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A visita "viral" de Marisa Matias, a saída limpa com cheiro a Benfica e a arruada em tons de prudência

O primeiro dia da campanha de Marisa Matias arrancou e terminou em Lisboa recheado de altos e baixos. Houve sustos, ajustes de agenda para evitar o PCP, Benfica e a clássica arruada.

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(artigo atualizado ao longo do dia)

Marisa Matias entrou na Escola Básica Maria Barroso, em pleno coração de Lisboa, acompanhada por uma pequena comitiva bloquista. Além de alguns assessores, contavam-se José Gusmão, número dois da lista do BE às eleições europeias, e o vereador que substituiu Ricardo Robles na autarquia da capital, Manuel Grilo. O arranque oficial da campanha começou suave, com o partido a jogar em casa. Esta iniciativa tinha um valor sobretudo simbólico: o de mostrar que é possível “erradicar o plástico” das refeições escolares e “aumentar a sua qualidade”. Uma luta que foi desta como de muitas escolas no município e que contou com o apoio do Bloco de Esquerda.

Marisa Matias na escola. “Hoje vamos ser virais!”

A eurodeputada foi conhecendo o edifício recuperado no Chiado seguida mais por jornalistas do que pela sua equipa. Os alunos provavelmente não compreendiam o motivo de tanto aparato de cada vez que a candidata entrava numa das salas de aula. Olhando para as câmaras e microfones que seguiam Marisa Matias, uma das crianças, com cinco anos de idade, condensou num grito o entusiasmo que lhe ia na alma: “Hoje vamos ser virais! Hoje vamos ser virais!”. A cabeça-de-lista desviou as atenções que estavam centradas na conversa com a professora e riu-se, contagiando José Gusmão, que se apressou a contar a quem não tinha ouvido “a saída do miúdo”.

Mesmo não identificado o motivo para tanta algazarra, os ainda-muito-novos-para-serem-eleitores rapidamente entenderam quem era a protagonista do momento e não mais a largaram. Alice, de seis anos – ou de “três mais três”, como anunciou -, agarrava-se à candidata proclamando que o seu “nome preferido é Marisa”. O momento já não era só da eurodeputada, era também das crianças, que tentavam disputar as atenções dos jornalistas. Mais tranquila, Maria João, de cinco anos, ia oferecendo as cerejas que trazia numa caixa a toda a comitiva bloquista. Começou, claro, por Marisa Matias. “São da minha quinta. Os mirtilos ainda não estão bons, mas as cerejas sim”, explicava de cada vez que estendia a mão.

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Depois das salas de aula seguiu-se a visita à cantina, onde os plásticos foram abolidos. O relógio marcava as 11h04 e as mesas já estavam a ser preparadas para o almoço. Em todos os lugares havia pratos de loiça e talheres de alumínio. “Foi uma das mudanças estruturais”, explicam aos jornalistas membros da escola.

A essa hora, há turmas que desfrutam do recreio e Marisa Matias passa por lá para concluir a visita. Mais uma vez, é engolida pelas crianças, que vão respondendo às perguntas lançadas pela candidata. “Gostas de matemática? É muito bom e muito importante”, avisa. E sabe-o bem. Em política, as vezes em que se fala de contas certas — como no caso recente dos professores — são suficientes para que Marisa Matias acautele a miudagem.

A visita corria de feição até que o staff bloquista informa a candidata de que o próximo ponto da agenda, uma visita à Autoeuropa, corre o risco de coincidir com uma iniciativa do PCP, que também tem essa ação prevista para a tarde desta segunda-feira. Já com as crianças a correrem de regresso à sala de aula, Marisa Matias conferencia com assessores e com José Gusmão para decidir o que fazer. “Ou mantemos a visita para hoje, ainda que alterando a hora para não haver uma sobreposição de agenda, ou adiamos para outro dia”

A visita corria de feição até que o staff bloquista informa a candidata de que o próximo ponto da agenda, uma visita à Autoeuropa, corre o risco de coincidir com uma iniciativa do PCP, que também tem essa ação prevista para a tarde desta segunda-feira. Já com as crianças a correrem de regresso à sala de aula, Marisa Matias conferencia com assessores e com José Gusmão para decidir o que fazer: “Ou mantemos a visita para hoje, ainda que alterando a hora para não haver uma sobreposição de agenda, ou adiamos para outro dia”. É este o veredito final da pequena reunião improvisada no pátio da escola. Falta apenas acertar agulhas com os comunistas para encontrar a melhor solução para os dois partidos.

Este percalço nada tem a ver com a visita em si. Por isso, ao fim de pouco menos de uma hora, a cabeça-de-lista do Bloco de Esquerda fez um balanço positivo da ação desta manhã. As mudanças implementadas pela Escola Básica Maria Barroso na alimentação permitem contribuir para “um maior valor nutricional por refeição e para a redução dos plásticos”. Uma preocupação que encaixa que nem uma luva numa das principais bandeiras que o partido traz para esta campanha europeia: as alterações climáticas.

No fim, haveria ainda de reservar umas palavras para os seus adversários. “Acho que devíamos estar a discutir política. Não é através de ataques pessoais que vamos conseguir esclarecer seja o que for”, afirmou. “Estamos a ver quem diz a melhor piada? Assim só vamos contribuir para a abstenção“, rematou.

Já com as tropas desmobilizadas e longe dos media a decisão final sobre a visita à Autoeuropa é anunciada por escrito aos jornalistas: o contacto com os trabalhadores da fábrica será antecipado, para evitar uma sobreposição de agendas. Seria suficiente para evitar que as campanhas de Bloco de Esquerda e PCP se cruzassem?

Autoeuropa. Panfletos e mais panfletos, uma saída limpa e o Benfica

A antecipação foi de apenas 15 minutos, mas foi o suficiente para evitar um cruzamento das caravanas de esquerda. Pouco passava das 14h30 quando a comitiva do Bloco de Esquerda, desta vez reforçada com a presença de dois deputados — Joana Mortágua e José Soeiro —, chegou à porta de entrada dos funcionários da Autoeuropa. Na mão, traziam os habituais panfletos de campanha, prontos para serem distribuídos. Foi aqui que durante 20 anos a Comissão de Trabalhadores foi liderada por um homem do BE, António Chora.

Os trabalhadores iam entrando apressados, muitas vezes ignorando os bloquistas, outros aceitando os panfletos sem dedicar muito tempo à leitura. Se tudo corresse como previsto, seriam vinte minutos de campanha. Não mais. Depois voltariam para os carros e evitavam um encontro com a CDU. O plano foi seguido à risca. “Boa tarde, como está?”, ia repetindo Marisa Matias enquanto entregava os panfletos.

Marisa Matias na ação de contacto com os trabalhadores da Autoeuropa D.R.

O momento não estava ser propriamente de contacto com os trabalhadores da Autoeuropa, como tinha sido anunciado. Era quase uma coisa unilateral. Grande parte dos funcionários, percebia-se pelos comentário que faziam, não gostava especialmente de ver os políticos pelo seu local de trabalho. “O que importa é o Benfica! Viva o Benfica! Quero é que o Benfica ganhe”, gritou um deles já depois de recusar um panfleto. Envergava uma camisola do clube da Luz e levantava os braços enquanto gritava repetidamente pelos encarnados. Não queria passar despercebido. Marisa Matias ouviu, riu-se e articulou uma resposta que o fervoroso adepto já não ouviu. “Por mim tudo bem!”, disse.

Arrumaram-se as bandeiras que até àquela altura não tinham dado nas vistas e começou a desmobilização. “Até já!”, despediam-se os bloquistas. Uma saída organizada e aparentemente tranquila mas, dir-se-ia, extremamente cronometrada. Assim que o último bloquista deixou o local chegaram os dois primeiros membros da campanha de João Ferreira com uma caixa cheia de panfletos da CDU.

O primeiro encontro de caravanas desta campanha ficou assim adiado.

Uma arruada em clima de festa mas com alguma dose de prudência

O dia de campanha do Bloco de Esquerda terminou com a arruada na Rua Morais Soares, em Lisboa. Com um ligeiro atraso de dez minutos, os bloquistas reuniram-se na praça Paiva Couceiro para uma das mais emblemáticas ações de campanha do partido. E logo para fechar o dia de inauguração. O habitual comício da noite foi dispensado e será substituído por uma viagem até Beja, de onde arrancará o segundo dia de campanha. E bem cedo.

A adesão a esta iniciativa não foi massiva mas tão pouco desiludiu. Várias figuras do BE fizeram questão de marcar presença. De Jorge Costa a José Soeiro, passando pelas gémeas Mortágua ou Pedro Filipe Soares, foram vários os rostos conhecidos que se juntaram a Marisa Matias. Muitos saídos diretamente do Parlamento, do debate quinzenal com o primeiro-ministro. A grande ausência foi mesmo Catarina Martins, que não chegou a aparecer — na verdade, a presença da líder nunca chegou a estar oficialmente confirmada pelo partido. Algo que seria notado por um transmontano que se levantara da mesa onde tinha estado a jogar dominó com os seus convivas para espreitar a festa. “A Catarina não vem?”, pergunta. Quando lhe dão a resposta abandona desiludido. “Ah, assim não tem tanta piada. Preferia que viesse a Catarina”, lamenta.

A Catarina não vem?”, pergunta. Quando lhe dão a resposta abandona desiludido. “Ah, assim não tem tanta piada. Preferia que viesse a Catarina”, lamenta.

Mas falemos da arruada. Com direito a banda incluída e várias bandeiras coloridas, a caravana bloquista partiu rua abaixo — sempre pelo lado esquerdo — em clima de festa. A destreza de Marisa Matias para distribuir panfletos e meter conversa com quem a quer reter durante “só um minutinho” demonstram que se trata de uma candidata habituada a estas andanças. Confortável neste registo — mais do que Mariana Mortágua, que confessa que “não tem tanto andamento” para arruadas —, a eurodeputada não é apanhada de surpresa. Nem quando uma senhora a apanha e desabafa sobre a sua vida pessoal. “Força, muita força”, responde-lhe Marisa Matias.

Insistentemente questionada pelos jornalistas ao longo da arruada, que tentam obter uma reação ao clima de ataques pessoais que marcou o fim-de-semana e os debates televisivos, a candidata não foge da estratégia. “Não falarei sobre isso”; “isso só contribui para o aumento da abstenção”; “as pessoas ficam com isso mas não com as propostas dos partidos”. A escapatória varia consoante a pergunta, mas Marisa Matias está mesmo apostada em não entrar nos ataques pessoais. E que ideias defende o Bloco de Esquerda para a Europa? “Não queremos uma Europa offshore”, resume.

Loja sim, loja não, loja não, loja sim. A lógica parece algo arbitrária no que toca a escolher os locais onde se entra para oferecer mais panfletos. A caravana segue com a celeridade possível e termina cerca de uma hora depois de ter começado. Com um momento de dança improvisado ao som de Bella Ciao, tocado pela banda contratada pelo partido, Marisa Matias vai distribuindo abraços às figuras do Bloco de Esquerda que dela se vão despedindo. “Até já!”, repete.

Investindo numa cidade em que o eleitorado lhe é favorável, o Bloco de Esquerda jogou à defesa e pelo seguro. Mesmo em clima da festa, a euforia foi contida. Afinal, este é só o primeiro dia do resto da campanha.

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