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Há mais vida em comunidade

Dar é melhor do que receber. É urgente repensar o nosso modelo de desenvolvimento, partilhar mais e viver com menos. Uma passagem do “ter” ao “ser”, com benefícios para a humanidade e para o planeta.

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Na Rússia joga-se o Mundial de Futebol, mas em Portugal como na generalidade dos países ocorrem fenómenos de partilha vividos em comunidades espontâneas que se formam à volta do jogo. Pessoas que não se conhecem de lado nenhum e se reúnem nas arenas criadas ao ar-livre para assistir ao espetáculo em ecrã gigante. Eis o ponto de partida para a conversa sobre Mais Comunidade que decorreu na 4ª-feira, ao final da tarde, no Auditório 2 do Banco Santander, em Lisboa.

Estimular as melhores práticas em termos de ensino e aprendizagem, apoiar o voluntariado, criar mecanismos de integração para pessoas com deficiência que podem dar contributos importantes para as empresas, ao mesmo tempo que desenvolvem competências, são algumas das ideias que marcaram o segundo encontro da série Mais Fortes a Observar.

Laurinda Alves conduziu o debate que contou com a participação de Rita Nabeiro, Presidente da Adega Mayor e representante da Associação Coração Delta, Miguel Muñoz Duarte, Professor e Diretor Executivo do Venture Lab na Nova School of Business and Economics, Filipa Pinto Coelho, Presidente da Direção da Associação VilaComVida e Rui Santos, Responsável do Gabinete de Sustentabilidade do Banco Santander.

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Valores comuns

O brilho no olhar acompanha o discurso de Rita Nabeiro sempre que o avô é evocado durante a conversa. Aos 87 anos, o Comendador Rui Nabeiro é uma referência incontornável no panorama industrial português, por tantos motivos que ultrapassam a mera arte de gerir. Foi desde logo a atitude que o distinguiu entre pares, manifesta por exemplo na convicção em desenvolver a região alentejana de Campo Maior, de onde nunca aceitou transferir o centro nevrálgico do grupo económico que fundou.

Rita começou a trabalhar com o avô há mais de 10 anos e recorda que “podiam ter trazido a empresa para Lisboa, mas ele nunca quis abandonar a comunidade onde nasceu.” É tudo uma questão de perspetiva, afinal “Campo Maior fica no centro da Península Ibérica”.

“A humildade e a disponibilidade” são os traços que mais admira na personalidade do Comendador, que no dia a dia trata sempre todos “com uma grande abertura.” Rita desde cedo se habituou a conviver com a enorme quantidade de pedidos formalmente dirigidos à empresa, mas também pessoalmente ao seu avô.

“Chega uma altura em que não basta apenas criar valor através das empresas, temos de retribuir à sociedade”. É neste quadro que nasce o Coração Delta, a associação de solidariedade social do Grupo Nabeiro, formada com o propósito de desenvolver projetos sociais na comunidade.

A Associação Coração Delta aposta no desenvolvimento das comunidades e disponibiliza algumas valências e serviços essenciais como as dinâmicas de intervenção precoce, apoio a crianças e jovens, projetos de defesa do ambiente, de cidadania e voluntariado.

“Não basta apenas criar valor através das empresas, temos de retribuir à sociedade.”
Rita Nabeiro, Presidente da Adega Mayor e representante da Associação Coração Delta

O Centro Educativo Alice Nabeiro, inaugurado em 2007, aposta num modelo pedagógico diferenciado através de projetos e experiências inovadoras que visam desenvolver competências de empreendedorismo.

O projeto “Tempo para Dar” constitui a resposta orientada para o apoio aos idosos, através de voluntários com formação especializada que acompanham os mais antigos durante algumas horas do dia, procurando suprir eventuais necessidades e, sobretudo, combater a solidão.

Para Rita Nabeiro, “o empreendedorismo significa ter ideias para mudar o mundo”, defendendo que é preciso agir localmente, ainda que o horizonte seja global. As empresas devem gerar impacto no local onde se implantam, tanto a nível económico como em termos do capital motivacional que podem trazer às comunidades. Muitas vezes podem funcionar como estímulo para que novas ideias sejam implementadas. Rita conta que o município de Campo Maior já criou uma moeda social, a Mayor, a par de uma loja e de uma lavandaria social. Estes exemplos de sucesso atuam como catalisadores que podem ajudar mais pessoas a fazer acontecer, estimulando a resiliência e aumentando a motivação.

Ter boas ideias não chega

Miguel Muñoz Duarte dirige o Venture Lab na Nova School of Business and Economics e tem especializado a sua atividade na área do empreendedorismo. “Empreender é materializar ideias . É preciso trabalhar, fazer, construir.” O Professor faz a distinção entre dois tipos de empreendedores: os que fazem empreendedorismo e os que fazem “empresarialismo”. O primeiro é o que está mais ligado à capacidade de iniciativa, mover montanhas, fazer acontecer, é o espírito empreendedor mais interessante.

As universidades são por natureza um ponto de confluência de muitas pessoas, onde se formam comunidades de todo o género. Contudo Miguel enfatiza que “uma comunidade não é algo se faz, é algo que se é.” O exemplo do novo campus da universidade corresponde a uma visão. É apenas mais um exemplo dessa forma de estar. Trata-se de um projeto de uma entidade pública que não conta com qualquer investimento direto do Estado.

Na antiga Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, hoje conhecida como Nova SBE, desenvolveu-se uma comunidade com o objetivo de construir um campus universitário de raiz, com maiores e melhores capacidades para alunos e professores.

Miguel Muñoz Duarte explicou que existe uma ideia comum de que as universidades criam patentes e não as comercializam, desenvolvem investigação mas não a partilham. Nem sempre tem havido uma relação aberta a comunidade. Na Nova SBE as coisas têm vindo a tomar um rumo diferente e são conhecidos vários projetos que nasceram no seio da universidade e conduziram à criação de empresas ou ao desenvolvimento de novos produtos e tecnologias.

As comunidades desenvolvem-se em diferentes níveis. O primeiro corresponde ao núcleo mais próximo, onde nasce a ideia mobilizadora que vai ativar as outras. Depois existe a comunidade de ex-alunos, mais de 14 mil profissionais colocados em diferentes setores. Num terceiro plano destaca o envolvimento da Câmara Municipal de Cascais e de um conjunto de parceiros corporativos que financiam o projeto. Este modelo acrescenta valor pela proximidade que se estabelece naturalmente entre estudantes e empresas.

O professor salienta a importância da escola no desenvolvimento dos alunos, na exploração do conhecimento e na construção de novas formas de pensar. “O que é mais difícil passar aos alunos é a parte da filosofia, agarrar na ideia e fazer, em vez de mandar mails”. O especialista defende que é preciso apostar sempre na antecipação e ter a capacidade para pensar em grande, para lá dos limites locais e nacionais.

Os jovens têm mais fome de mundo, mas em alguns casos cansam-se depressa. “Não sei se são Toyota, se vieram para ficar”, disse invocando o popular slogan da marca japonesa quando entrou em força no mercado nacional, pela mão de Salvador Caetano. Constata, no entanto, uma menor capacidade de resiliência perante as adversidades, recorrendo à imagem do smartphone: “se alguma coisa não corre tão bem, fazem swipe.”

“Uma comunidade não é algo se faz, é algo que se é.”
Miguel Muñoz Duarte, Professor e Diretor Executivo do Venture Lab na Nova School of Business and Economics

Transformar a diferença em igualdade

“Porque é que as famílias têm de estar sozinhas?” foi a questão de partida para Filipa Pinto Coelho quando decidiu lançar-se na criação da Associação VilacomVida.

A iniciativa nasceu com o objetivo de gerar respostas estruturadas para os jovens com algum tipo de perturbação ligeira do desenvolvimento intelectual, envolvendo as famílias e a comunidade de terapeutas.

Em termos práticos, uma das ideias passa pela criação de “cafés com vida”, à semelhança do Café Domenica, em Brighton, ou do Café Joyeux, em Paris.

O desafio principal passa por desinstitucionalizar o mais possível estes jovens, que podem e querem ter um papel ativo na sociedade, contribuindo para o seu desenvolvimento e ao mesmo tempo para a sua integração como cidadãos de pleno direito.

Filipa conta que “existem cerca de 3000 jovens com algum tipo de perturbação ligeira do desenvolvimento intelectual, só no distrito de Lisboa.” Quando acabam a escola ficam sem ocupação e, à falta de apoios, um dos pais tem invariavelmente que deixar de trabalhar.

“O nosso objetivo é criar canais, abrir portas, para estas pessoas poderem desenvolver atividades enriquecedoras e com isso ganharem também um propósito de realização.” É preciso realçar que não se trata de substituir a mão de obra tradicional ou ocupar o lugar dos empregados de hotelaria é para criar uma rampa de lançamento. As iniciativas podem ser tão simples como disponibilizar períodos de estágio para que estes jovens tenham contato com o trabalho e possam desenvolver o seu lado mais criativo.

Outra possibilidade passa pela realização de workshops de mindfulness, dança ou pintura, experiências com elevado grau de sucesso, tanto no caso da Team Domenica como do parisiense Café Joyeux, que Filipa Pinto Coelho teve oportunidade de visitar recentemente.

Os “CaféscomVida”, assim como outros serviços, podem constituir uma ótima forma de empregar as pessoas com Trissomia 21. É uma espécie de treino de autonomia que permite desenvolver aquilo a que chamam Gerações Autónomas. A grande aposta é conviver com a diferença, de modo a que ela possa ser progressivamente integrada e deixe de ser sentida, abolindo a imagem do “coitadinho” perante o contacto com esta realidade que é apenas e só diferente.

“O nosso objetivo é criar canais, abrir portas, para estas pessoas poderem desenvolver atividades enriquecedoras e com isso ganharem um propósito de realização.”
Filipa Pinto Coelho, Presidente da Direção da Associação VilaComVida

Um banco ao serviço da comunidade

“Saber que estamos a ajudar pessoas todos os dias” é, para Rui Santos, uma das melhores razões para trabalhar, referindo-se também à inclusão de pessoas com deficiência que trabalham no Banco Santander, desenvolvendo as tarefas de modo normal e adequado, sem qualquer critério de diferenciação face aos outros colaboradores. “Temos parcerias com diversas entidades que promovem a integração e apoiamos um programa de empregabilidade em que ajudamos a fazer currículos, a participar entrevistas e depois organizamos um pitch final onde selecionamos alguma pessoas para ficar connosco”.

A área do bem estar social envolve várias áreas de atuação, visando criar um caminho de mudança para os utentes dessas organizações e conseguir, ao mesmo tempo, mudar também as equipas internas. O Mundo Santander é também um exemplo de boas práticas nesta matéria. O responsável pela área da sustentabilidade considera essencial “apoiar projetos que tragam mais valias para as nossas equipas.”

Existe um programa chamado “Donativo Participativo” em que os colaboradores elegem os projetos onde o Banco deve aplicar dinheiro a título de doação. É organizada uma votação numa seleção de projetos e há depois uma campanha interna de promoção dessas iniciativas. Rui Santos conta que querem avançar na métrica e aumentar a expressão do programa. No fundo, pretende-se “desenvolver um programa de fund raising com pós-venda. É preciso conhecer as associações e acompanhar os projetos à medida que se desenvolvem.”

Ao longo do tempo será possível identificar parâmetros que vão permitir saber “como é que influenciamos as ONG’s, como é que influenciamos as comunidades, quantas pessoas apoiamos, quantos empregos criámos, como é que influenciamos o PIB..”

Rui Santos destacou ainda a importância destes encontros, referindo que as conversas soltas têm gerado momentos de comunidade e deram origem a reuniões sobre projetos que estão ao avançar.

Em qualquer comunidade é necessário assegurar uma visão a tempo inteiro e, em termos de apoio a projetos de empreendedorismo, o Santander Advance é um excelente exemplo enquanto parceiro. “Nós podemos abrir portas, nem sempre os apoios mais importantes se materializam em dinheiro, por vezes as oportunidades que somos capazes de criar podem ser mais frutíferas.”

“Temos parcerias com diversas entidades que promovem a integração e apoiamos um programa de empregabilidade.”
Rui Santos, Responsável do Gabinete de Sustentabilidade do Banco Santander

Fortalecer a comunidade, acreditar, envolver, fazer acontecer e estimular a resiliência são algumas das ideias-chave que ecoaram no final do encontro, onde refletimos sobre o papel das comunidades e a importância de nelas participar.

Esta foi a segunda conversa da iniciativa Mais Fortes a Observar, onde reunimos convidados de várias áreas para conversar sobre temas ligados à sustentabilidade e projetos sociais.

Mais Ensino e Formação é o tema da próxima conversa, que terá lugar no dia 25 de setembro, pelas 18h00, no Auditório 2, Rua da Mesquita, 6 – Centro Totta 7A, 1070-238 Lisboa.

Mais Fortes a Observar é uma iniciativa do Observador e do Santander

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