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A imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, acolhida esta quinta-feira em Lviv
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A imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, acolhida esta quinta-feira em Lviv

Facebook Santuário de Fátima/TV Zhyve

A imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, acolhida esta quinta-feira em Lviv

Facebook Santuário de Fátima/TV Zhyve

Imagem de Nossa Senhora de Fátima recebida por multidão na Ucrânia. A história de 100 anos de ligação entre Fátima e a guerra na Rússia

A história de Fátima está intimamente ligada à história da Rússia e aos conflitos no leste da Europa. Mais de 100 anos após as aparições, o santuário enviou estátua de Maria a uma Ucrânia dilacerada.

Chegou esta terça-feira à cidade ucraniana de Lviv, no leste do país, uma imagem da “Virgem Peregrina” de Nossa Senhora de Fátima, enviada diretamente a partir do Santuário de Fátima, em Portugal. Apesar do clima de guerra que se vive atualmente na Ucrânia, a estátua foi recebida nas ruas de Lviv por uma multidão de fiéis e membros do clero, numa celebração que pôs em evidência a profunda ligação histórica e espiritual entre Fátima e os conflitos na Rússia.

O Santuário de Fátima — um dos mais importantes templos católicos do mundo — tem uma história intimamente relacionada com a Rússia e com os conflitos do leste da Europa. Simultaneamente, as chamadas “Virgens Peregrinas” (réplicas da centenária escultura original que repousa na Capelinha das Aparições) têm tido um papel central na difusão dos pressupostos da mensagem de Fátima e na própria intervenção da Igreja Católica em todo o mundo, sobretudo em zonas de conflito.

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No caso da atual peregrinação à Ucrânia, o Santuário de Fátima enviou a Imagem número 13 da Virgem Peregrina de Fátima para aquele país, em resposta a um pedido formulado pelo arcebispo metropolita greco-católico de Lviv, Ihor Vozniak — o líder de uma Igreja minoritária que, apesar de seguir os ritos orientais tradicionais dos ortodoxos, se encontra em comunhão com a Igreja Católica e com o Papa, em Roma. Vozniak pediu que a imagem de Nossa Senhora de Fátima visitasse a Ucrânia com um intuito confesso: “Para que possamos rezar, pedindo a sua proteção para que a paz regresse ao país.”

A imagem foi enviada na última segunda-feira, dia em que o momento foi assinalado com uma celebração no Santuário de Fátima. Na ocasião, o diretor do departamento de liturgia do santuário, o padre Joaquim Ganhão, explicou que a estátua “vai ao encontro das comunidades fazendo um eco da Mensagem que aqui nos deixou Nossa Senhora, desde a primeira hora e, neste momento presente, é sem dúvida uma viagem muito importante, como mensageira da Paz, como mãe que convida os filhos à paz“.

“Estamos a braços com uma guerra que nos implica a todos, e aqui neste lugar da Cova da Iria, confiemo-nos à Mãe de Misericórdia e Rainha da Paz, rezemos pelos irmãos que mais sofrem, rezemos pelo fim da guerra na Ucrânia e em todos os lugares, rezemos por tantas vítimas inocentes”, afirmou o sacerdote, reiterando que “é preciso abrir as portas, e reconhecer que o outro não é nosso inimigo, não é nosso rival, é nosso irmão, com quem temos de construir a história, construir a paz, e é um trabalho exigente“.

A estátua foi enviada de avião a partir de Lisboa com destino a Varsóvia, na Polónia, onde foi recebida pela comunidade greco-católica de Lviv. Dali, seguiu para a cidade ucraniana — marcando a primeira vez que uma imagem peregrina enviada pelo Santuário de Fátima entra no território ucraniano —, onde ficará na maior igreja católica de Lviv durante um mês, para poder ser venerada pelos fiéis católicos.

A histórica ligação entre Fátima e a Rússia

A peregrinação da imagem de Nossa Senhora de Fátima à Ucrânia a meio de um conflito armado com a Rússia não é apenas mais uma das habituais peregrinações de Fátima em momentos conturbados da história contemporânea. Com efeito, a história do Santuário de Fátima está intimamente interligada com a história da Rússia e com a evolução dos conflitos naquela região da Europa ao longo do século XX. Basta, para o entender, compreender o contexto histórico das aparições de Fátima e da mensagem deixada por escrito pela irmã Lúcia, uma das três videntes de Fátima.

A imagem peregrina foi enviada para a Ucrânia a partir do Santuário de Fátima

Luís de Oliveira/Santuário de Fátima

As seis alegadas aparições de Fátima ocorreram entre maio e outubro de 1917, justamente o ano da Revolução Russa, em que o Império Russo colapsou e deu lugar à criação da União Soviética. De acordo com a tradição fixada pela Igreja Católica, a Virgem Maria teria aparecido a três crianças pastoras da região de Ourém — Jacinta, Francisco e Lúcia — para lhes pedir que rezassem pela paz no mundo e para lhes comunicar uma mensagem de conversão que ficaria popularmente conhecida como “o segredo de Fátima”.

Analfabetas e habitantes de uma região rural durante a Primeira República, dificilmente se poderia argumentar que as três crianças estivessem ao corrente dos acontecimentos que na altura ocorriam na Rússia. Tinham, porém, uma noção clara do clima de guerra que se vivia na Europa, que na altura atravessava a Primeira Guerra Mundial, na qual Portugal participou — e muitos homens da Cova da Iria, incluindo familiares dos três pastorinhos, haviam sido enviados para a guerra.

Na primeira aparição, em maio de 1917, Nossa Senhora terá pedido às crianças que rezassem o terço diariamente para alcançar a paz no mundo e para que a guerra terminasse. No mês seguinte, a Virgem Maria comunicou aos pastorinhos que Jesus queria que se estabelecesse no mundo a devoção do Imaculado Coração de Maria. Mas foi na terceira aparição, em julho de 1917, que ocorreu uma das principais revelações de Fátima: as três partes do segredo.

A primeira parte do segredo de Fátima foi a visão do inferno. Segundo a tradição fixada pelo texto da Irmã Lúcia e confirmada pela Igreja Católica, os pastorinhos viram “um grande mar de fogo” debaixo da terra, onde habitavam todo o tipo de figuras demoníacas “entre gritos e gemidos de dor” — uma imagem impressionante que tem contribuído para moldar o modo como o inferno é concebido pelos católicos e que é interpretado pela Igreja Católica como um aviso à necessidade de conversão dos pecadores, o grande foco da oração dos pastorinhos. A segunda parte do segredo de Fátima prendia-se com o caminho para a paz e para o fim da guerra: a devoção do Imaculado Coração de Maria por todos os fiéis católicos e a consagração da Rússia à mesma devoção.

“Quando virdes uma noite, alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo pelos seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre”, teria dito a Virgem Maria. “Para a impedir, virei pedir a consagração da Rússia a meu Imaculado Coração e a Comunhão Reparadora nos Primeiros Sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz, se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja, os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas, por fim o meu Imaculado Coração triunfará.”

A imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima chegou esta quinta-feira a Lviv, na Ucrânia

Facebook Santuário de Fátima/TV Zhyve

Esta parte do segredo de Fátima tem sido interpretada pela Igreja Católica como um alerta divino para os perigos do regime comunista e ateu que naquele ano começava a ganhar forma na Rússia — e que viria a ser responsável por grande parte das ameaças à paz global durante o século XX.

A terceira parte do segredo — e a mais controversa de todas, uma vez que se manteve efetivamente em segredo até à sua revelação por parte do Vaticano no ano 2000 — referia-se à ameaça ao “bispo vestido de branco”, uma referência posteriormente interpretada como uma profecia sobre os perigos que corria o Papa João Paulo II. O pontífice polaco foi alvo de um atentado contra a sua vida no dia 13 de maio de 1981 e, mais tarde, ofereceu a bala com que foi atingido ao Santuário de Fátima, como agradecimento por considerar que tinha sido a mão da Virgem Maria a desviar a trajetória da bala no último segundo.

O pedido da Virgem Maria foi atendido pelo Papa João Paulo II em 25 de março de 1984, quando, perante a imagem original de Nossa Senhora de Fátima, o Papa consagrou a Rússia ao Imaculado Coração de Maria. Para os crentes, há poucas dúvidas de que o cumprimento da vontade de Nossa Senhora foi determinante para o colapso do bloco soviético, que se desenrolaria nos anos seguintes. Um dos episódios mais conhecidos foi o desastre de Severomorsk, que ocorreu menos de dois meses depois da consagração — e justamente no dia 13 de maio de 1984. Nesse dia, uma grande parte das munições destinadas a equipar uma das frotas navais soviéticas detonou acidentalmente, limitando consideravelmente a capacidade dos russos de lançar um ataque marítimo contra a Europa.

O colapso da União Soviética e da esfera de influência de Moscovo, que se precipitou nos anos seguintes, é habitualmente ligado pela Igreja Católica à intervenção da Virgem Maria — e o Santuário de Fátima tem inclusivamente em exposição um fragmento do Muro de Berlim, cuja queda em 1989 simbolizou o fim da divisão na Europa.

Agora, com o regresso da guerra ao leste da Europa e a Rússia como protagonista do conflito armado, o Papa Francisco já anunciou que vai voltar a consagrar a Rússia ao Imaculado Coração de Maria, de acordo com o pedido formulado há mais de um século pela Virgem Maria em Fátima. A consagração vai ser realizada na sexta-feira da próxima semana, 25 de março, quando se cumprem exatamente 38 anos desde que João Paulo II fez o mesmo.

Virgens peregrinas, as estátuas “irmãs” que viajam pelo mundo

Mais de cem anos depois das aparições de Nossa Senhora que moldaram decisivamente a tradição religiosa de Portugal, o Santuário de Fátima volta a assumir um papel de relevo na abordagem espiritual ao conflito armado na Rússia — desta vez com o envio de uma estátua da Virgem Peregrina, uma das principais ferramentas de difusão da mensagem de Fátima ao dispor do santuário português.

Como o Observador explicava em 2017 num artigo de fundo sobre a valiosa imagem original de Nossa Senhora de Fátima, aquela estátua, que é o maior tesouro do santuário, é protegida com as maiores cautelas: não só a imagem é guardada numa redoma à prova de bala, como há menos de dez pessoas que têm autorização para lhe mexer e só o podem fazer com luvas e com todo o cuidado. Só em raríssimas ocasiões a imagem original sai de Fátima: apenas para ser transportada até ao Vaticano, a pedido do Papa João Paulo II e, mais recentemente, de Francisco. Contudo, nem sempre foi assim: até à década de 1940, era comum que a escultura viajasse por todo o mundo, em peregrinações e celebrações com vista à difusão da mensagem de paz associada à revelação de Fátima.

A história e o mistério do maior tesouro de Fátima

Quando o Santuário de Fátima ganhou a perceção de que a escultura original — fabricada antes de 1920 — era um tesouro que deveria ser preservado a todo o custo, a instituição deu, em 1946, início a um projeto que se prolonga até aos dias de hoje: a imagem peregrina. A primeira réplica foi construída na década de 1940 pelo mesmo autor da imagem original, com indicações muito específicas dadas pela própria Irmã Lúcia. A partir daí, o Santuário de Fátima foi construindo sucessivas réplicas da escultura. São hoje treze as estátuas “irmãs”, que percorrem todo o mundo em peregrinações de paz.

A escultura que se encontra atualmente na Ucrânia é a imagem peregrina número 13, uma réplica exata da primeira imagem peregrina, entretanto colocada de modo definitivo na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.

Foi a imagem número 13 que viajou para a Ucrânia a partir do Santuário de Fátima

Luís de Oliveira/Santuário de Fátima

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