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Em 30 minutos na unidade de cuidados intensivos do Hospital de Braga viu-se de tudo. Uma senhora voltou a reagir, um homem reaprendeu a comer e houve samba a soar da coluna junto a uma das camas articuladas. Por aquelas portas já entraram familiares de doentes devidamente equipados para ajudar nos momentos mais críticos e manda a tradição que os que têm alta tirem uma fotografia com a equipa médica.
Ali é o fim da linha para quem entra no hospital — na verdade, o percurso de um doente infetado com o novo coronavírus começa na urgência, onde agora tudo está em silêncio, os atendimentos caíram para menos de metade e muitos profissionais dispersaram para outros serviços. Nesta área, as despedidas da família são improvisadas e o medo de levar o vírus para casa “colado à sola dos sapatos” é muito.
A maioria dos doentes está nas enfermarias e lá quase tudo mudou. O chão dividiu-se entre uma zona suja e uma zona limpa, o equipamento obrigatório multiplicou-se e a limpeza estendeu-se por toda a parte. A ausência de visitas é fintada com videochamadas e até poemas escritos pelos netos se leem à cabeceira dos avós.
“Aqui o inimigo está sempre à espreita”
Isabel Vilaça, internista no serviço de urgência
Até setembro do ano passado, o Hospital de Braga foi uma parceria pública privada e durante vários anos consecutivos era considerado o melhor hospital do país. Isso nota-se logo na entrada, onde saltam à vista as instalações modernas, impecavelmente limpas, o restaurante, as lojas e os dois auditórios. Nas urgências, a sala está vazia e quem ali chega ouve o seu nome no microfone em pouco tempo. “É uma boa notícia as pessoas virem menos às urgências, por outro lado há uma percentagem pequena que sente medo e nós temos todas as condições de segurança para que as pessoas não tenham medo”, garante Jorge Teixeira, diretor daquele serviço.
Num dia normal eram atendidos 600 doentes, neste momento o número ronda os 250. Quem entra na triagem é obrigado a desinfetar as mãos, a medir a temperatura e a colocar uma máscara cirúrgica, um ritual partilhado por todos os profissionais que chegam ao hospital. “Existem dois circuitos definidos, um deles dedicado exclusivamente aos suspeitos Covid, mas estas separações nunca são absolutas. As pessoas podem chegar sem sintomas e estarem infetadas, o que existe é uma minimização de riscos e de danos”, explica Jorge Teixeira.
O médico coordena uma equipa de 20 profissionais e duas já ficaram infetadas. “Uma está curada e a trabalhar, a outra está ansiosa por voltar ao serviço, acho que na próxima semana já deve conseguir fazê-lo. É mais provável que contraiam o vírus lá fora e não propriamente aqui, mas as copas são perigosas, tentamos manter o mínimo de profissionais lá dentro. A verdade é que quando estamos a comer não usamos a máscara.”
Ao contrário de outros serviços, nas urgências não existiu um reforço do corpo clínico e dos 24 internistas habituados a trabalhar naquela área, apenas cinco estão operacionais. Uma delas é Isabel Vilaça, médica no Hospital de Braga há cinco anos.
A sua voz ecoa das duas máscaras faciais que tem colocadas e de uma viseira que ainda a deixa desconfortável. “É desgastante equiparmo-nos todos os dias, mas é o que nos cabe fazer para nos proteger, a nós e aos outros.” Conviver com o calor do fato ou as marcas no rosto é complicado, mas há ainda o regresso a casa, onde vive com o marido e três filhos menores. “Mais difícil do que lidar propriamente com a parte física, é lidar com a responsabilidade de estar com os nossos e correr o risco de levar colado à sola dos sapatos o inimigo que aqui está sempre à espreita.”
Apesar dos riscos, Isabel não tem dúvidas de que consegue proteger-se melhor dentro do hospital do que num supermercado — e garante que estar com a família todos os dias é essencial para conseguir desempenhar bem a sua função. “Se não fosse a casa e não tivesse oportunidade de estar com aqueles que são o meu suporte, não teria condições para prestar cuidados de qualidade aos doentes.”
Trabalha em turnos de 12 horas numa zona de passagem temporária para doentes infetados, que depois de estabilizados podem seguir para o internamento. Atrás de si estão oito e apenas três camas vazias, mas ao lado há uma ala de reserva com 26 lugares disponíveis, também a pensar naqueles que esperam pelos resultados dos testes, que normalmente chegam em cinco horas e até agora nunca faltaram.
“Todas as pessoas que entram aqui têm uma história para contar. A primeira coisa de que temos de nos lembrar é que são pais ou filhos de alguém e que não os tornam a ver assim que passam aquela porta. Alguns vão ficar internados e privados de estar com a família durante semanas, outros não os vão ver mais de todo e isso é complicado, mexe comigo.”
Se alguns pacientes têm consciência do que lhes está a acontecer, outros nem por isso. “Entram muitas vezes bem, mas em duas horas descompensam. Este vírus é mesmo assim. Todos têm uma família lá fora que está em ânsias e que não sabe o que esperar, têm muito medo. Nós temos que estar cá não apenas para os doentes, mas também para as famílias.”
No meio do trânsito de cadeiras de rodas do corredor, Isabel Vilaça realça a união da equipa e o facto de continuar a ter folgas e dias de descanso. “Isto não é um sprint, é uma maratona, a direção de serviço tem tido isso em consideração, respeitando as nossas necessidades pessoais.”
“Nós sabemos que o vírus está aqui connosco, só não o conseguimos ver”
António Faria, enfermeiro chefe no serviço de urgência
Numa outra zona das urgências está António Faria, o enfermeiro chefe já habituado a desviar-se dos carrinhos com material enquanto dá indicações. Trabalha há 34 anos neste hospital e garante que nunca viveu nada assim, pelo menos com esta dimensão. “O vírus mudou tudo na minha rotina”, garante, recordando que no início de março, altura em que receberam os primeiros casos, “houve algum pânico pelo medo do desconhecido”.
Apesar de nunca ter faltado material, a dificuldade em conseguir tê-lo numa fase inicial deixou-o mesmo sem dormir. “O facto de eu saber que poderia faltar criou-me ansiedade e houve ali duas noites em que este assunto me tirou o sono. Não podia mandar ninguém fazer o que quer que seja sem equipamento, mas também não poderia deixar nenhum doente por atender. Como isso não se verificou, já consigo dormir descansado.”
Ainda que o seu sono seja hoje mais tranquilo, as preocupações mantêm-se. Gerir o estado de espírito de uma equipa de 40 pessoas é só uma delas. “Estamos todos em crise e lidar com esta parte emocional é complicado. Tento criar espaço para que possam, com as devidas distâncias, fazer pausas, ir lá fora, arejar, tomar um café ou falar com a família. Cabe-me a mim tranquilizá-los, motivá-los e também estar no meio deles para sentirem que estamos cá. É uma luta de todos e vamos ganhar.”
Natural de Famalicão, António Faria garante que com a sua maturidade profissional já pouco ou nada o impressiona, embora a resistência de alguns doentes em aceitar as medidas de segurança o incomodem profundamente. “Imagine alguém que de repente, pela tensão da situação, resolve tirar a máscara e depois não a quer colocar. É muito difícil travar alguns comportamentos desajustados.”
A nível pessoal, o enfermeiro não tem receio de voltar para casa ao fim de 10 horas de serviço, apenas lamenta a falta do filho, que trabalha em Lisboa e deixou de visitá-lo quinzenalmente como era costume. “Eventualmente isto aconteceria se eu não fosse enfermeiro pelas regras de confinamento social. Provavelmente aqui estou mais protegido do que em qualquer outro lugar, tenho tudo o que preciso e estou menos exposto do que na rua. Nós sabemos que o vírus está aqui connosco, só não o conseguimos ver.”
“Ao fim do dia dizemos que é menos um dia que falta para isto acabar”
Alexandre Carvalho, médico na unidade de internamento
Os corredores estão divididos por zonas sujas e zonas limpas, neles cruzam-se carrinhos com medicação, roupa de cama e desinfetantes. Junto ao balcão principal, há um quadro com o número de camas, o nome dos doentes, a temperatura e a sua evolução. Assim é, à primeira vista, um dos dois pisos dedicados ao internamento por Covid-19 no Hospital de Braga.
Nesta área existem 26 camas ocupadas, distribuídas por quartos duplos e individuais. Prestes a entrar num deles está uma enfermeira equipada a rigor, com dois pares de luvas e uma cógula na cabeça. Parece fazer uma contagem decrescente mental antes de respirar fundo e abrir a porta. Mal desaparece do corredor, uma funcionária da limpeza entra em ação com uma esfregona e um balde, limpando o chão, a porta e as paredes.
“Recebemos o primeiro doente no dia 12 de março, na verdade foram duas, uma mãe e filha que vieram de Felgueiras, numa altura em que o Hospital de São João já estava sobrecarregado”, recorda Alexandre Carvalho, explicando que além destas 26 camas há mais duas alas com doentes Covid, uma com 30 e outra com 28.
Segundo o médico, a maioria dos doentes tem acima de 80 anos, vieram de lares, são frágeis e têm várias outras patologias. “Esta é uma doença diferente e nova para todos, mesmo em relação a outras doenças respiratórias, como pneumonias vírias ou bacterianas — esta tem uma evolução muito mais lenta e isso torna o processo muito mais desafiante. Os doentes passam mal 10 a 12 dias e só depois começam a melhorar. É um vírus que nos rouba muito tempo.”
Se numa primeira fase faltava pouco para Alexandre dormir no hospital, atualmente a situação tornou-se mais calma. “Esperava um embate mais violento, nos últimos dias as coisas estabilizaram. Estamos preparados para um nível acima deste, mas ninguém sabe o que vai acontecer. Chegamos ao fim do dia e dizemos que é menos um dia que falta para isto acabar.”
Quando o turno termina, o médico especialista em medicina interna não vai para casa, mas para um apartamento que um amigo lhe emprestou. “Estar longe da família são ossos do ofício”, garante. Ainda assim, prefere trabalhar a ficar isolado em casa. “Prefiro vir trabalhar, ver pessoas e ter esta adrenalina diária. Imagino quem está em casa há um mês, a olhar sempre para as mesmas paredes. O cansaço que sentem pode levar a um relaxamento e pessoalmente acho que ainda é muito cedo para esse relaxamento.”
“Lá fora, sem bata, sou igual aos outros”
Madalena Lopes, enfermeira chefe na unidade de internamento
Manter a equipa de enfermeiros motivada e a cumprir as regras necessárias é a maior dor de cabeça para Madalena Lopes. “Estamos a reaprender a trabalhar, é preciso um esforço muito grande e estar sempre em cima, com mil olhos. Afinal, todos gostamos do social.”
A enfermeira chefe da zona de internamento eliminou as cadeiras para evitar que as pessoas se juntassem, chama a atenção quando vê aglomerados e avisa sempre que pode para lavarem as mãos e desinfetarem todos os objetos em que tocam. “Podemos ter todos os cuidados do mundo com os doentes, mas quando saímos do quarto há um relaxamento e um cansaço normais. É necessário lembrar que o vírus está ali, mas também pode estar cá fora, nas nossas mãos.” Não sendo este um comportamento habitual ou enraizado, torna-se ainda mais difícil adotá-lo. “É nisso que temos que investir, é uma prova à nossa resiliência e dedicação.”
Dentro de cada quarto há uma vida e uma história para contar, sendo que a ausência de visitas parece ser o ingrediente mais complicado de gerir, especialmente na reta final. “Normalmente fazemos videochamadas e assim conseguem despedir-se. Tentamos minimizar a dor.” Se a enfermeira mandasse, garante que autorizava a família a despedir-se pessoalmente dos doentes internados, mas enquanto isso não é possível, faz-se o que se pode. “Tivemos um senhor que no momento do seu fim teve uma enfermeira de cada lado com a mão dada. Tem que ser, o nosso trabalho agora também é este.”
Quando a presença física não é recomendável, vale a imaginação e alguma criatividade. “Lembro-me que os netos de uma senhora, que acabou por falecer, mandaram-nos por e-mail poemas para lhe lermos. Achei engraçado, sempre é um conforto.”
Madalena Lopes vive com o marido, dormem agora em quartos diferentes e fazem as refeições um em cada ponta da mesa. “Já não vejo a minha neta há imenso tempo, a nossa vida mudou toda.” Ao contrário do que acontece em outros países, a enfermeira afirma nunca ter sentido “repulsa” por trabalhar num hospital durante esta pandemia. “Lá fora, sem bata, sou igual aos outros.”
“A família traz a música de que eles gostam, já ouvimos o Malhão”
Isabel Souto Silva, enfermeira chefe na unidade de cuidados intensivos
O ambiente calmo das urgências contrasta com o que se vive nos cuidados intensivos. “Já desinfetaram tudo? O equipamento está ajustadinho? Então, vamos lá”, diz a enfermeira chefe Isabel Souto Silva na antecâmara da sala que nos leva aos dez doentes mais críticos do hospital. Só dois estão acordados.
Junto a uma das camas articuladas ouve-se samba numa pequena coluna. “Já é hábito termos música aqui dentro, é uma das nossas técnicas de relaxamento tanto para nós como para os doentes, que assim começam a aperceber-se do que os rodeia. A família traz a música de que eles gostam, já ouvimos o Malhão”, conta a profissional que trabalha há 30 anos nesta unidade.
Numa sala grande e bem iluminada veem-se 14 camas articuladas encostadas às paredes, nelas saltam à vista as tubagens, os monitores e os carrinhos com sacos, lençóis e desinfetantes. Ao centro estão dois balcões, onde médicos, enfermeiros e auxiliares organizam, como numa verdadeira cozinha, máquinas, relatórios e medicação. Cada um parece saber exatamente o que tem a fazer e ninguém se atropela, nos passos ou na voz. Vestidos com fatos brancos, cobertos da cabeça aos pés, comunicam através do olhar e reconhecem-se pelo nome que têm escrito nas costas. Alguns também têm direito a flores e smiles coloridos.
“Acho que nunca vivemos nada assim. Este é um vírus que ninguém conhece e não há uma expectativa do que vai acontecer. Conhecemos este surto pelas notícias e pelos relatos de países que o viveram mais cedo do que nós”, recorda a enfermeira chefe, que viu a sua equipa crescer de 36 para 102 pessoas. “Tivemos que nos organizar e adaptar profissionais que chegaram de outros serviços completamente diferentes.”
Numa época normal, a formação dos novos reforços duraria três meses, mas em tempo de pandemia tudo é feito ao minuto. “Se Deus deixar que tenhamos poucos casos, vamos ter uma integração bem feita; se não, vamos tentar trabalhar todos juntos o melhor que pudermos.”
Uns desinfetam poltronas, outros colocam cateteres em virilhas, outros alongam os braços e as pernas de doentes e há quem ajude um senhor a comer, como se fosse pela primeira vez. “Não quer ir comer um bife um dia destes? Então vamos lá, devagarinho”, diz uma enfermeira debruçada na cama número 14. Ouve-se a respiração ofegante de um homem que, com fralda e uma algália, tenta alimentar-se através de uma seringa.
Ao fundo da sala estão duas mesas com telefones fixos que tocam permanentemente. É ali, numa espécie de call center, que duas vezes por dia os profissionais de saúde informam os familiares do estado clínico de cada paciente. “Se houver uma situação muito especial, como dificuldades em respirar ou um acordar mais agitado, precisamos de alguém para ajudar o doente a ganhar coragem e enfrentar aquele momento. Devidamente equipados, deixamos entrar familiares. Já aconteceu e resultou bem, sobreviveram.”
Os que conseguem ter alta dos cuidados intensivos costumam tirar uma fotografia com a equipa médica e quase sempre fica uma ligação com os doentes e a família. “Quando isto tudo terminar vamos começar a chamá-los para voltarem cá. Muitos esquecem-se do tempo que estiveram aqui, outros têm pesadelos ou recordam algumas vozes. Queremos que eles saibam que passaram por aqui num determinado período das suas vidas, é importante para se localizarem.”
Questionada sobre se já tiveram profissionais infetados nesta unidade, Isabel Souto Silva suspira de alívio e diz que não. “Essa é a minha grande aposta, que ninguém fique doente, é o meu grande objetivo. Tenho medo que isso aconteça e no que pode abalar o resto da equipa.”
Mesmo que o cenário mais temido se torne realidade, garante que irá regressar a casa “de consciência tranquila”, onde tem uma filha, também médica, todos os dias à sua espera. “O meu pai, que já tem 80 anos, e o meu marido saíram de casa, foram para a aldeia. Estou a viver com a minha filha, que é médica num centro de saúde aqui nos arredores. Também ela convive com infetados e há dias em que conversamos muito sobre isso, outros em que chegamos tão cansadas que adormecemos rapidamente.”
“A minha filha tem três anos e pensa que estou de férias”
Hugo Sousa, enfermeiro na unidade de cuidados intensivos
O mesmo não pode dizer Hugo Sousa, enfermeiro nos cuidados intensivos há 12 anos, que viu a mulher e a filha saírem de casa mal o vírus chegou a Portugal. “Nunca tinha passado por esta privação. Acredito que isto interfira negativamente na parte psicológica de muitos profissionais como eu.” 90% das pessoas que trabalham neste serviço optaram por se afastar da família, por questões de segurança.
“As saudades matam-se com muita bateria e internet. A minha filha tem três anos, ainda não tem bem a noção do que se passa. Acha que estou de férias e no fim lhe vou levar um presente do sítio onde estou. Embora me custe neste momento estar separado dela é mais seguro. Quando venho trabalhar, venho com a cabeça mais livre para me dedicar a tudo isto.”
Desde o dia 16 de março que já passaram por aqui 20 doentes com o novo coronavírus — dois acabaram por morrer, 10 permanecem internados e há mais 22 camas disponíveis. “O mais novo que recebemos tinha 44 anos, era insuficiente renal crónico e teve alta ontem. A mais velha tem 81 e está cá há uns 25 dias.”
Hugo estudou em Viana do Castelo e passou pela Cruz Vermelha Portuguesa até chegar ao Hospital de Braga, lidar com doentes críticos faz parte da sua rotina. “Estes têm algumas particularidades, como a instabilidade, o tempo de recuperação, a hemodinâmica ventilatória e o equipamento de proteção, que é um pouco diferente do que usávamos anteriormente. A deterioração é muito mais rápida, é preciso uma vigilância mais apertada.”
O enfermeiro não esconde o desconforto do seu novo uniforme de trabalho. “É muito desgastante, são 11h30 e tenho isto vestido desde as 8h30.” Se nunca faltou equipamento de proteção individual, o mesmo não se pode dizer de ventiladores. “Faltam-nos cerca de dez ventiladores para as três unidades que temos de cuidados intensivos, duas das quais dedicadas à Covid-19. Como o tempo de internamento é mais prolongado, isso também nos dificulta a gestão de camas e de material.”
A conversa é interrompida quando seis médicos se aproximam da cama de uma senhora que está ventilada e de olhos fechados. O seu cabelo totalmente banco, que não deixa perceber onde começa a fronha da almofada, indica uma idade de risco. “Vá, D. Alice, aperte as minhas mãos”, diz o médico, que ao sentir a força da idosa sorri e retira imediatamente o ventilador. “Está a reagir, vai ficar boa.”