do lado direito, entrasse para dentro de modo a que o Srna utilizasse sistematicamente o corredor. Era um movimento muito clássico deles. Isto levava a que as equipas, nos movimentos de basculação [rodar de um lado ao outro do campo, para fechar os espaços e acompanhar a bola], se esquecessem um bocadinho do Rakitic nas costas. Tentámo-nos preparar que isto não nos pudesse acontecer.”

“Tínhamos que dar frescura à equipa, porque o Modric costuma aproveitar muito as subidas do Srna para ir buscar a bola à direita. Normalmente as equipas fazem os dois centrais abrir e um médio aparece no meio. Eles não. Fazem ao contrário. A Sérvia também fazia isto com o Matic, na altura até foi o Danny a ficar incumbido de fechar essa zona. A primeira fase de construção é sempre a mais complicada, porque é a que mais dificuldades nos pode causar. Obviamente que tentámos, de alguma forma, que essa primeira fase croata fosse fluida, claro.”

“Da mesma forma que eles fizeram tudo para anular o Ronaldo, mesmo que tentássemos baralhar as contas, também nós, estrategicamente, tentámos anular os pontos fortes da equipa deles. É evidente.”

Foto: PHILIPPE HUGUEN/AFP/Getty Images

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E Ronaldo, pois claro

“Acho que o Cristiano fez uma exibição soberba. Ontem, como em outros jogos, deu um exemplo do que é esta equipa. Todos esperamos que ele faça 10, 15 ou 20 remates. Fez o remate que deu o golo do Quaresma. Não fez mais nenhum, é verdade, mas em termos de participação coletiva foi fantástico. Como capitão, deu um grande exemplo.”

Não, Fernando Santos não se sente especial

“Continuo igual a mim próprio, tranquilo da minha vida, a pensar pela minha cabeça. Nunca me senti especial na vida.”

Isto vai começar a apertar

“A Alemanha foi campeã do mundo e marcou muitos golos na fase de grupos. Mas não me lembro se passou, ou não, do 1-0 na fase a eliminar. Os 7-1 foram uma anormalidade. Houve muitos empates e decisões de penátis, eu próprio perdi assim. A partir do momento em que ficam os melhores, as coisas começam a apertar. Os jogos apenas se abrem se aparecer um golo muito cedo. Aí sim, as equipas têm de se abrir, isso viu-se com a França. Aquilo esteve apertadinho e a expulsão mudou tudo. As equipas vão estar todas prevenidas, claro. Não vão deixar de praticar o seu futebol, mas sempre preocupados em anular os outros.”

Os penáltis, just in case

“Naturalmente que trabalhámos as grandes penalidades. Havia um lote de sete ou oito jogadores que pensámos que podiam marcar. Iríamos decidir em função de quem estivesse em campo. Havia jogadores que já não estavam em campo, por exemplo. Sempre acreditámos que seria possível não chegar aos penáltis, mas claro que os tínhamos que preparar. Se não chegávamos ali e começávamos a mandar a moeda ao ar, não dava.”

Uma mensagem para os portugueses?

“Que acreditem tanto como os meus jogadores, porque eles vão morrer em campo para darem uma alegria ao povo português. Disso não tenho dúvidas nenhumas. Da nossa parte, os portugueses têm essa garantia. Foi isso que quis transmitir: estejam connosco porque vamos fazer tudo.”

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