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Imagem da exposição "Pinturas de Paisagem", de Pedro Cabrita Reis, patente na Galeria Miguel Nabinho de 9 de abril a 22 de maio © Galeria Miguel Nabinho
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Imagem da exposição "Pinturas de Paisagem", de Pedro Cabrita Reis, patente na Galeria Miguel Nabinho de 9 de abril a 22 de maio © Galeria Miguel Nabinho

Imagem da exposição "Pinturas de Paisagem", de Pedro Cabrita Reis, patente na Galeria Miguel Nabinho de 9 de abril a 22 de maio © Galeria Miguel Nabinho

Fotógrafos compulsivos, gentrificação e um café-museu: um guia de exposições para os próximos meses

Face à "palidez da oferta expositiva" da Direcção-Geral do Património Cultural", "não há Resiliência que aguente", defende Vasco Rosa, que sugere as mostras que existem e persistem em 2021.

Sem vagas de turistas que os sustentem pela bilheteira, sem autonomia financeira que tarda e dificilmente sairá dos discursos oficiais afinal dissuadores, e sem músculo institucional próprio capaz de os fazer respeitar por uma tutela ministerial cada vez mais centralizadora e burocratizante, que podem agora os nossos Museus Nacionais apresentar a público nesta aguardada reabertura após largos meses de encerramento forçado pela Covid-19 e, mais ainda, enquanto decorre a lenta renovação das direcções museológicas — após “regimes de substituição” esticados muito para além do permitido por lei… — feita através de concursos que só foram internacionais para se darem ares, dados os honorários e os orçamentos em causa, e em que novos directores entram em funções sem terem podido saber ao que vêm?

Sem perguntas como estas, e as respostas que elas possam ter, dificilmente se compreenderá — uma vez mais — a magreza e quase palidez da oferta expositiva que a Direcção-Geral do Património Cultural admite anunciar para o futuro próximo e que mais evidente fica neste semestre em que Portugal preside à União Europeia. Prolongamentos do que foi suspenso e abertura do pouco que havia sido adiado são a nota dominante num cenário devastado, ora irrelevante ora com fraco impulso de vida. O admirável Museu Nacional do Azulejo, por exemplo, só daqui a sete meses — em Outubro — terá uma exposição nova, dedicada a “Cerâmica no Feminino”, mas ainda por confirmar… Já o Museu Nacional Resistência e Liberdade (Peniche) parece ter ganho especiais privilégios de prioridade, com uma mostra sobre Aristides de Sousa Mendes a inaugurar pelo 25 de Abril – 1.º de Maio. O que explica isto?

E que dizer, afinal, do que foi decidido mostrar ao continente como representação da arte feita no nosso país, neste semestre em evidência comunitária: em Bruxelas, numa exposição que tem por título o modestíssimo “A liberdade e a Europa”, a colecção do Estado português — o Estado, claro, uma vez mais e sempre, antes de tudo e de todos — de arte contemporânea, a escolha é tão pobre e comprometida que se recomenda a quem por lá passe que se afaste discretamente porque aquilo é de fugir… Artistas que viveram, trabalharam e se inspiraram noutros países europeus como António Dacosta, Bartolomeu Cid dos Santos, Júlio Pomar, Costa Pinheiro, Henrique Ruivo, Eduardo Luiz, Júlio Resende, Gérard Castello Lopes, João Abel Manta, João Vieira, Manuel Cargaleiro, José Manuel Rodrigues, e outros, foram preteridos (como sucede a Pedro Cabrita Reis, Joana Vasconcelos, Jorge Molder e Paulo Nozolino), enquanto dos artistas preferidos se exibem as obras que o Estado tem e não aquelas que mais e melhor falam por eles, o que beneficiaria a sua internacionalização. Os comentários aos artistas e às obras oscilam entre a banalidade e a habitual obscuridade do jargão de tribo, faltando tudo a quem queira saber mais. De como tal colecção foi constituída, manipulada — e até saqueada — já muito de esclarecedor se soube há tempos, e pareceria suficiente para que não se tivesse ido por aí… Fica também exposto o menosprezo ideológico pelo coleccionismo privado e pelo galerismo — mas, afinal, historicamente tão decisivos para a vida artística —, e o destaque dado ao quadro Santa Maria de Joaquim Rodrigo (1961) na divulgação do evento, mais que estético, é para todos os efeitos uma declaração política vincada, como de vetusta tradição entre os senhores do momento.

Uma segunda exposição, dedicada a “Artistas portuguesas de 1900 a 2020″, comissariada por Helena de Freitas e Bruno Marchand, que o Ministério da Cultura desafiou a Fundação Calouste Gulbenkian a suportar — e recebe a chancela da PPUE, envolvendo também por inerência o MNE —, teve destino incerto até esta segunda-feira, 29 de Março, dez semanas depois de um incêndio ter inviabilizado a sua primeira aparição, no Palais des Beaux-Arts de Bruxelas. Abre a 1 de Junho e encerra a 23 de Agosto. De acordo com as insondáveis preferências do Governo, a divulgação da sua apresentação em Lisboa foi —incompreensivelmente — mantida sob reserva desde finais de Fevereiro (aquando do incêndio no museu bruxelense), até mesmo por uma instituição com a relevância da Fundação Calouste Gulbenkian. O Centre de Création Contemporaine Olivier Debrée, em Tours (um edifício concebido por Manuel Aires Mateus e pelo qual ganhou o prémio Miles van der Rohe em 2017), por onde devia transitar antes de vir até Lisboa (Março de 2022 é por agora a data prevista), tão-pouco a inclui já na sua agenda deste ano. Um importante catálogo de 336 pp. e design de José Albergaria e Ris Bas Barker (atelier Change Is Good) será previsivelmente lançado na inauguração na Fundação Calouste Gulbenkian.

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Uma terceira exposição, aliás estritamente virtual, tem como título o portuguesíssimo “Hope” e apresenta-se com considerável exagero como «um retrato social de Portugal»: são 150 imagens — dos primeiros anos 1970 à actualidade pandémica, boa parte das quais respigadas do seu extenso arquivo —, uma encomenda feita ao “fotógrafo do regime” Alfredo Cunha e apresentada sob a forma dum diaporama de 13 minutos, muito simples, sem informação de datas ou lugares e com uma banda sonora adquirida no mercado universal dos jungles, sem a conveniente participação nacional, o que não devia ser irrelevante. Algumas destas fotografias estiveram até há poucos dias patentes numa retrospectiva na galeria da Leica Store, do Porto. Cunha foi fotógrafo oficial do presidente da república Mário Soares durante dez anos, e o seu trabalho mais recente é a exposição A cidade que não existia: 40 anos da Amadora, que deu origem a um álbum publicado pela Tinta da China em Outubro de 2020.

Uma quarta exposição, “Amor, Arte e Exílio”, na Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva, de 7 de Abril a 6 de Junho, pouco menos é — e nem mais poderia ser, de facto — do que baralhar e dar de novo uma história já cem vezes contada e rebatida, e de resto sem preparação e encargos a assinalar…

Maria Helena Vieira da Silva fotografada por João Cutileiro, Lisboa 1958.

A quem isto pareça poucochinho, e uma grande oportunidade perdida, cabe dizer que por cá não estamos nem estaremos melhor. A ruína económica em crescendo terá efeitos profundos e por enquanto de difícil percepção sobre a vida de museus, galerias e pequenas fundações, com o inevitável suplemento de estrangulamentos e precaridades, enfraquecendo ainda mais a sua capacidade de fazer e programar a prazos compatíveis com todas as exigências da organização de exposições de algum porte, e cuja complexidade escapa ao olhar de quem percorre salas com quadros nas paredes ou esculturas aqui e ali. Até a mais simples comparação com o dinamismo, capacidade e saber-fazer de instituições congéneres no Brasil — um país que de facto colapsou, e recordista da pandemia assassina — é uma lição eloquente. Há muito que Portugal saiu do circuito da itinerância internacional de grandes exposições de arte e assim continuará a estar por maioria de razões a partir de agora, obrigando a quem se queira actualizado com temas ou artistas de sua predilecção a viagens rápidas com esse fim específico. Num país como o nosso, muito assimétrico, capturado pela hipnose televisiva e pela adição das redes sociais, e em que a conservação do património dependerá doravante de um jogo de azar e da vil exploração de pobres que o desconhece, um país, aliás, em que — num processo já transgeracional — muitos pais abandonam a professores a educação dos seus filhos (e também por isso não lhes ensinam curiosidade por artistas, museus e galerias de arte; história ou literatura), problemas recorrentes como a baixíssima frequência de exposições e a exiguidade do mercado de arte (um exclusivo de ricos, ou sobretudo de «novos ricos») terão doravante, sem surpresa, o seu correspondente ao desastre — em curso, e de resto acelerado pela mão asfixiante do Governo — vivido por livrarias e editores, sem esquecer os tipógrafos que destes dependem.

Por outro lado, importa verificar quanto as restrições pandémicas vieram favorecer o controlo político das principais acções culturais, cuja abertura é decidida não em função da prioridade do usufruto comum, público, de todos, mas depende da agenda de ministros e outros. Sirva de exemplo o que se passa com aquela que será — certamente — uma das exposições do ano 2021, no Palácio Nacional da Ajuda. “D. Maria II” (que se segue a um colóquio internacional que lhe foi dedicado em finais de 2019), está pronta a abrir portas desde meados de Janeiro, tem catálogo pronto, e a dez dias da reabertura de museus — anunciada há duas semanas — aguarda ainda por uma data combinada entre o gabinete da ministra da cultura e o da presidência da república, cujo museu — paradoxalmente, inusitadamente — aparece associado a esta realização.

Vejamos, pois, o que por enquanto existe e persiste.

A Fundação de Serralves, no Porto, apresenta até finais de Abril “Manoel de Oliveira fotógrafo”, uma centena de fotografias dos anos 1930-50, na sua maioria inéditas, uma parte das quais sobre circo, aviação civil e registos familiares, por vezes materiais de trabalho para projectos que não foram adiante, que do arquivo do cineasta saltaram para ajudar a equacionar a evolução estética do centenário mestre e “contextualizar, numa perspectiva mais ampla, o rigor de composição que, de uma maneira geral, caracterizam todos os seus filmes”. O comissário António Prieto faz uma elucidativa visita guiada num vídeo youtube.

Na Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva, em Lisboa, até 6 de Junho, o casal de artistas surge retratado por João Cutileiro, “fotógrafo compulsivo desde os anos londrinos”, numa exposição que se tornou afinal também um tributo ao escultor de 83 anos, falecido em Janeiro passado. Joaquim Caetano escolheu as imagens e José Manuel Costa Alves tratou delas e imprimiu-as com grande zelo técnico.

No Museu da Misericórdia do Porto, desde 15 de Abril e até 24 de Setembro, fotografias de moda de Peter Lindbergh (1944-2019) dialogam com esculturas e desenhos do suíço-parisiense Alberto Giacometti, numa exposição apoiado pela vinícola Taylor’s e comissariada por Charlotte Crapts, que em 2019 trouxera ao Palácio das Artes do Porto uma mostra de trabalhos de Picasso dos anos 1930.

Na Fundação Côa Parque, ainda por umas semanas Manuel Botelho justapõe “Branco Chumbo” e “Negro de Fumo”, duas séries fotográficas, uma sobre escultura tumular portuguesa em mosteiros e igrejas, outra percorrendo paisagens em redor de Tondela devastadas pelos grandes incêndios de 2017.

A exposição de Renée Gagnon em Évora

Na Fundação Eugénio de Almeida, em Évora, a partir de 8 de Maio, a canadiana Renée Gagnon residente em Portugal desde 1970 apresenta “Santuários”, fotografias em grande formato de antas irlandesas, bretãs, holandesas e portuguesas subtilmente pintadas. A exposição é comissariada por Manuel Costa Cabral, e o texto do catálogo é de João Pinharanda.

Na LeicaStore, do Porto, cuja galeria mostra estar atenta ao trabalho de fotógrafos fiéis à centenária marca alemã, Gustavo Fonseca (1993-) — vencedor do Prémio Leica Oscar Barnack Newcomer 2020 — apresenta de 15 de Maio a 31 de Julho “New Lisbon”, um portefólio dedicado à violenta gentrificação da capital e aos dramas pessoais e familiares, de quem — idosos incluídos — foi arredado das suas casas, um tema muito premente e actual, que tem sido abordado por outros fotojornalistas. Uma dessas imagens corresponde à demolição duma enorme vila popular nas Amoreiras, o que desmente o anúncio solene e mediático de Fernando Medina de que, num grandioso programa e orçamento, o município as iria proteger, reabilitar etc. etc. etc.

Gustavo Fonseca, duas fotografias da premiada série «New Lisbon»

Gonçalo Fonseca

A fotografia também está em destaque no Padrão dos Descobrimentos, cuja actividade expositiva pode ser desconhecida de alguns mas é merecedora de elogios — desde logo pelo sempre imaginoso renovo cenográfico do espaço afinal exíguo da sua cave, pelo seu empenho no conhecimento e debate dos legados do território em que se fixou e das variadas facetas, da ciência às artes e à história, das descobertas portuguesas que tiveram Belém como seu ponto de partida. Desta vez, a exposição “Visões do Império” abre a 16 de Maio e fica até ao fim do ano, período em que haverá certamente — quando puder ser… — ocasião para as habituais e concorridas visitas guiadas (sob marcação prévia), projecção de filmes e debates. Coordenada por Miguel Bandeira Jerónimo, da Universidade de Coimbra, e Joana Pontes, documentarista, autora do recente Sinais De Vida: Cartas Da Guerra, 1961-1974, reúne imagens fotográficas de campanhas de delimitação de fronteiras e de missões científicas ou afins, como a da duquesa de Aosta a Moçambique em 1909, páginas de álbuns fotográficos, como o de José dos Santos Rufino (Moçambique, 1929) e de Jaime de Morais (Angola, 1931) ou relativos a monumentos em Goa e Macau, e outras de exposições coloniais, mas também a visão do «outro lado», em particular a do fotojornalista Ricardo Rangel (1924-2009), que a serviço de jornais de Lourenço Marques e da Beira reportou situações do domínio colonial que lhe colocaram problemas com a polícia política e a censura.

Jaime de Morais, Retrato oficial do Rei do Congo, D. Pedro VII, ao lado da sua mulher, a Rainha D. Isabel Tusamba a 10 de Janeiro de 1931. © Fundação Mário Soares e Maria Barroso.

Ali perto — onde o plano de núcleo cultural integrado imaginado por António Ressano Garcia Lamas foi deitado ao lixo e «nunca mais se falou nisso» —, o Museu Nacional de Arqueologia remonta com cenografia high tech a sua colecção, na mostra dedicada a “Ídolos: Olhares Milenares”, a abrir a 9 de Abril. No Museu Nacional de Etnologia, prevista para inaugurar em Maio, haverá “Um cento de cestos”, exposição sobre a qual não há informação disponível (e o director não responde a emails).

O Museu Nacional de Arte Contemporânea reabre a 6 de Abril mantendo duas exposições já patentes: “Otelo e Desdémona. Nos palcos da paixão” e “Face à Vida Nua”. A 18 de Maio  seguem-se “Olhares modernos. O retrato na pintura, escultura e desenho no século XX (1900-1950)”, com curadoria de Maria de Aires Silveira e Emília Tavares, e “Herança” de Ana Vidigal e Nuno Nunes-Ferreira, com curadoria de Emília Ferreira e apoio mecenático da Fundação Millennium bcp, que duas semanas depois vê inaugurada, no Museu, a Galeria Millennium bcp com a exposição “O caminho para a luz porque passa pela luz”, organizada por João Biscaínho. O mecenato desta Fundação está a ganhar, também ali, efectiva força de mola independente para novas realizações: a 2 de Junho abre “Francis Smith. Em busca do tempo perdido”, com curadoria de Jorge Costa, baseada num protocolo entre o Museu, o Instituto de História da Arte da FCSH/UNova e a mesma Fundação, também envolvida na que considero ser a mais expectável exposição, “A Brasileira do Chiado. Café-museu (1925-1971)”, preparada por Raquel Henriques da Silva e Maria de Aires Silveira, e suportada financeiramente pela empresa O Valor do Tempo (gestão do histórico café), o Grupo de Amigos do Museu e — mais uma vez — a Fundação Millennium bcp, contando com o apoio documental da Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.

Na Biblioteca Nacional, organizada por Duarte Belo e Madalena Vidigal, a exposição “O atlas de Suzanne Gaveau: geografia, fotografia, tempo”, agendada para Abril mas ainda sem dia decidido — a precaridade institucional tem destas coisas! —, vale como homenagem à geógrafa francesa de 96 anos — que viveu com Orlando Ribeiro, com ele trabalhou no Centro de Estudos Geográficos e desde a sua morte em 1997 cuida e procura manter viva a sua singularíssima obra —, e mostra pela primeira vez os seus trabalhos como fotógrafa que percorreu Europa e África, aqui organizados em quatro grandes temas: ruralidade, humanidade, cidade e natureza.

Suzanne Daveau. Capa do catálogo Atlas, na Biblioteca Nacional.

De Julho a Outubro, também na Biblioteca Nacional — ressuscitando exposição de 2016 na Faculdade de Belas Artes do Porto —  e sob os auspícios do Plano Nacional das Artes, Susana Lourenço Marques revisita, a partir do respectivo arquivo fotográfico, a experiência de expressão criativa com crianças desenvolvida em 1977 pela pedagoga Elvira Pereira Leite (1936-) nas ruas e calçadas do depauperado bairro da Sé, no Porto. “Quem te ensinou? — Ninguém” é o seu título.

No Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra, “Refracções Camomianas em artistas do século XXI – Ut Poesis Pictura” — um interessante diálogo, que inclui Nikias Skapinakis, Júlio Pomar, Francisco Laranjo, Pedro Calapez, José Rodrigues, António Olaio, Pedro Proença e outros, promovido pelo centro de estudos camonianos da Universidade de Coimbra e curadoria de Maria Bochicchio —, que deveria encerrar a 28 de Março ficará patente mais um mês, até 28 de Abril.

Por iniciativa da Fundação D. Luís I, no Museu da Presidência, a partir de 7 de Junho, dia do município de Cascais, grande exposição sobre a obra gráfica de João Abel Manta (hoje com 93 anos e há décadas a viver em Londres), comissariada pelo designer, editor e investigador Pedro Piedade Marques, que já dedicou uma monografia ao artista (Cardume, 2017, 96 pp.) e em 2018 organizou uma exposição sobre ele na Galeria Valmor, em Lisboa (catálogo: Caleidoscópio, 104 pp.). Oportunidade de excelência para ver os originais dos seus desenhos, um espólio magnífico e de interesse histórico evidente ainda à procura de ser devidamente acautelado e divulgado, depois de muitos anos de indiferença e negligência patrimonial da Câmara Municipal de Lisboa.

No Arquipélago: centro de artes contemporâneas, na Ribeira Grande, ilha de São Miguel, mostram-se — até 27 de Junho — 60 desenhos caligráficos de inspiração oriental realizados por Ana Hatherly (1929-2015) entre 1964 e 1989, pertencentes à colecção de arte da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento.

No Museu Oriente, em Lisboa, desde 6 de Maio há “A Vez das Deusas. Cartazes da Índia da colecção Kwok On”, o roteiro hipercolorido duma centena de objectos que documentam a litografia como agente comercial e também devocional, em cruzamentos inesperados que humanizaram as divindades, especialmente as femininas hindus, até hoje. Considerados como essenciais para uma história visual popular do grande país asiático, são também um índice de mudanças sociais e políticas, servindo, por exemplo, uma campanha contra violência doméstica em que divindades femininas revelam nódoas negras e sinais de abuso…

No Museu do Vidro, na Marinha Grande, até fim de Outubro, é a produção Murano da Vetreria Aureliano Toso, activa de 1938 a 1968, que é dada admirar na colecção do berlinense Lutz H. Holz. Não é a primeira vez que o Museu acolhe esta específica produção artesanal e os vidros decorativos de Holz, pois já em 2017 e 2018 apresentara as exposições «Arte Vetraria Muranese» e «Fratelli Toso, 1910-70» — com itinerância variada em museus desta especialidade.

O Museu do Vidro, na Marinha Grande, recebe a exposição “Vetreria Aureliano Toso”, da coleção de Lutz H. Holz, até 31 de outubro de 2021

Na Fundação Calouste Gulbenkian, mas só de 6 a 12 de Abril, uma última semana para admirar a magnífica exposição “René Lalique e a idade do vidro: arte e indústria”, com curadoria de Luísa Sampaio, a primeira dedicada ao tema naquela fundação desde 1988. Para quem não possa aparecer, visitas virtuais podem ser agendadas sob marcação a partir de dia 6.

A Casa do Design, de Matosinhos, recebe já a partir do dia 5 de Abril, e até 16 de Maio, a exposição retrospectiva Thomaz de Mello — “Tom, todo o desenho possível” —, que no fim do ano passado esteve patente o Festival de Ilustração de Lisboa, e a cujo catálogo-monográfico já fizemos referência aqui no Observador.

O Museu do Design e da Moda, de volta ao Palácio dos Condes da Calheta, apresenta de 29 de Abril a a 24 de Julho a exposição reflexiva “Lixo ou Luxo?”, uma história dos objectos e do design na sociedade de consumo ainda integrada na programação de Lisboa Capital Verde 2020, propondo discutir as mudanças a fazer por «um mundo cada vez mais global, humanista e sustentável», mas só com «a prata da casa», da curadoria aos objectos exibidos.

Um pouco abaixo, a Garagem Sul do Centro Cultural de Belém acolhe — entre 16 de Abril e 5 de Setembro — a itinerância da exposição “Em Casa: projectos para habitação contemporânea”, que o Museu Nacional das Artes do Século XXI em Roma promove: um diálogo não apenas entre diferentes gerações de arquitectos, quase todos italianos (a que se juntam exemplos portugueses, o das residências de Alcácer do Sal por Aires Mateus e o do Bloco das Águas Livres, por Teotónio Pereira e Costa Cabral), mas também de edifícios de muito distinta funcionalidade e dimensão. Curadoria de Margherita Guccione, Pippo Ciorra, André Tavares e Sérgio Catumba.

A Sociedade Nacional de Belas-Artes, em Lisboa, de 25 de Julho a finais de Setembro, numa iniciativa do MUDE e da Associação Portuguesa de Joalharia Contemporânea, expõe com curadoria de Laura Castro a obra de joalharia do escultor e medalhista José Aurélio, iniciada nos Estúdio SECLA, da sua terra natal, as Caldas da Rainha, em 1958, quando tinha apenas 20 anos.

A Casa da Cerca, em Almada, apresenta a partir de 8 de Maio, “Eva: nove ilustradoras portuguesas do século XX” — Alice Rey Colaço, Mily Possoz, Raquel Roque Gameiro, Laura Costa, Guida Ottolini, Ofélia Marques, Sarah Afonso, Maria Keil e Fernanda Fragateiro —, um trabalho do designer e historiador do design Jorge Silva, que ali já comissariou outras mostras, como a do grafismo português de literatura policial.

A Galeria Miguel Nabinho, em Lisboa, apresenta a partir de 9 de Abril “Pinturas de paisagem”, de Pedro Cabrita Reis — 87 novos trabalhos que parecem surpreendentes, pelo que foi dado ver no depoimento dado ao MNAC, enquadrado numa extensa série de vídeos recentemente gravados com artistas que é, entre nós e no período que vivemos, uma das mais admiráveis demonstrações da vontade dum museu em reagir à adversidade do fechamento, servindo o seu público com um renovado contacto com o mundo artístico, entre consagrados e emergentes, e produzindo ao mesmo tempo um invulgar testemunho histórico sobre o processo criativo contemporâneo.

Na Casa das Histórias, em Cascais, continua até 30 de Maio o estimulante diálogo entre Paula Rego e Josefa de Óbidos, sugerido pela curadora Catarina Alfaro sob o tópico “arte religiosa no feminino”. Programação futura depende por enquanto duma parceria institucional em fase de concretização.

Na Fundação Serralves, a exposição “Louise Bourgeois: deslaçar um tormento”, inaugurada em Dezembro, segue até 20 de Junho, mostrando obras dos anos 1940 a 2010, ano da sua morte, escolhidas pela curadora Emily Wei Rales.

Louise Burgeois, Maman (1999-2002), no Parque de Serralves

Na Casa Roque, também no Porto, até 6 de Maio continua “Footnote 14: Angel of History”, com curadoria da polaca Barbara Piwowarska e vasta colaboração de museus e outras instituições, uma exposição colectiva de 15 autores — artistas plásticos e não só, pois também inclui crianças e professores — estrangeiros e portugueses que tomaram como tema a figura do anjo da história tal como vista por Walter Benjamin, o seu Angelus Novus a partir do famoso desenho de Paul Klee. As “migrações da modernidade”, as “margens da história” e o que verdadeiramente significa “estar em casa” são temas abordados, tal como a intencional passagem do filósofo alemão pelo nosso país, onde descendentes seus têm laços familiares.

Abrir os olhos, esticar as pernas: a oferta fora de portas

Se as restrições à mobilidade intra-europeia forem muito reduzidas, ou anuladas, e a cada um se ofereça ocasião e modo de viajar, a oferta expositiva além-fronteiras apresenta-se como vitrina de loja de brinquedos para crianças ávidas de imaginação e liberdade, mesmo em capitais rudemente fustigadas pela pandemia mas que não deixaram de o ser por causa disso.

Madrid, Galiza, Barcelona

Madrid teve até há poucas semanas, no Prado, “Invitadas. Fragmentos sobre mujeres, ideología y artes plásticas en España (1833-1931)”, de que agora sobra o catálogo (448 pp., 28,50 € na sua loja online), e abriu já, até 4 de Julho, no mesmo museu “Pasiones mitológicas: Tiziano, Veronese, Allori, Rubens, Ribera, Poussin, Van Dick, Velázquez”, uma das “melhores selecções da pintura mitológica dos séculos XVI e XVII” e “a primeira vez em que estas pinturas podem ser vistas juntas”, por cooperação entre grandes museus e graças ao patrocínio da Fundação BBVA. Uma  pequena caminhada na Castellana e no Museo Nacional Thyssen-Bornemisza temos — de 20 de Abril a 8 de Agosto — a primeira retrospectiva em Espanha da norte-americana Georgia O’Keeffe, uma escolha de 80 quadros, também uma itinerância europeia que depois vai a Paris e Basileia, e entre 11 de Maio e 22 de Agosto uma exposição de esculturas de madeira endémica jamaicana em forma de coral feitas com motossera pela suíça de apenas 37 anos Claudia Comte, intitulada “After Nature”, apoiada na obscuridade numa instalação imersiva que evoca as profundidades marinhas e a defesa dos oceanos. Do outro lado, na Biblioteca Nacional de España, admirou-se até há poucos dias cem anos de ilustração sobre o Caminho de Santiago, «como protagonista da história de Espanha e da Europa», e já se anuncia para 30 de Abril uma mostra do seu rico fundo de manuscritos iluminados do Norte da Europa, 70 dos 160 que constituem uma das colecções menos conhecidas da imponente instituição patrimonial, e para 30 de Junho “Dante Alighiei en la BNE: 700 años entre inferno y paraíso”, com manuscritos da Divina Comédia, gravuras e incunábulos.

A Galiza agita-se. Destaque natural para “Bilbao y la pintura”, no Guggenheim local e com patrocínio de Iberdrola, uma “história visual da cidade” oitocentista através de 27 cenas pictóricas mostradas de final de Janeiro até 29 de Agosto, sob curadoria de Kosme de Barañano. Também bem merece uma curta viagem a Santiago de Compostela a exposição “Nueva York amarga”, com 140 das 350 fotografias a preto e branco que o catalão Carles Fontseré (1916-2007) enviou em finais da década de 1960 e inícios da seguinte ao escritor Camilo José Cela (1916-2002) e se exibem no Centro Galego de Arte Contemporánea entre 3 de Junho e 26 de Setembro.

Uma obra de Zubiaurre anima a mostra "Bilbao y la Pintura"

A situação dos negros nos Estados Unidos da América e no mesmo período também é tema duma exposição de Garry Winogrand (1928-84) na Fundación Mafre de Barcelona (Centro KBr), entre 8 de Junho e 5 de Setembro, cidade onde de resto há muito de bom para ver durante esta temporada. Decorrem até 23 de Maio “La mirada cautiva”, exibição de 104 daguerrótipos da rica colecção do Centre de Recerca i Difusió de la Imatge, de Girona, e — diria que sobretudo — as 300 imagens fotográficas da suíça-brasileira Claudia Andujar (1931-) colhidas durante a sua convivência com os Yanimani, índios amazónicos colocados em transe gravíssimo nos últimos tempos, numa exposição que é tida como a maior até à data sobre a trajectória artística e humana de Andujar, preparada em colaboração com o Instituto Moreira Salles.

Barcelona destaca-se ainda, em fotografia, com “La guerra infinita” de Antoni Campañà (1906-89), um grande lote de imagens do período da guerra civil espanhola escolhida de um espólio familiar furtivamente descoberto em 2018 e que se apresentam agora no Palau Nacional até 18 de Julho, com o apoio da Leica. Quem ali for depois de 3 de Junho, ou até 12 de Setembro, pode também ver “Les colores del fuego”, a conversa entre dois grandes ceramistas, o catalão Josep Llorens Artigas (1892-1980) e o nipónico Hamada Shoji (1894-1978), a pretexto do movimento Mingei, que em meados do século passado recuperou cerâmica e arte popular japonesas — uma exposição comissariada por Ricard Bru Turull.

Áustria, Suíça

No Albertina Museum, de Viena, até 20 de Junho “Faces. The power of the human visage” mostra retratos fotográficos de grande impacto produzidos durante a república de Weimar por quatro dezenas de homens e mulheres, além dos celebrados August Sander e Helmar Lerski. Um catálogo de 248 pp. editado por Walter Moser e publicado por Hirmer Verlag é vendido por 34,90 €. No Leopold Museum, entre 16 de Abril e 26 de Setembro, “The Body Electric: Erwin Osem – Egon Schiele” revela enfim desenhos que o primeiro destes artistas fez durante um internamento electroterapêutico, tomando outros pacientes como modelo, permitindo considerar o que se chamou “modernismo clínico”.

Na Kunsthaus de Zurique, de 21 de Maio a 29 de Agosto, “Hodler, Klimt e a Wiener Werkstätte”, a loja e galeria de arte de Viena fundada em 1903 que criou uma filial naquela cidade suíça em 1917 e em ambos os países ajudou a derrubar a distinção entre belas artes e artes aplicadas. Aproximando Klimt e o suíço Ferdinand Hodler (1853-1918), a história da filial da loja vienense — abordada pela primeira vez — é ilustrada por 180 obras, entre quadros, esquissos, móveis, jóias, tecidos, fotografias e outros.

No Kunstmuseum de Basel, até 20 de Junho, grande exposição — 400 obras — da artista plástica e arquitecta Sophie Taeuber-Arp (1889-1943), sob o título de “Living Abstraction”, que viaja para Londres no verão e chega ao MoMA de Nova Iorque em Novembro, para ficar até Março. A revista do Financial Times, “How to Spend It”, do último sábado dá-lhe destaque no seu “Opening Shot”.

França, Bélgica, Holanda

Em Paris, atenção também às “Modernités suisses” (1890-1914), exposição inaugurada a 2 de Março e até 27 de Junho no Musée d’Orsay, que em 2007 e 2014 já havia apresentado grandes retrospectivas de Hodler e de Félix Vallotton, mas agora alarga o espectro de toda uma geração finissecular de pintores helvéticos de grande vitalidade, mas permanecem profundamente desconhecidos fora do seu país. No mesmo museu, até 2 de Maio, “Les origines du monde: l’invention de la nature au XIXe siècle”, mostrando que além dos naturalistas e das expedições científicas, a origem da vida influenciou profundamente os artistas simbolistas e arte-novistas. O motivo da exposição é o quadro de Gabriel Cornelius Ritter von Max Abelardo e Heloísa, afinal dois macacos…

Obra de Giovanni Giacometti (por volta de 1907). O Museu d'Orsay acolhe as "Modernités Suisses"

Na Foundation Louis Vuitton, remarcada para de 12 de Maio a 10 de Outubro, “La collection Mozorov. Icônes de l’art moderne”, arte francesa e russa dos irmãos Mikhaïl e Ivan Abramovitch Mozorov, falecidos em 1903 e 1921, e que é vista pela primeira vez fora do seu país.

O elogio do grande colecccionador privado também se faz no Louvre, que apresenta até 24 de Maio “En scène: dessins de costumes de la collection Edmond de Rotthschild”.

A Biblioteca Nacional de França e a Ópera Nacional de Paris juntaram esforços para uma grande exposição pelo centenário do músico e compositor Camille Saint-Saéns, a ocorrer na biblioteca-museu da Ópera de 25 de Junho a 10 de Outubro, sob o título “Un esprit libre”·

No Petit Palais, até 23 de Maio, “Édition Limitée: Vollard, Petire et l’estampe de maîtres” dá atenção a dois «audaciosos» (sic) editores de livros ilustrados de grande luxo e de estampas que tiveram colaboração de Cézanne, Bonnard, Gauguin, Picasso, Redon, Chagall e outros, um pequeno mas rigoro e fascinante mundo da arte que não viu ainda reconhecido o seu devido lugar na historiografia da arte. Também o Hermitage de São Petersburgo exibe “Surrealismo e o Livro”. A partir da colecção de Mark Bashmakov, entre 16 de Junho e 3 de Outubro. E em Berlim, o Kupferstichkabinett do Museu do Estado exige  — de 2 de Junho a 15 de Agosto — “O inferno negro e a luz das estrelas”, xilogravuras em série de Klaus Wrage (1891-1971) e da dinamarquesa Ebba Holm (1889–1967) inspiradas na Divina Comédia de Dante Alighieri, numa exposição com participação de artistas mais contemporâneos.

No Musée Picasso e no Musée Rodin, desde Fevereiro e até Janeiro de 2022, “Picasso-Rodin», é uma dupla exposição organizada pela primeira vez pelos museus dos dois artistas, um convite a leituras cruzadas entre duas obras maiores. Catálogo publicado pela Gallimard, 432 pp., 45 €.

No Centre Pompidou de Metz, prolongada até 30 de Agosto, “Chagall, le passeur de lumière” justifica — ao menos para os irredutíveis fanáticos do vitralismo… — a viagem de TGV, pois não deixará de se surpreender os visitantes com a quantidade de materiais recolhidos em variados museus internacionais e colecções sobre a extensa obra realizada nesta arte maior durante quase três décadas, entre 1958 e 1984, em França, na Alemanha e noutros países. A exposição está inscrita nas comemorações dos 800 anos da catedral de Metz, que exibe os primeiros vitrais de Marc Chagall. Indo muito cedo, poderá aproveitar para ver, no mesmo centro cultural, a curiosa “Aerodream. Architecture, design et structures gonfables, 1950-2020″, até 23 de Agosto.

Na Bibliothèque Nationale François Miterrand, de 13 de Abril a 22 de Agosto, a obra de Henri Carrier-Bresson pode ser revista na sua Master Collection de 1973, “reunindo as 385 melhores fotografias nas tiragens as melhores possível”, porém submetida ao olhar de cinco comissários convidados — entre os quais Annie Leibovitz e Wim Wenders —, num jogo cego em que nenhum deles conhece as escolhas dos outros.

O Museé des Art Décoratifs, desde 1 de Abril até 2 de Janeiro, mostra pela primeira vez uma escolha de 400 imagens das suas colecções de fotografia, entre moda, arquitectura, decoração, publicidade e paisagem, que somam mais de 35 mil fototipos, fazendo valer o fundo patrimonial da instituição, que teve a sua origem em 1864.

Na Fondation Cartier pour l’art contemporaine, de 1 de Junho a 2 de Janeiro, “Cherry Blossoms” de Damien Hirst, 30 pinturas de 2018-20 escolhidas por Hervé Chandès e pelo artista brtiânico.

No Musée Quai Branly, entre 22 de Junho e 26 de Setembro, “Gullarri. Paysage de l’eau au nord de l’Australie”, tem por base pinturas e esculturas do povo Yolngu da ilha de Milingimbi recolhidas pelos anos 1960 pelo artista checo Karel Kupka, coleccionador de arte aborígena, e completadas por textos poéticos, documentos audiovisuaise e um filme experimental realizado por um centro de arte comunitário, relacionando cartografia sagrada, ancestralidade, parentesco e ecologia em ambientes adversos, em representações tanto de alto mar como de ecosistemas de água doce. A partir de Outubro, o Palais de Tokyo também dá atenção — no quadro duma atenção mais geral à cena artística australiana, pelo programa Australia now France 2021-2022  —  à obra dum artista, Jonathan Jones (1978-), membro das nações Wiradjuri e Kamilaroi do sudeste do país, que reverte sobre a grande expedição científica — e de saque — realizada por Nicolas Baudin às ordens de Napoleão, em inícios do século XIX.

Bélgica, Holanda, Alemanha

No Bozar, diminutivo do Musée des Beaux-Ats de Bruxelas, há até 21 de Julho uma grande retrospectiva de Roger Raveel (1921-2013), cujo centenário celebra este original pintor belga em grande destaque na segunda metade do século XX.

No Museu Hof van Busleyden, em Mechelen (arredores de Antuérpia), até 4 de Julho, “Filhos da Renascença” mostra — com o alto patrocínio de Sua Majestade o Rei dos Belgas e o apoio de um fundo administrado pela Fundação King Baudoin —  retratos infantis de três gerações de príncipes e princesas de Borgonha-Habsburgo que ali mesmo cresceram, incluindo Filipe, o Belo, Margarida da Áustria e o futuro Carlos V, e ali mesmo foram pintados — «em toda a sua fragilidade» — por encomenda a artistas de renome como Jan Gossart, Bernard van Orley, Pieter van Coninxloo e Juan de Flandes. Alguns dessas pinturas que haveriam de servir à diplomacia das alianças aristocráticas e de corte por via de casamentos negociados estão de volta a Mechelen pela primeira vez em meio milénio, e são mostrados a par de livros, brinquedos, jóias e outros objectos especiais que constituem uma outra representação da vida de infância de corte dos séculos XV e XVI.

No Kunsmuseum de Haia persiste até 25 de Abril a mostra “Donation Auguste Herbin”. A oferta ao museu do quadro do pintor francês (1882-1960) Le Remorqueur (O Rebocador), de 1907, por parte dum coleccionador privado mantido anónimo, é celebrada por uma exposição que coloca Herbin a par de pintores do seu tempo e como ele partidários do fauvismo e de outros ismos em voga quando já o Kunstmuseum tinha uma verdadeira política de aquisições de arte contemporânea dirigida pelo seu director Hendrik van Gelder e o seu curador-chefe Gerhardus Knuttel (1889-1968).

No Kunsmuseum de Haia persiste até 25 de Abril a mostra «Donation Auguste Herbin», partindo da oferta do quadro do pintor francês (1882-1960) Le Remorqueur (O Rebocador), de 1907

No Rijksmuseum de Amesterdão, a cada um a sua escolha, ou escolha dupla: “Escravatura: dez histórias verdadeiras”, relativas ao período colonial neerlandês, tem por enquanto data incerta na Primavera deste ano, a complementar com a edição dum livro e um simpósio internacional online organizado em colaboração com a Biblioteca Real e os Arquivos Nacionais de Haia. E há uma outra exposição, “Music Parade”, uma centena de instrumentos musicais de valor histórico, gravuras, desenhos e objectos militares dos séculos XVII-XIX, entre os quais uma trombeta de prata, raramente vistos desde o início do XX, em especial 45 tambores de batalha.

No Deutsches Historisches Museum, de Berlim, desde Dezembro e até 20 de Junho, “Relato do Exílio. Fotografias de Fred Stein” (1909-67), imagens urbanas de Paris e Nova Iorque, dos anos 1930 a 60, incluindo retratos de escritores. Na Galeria Alemã, admiráveis esculturas de  Louise Stomps, “Figuras naturais. Trabalhos 1928-88”, serão pela primeira vez mostrados em antologia e contexto internacional apenas em Outubro próximo, mas o aviso é-lhe desde já devido.

Reino Unido

“Epic Iran” no Victoria & Albert Museum — 5000 anos de arte, design e cultura —, e “Turner’s Modern World”; na Tate Modern, ambas até 12 Setembro de 2021 merecem toda a atenção às possibilidades de viagem segura a Londres. “Poussin and the Dance”, na National Gallery, abrirá, é certo, um pouco depois (de 9 de Outubro a 2 de Janeiro), e a Tate Modern apresenta de 13 de Julho a 17 de Outubro a exposição de Sophie Tauber-Arp que lhe chega de Basileia, mas não se pode ter tudo… e ao mesmo tempo.

Seja como for, estará aberta de 10 de Setembro a 21 de Novembro, na Ikon Gallery de Birmingham a exposição “Edward Lear: Moment to moment”, que mostra a faceta do poeta (1812-88) enquanto desenhador e pintor de paisagem enquanto viajante precoce na Europa, Médio Oriente e Índia. Em Edimburgo, de 29 de Maio a 26 de Setembro, Islander: the paintings of Donald Smith», no City Art Centre, e sobretudo — de 15 de Maio a 10 de Outubro, no mesmo local, uma grande retrospectiva de Charles Hodge Mackie (1862-1920), “Colour and Light“, pintor escocês inspirado no simbolismo francês, arte japonesa e revivalismo celta que fez pintura mural, design de livros, xilogravura, aguarela, escultura e pintura a óleo.

Brasil

Na Pinacoteca de São Paulo, é a obra do designer de origem suíça John Graz (1891-1980) — um dos participantes da Semana de Arte Moderna de 1922 — que se dá a conhecer em perspectiva histórica essencial para as artes decorativas no Brasil, entre 26 de Junho a 21 de Fevereiro de 2022. Enquanto no Instituto Moreira Salles, da mesma capital, “Espíritos sem nome” mostra a arte fotográfica do baiano Mário Cravo Neto, sob curadoria de Luiz Camillo Osorio. Duas exposições que gostaríamos de ver, assim houvesse diplomacia cultural portuguesa digna do nome…

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