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A avaliar pelas notícias dos últimos dias, poderíamos ter a impressão de estarmos perante uma eleição presidencial ou uma eleição onde o Presidente, Donald Trump, está de alguma forma no boletim de voto. Ele paira como uma sombra, é certo, e são vários os candidatos que se tentam colar à sua imagem e políticas. Mas umas eleições intercalares são muito mais do que isso: são eleições onde os norte-americanos elegem aqueles que os representarão em Washington e no seu Governo local, podendo trazer para o centro de todas as decisões os temas que preocupam os eleitores de cada estado.

Intercalares nos EUA. Na política pós-2016, tudo gira à volta de Donald Trump

Ao todo, há 435 representantes na câmara baixa e 100 no Senado. Nem todos serão eleitos agora — alguns, como o caso de um lugar no Senado pelo Alabama, foram votados mais cedo por os lugares terem ficado vagos inesperadamente —, mas a grande maioria passará a compor um novo Congresso (Câmara dos Representantes + Senado). Há ainda 36 estados que irão eleger novos governadores.

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Por isso mesmo, decidimos abordar 10 dos temas mais importantes para os eleitores norte-americanos nesta eleição, ilustrando cada um deles com duas das corridas eleitorais onde o tópico tem sido mais debatido. Entre a influência do #MeToo, as preocupações com a educação e o impacto das alterações ao Obamacare, há pano para mangas. Em suma, o que se está a discutir é qual o tipo de políticas que os norte-americanos querem em 2018.

Imigração

Tennessee

Os candidatos

Do lado republicano, a representante Marsha Blackburn, uma forte apoiante do Presidente Trump, tenta agora o Senado. A representar os democratas está o moderado Phil Bredesen, que foi governador do estado de 2003 a 2011. O lugar no Senado foi deixado vago pelo republicano Bob Corker.

As frases

“O Departamento de Segurança Interna confirmou que a caravana [de imigrantes que se aproxima da fronteira] inclui membros de gangs, indivíduos com histórico criminoso e pessoas do Médio Oriente. Todos eles estão a tentar entrar no nosso país da forma errada.”
Marsha Blackburn

“Somos o país mais forte do mundo. Umas poucas centenas de pessoas muito pobres a virem até à nossa fronteira não são uma ameaça.”
Phil Bredesen

Os anúncios de campanha

O contexto

O Tennessee é um dos estados onde o número de imigrantes mais tem aumentado, registando um crescimento de quase 15%, entre 2010 e 2015. Recentemente, tem aprovado uma série de leis altamente penalizadoras para os imigrantes ilegais, que facilitam as deportações e impedem o estabelecimento das chamadas “cidade-santuário”.

As sondagens

Blackbrun: 49%
Bedesen: 49%
(Targoz Market Research, 2 Novembro)

Kansas

Os candidatos

Do lado republicano, o atual secretário de estado do Kansas, Kris Kobach (apoiado por Trump), enfrenta a senadora estadual Laura Kelly, democrata. Ambos querem substituir o governador Jeff Colyer (republicano).

As frases

“As políticas que têm sido feitas são a razão pela qual temos uma caravana a marchar para norte para tentar chegar aos Estados Unidos. É precisamente porque damos as prendinhas assim que eles atravessam a fronteira.”
Kris Kobach

“Grande parte da nossa economia, quer estejamos a falar daqui do sudoeste ou do estado inteiro, depende do trabalho de qualidade dos imigrantes.”
Laura Kelly

Os anúncios da campanha

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O contexto

O Kansas assistiu a um grande aumento do número de imigrantes nos últimos anos. Só na capital, Kansas City, o aumento foi de 300% nos últimos 25 anos. O sudoeste do estado é particularmente afetado pelo fenómeno — atualmente, metade dos habitantes da cidade de Garden City já são hispânicos.

As sondagens

Kris Kobach: 41%
Laura Kelly: 43%
(Ipsos, 30 Outubro)

Outros estados onde a imigração tem sido tema de campanha:
Indiana (Mike Braun vs. Joe Donnelly para o Senado); Missouri (Josh Hawley vs. Claire McCaskill para o Senado); Virgínia Ocidental (Patrick Morrissey vs. Joe Manchin para o Senado); Arizona (Martha McSally vs. Kyrsten Sinema para o Senado); Georgia (Brian Kemp vs. Stacey Abrams para Governador); Florida (Ron DeSantis vs. Andrew Gillum para Governador).

Obamacare

Missouri

Os candidatos

O procurador-geral JoshHawley, apoiado por Donald Trump, desafia a senadora democrata Claire McCaskill, que tenta garantir a reeleição.

As frases

“O Governo federal [e não as seguradoras] deveria garantir diretamente que as pessoas que têm condições pré-existentes [doenças já diagnosticadas] têm taxas, prémios e deduções iguais a todos os outros.”
Josh Hawley

“As pessoas estão muito zangadas. Estão zangadas com os aumentos dos preços dos medicamentos. Estão frustradas com a ideia de que a proteção para as condições pré-existentes esteja agora em risco.”
Claire McCaskill

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O contexto

O Affordable Care Act (ACA), vulgarmente conhecido por Obamacare, transformou o panorama no acesso à saúde dos norte-americanos e tornou-se arma de arremesso à esquerda e à direita, por todo o país. O programa, que instaura um seguro de saúde para todos, previa inicialmente que seriam incluidos os pacientes com as chamadas condições pré-existentes (ou seja, doenças já diagnosticadas), mas muitos republicanos, com o apoio do Presidente, têm colocado essas proteções em causa através das suas críticas à lei. Republicanos como Josh Hawley — que enquanto procurador juntou o Missouri a outros 19 estados num processo contra o Estado devido ao Obamacare — defendem que essas pré-condições devem estar protegidas pelo Estado e não pelas seguradoras; democratas como McCaskill defendem o modelo original. Certo é que o acesso à saúde é, de acordo com as estatísticas, o tema que mais preocupa os eleitores em todo o país, com 71% a considerá-lo “muito importante”.

As sondagens

Hawley: 46%
McCaskill: 46%
(Harris Interactive, 4 Novembro)

Nevada

Os candidatos

O senador republicano Dean Heller — um antigo crítico do Presidente agora tornado fã de Trump — defende o seu lugar contra a democrata Jacky Rosen.

As frases

“Quem defende o ACA defende prémios de seguro mais altos e menos cobertura. É só isso que se está a defender e isso tem de mudar.”
Dean Heller

“O senhor Heller prometeu que iria proteger centenas de pessoas do Nevada e a sua saúde e depois voltou para Washington e quebrou essa promessa.”
Jacky Rosen

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O contexto

Num estado onde sete em cada dez eleitores se dizem mais inclinados a votar num candidato que proteja o ACA, a posição sobre o Obamacare é decisiva para qualquer candidato. Através das ações do governador republicano Brian Sandoval, um apoiante firme do ACA, a cobertura aumentou bastante no Nevada ao longo dos últimos anos — atualmente apenas 10% dos habitantes não têm um seguro de saúde. O facto de Heller ter cedido e trocado o apoio que dava a Sandoval por respaldo às propostas de Trump — que reduziam o âmbito do Obamacare — pode prejudicá-lo nesta eleição.

As sondagens

Dean Heller: 46%
Jacky Rosen: 45%
(Harris Interactive, 4 Novembro)

Outros estados onde Obamacare tem sido tema de campanha:
Virgínia Ocidental (Patrick Morrisey vs. Joe Manchin para o Senado); Illinois (Randy Hultgren vs. Laura Underwood para o 14º distrito); Nova Iorque (John Faso vs. Antonio Delgado para 19º distrito); Virgínia (Barbara Comstock vs. Jennifer Wexton para o 10º distrito); Wisconsin (Glenn Grothman vs. Dan Kohl para o 6º distrito).

Igualdade de género e #MeToo

Arizona

Os candidatos

Com a saída do republicano Jeff Flake — que protagonizou um momento crucial nas audições ao juiz Brett Kavanaugh e ao seu alegado caso de violência sexual —, a republicana Martha McSally e a democrata Kyrsten Sinema disputam o lugar no Senado.

As frases

“Sou uma piloto de combate e falo como tal. Foi por isso que disse aos republicanos em Washington para ‘grow a pair of ovaries’ [traduzível para ‘tenham ovários’] e façam o vosso trabalho.”
Martha McSally

“Estou preocupada com a atitude do juiz Kavanaugh e com as palavras dele durante a audiência da semana passada, que se tornaram feias e partidárias. Para além disso, parece que ele não disse a verdade em partes do seu testemunho. Por essas razões, não apoiaria a sua nomeação.”
Kyrsten Sinema

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O contexto

O Arizona é um estado conhecido pela sua grande representação feminina: foi o primeiro estado a eleger mulheres para os cinco cargos estaduais mais altos (tendo ficado conhecidas como “As Fantásticas Cinco”), já elegeu mais mulheres como governadoras (4) do que qualquer outro estado e está empatado com a Vermont como o estado com maior proporção de mandatos ocupados por mulheres (40%). Contudo, o Arizona nunca elegeu uma mulher como senadora — algo que irá mudar, sem dúvida, nesta eleição, já que as principais candidatas são duas mulheres. Na campanha, em pleno debate a propósito de movimentos como o #MeToo e a nomeação para o Supremo do juiz Kavanaugh (acusado de violência sexual), McSally tem tentado deixar claro que ela é a mulher com mais força, explorando o seu passado no Exército e revelando que ela própria foi vítima de abuso sexual por um treinador no liceu.

As sondagens

McSally: 49%
Sinema: 48%
(OH Predictive Insights, 5 Novembro)

Dakota do Norte

Os candidatos

O representante republicano Kevin Cramer desafia a senadora democrata Heidi Heitkamp e tenta roubar-lhe o lugar no Capitólio, com a ajuda do apoio do Presidente.

As frases

“O #MeToo é um movimento que leva à vitimização. Pensar que é suposto acreditarmos numa pessoa só porque ela diz que alguma coisa aconteceu…”
Kevin Cramer

“Acho maravilhoso que a mulher dele nunca tenha tido uma experiência dessas, bom para ela, e é maravilhoso que a mãe dele também não tenha tido. A minha mãe teve e eu acho que isso a afetou a vida toda. E não a tornou uma pessoa menos forte por isso.”
Heidi Heitkamp

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https://www.youtube.com/watch?v=QNZuXF7ewf0

O contexto

A corrida para o Senado no Dakota do Norte ficou imediatamente marcada pelo fenómeno #MeToo quando Cramer declarou ao New York Times crer que este era um movimento com pouca credibilidade. Tudo graças à nomeação de Brett Kavanaugh para o Supremo, que teve o voto ‘contra’ de Heitkamp no Senado. Prevendo que isso lhe possa custar alguns votos numa zona tradicionalmente conservadora, o adversário avançou e, desde então, os dois têm-se digladiado sobre o tema do abuso sexual das mulheres e a importância da denúncia. A situação piorou ainda mais para a democrata quando a sua campanha cometeu um erro: numa carta aberta de mais de 100 sobreviventes de abuso sexual, uma das mulheres incluídas declarou não ter dado autorização para que a senadora expusesse o seu nome. Heitkamp pediu desculpa.

As sondagens

Cramer: 49%
Heitkamp: 42%
(Fox News, 30 Outubro)

Outros estados onde a igualdade de género e o #MeToo têm sido tema de campanha:
Nova Jérsia (Bob Hugin vs. Robert Menendez para o Senado); Tennessee (Masha Blackburn vs. Phil Bredesen para o Senado); Ohio (Jim Renacci vs. Sherrod Brown para o Senado); Carolina do Norte (Mark Harris vs. Dan McCready para o 9º distrito).

Educação

Wisconsin

Os candidatos

Scott Walker é o governador republicano do estado desde 2011. Agora é desafiado pelo democrata Tony Evers, superintendente escolar (um cargo eleito não partidário do Governo local) desde 2009.

As frases

“Graças às nossas reformas, os nossos líderes escolares locais podem contratar com base no mérito e pagar com base no desempenho. Isso significa que podem pôr os melhores e os mais brilhantes nas salas de aula e mantê-los lá.”
Scott Walker

“Estou a concorrer ao cargo de governador porque, porra, estou farto que o Scott Walker esventre as nossas escolas públicas, insulte os nossos educadores que trabalham muito e destrua o ensino superior no Wisconsin.”
Tony Evers

Os anúncios de campanha

O contexto

Não há estado onde provavelmente a educação seja um ponto tão fulcral de uma campanha como no Wisconsin — e logo para o cargo de governador, onde Walker teve uma ação contundente nessa matéria. O republicano venceu o braço de ferro com os sindicatos através do seu Act 10, acabando com a negociação coletiva, mas a decisão teve impactos profundos: por um lado, trouxe dezenas de milhares de pessoas às ruas, em protesto; por outro, reduziu o valor de salários, pensões e seguros de saúde dos vários professores no estado, levando a uma sangria de profissionais da educação do Wisconsin. Para além disso, no primeiro orçamento do governador Walker, o orçamento para a educação foi cortado em centenas de milhões de dólares. O governador alega que fez as transformações necessárias para melhorar a performance da escola pública e intitula-se nesta campanha como “o governador da educação”. Do outro lado tem Evens, que foi professor, diretor de escola e depois superintendente, com uma carreira ligada às escolas toda a vida. Não é de admirar que dois terços dos anúncios de campanha do democrata falem sobre educação e que Walker use 70% dos seus anúncios para fazer o mesmo.

As sondagens

Scott Walker: 46%
Tony Evers: 51%
(Emerson College, 1 Novembro)

Oklahoma

Os candidatos

O empresário republicano Kevin Stitt e o democrata e atual procurador-geral Drew Edmondson disputam o cargo de governador do estado do Oklahoma.

As frases

“Vamos continuar a investir na educação pública e eu vou trabalhar com o superintendente eleito para garantir que o dinheiro chega às salas de aula e que está diretamente a resolver o nosso problema de falta de professores.”
Kevin Stitt

“O meu coração está partido por aqueles professores. Temos de lhes pagar salários competitivos, de mercado.”
Drew Edmondson

Os anúncios da campanha

O contexto

O Oklahoma é um dos vários estados tradicionalmente republicanos que nos últimos anos foram palco de uma onda de manifestações de professores.  Ao fim de nove dias de greve na Virgínia Ocidental, o Oklahoma foi um dos lugares onde os professores se juntaram ao protesto e conseguiram alguns ganhos: um aumento de salário e um reforço no orçamento estadual para a educação, que o Governo local decidiu compensar com um aumento de impostos — algo que não acontecia no estado desde 1990. Desde então, os habitantes locais estão mais sensibilizados para as necessidades da educação, ao mesmo tempo que se preocupam com o impacto que esse reforço orçamental pode ter nas suas vidas — razão pela qual os candidatos têm de fazer um ato de equilibrismo nesta matéria. 

As sondagens

Kitt: 47%
Edmondson: 44%
(SoonerPoll, 4 Novembro)

Outros estados onde a educação tem sido tema de campanha:
Virgínia Ocidental (Carol Miller vs. Richard Ojeda para o 3º distrito); Arizona (Doug Ducey vs. David Garcia para Governador).

Raça

Georgia

Os candidatos

O secretário de estado da Georgia, Brian Kemp, enfrenta a democrata Stacey Abrams para ocupar o lugar de governador, desde que o republicano Nathan Deal está de saída. Donald Trump é um dos maiores apoiantes de Kemp.

As frases

“Eu oponho-me a qualquer pessoa ou organização que promova este tipo de ódio selvagem e preconceito indesculpável.”
Brian Kemp sobre uma mensagem anónima enviada a eleitores com insultos racistas à adversária

“Se posso ganhar? Sem dúvida. Porque a Georgia mudou nos últimos 20 anos, somos demograficamente um estado muito mais diversificado. E também porque os temas que eu abordo estão a ser ouvidos por gente de todas as ideologias.”
Stacey Abrams

Os anúncios de campanha

O contexto

Esta é uma das eleições mais faladas em todo o país, já que pode traduzir-se na eleição da primeira mulher negra como governadora na História do país — e logo num dos estados do Sul, historicamente marcados pela defesa da escravatura e a segregação racial. Do outro lado da barricada está Brian Kemp, um homem branco que se define como “um conservador politicamente incorreto” e que tem defendido a agenda do Presidente Trump em toda a linha. É uma eleição simbólica, que representa bem as políticas identitárias que têm marcado a política americana nos últimos anos. Para além disso, nos últimos dias a questão racial assumiu um papel de ainda maior destaque depois de um tribunal ter anulado uma decisão prévia de Kemp, enquanto procurador-geral, de proibir três mil pessoas de votar nesta eleição por questões burocráticas. A juíza considerou que a medida poderia ter como objetivo “um tratamento diferencial infligido a um grupo de indivíduos que são sobretudo parte de minorias” — ou, dito por outras vozes, deu razão aos democratas que tinham argumentado que a medida tinha como objetivo afastar eleitores negros desta eleição através de estratégias burocráticas, uma tática com raízes antigas no sul dos EUA.

As sondagens

Kemp: 49%
Abrams: 47%
(Emerson College, 1 Novembro)

Illinois

Os candidatos

O republicano Arthur Jones, que o próprio partido classifica como neo-nazi, tentará roubar o lugar na Câmara dos Representantes ao democrata Dan Lipinski, pelo 3º distrito.

As frases

“Há mais em mim do que um negacionista do Holocausto.”
Arthur Jones

“Art Jones tem de ser rejeitado pelos eleitores por causa da retórica e polítics vis, preconceituosas e anti-semitas que ele defende.”
Dan Lipinski

Os anúncios de campanha

Não há anúncios desta campanha disponíveis online.

O contexto

O tema “raça” e “racismo” só pode ser altamente relevante quando numa corrida eleitoral um dos candidatos é descrito pelos membros do seu próprio partido como “neo-nazi”, enquanto tentam a todo o custo distanciar-se dele e dão a eleição por perdida. Arthur Jones já tinha tentado tornar-se candidato republicano ao terceiro distrito cinco vezes e, desta vez, conseguiu-o. Porquê? Porque o Partido Republicano não conseguiu apresentar nenhum outro candidato nas primárias. Isto apesar de Jones ser um ex-membro do Partido Nacional-Socialista das Pessoas Brancas (ex-Partido Americano Nazi) que nega que o Holocausto tenha acontecido. O mais certo é que Jones sofra uma derrota pesada, não só pelo radicalismo das suas ideias mas porque Lipinski é muito popular — o que ajuda a explicar o facto de mais ninguém querer arriscar defrontá-lo. Mas isso não retira responsabilidades ao Partido Republicano, que mesmo com toda a sua máquina política não conseguiu retirar da corrida um candidato que diz abominar, mas que concorre em seu nome.

As sondagens

Não há sondagens disponíveis para este distrito. Contudo, o site FiveThirtyEight faz a seguinte previsão:
Jones: 31,5%
Lipinski: 68,5%

Outros estados onde o racismo tem sido tema de campanha:
Nova Iorque (John Faso vs. Antonio Delgado para o 19º distrito); Iowa (Steve King vs. J.D.Scholten para o 4º distrito); Florida (Ron DeSantis vs. Andrew Gillum para Governador).

Epidemia de opiáceos

New Hampshire

Os candidatos

O republicano Eddie Edwards (com o apoio declarado do Presidente) e o democrata Chris Pappas esperam os dois estrear-se no Congresso, elegendo-se pelo 1º distrito.

As frases

“Nós reconhecemos completamente o vício em drogas como um problema de saúda pública; contudo, tratamos dele como se fosse um problema de crime. Tenho a certeza que já ouviram a frase ‘não podemos sair desta prendendo e acusando’. E, no entanto, gastamos mais com as soluções da justiça criminal do que com as soluções mais eficazes: a prevenção e o tratamento.”
Eddie Edwards

“A epidemia dos opiáceos está a todo o vapor. Mas, embora o Presidente chame ao New Hampshire ‘um covil infestado de drogas’, o abuso de substâncias não define o nosso estado ou nosso povo. O que define o Estado Granito [nome dado ao NH] é a nossa capacidade de enfrentar de caras um problema como a crise de opiáceos.”
Chris Pappas

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O contexto

O New Hampshire é o segundo estado norte-americano mais afetado pela crise de opiáceos e heroína que tem afetado a população. Ao todo, em cada 100 mil habitantes, 35 morrem de overdose, uma taxa apenas ultrapassada pela Virgínia Ocidental. Os números são ainda mais impressionantes quando se tem em conta que o New Hampshire está longe de ser um estado pobre como a Virgínia Ocidental — é o estado americano com o rendimento médio por família mais alto de todo o país. Os dados revelam como esta é uma questão que tem afetado todas as classes sociais um pouco por todo o país, numa epidemia silenciosa sem solução aparente à vista. Os republicanos têm defendido um combate ao problema através duma perspetiva securitária — Trump refere que são os imigrantes quem muitas vezes traz droga para o país, por exemplo —, mas no 1º distrito Edwards não tem dito apenas isso, defendendo que também é necessário abordar o tema como um problema de saúde pública.

As sondagens

Edwards: 40%
Pappas: 53%
(Universidade do New Hampshire, 5 Novembro)

Ohio

Os candidatos

O representante republicano Jim Renacci tenta tirar o lugar no Senado ao democrata Sherrod Brown, que está na câmara alta desde 2007.

As frases

“Se uma pessoa não gosta da situação com as drogas e diz ‘Bem, vou processar o fabricante da droga’, da próxima vez que tiver um acidente de carro também vai processar o fabricante do carro? Da próxima vez que usar uma arma, vai processar o fabricante da arma?”
Jim Renacci

“As farmacêuticas são muito boas nisto. Estão um passo à frente dos xerifes e nós temos de ter a certeza que compreendemos estes conflitos.”
Sherrod Brown

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O contexto

O terceiro estado com maior taxa de overdose (32 pessoas em cada 100 mil) do país tem noção de que enfrenta um grave problema. Foi por isso que em fevereiro tentou tomar uma posição e anunciou que iria processar quatro grandes distribuidores de medicamentos opiáceos. Em causa está a acusação de que saberiam que estavam a vender muito mais doses do que as que seriam necessárias para questões médicas, alimentando assim a crise das drogas no Ohio. O debate gira em torno do papel das farmacêuticas e das distribuidoras numa epidemia que envolve sobretudo drogas usadas inicialmente para tratamentos médicos em que os consumidores se tornam viciados. Como senador, Brown votou a favor de vários projetos sobre esta matéria e tem alguma desconfiança das farmacêuticas neste tópico, enquanto Renacci adota uma outra postura.

As sondagens

Renacci: 43%
Brown: 53%
(Change Research, 5 Novembro)

Outros estados onde a crise dos opiáceos tem sido tema de campanha:
Virgínia Ocidental (Carol Miller vs. Richard Ojeda para o 3º distrito); Pensilvânia (Brian Fitzpatrick vs. Scott Wallace para o 1º distrito).

Direitos LGBT

Vermont

Os candidatos

O governador republicano Phil Scott candidata-se à reeleição para o cargo de governador. Do outro lado enfrenta a democrata (e estreante na política) Christine Hallquist.

As frases

“Para muitas pessoas transgénero do Vermont, ter casas-de-banho identificadas apenas como ‘homens’ ou ‘mulheres’ cria muito stress social e desconforto. Há situações onde enfrentam hostilidade e são mal tratados.”
Phil Scott

“Donald Trump decidiu erradicar a minha comunidade. E eu não tenho a certeza do que pode acontecer quando o Governo vai mais longe do que devia. Não acho que estejamos seguros no Vermont.”
Christine Hallquist

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O contexto

Num país onde os membros da comunidade LGBT representam apenas 0,1% de todos os eleitos para cargos públicos, a vitória de Hallquist seria histórica, ao colocar pela primeira vez uma pessoa transgénero num cargo de governador. A candidata do Vermont faz parte de uma onda crescente de candidatos da comunidade que decidiram participar nestas eleições intercalares — mas as sondagens dão como pouco provável que seja eleita. Não só porque enfrenta um candidato que é popular e que já cumpriu um mandato no cargo, mas porque Scott também defende os direitos da comunidade LGBT, como deixou claro em maio quando aprovou a lei que permite aos cidadãos transgénero ir à casa-de-banho do género com o qual se identificam. A decisão deixou-o até em maus lençóis com algum eleitorado republicano. Por outro lado, a candidatura de Hallquist prova que os direitos LGBT ainda não são uma certeza no país: após ter ganho as primárias do Partido Democrata, a candidata recebeu dezenas de ameaças de morte, que denunciou às autoridades.

As sondagens

Scott: 49%
Hallquist: 39%
(Gravis Marketing, 1 Novembro)

Texas

Os candidatos

O governador republicano Greg Abbott tenta ser reeleito para o cargo. Do outro lado tem a democrata Lupe Valdez.

As frases

“Bem, eu não assino leis hipotéticas. Tudo o que posso dizer é qual é a minha agenda.”
Greg Abbot sobre uma proposta de lei para pessoas transgénero que inicialmente propôs e que depois retirou

“Para algumas pessoas, [a minha orientação sexual] continua a ser um problema moral. Mas tenho muita esperança na maioria da geração de hoje. A maioria deles vai dizer ‘que diferença isso faz?'”
Lupe Valdez

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O contexto

Num estado conservador como o Texas, nem as credenciais da candidata Valdez como xerife lhe valem de muito. Isto porque, afinal de contas, é mulher, latina, abertamente gay e não tem experiência no cargo. Contudo, a sua candidatura contribuiu para colocar no mapa os direitos LGBT, que dominaram grande parte desta eleição. No Texas, o republicano Greg Abbott viu-se confrontado com a lei para uso de casas-de-banho por pessoas transgénero, que propôs no mandato passado e depois retirou após pressão de vários grupos da sociedade civil e de empresas.

As sondagens

Abbott: 51%
Valdez: 43%
(Emerson College, 31 Outubro)

Outros estados onde os direitos LGBT têm sido tema de campanha:
Massachussetts (referendo sobre direitos das pessoas transgénero); Indiana (Mike Braun vs. Joe Donnelly para o Senado); Pensilvânia (Daryl Metcalfe vs. Daniel Smith Jr. para o 12º distrito); e de novo no Texas (Will Hurd vs. Gina Ortiz Jones para o 23º distrito).

Aborto

Califórnia

Os candidatos

O representante republicano Steve Knight tenta segurar o lugar na câmara baixa. Tem pela frente a democrata que se estreia agora na política, Katie Hill. Knight tem tentado distanciar-se do Presidente Trump.

As frases

“Sou um candidato pró-vida. Não abro exceções.”
Steve Knight

“Representante Steve Knight, neste dia da Igualdade para as Mulheres, deixe-me relembrá-lo que votou para nos serem tirados os nossos cuidados de saúde e que não acredita no aborto seguro e legal.”
Katie Hill

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O contexto

Embora a Califórnia seja um estado considerado liberal, a verdade é que elege vários representantes republicanos — e a questão do aborto é uma das matérias onde alguns dos seus candidatos são mais conservadores. No 25º distrito, o assunto saltou para a ordem do dia porque perante o candidato pró-vida Steve Knight está Katie Hill, uma estreante na política que assumiu em público ter-se debatido com a possibilidade de fazer um aborto quando engravidou por acidente aos 18 anos (acabaria por ter um aborto espontâneo). Com a nomeação de Brett Kavanaugh para o Supremo, o assunto passou a assumir especial relevância, já que muitos democratas — como Hill — consideram que o juiz pode contribuir para o eliminar do precedente legal Roe v. Wade que tornou o aborto legal no país.

As sondagens

Knight: 46%
Hill: 41%
(Siena College/New York Times, 26 outubro)

Oregon

Os candidatos

O republicano Knute Buehler prepara-se para desafiar a governadora democrata Kate Brown e retirar-lhe o lugar que ocupa desde 205.

As frases

“[O aborto] é uma decisão entre uma mulher e o seu médico e não deve ser influenciada pela política ou pelo Governo.”
Knute Buehler

“É muito importante que todas as mulheres, independentemente do seu rendimento, do seu código postal e do seu estatuto de imigração, tenham acesso aos serviços totais de saúde ginecológica.”
Kate Brown

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O contexto

O Oregon é dos estados mais liberais no que diz respeito às leis sobre o aborto — é, aliás, o único que não adicionou quaisquer restrições ao que já está previsto na lei nacional. O tema poderia por isso não ser relevante na campanha, mas é, já que os eleitores querem medir até que ponto o seu governador vai manter as coisas como estão ou não. Buehler é um republicano altamente moderado nesta matéria, definindo-se como “pró-escolha”. Isso não significa, contudo, que vá tão longe quanto Brown: a governadora aprovou uma lei no ano passado que obriga as seguradoras de saúde a cobrirem por inteiro atos de interrupção da gravidez, incluindo no caso de imigrantes ilegais. Buehler é contra — mas alega que apenas o é por questões financeiras, já que pensa que representa um custo demasiado elevado para o orçamento local.

As sondagens

Buehler: 42%
Brown: 45%
(Hoffman Research Group, 30 Outubro)

Outros estados onde o aborto tem sido tema de campanha:
Nevada (Dean Heller vs. Jacky Rosen para o Senado); Nova Jérsia (Chris Smith vs. Josh Welle para o 4º distrito); Minnesota (Jason Lewis vs. Angie Craig para o 2º distrito).

Acesso a armas

Florida

Os candidatos

Com um governador republicano de saída, Ron DeSantis espera manter o estado vermelho para os republicanos, mas o democrata Andrew Gillum também quer chegar a governador. Pelo caminho tem também de enfrentar o Presidente, que tem apoiado o candidato republicano incondicionalmente.

As frases

“O melhor é focarmo-nos em negarmos armas de fogo a indivíduos perigosos, o que evita infringir os nossos direitos constitucionais e é provavelmente mais eficaz.”
Ron DeSantis

“[DeSantis] não vai fazer frente à National Rifle Association (NRA). É por isso que eles lançaram aqueles anúncios todos contra mim, porque querem que ganhe o homem que eles compraram.”
Andrew Gillum

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O contexto

No estado da Florida, as emoções estão à flor da pele quando se toca no assunto, ou não tivesse sido este o estado que foi palco de um dos tiroteios mais impressionantes deste ano, quando 17 alunos e professores foram mortos no liceu de Parkland por um atirador. Os dois candidatos têm ideias sobre o tema: para DeSantis, o segredo está em ter mais cuidado com a verificação de indivíduos potencialmente perigosos e o seu acesso às armas; para Gillum, o Governo local deveria ter passado as medidas a que se propôs inicialmente (e onde depois recuou) como o aumento da idade mínima para comprar uma arma para os 21 anos e a proibição de venda ao público de acessórios que tornam os disparos mais semelhantes aos de uma arma semiautomática.

As sondagens

DeSantis: 45%
Gillum: 50%
(St. Pete Polls, 5 Novembro)

Colorado

Os candidatos

O republicando Mike Coffman tenta segurar o lugar na Câmara dos Representantes pelo 6º distrito. Pela frente tem o advogado democrata Jason Crow.

As frases

“Acho que já há restrições razoáveis à Segunda Emenda. Penso que a melhor coisa a fazer é aplicar as leis que já temos e fazer o sistema que temos funcionar.”
Mike Coffman

“Chegámos a um ponto em que o número de tiroteios no país é tão constante e tem tanto impacto que as pessoas estão sempre a pensar nisto. Quando se houve um barulho alto num evento público, no meio da multidão, as pessoas já não pensam ‘se calhar alguém deixou cair alguma coisa’, pensam numa arma.”
Jason Crow

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O contexto

O 6º distrito do Colorado é emblemático nesta matéria: foi aqui que aconteceu o massacre de Columbine, onde 12 alunos foram mortos a tiro, em 1999; e foi neste mesmo distrito que um atirador entrou num cinema, em Aurora, e matou 12 pessoas, em 2012. No meio deste clima, o democrata Crow tem aproveitado para atacar repetidamente o adversário nesta matéria, enquanto defende a proibição de venda de armas semi-automáticas e o reforço das verificações dos compradores. Coffman, por seu turno, evita abordar o assunto, já que defende que as leis se mantenham inalteradas — devem sim, segundo afirma, ser melhor cumpridas.

As sondagens

Coffman: 43%
Crow: 48%
(TargetPoint, 23 Outubro)

Outros estados onde o acesso a armas tem sido tema de campanha:
Georgia (Kevin Abel vs. Lucy McBath para Governador); Ohio (John Kasich vs. Richard Cordray para Governador).

Economia e emprego

Virgínia Ocidental

Os candidatos

Com o republicano Evan Jenkins de saída para tentar a sua sorte no Senado, Carol Miller tenta a sua sorte pelo Partido Republicano e tem do outro lado da barricada o democrata Richard Ojeda.

As frases

“Todos os empregos são importantes. Temos de diversificar ao máximo, mas nós somos um estado de energia. A nossa indústria do carvão conseguiu dar a volta e está a trabalhar no duro para trazer o carvão de volta à forma que teve no passado.”
Carol Miller

“Eles dizem ‘as pessoas têm de aprender a não viver acima das suas possibilidades’ e, no entanto, não fazem ideia como é para um pai ou mãe solteiro que está a tentar pôr comida na mesa para o seu filho.”
Richard Ojeda

Os anúncios da campanha

O contexto

Virgínia Ocidental, um estado da Apalachia, erguido sobre a indústria do carvão e pilar do chamado “Rust Belt”. Foi um dos locais onde Donald Trump mais conseguiu apoiantes, com a sua mensagem de trazer de volta os empregos de outrora e impedir acordos comerciais danosos a ressoar entre as classes mais desfavorecidas, com menos educação e brancas. Neste 3º distrito, Trump ganhou com 73% dos votos — e Richard Ojeda foi um desses eleitores. Agora, o democrata garante que apenas o fez por causa do apoio de Trump à indústria das minas de carvão e faz críticas ao Presidente noutras áreas. O seu programa, de tom populista, bate sempre nos mesmos pontos: emprego e desigualdade. Num dos estados mais pobres de todo o país, os democratas arriscam uma mensagem menos focada nas questões da identidade e que apela mais à classe trabalhadora e isso tem trazido resultados nas sondagens, com Ojeda a subir constantemente. Carol Miller, da parte dos republicanos, faz o que pode e cola-se repetidamente à mensagem e ao estilo do Presidente Trump. Chegará?

As sondagens

Miller: 52%
Ojeda: 45%
(Emerson College, 31 Outubro)

Nova Iorque

Os candidatos

Com o representando do 14º distrito atualmente no cargo, Joseph Crowley, a ser derrotado pela jovem democrata Alexandria Ocasio-Cortez nas primárias, a luta agora será entre ela e o republicano Anthony Pappas. Crowley concorre como candidato independente.

As frases

“A minha mãe limpava casas e conduzia autocarros escolares e quando a minha família ficou à beira da falência eu comecei a trabalhar em bares e a servir à mesa. Eu compreendo a dor dos americanos de classes trabalhadora porque eu também experimentei essa dor.”
Alexandria Ocasio-Cortez

Os anúncios de campanha

O contexto

Não há frase nem anúncio de campanha de Pappas a apresentar porque o candidato está tão derrotado à partida que nem parece ter tentado. Embora seja professor de economia e finanças — um dos temas que mais tem abordado a candidata democrata que se define como “socialista” — Pappas tem aproveitado as poucas entrevistas que deu para falar do impacto de decisões judiciais como as relativas ao divórcio, dando sempre o seu próprio exemplo. A economia, o emprego e o valor do salário é algo que tem sido amplamente abordado na campanha por Ocasio-Cortez, que está à beira de se tornar na congressista mais jovem de sempre, aos 28 anos. A democrata defende um salário mínimo de 15 dólares à hora, mas também já cometeu uma gaffe ao declarar que a taxa de desemprego está baixa porque “toda a gente tem dois empregos” — deixando evidente que não compreende como é calculada a respetiva taxa, que tem apenas em conta o número de empregados na população ativa, independentemente do número de empregos que cada um tem. Ocasio-Cortez surge assim como um dos novos rostos do Partido Democrata da era pró-Trump — e, ao contrário de outros seus colegas, foca-se bastante na mensagem económica.

As sondagens

Não há sondagens disponíveis para este distrito. Contudo, o site FiveThirtyEight faz a seguinte previsão:
Pappas: 16,6%
Ocasio-Cortez: 79,3%

Outros estados onde a economia e o emprego têm sido tema de campanha:
Texas (John Culberson vs. Lizzie Fletcher para o 7º distrito)