It takes an advanced sense of humour. I don’t expect everybody to understand [É necessário ter um sentido de humor avançado. Não espero que todas as pessoas compreendam].

Michael Scott é uma personagem de ficção do The Office. É o líder da delegação de Scranton, na Pensilvânia, da papeleira Dunder Mifflin. Acha-se o melhor e o mais divertido e faz tudo para que o vejam como o melhor amigo dos seus trabalhadores. O humor faz parte da sua liderança. Mas resulta?

Neste caso os especialistas vão dizendo que não funciona. Mas não se generalize. O humor é uma arma na liderança. Isso mesmo acreditam os professores Pedro Neves, da Nova School of Business and Economics (Nova SBE), e Gökhan Karagonlar, da escola de gestão de Izmir, na Turquia.

O estudo sobre humor na liderança foi publicado em revistas científicas, no qual concluem que é uma característica relevante para organizações e gestores. A forma de humor tem um impacto real junto dos colaboradores e na relação com as chefias. O estudo teve por base uma amostra de 514 trabalhadores e seus supervisores de 19 empresas, em diversos setores, mas que não é representativo do país nem de qualquer setor em particular.

Os resultados da investigação demonstraram a diferença de utilizar humor negativo e humor positivo, ou seja, humor agressivos ou afiliativo, respetivamente. Pedro Neves, que se serve nas suas aulas, sempre que considera adequado, do humor (não perde a oportunidade de apresentar as tiras de Dilbert), realça que os estudos provam que o humor tem relevância na liderança, mas também há que ter em conta o contexto. E, claro, há subjetividade nesta mistura. “O que para mim é afiliativo para outros pode ser agressivo”, realça ao Observador Pedro Neves, que adiciona ao ingrediente humor a própria cultura e o ambiente que se vive na organização que “permite estabelecer fronteiras do que é e não é aceitável”.

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Segundo o estudo, o “humor positivo está relacionado com a confiança no supervisor, sendo esses efeitos mais fortes para subordinados com uma visão negativa de si mesmos, com consequências positivas para o desempenho individual e para a redução de comportamentos desviantes”. Já o humor negativo “reduz a confiança no supervisor, independentemente da opinião do subordinado, diminuindo o desempenho individual e estando associado a mais comportamentos desviantes”. Ou seja, explica Pedro Neves, “se os estilos de humor destrutivo são maus para toda a gente, os positivos são particularmente benéficos para as pessoas que têm auto imagem negativa”.

Os dados revelam, diz a Nova SBE,  que o humor positivo sinaliza confiança e desperta o desejo de retribuir o tratamento positivo na mesma moeda, “seja melhorando o trabalho ou evitando envolver-se em comportamentos destrutivos dirigidos à organização”, já o humor negativo mostra que o “líder carece de autoconfiança e não se preocupa com o bem-estar dos outros e desencadeia comportamentos desviantes, bem como desempenho inferior como resposta”.

O estudo só foi feito em relação ao humor utilizado pelos líderes nomeadamente em relação aos subordinados e não o contrário. A relevância do tema é expressa pela existência até de um curso em Stanford de humor na liderança. Pedro Neves assume também que é um tema que vai continuar a estudar, admitindo avaliar o humor nas práticas de negociação.

Pedro Neves não tem dúvida e o seu estudo agora demonstra que o humor é uma ferramenta chave, mas há que ter conta, peso e medida. “Há sempre o risco de alguém interpretar mal o que estávamos a tentar fazer”, e esse é um dos receios do líder na utilização do humor, o de haver má interpretação. Por outro lado, o professor da Nova SBE serve-se de um dito popular para realçar outra conclusão na utilização do humor dos líderes: por as pessoas à vontade, não é por à vontadinha. Mais uma vez se conclui: o contexto, o ambiente, a personalidade são relevantes, mas a conclusão principal é só uma: o humor é importante no exercício da liderança.