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João Matos, capitão da equipa de futesal do Sporting (SCP) e da Seleção Nacional, em entrevista ao Observador após a vitória para a Supertaça de Futsal, no dérbi entre o Sporting e o Benfica, que venceu por 7 - 5. 27 de Setembro de 2022 Alvalade, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
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TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

"Futsal joga-se com a cabeça, não é com os pés". Entrevista a João Matos, capitão do Sporting e da Seleção

Num domingo, Finalíssima pela Seleção; no seguinte, Supertaça pelo Sporting. Ao todo, 41 títulos. João Matos releva chave para conquistas, fala dos dérbis com Benfica e explica mudança de mentalidade.

Começou no futsal no Clube de Carnaxide depois de ter sido desafiado por um amigo, ficou até hoje. João Matos era um miúdo como tantos outros que gostava de sair de casa para ir jogar à bola com os amigos mas sem ter uma modalidade em específico que praticasse a não ser o ténis de mesa de que tanto gostava. Nesse momento, encontrou um caminho que parecia destinado e a chamada à seleção de Lisboa veio reforçar um gosto que foi aumentando com o tempo. Ainda nos juvenis, chamou a atenção do Sporting e mudou-se para Alvalade, jogando naquele que sempre foi o seu clube e também o da família, com raízes tão distintas entre Macau e Portalegre. Duas décadas depois, continua nos leões como capitão. E continua a ganhar.

A decisão nos penáltis, o final do costume: Sporting vence Benfica, conquista 11.ª Supertaça e soma oito títulos nacionais seguidos

O arranque da nova temporada é o exemplo paradigmático do momento que atravessa no plano coletivo: começou por conquistar por Portugal a Finalíssima, uma nova competição intercontinental que junta as duas melhores seleções europeias e sul-americanas e que foi o quarto triunfo nacional seguido em grandes provas desde 2018, e uma semana depois levantou mais uma Supertaça pelo Sporting, marcando um dos golos no dérbi frente ao Benfica que acabou decidido nas grandes penalidades. Ao todo, e desde que foi tendo os primeiros jogos nos seniores verde e brancos na longínqua época de 2005/06 (fixou-se de forma definitiva na temporada seguinte), já leva mais de 40 troféus entre um Mundial, dois Europeus, uma Finalíssima, duas Ligas dos Campeões, dez Campeonatos, nove Taças de Portugal, nove Supertaças, quatro Taças da Liga e três Taças de Honra. Objetivos aos 35 anos? “Fácil, continuar a ganhar mais títulos”.

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Muito foi mudando na vida do fixo/ala, que até durante o período da pandemia foi encontrando outros interesses como o kickboxing “por estar farto do trabalho com os elásticos, as pranchas e os pesos”. Até o cabelo e a barba que lhe valeram a alcunha de Samurai, fruto de uma aposta no balneário, não são os mesmos, entre projetos pessoais que quis cumprir por “brio próprio” como acabar o 12.º ano. No entanto, a vontade de continuar a ganhar continua a mesma e começa a ficar expressa nas tatuagens mais recentes que tem feito com as conquistas do Europeu de seleções em 2018 e a Champions em 2019. E sempre a olhar para a importância da parte mental nos momentos decisivos para se conseguir superar no plano individual e coletivo, como explicou no programa “Nem tudo o que vai à rede é bola” da Rádio Observador.

[Ouça aqui o programa Nem tudo o que vai à rede é bola da Rádio Observador]

“Não é pelos oito títulos seguidos que abrandamos”

Tem 35 anos, mais de 40 títulos conquistados, é capitão da Seleção e do Sporting, vibra com as vitórias como se estivesse no início da carreira. O que é que ainda o faz levantar todos os dias para ir treinar?
Sou claramente um animal competitivo, desde os 14 anos que compito, seja no ténis de mesa onde comecei, seja no futsal. O desporto é a minha vida. Claramente que encaro a minha vida como um desafio, seja um treino ou o jogo em si, e depois representar o meu clube de coração traz outra emoção e vontade de vencer. Sabemos que a grandeza do clube exige que sejamos uma equipa vencedora. Não vamos ganhar sempre, já disse isto mais do que uma vez, são palavras também de Rúben Amorim, mas felizmente que nos últimos anos temos tido a competência e a qualidade para triunfar mais vezes. Quem está naquela equipa e quem entra percebe essa mentalidade, jogamos sempre para ganhar, jogar bem, marcar muitos golos, sofrer poucos… É a nossa identidade, é o que cultivamos e todos os dias há um compromisso coletivo e individual para querermos mais.

Voltaram a ter mais uma pré-época atípica, começam, vão para a Seleção, ganham mais uma competição [Finalíssima], voltam, fazem poucos treinos e jogam a Supertaça. Qual é a importância desta vitória neste contexto, sabendo que o Benfica se reforçou como reforçou?
Foi uma pré-época atípica. Começámos uma semana mais tarde do que o adversário, neste caso o Benfica, também pelo nosso mérito de termos ganho tudo na última época. Decidimos assim, que devíamos ter mais uma semana de férias. Ainda tivemos uma pré-época mas depois houve uma viagem duríssima à Argentina, pela viagem e pela competição em si. Fizemos três ou quatro treinos antes. É especial porquê? Porque o Sporting conseguiu dois plenos consecutivos em Portugal e se no final do primeiro o discurso e mentalidade era que não podíamos ficar por aqui e que não era por isso que tínhamos uma almofada de conforto, este ano o discurso é o mesmo. Não é por termos ganho os últimos oito títulos nacionais que podíamos abrandar ou tirar o pé. Independentemente das contratações dos nossos adversários e o nível dos jogadores, o dinheiro que gastam, isso não nos diz respeito. O que interessa é a forma como estamos organizados, como somos competentes e como temos de encarar as coisas…


Se somos todos animais competitivos, vivemos todos da competição interna e depois ao fim de semana. Torna-se especial por isso, porque depois de ganharmos o que ganhámos mostrámos mais uma vez e, sem o nível físico desejado e não fazendo um bom jogo em termos coletivos, caindo muito no fim da segunda parte porque no prolongamento estávamos exaustos, fomos buscar forças a uma grande alma e união. Quando parecia que o Benfica estava por cima do jogo, a meio da primeira parte do prolongamento começámos a crescer e tivemos excelentes momentos. Temos uma mentalidade diferente, cultivada há muito tempo, que temos vindo a manter e que temos de passar a quem chega de novo.

João Matos, capitão da equipa de futesal do Sporting (SCP) e da Seleção Nacional, em entrevista ao Observador após a vitória para a Supertaça de Futsal, no dérbi entre o Sporting e o Benfica, que venceu por 7 - 5. 27 de Setembro de 2022 Alvalade, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR João Matos, capitão da equipa de futesal do Sporting (SCP) e da Seleção Nacional, em entrevista ao Observador após a vitória para a Supertaça de Futsal, no dérbi entre o Sporting e o Benfica, que venceu por 7 - 5. 27 de Setembro de 2022 Alvalade, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR João Matos, capitão da equipa de futesal do Sporting (SCP) e da Seleção Nacional, em entrevista ao Observador após a vitória para a Supertaça de Futsal, no dérbi entre o Sporting e o Benfica, que venceu por 7 - 5. 27 de Setembro de 2022 Alvalade, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR João Matos, capitão da equipa de futesal do Sporting (SCP) e da Seleção Nacional, em entrevista ao Observador após a vitória para a Supertaça de Futsal, no dérbi entre o Sporting e o Benfica, que venceu por 7 - 5. 27 de Setembro de 2022 Alvalade, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

João Matos esteve no programa Nem tudo o que vai à rede é bola da Rádio Observador e trouxe a Supertaça conquistada em Matosinhos no último fim de semana

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

O Sporting parecia ter o jogo controlado na segunda parte a ganhar por 3-1, o Benfica conseguiu empatar ainda e levar tudo para prolongamento. Onde é que esteve o clique para fazer o prolongamento e ganhar nos penáltis? Sentiram que este dérbi foi mais difícil do que os anteriores?
Os dérbis são sempre muito complicados, dizemos sempre a mesma coisa mas é mesmo assim. O Benfica investiu, foi buscar jogadores com muita qualidade mas não é só ir buscar qualidade que vai resolver problemas, ponto. O Benfica esteve bem no jogo, chegámos ao 3-1, nós pouco ou nada sofremos golos de guarda-redes avançado mas a do Benfica é um pouco atípica, parece muito improviso dos jogadores e não algo muito estratégico. Sofremos o golo num pontapé fortuito ou não do Arthur, tem muito mérito pelo remate super forte e que se vai à baliza é muito difícil para o Guitta mas que já tinha tentado antes de fazer este movimento que foi anulado. Com o cansaço, não conseguimos comunicar com o Merlim que o Arthur estava a chegar. Acontece, a modalidade é espectacular por isso…

Seguiu-se o prolongamento.
Depois fomos atrás do jogo, que na tendência a nível anímico estava mais para o Benfica, ao que alimentamos todos os fins de semana que é a vontade de ganhar, o querer ganhar, o não poder vacilar. Não nos interessa aqui ganhar para empurrar o Benfica para uma fase negativa que está a passar em termos de títulos, isso a nós não nos interessa. O que interessa é a nossa fase, o que queremos para nós. O que nós queríamos era começar a época com uma vitória porque era importante. Ganhámos tudo e queríamos demonstrar também aos nossos adeptos que estamos cá e que estamos bem vivos.

O Sporting faz dois plenos, sendo que no primeiro ganhou a Liga dos Campeões e no segundo perdeu. Sendo esse mais uma vez o objetivo, começam a sentir-se mais como um alvo a abater também no plano nacional e internacional, sobretudo pelo Barcelona?
Não é de agora que o Sporting é um alvo a abater, o Sporting tem um currículo internacional nos últimos anos que é extraordinário. Com muitas finais perdidas, é verdade, mas também é preciso lá chegar, só perde quem disputa finais. Conseguimos duas Champions nos últimos anos, algo que nos fugia há muito tempo. O Barcelona é e será sempre um candidato a ganhar a Liga dos Campeões pelo plantel que tem, pelo orçamento que tem, pela qualidade de jogadores e de treinador que tem, pelo clube e dimensão do clube. Este ano, não havendo equipas russas, o nível pode cair um bocado porque são sempre duas equipas competitivas que entravam do lado da Rússia mas temos o Benfica, o Palma de Espanha que tem muita qualidade apesar dos jogadores que perdeu, o Anderlecht investiu bem… Seremos sempre um alvo a abater, é inevitável mas nós gostamos disso, gostamos de ser o alvo a abater porque significa que estamos por cima. Não lhe chamaria pressão mas gostamos dessa responsabilidade que é positiva e para manter.

"As contratações dos nossos adversários, o nível dos jogadores, o dinheiro que gastam, isso não nos diz respeito. O que interessa é a forma como estamos organizados, como somos competentes e como temos de encarar as coisas."

Faz parte do grupo de capitães do Sporting há muitos anos e é o principal desde a saída do João Benedito. Como é que tem ajudado um jogador como o Sokolov, um russo, no processo de integração?
O Sokolov é um caso mais delicado. É a primeira vez que temos um jogador no plantel que não fala português. O meu inglês também não é dos melhores, dá para safar. Mas há outros jogadores que falam melhor inglês do que eu. A dedicação dele de querer integrar-se, de querer aprender português, é extraordinária e tem ajudado muito. Depois, dentro de campo, a linguagem utilizada são meras diretrizes, fáceis de se entender, e em inglês a gente entende-se. O Sokolov tem a particularidade de ter exigido que quase não falássemos russo com ele. Podíamos usar algumas palavras em russo para se adaptar mais rápido, em termos de direção, de corrigir posicionamentos, e ele pediu para não o fazermos, é só mesmo português e inglês. Para já, é um rapaz que quis mesmo vir trabalhar para o Sporting, vir trabalhar com o Nuno Dias. Só isso, diz muito, mostra muito a vontade que ele tem de estar aqui e de querer ficar aqui e querer vingar aqui. E nós temos o papel importante de o ajudar muito nessa adaptação. Não é fácil, acredito que não seja mesmo nada fácil até pelo momento do país dele, como é lógico, e há que dar tempo. É um jogador extraordinário, já o demonstrou pela seleção quando jogou contra Portugal, quando jogava na equipa russa e veio aqui jogar contra nós na Liga dos Campeões e, por isso, temos consciência de que tem muito para dar.

E como é que se acompanha jogadores tão jovens como o Zicky ou o Tomás Paçó, que já ganharam tudo aquilo que podiam ganhar e que de todos os títulos disputados só não ganharam a última Liga dos Campeões?
Eles têm uma particularidade a que eu nunca tinha assistido. Estou há 20 anos no Sporting e nunca tinha visto jovens que, quando chegam ao plantel sénior, têm a qualidade que têm e não respeitam ninguém. E o não respeitar ninguém não é no mau sentido. Independentemente do adversário que está do outro lado, eles querem muito ganhar, querem muito demonstrar o seu valor. E isso faz com que tenham estas exibições, estas conquistas, ano após ano, tanto no Sporting como na Seleção. São extremamente aguerridos, são jovens extremamente maduros naquilo que diz respeito ao jogo em si. Apesar da idade, de terem 60 ou 70 jogos na Liga como profissionais, já têm a manha, aquela malandragem necessária que se costuma dizer que os mais velhos têm. Por isso, nunca vi jovens com tanto valor e com tanto poder psicológico para jogar finais, jogos decisivos. Essa mentalidade de não respeitar o adversário, não de uma forma negativa mas sim de uma forma em que pensam “eu sou melhor, eu confio nas minhas capacidades e, por isso, venha quem vier, é para derrubar”. Isso faz toda a diferença.

Sporting ganhou ao Benfica nas grandes penalidade e conquistou a quinta Supertaça consecutiva, naquele que foi o oitavo título nacional seguido

Ao todo, entre os quatro títulos consecutivos da Seleção e a carreira no Sporting, já leva 41 troféus conquistados, grande parte de forma mais recente como capitão e algumas a valer uma cobrança de apostas mais complicada como cortar o cabelo e a barba. A primeira Liga dos Campeões foi o título mais especial por ter sido o quebrar de um dos poucos enguiços do clube? Mudou alguma coisa no futsal do Sporting?
Mudar, creio que não. Tínhamos uma identidade e um processo que acreditávamos que era o caminho. Por isso é que batíamos na trave tantas vezes. E, apesar de levarmos sete do Inter numa final, no ano a seguir estávamos lá novamente a perder por cinco. Continuámos a acreditar que era possível. Nós e o clube, porque investiu, criámos uma equipa muito boa nesse ano em que ganhámos a primeira Liga dos Campeões. Não é uma viragem porque depois o plantel sofre muitas mudanças mas sentimos que era o nosso ano pelo investimento, pela qualidade do plantel, tínhamos muitos jogadores brasileiros que depois na Liga tinham de ficar de fora.

Mas foi o título mais especial, o mais marcante?
Esse título foi muito especial por ser a Liga dos Campeões, porque acreditávamos que era possível, por já termos perdido tantas vezes, o que também torna o título especial. Por toda a envolvência, estávamos muito longe de casa mas recebíamos muita energia. Acreditávamos que era possível depois de ganhar a quem ganhámos nas meias-finais [Inter Movistar]. Depois, toda a chegada a Lisboa, todo o festejo em Alvalade… Foi algo memorável. Não só pelas promessas do cabelo mas por tudo, foi incrível. Se já tive um Europeu com a Seleção em que o festejo foi, à realidade do futsal, semelhante ao do futebol, o da Liga dos Campeões foi extraordinário. Nós não sabíamos o que íamos encontrar, quando chegámos ao Pavilhão João Rocha fomos fechados numa sala e foi inacreditável. Foi quebrar aquela trave que nos tinha amaldiçoado tantas vezes porque sabíamos que esse dia ia chegar. O clube ajudou nisso, criámos uma equipa competente, o Nuno Dias fez um trabalho extraordinário. Juntámos as peças como tínhamos de juntar e fizemos algo por que eu batalho muito e digo muitas vezes ainda hoje, seja clube ou Seleção, que é cada um fazer o seu trabalho. Cada um tem uma tarefa e se a tarefa for só bater palmas para ajudar, é bater palmas para ajudar. A tarefa do fisioterapeuta é aquela, a do treinador é dar diretrizes… Se cada um fizer o seu trabalho bem feito e se sairmos com a consciência de que fizemos o nosso trabalho bem feito, as coisas podem cair para o nosso lado mais vezes. Tem sido assim e nesse ano foi claramente assim.

"Hoje, olhando para a Espanha a jogar contra Portugal, dá para perceber em termos emocionais e psicológicos que eles nunca estão confortáveis no jogo, independentemente no resultado. E isso é uma arma, porque isto não é cinco para cinco e uma bola, é muito mais do que isso."

Ligando essas duas conquistas, o Europeu com a Seleção e a primeira Liga dos Campeões com o Sporting, foi aí que acabou o “quase”? Foi aí que deu para perceber que os outros — neste caso, os espanhóis –, é que têm de temer a sua equipa, seja a Seleção ou o Sporting?
O jogo virou, claramente. E isso nota-se emocionalmente. Eu represento a Seleção desde 2009, nós jogávamos com Espanha e era um sofrimento brutal. E era. Nós não fomos eliminados em 2010 na fase de grupos [do Europeu] pela Espanha porque eles tiraram o pé, levámos sete e se levássemos oito saíamos fora do grupo, nem íamos aos quartos de final. Tudo chegou com o tempo, porque um processo e um projeto precisam de tempo, de paciência, de acreditar. E isso aconteceu na Federação com o Jorge Braz. Da mesma forma que aconteceu no Sporting com o Nuno Dias depois de perdermos a Champions com goleadas. A partir do momento em que se quebra a primeira barreira, as coisas começam a ficar mais fragilizadas do outro lado e isso aconteceu com Espanha. Depois defrontámos a Espanha em jogos de preparação e perdemos por seis. E isso foi muito bom para nós, falei com o Jorge Braz nessa altura e disse-lhe “ainda bem que esta goleada aconteceu agora”.

Porque permitiu voltar a assentar os pés na terra?
Porque nos fez baixar à terra e pensar que não é por ganharmos um Europeu que vamos ser os melhores de sempre. E fomos com uma mentalidade diferente, muito por mérito do Jorge Braz, que na primeira intervenção, no primeiro dia de estágio para o Mundial, tem uma reunião extraordinária connosco e conseguiu fazer com que a mensagem passasse. Conseguimos perceber que, apesar do Europeu, que tinha ficado para trás, havia muito a trabalhar. E fomos em busca do Mundial. E defrontámos novamente a Espanha e conseguimos dar a volta ao resultado. E claramente que hoje, olhando para a Espanha a jogar contra Portugal, dá para perceber em termos emocionais, em termos psicológicos, que eles nunca estão confortáveis no jogo, independentemente no resultado. Logicamente que se estiverem a perder estão mais desconfortáveis mas, mesmo se estiverem a ganhar, não estão confortáveis. E isso é uma arma, porque isto não é cinco para cinco e uma bola, é muito mais do que isso. É emoção, é competência, é concentração, é empenho, é muita coisa. E nós sentimos isso e temos de aproveitar. Mas aproveitar é trabalhar ainda mais.

João Matos, capitão da equipa de futesal do Sporting (SCP) e da Seleção Nacional, em entrevista ao Observador após a vitória para a Supertaça de Futsal, no dérbi entre o Sporting e o Benfica, que venceu por 7 - 5. 27 de Setembro de 2022 Alvalade, Lisboa TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

João Matos está no Sporting há 20 anos, fez a estreia pelos seniores em 2005/06 e subiu a principal capitão em 2016

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No dia da final do Mundial pela Seleção na Lituânia esteve uma hora a trabalhar com o mental coach para se focar no jogo e já antes tinha admitido que havia saturação por estar tanto tempo longe da família. É isso que pode fazer a diferença numa decisão, o estar preparado mentalmente para enfrentar estes jogos decisivos?
Não tenho a menor dúvida. E eu sou muito apologista de que um atleta, para além da qualidade de pés, tem de ter essa qualidade na cabeça. O futsal joga-se com a cabeça, não se joga com os pés, é o que costumo dizer aos mais novos. Isto num prisma de pensar o jogo, entender o jogo, mas também a parte da frescura mental, de estarmos tranquilos, focados, com a cabeça limpa. Para mim, esse foi um período complicado. O Jorge Braz perguntou e não gostou da minha resposta. Ser um dos capitães e mostrar saturação no momento decisivo não era algo que ele quisesse ouvir ou que fosse uma mensagem positiva para os meus colegas. Mas eu não podia não ser sincero naquele momento. Estávamos longe de casa, vínhamos da questão da Covid, tivemos atletas que tiveram Covid e deixaram de ir ao Mundial, a casa tremeu ali. E é algo que eu acredito que faz mesmo muita diferença num atleta, essa mentalidade. Tanto que eu falei nisso, depois falei noutros meios de comunicação sobre esse tema e acho que tudo isto tem de ser muito desenvolvido em Portugal, ainda é muito tabu em Portugal.

Esse ainda é um ponto por resolver, por evoluir?
Se formos às grandes equipas europeias, principalmente no futebol mas também no basquetebol, no andebol, é um tema que não é tabu, que é abordado. Têm psicólogos, têm mental coaches a acompanhar, porque há essa necessidade. E nós temos a sorte de ter jovens no plantel que têm uma mentalidade muito forte e que ganham muitas vezes mas e se perdermos muitas vezes? Será que têm essa frescura mental para encarar uma final? E se os nossos Zickys e Paçós passassem pelo momento menos positivo que o Benfica está a passar? Será que, quando entrassem em campo para uma decisão, era da mesma forma? Ou não iam atrás da raiva para ganhar e as coisas ainda corriam pior? A parte mental é muito importante. Acredito que faz mesmo a diferença.

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