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O crime aconteceu no passado dia 14 de fevereiro
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O crime aconteceu no passado dia 14 de fevereiro

Diana Quintela

O crime aconteceu no passado dia 14 de fevereiro

Diana Quintela

Homicídio em Alvalade. Suspeito deixou suor nas calças da vítima. Foi a chave para o apanhar

O rasto de sangue indiciava que a vítima tinha sido puxada. Pelos pulsos ou tornozelos? A PJ analisou ambos e encontrou ADN na bainha das calças. "Uma pessoa quando desenvolve adrenalina transpira"

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O corpo tinha sido arrastado vários metros pelo chão até ser deixado numa zona de vegetação — disso não havia dúvidas. O objeto usado para cometer o crime estava logo ali: uma pedra do passeio de grandes dimensões. Fosse quem fosse que tivesse matado aquele homem, teria de ser uma pessoa de grande estatura. Não era qualquer um que conseguia agarrar aquela pedra, grande e pesada, e manuseá-la para agredir alguém. As agressões, essas, eram claramente de uma violência brutal. Mas o objetivo não tinha sido roubá-lo: os pertences da vítima continuavam junto a ela. Assim, das duas, uma: ou o agressor tinha tido um desequilíbrio momentâneo ou nutria uma enorme raiva contra a vítima.

À primeira vista, o cenário do crime encontrado no parque José Gomes Ferreira, na freguesia lisboeta de Alvalade, no dia 15 de fevereiro, não dizia muito mais. Então, o que levaria alguém a matar aquele homem de 78 anos, no meio de um parque, daquela forma? O que levaria alguém a deixar o corpo ali, sem preocupação pelo rasto de sangue que, rapidamente, podia levar a polícia a encontrá-lo? As perguntas sem resposta acumulavam-se. Além disso, em pleno confinamento e à hora a que aconteceu o crime — fim de tarde de um domingo —, não houve ninguém a presenciar o que aconteceu ou que pudesse dar uma pista que fosse. “Era um caso à partida difícil”, admite ao Observador Pedro Maia, que coordena a secção de homicídios da Polícia Judiciária (PJ) de Lisboa.

O rasto de sangue — bem como uns óculos partidos — que chamou a atenção de uma pessoa que ali passou na manhã seguinte, e que acabou por alertar a polícia, foi o ponto de partida para começar a construir uma linha de investigação. Se a vítima tinha sido arrastada, significava que teria sido puxada ou pelos pulsos ou pelos tornozelos. O que, por sua vez, significava que podia haver vestígios deixados pelo alegado homicida nesses locais no momento em que pegou no cadáver. 

A PSP foi chamada por um transeunte devido a um rasto de sangue que tinha encontrado

Diana Quintela

E foi por aí que a Polícia Judiciária seguiu. O cenário do crime não permitia concluir de que forma o corpo tinha sido arrastado: se pelos tornozelos, se pelos pulsos. Aliás, a hipótese de haver mais do que um suspeito não foi logo descartada. E, nesse caso, o corpo podia ter sido arrastado por duas pessoas — que, consequentemente, deixariam vestígios com perfis de ADN diferentes. De qualquer das formas, a zona dos pulsos e dos tornozelos foi analisada, bem como a das unhas, já que poderia ter havido um confronto entre os dois. “Todas as vítimas se defendem ou tentam defender-se. É uma ação natural”, lembra Pedro Maia.

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Cadáver encontrado em Alvalade. PJ investiga suspeitas de homicídio

Feita essa análise, os elementos do Laboratório de Polícia Científica conseguiram encontrar um perfil de ADN que não pertencia ao homem de 78 anos. Encontraram-no num único local: junto à bainha das calças da vítima. “Normalmente, uma pessoa em stress transpira mais. Estes comportamentos desenvolvem uma adrenalina enorme e a pessoa quando desenvolve adrenalina transpira muito e foi certamente a transpiração que deixou o vestígio”, admite Pedro Maia, acrescentando: “Quando surge esse resultado, é motivo de satisfação: é sinal de que temos um vestígio do autor”.

"Normalmente, uma pessoa em stress transpira mais. Estes comportamentos desenvolvem uma adrenalina enorme e a pessoa quando desenvolve adrenalina transpira muito e foi certamente a transpiração que deixou o vestígio"
Pedro Maia, coordenador da secção de homicídios da PJ de Lisboa

Só que este perfil de ADN não chegava por si só para descobrir quem era a pessoa que tinha cometido o crime: apenas permitiria compará-lo com o perfil de ADN de um potencial suspeito e aí perceber se correspondiam um ao outro. E a base de dados existente em Portugal não seria grande ajuda, já que tem apenas cerca de 12 mil perfis: alguns são de cadáveres não identificados, mas a grande maioria é de pessoas a cumprir pena de prisão — e, neste caso, o autor do crime estava em liberdade. Assim, era preciso encontrar um suspeito de outra forma, recolher o seu ADN e, aí sim, compará-lo com o que tinha sido detetado na cena do crime: em caso de match, a Polícia Judiciária tinha encontrado o principal suspeito.

PJ vigiou o parque, identificou pessoas com “comportamentos estranhos” e passou a pente fino casos de agressões ocorridas nos meses anteriores

Os inspetores avançaram em três frentes. Desde logo, no próprio dia e nos seguintes, a PJ e a PSP vigiaram o parque José Gomes Ferreira, com equipas a rodar durante dia e noite. Além de evitar que o mesmo suspeito voltasse a cometer novos crimes naquele local, o objetivo passava por estar atento às pessoas que por ali passassem nos dias seguintes e “detetar comportamentos estranhos”. O suspeito podia muito bem voltar para perceber se o cadáver ainda estava no local onde o tinha deixado. “Identificámos três ou quatro pessoas que tinham comportamentos estranhos: andavam sozinhas e foram vistas a passar várias vezes a diferentes horas“, explica Pedro Maia ao Observador. Ainda assim, era preciso haver suspeitas sobre alguma dessas pessoas para ser possível recolher o seu ADN. Por isso, a investigação continuou.

A vítima foi alvo de agressões muito violentas

Diana Quintela

Um dos caminhos seria tentar perceber que relação havia entre a vítima e o autor. Teriam eles marcado algum encontro no parque àquela hora ou foi uma coincidência? Nenhum familiar do homem de 78 anos levantava suspeitas sobre um possível encontro marcado. A vítima “costumava fazer passeios daquele género” e, naquele domingo, simplesmente não tinha regressado a casa — o que levou a família logo naquela noite a ir procurá-lo e, face ao insucesso, a participar o desaparecimento à PSP.

A hipótese de não haver qualquer relação entre a vítima e o suspeito ganhava cada vez mais força. E, por isso, a PJ passou a pente fino todos os casos de agressões não só na zona de Alvalade, mas em toda a Área Metropolitana de Lisboa, ocorridos nos seis meses anterior. Procuravam casos semelhantes ao ocorrido no parque José Gomes Ferreira: “Casos em que não existiu relação entre vítima e o agressor, em espaços abertos e com extrema violência“, explica Pedro Maia. Assim, foram referenciados “dois ou três casos” de agressões com algumas semelhanças com aquele que estavam a investigar.

Semelhanças com novo caso de agressões a um septuagenário num parque levaram PJ ao suspeito

Além dos casos anteriores, era preciso estar também atento e “acompanhar diariamente situações que iam acontecendo” e que “pudessem ter relação” com o crime que estava a ser investigado. Cerca de um mês depois, um caso bastante semelhante acontece num parque de outra cidade da Área Metropolitana de Lisboa: a vítima era um septuagenário. “Fomos aprofundar”, continua o coordenador da secção de homicídios.

"Quando começámos a recolher informação do tal suspeito, o fato começava a servir-lhe. Tinha estado naquela zona naquele período temporal, embora não fosse a zona dele"
Pedro Maia, coordenador da secção de homicídios da PJ de Lisboa

As agressões eram igualmente violentas, mas a vítima, apesar de ter sido hospitalizada, sobreviveu graças à intervenção de pessoas que estavam no local, que logo chamaram a PSP: o agressor, um jovem de 26 anos, foi detido e ficou em prisão preventiva. As semelhanças iam além da idade da vítima e do local onde acontecera este novo crime: também aqui “não havia relação entre a vítima e o agressor” e o suspeito tornou-se violento depois de provocar uma discussão sem razão aparente. “Era uma situação gratuita, não se conheciam de lado nenhum”, explica Pedro Maia.

PJ descobre suspeito de homicídio de Alvalade. Tem 26 anos e já estava preso por outro crime

A PJ decidiu investir neste caso. “Quando começámos a recolher informação do tal suspeito, o fato começava a servir-lhe. Tinha estado naquela zona naquele período temporal, embora não fosse a zona dele“, conta Pedro Maia, adiantando que, face às fortes suspeitas, avançaram formalmente para um “pedido de uma busca à cela e foi feita uma recolha de substâncias biológica devidamente autorizada”. O ADN deste jovem correspondia ao que tinha sido encontrado no cenário do crime.

Suspeito não apresentou qualquer motivo para o crime. PJ admite que jovem de 26 anos pode ser autor de outras agressões

O que levaria alguém a matar aquele homem de 78 anos, no meio de um parque, daquela forma? A PJ ainda não sabe. “Tomando por base a segunda situação, é uma situação que não tem razão de ser”, explica Pedro Maia, admitindo que o suspeito “poderá ter problemas psicológicos ou psiquiátricos” — que serão despistados por perícias. Interrogado pela PJ, o jovem de 26 anos, que não trabalha nem estuda, não quis prestar declarações. “Não consegue ou não quer dar uma explicação”, explica o coordenador.

A PJ acredita que a descoberta do suspeito pode devolver a tranquilidade aos moradores

Diana Quintela

Embora o móbil do crime ainda esteja por explicar, o caso ficou resolvido, no que à investigação diz respeito. Através de um comunicado, a PJ anunciou esta terça-feira a identificação daquele que acredita ser o autor do homicídio no parque José Gomes Ferreira, preso preventivamente por outro crime — o que permite assim “tranquilizar a comunidade, atendendo à gravidade dos factos e ao enorme alarme social suscitado, especialmente naquela zona da cidade de Lisboa”.

Agora, o objetivo é outro: perceber se este jovem de 26 anos pode ser o autor de outros crimes de ofensas à integridade física que ainda estão por resolver. Quem sabe, irá tirar das gavetas da PJ ou da PSP casos cujos responsáveis nunca foram encontrados.

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