O plano é ousado, mas as características indicam que é possível: tornar a Ericeira na próxima Biarritz. Afinal, tratam-se de dois epicentros do surf, com a diferença de que no francês existem condições para um turismo mais moderno e requintado, ao passo que na vila portuguesa do oeste as opções são, para este fim, mais reduzidas. Na verdade, eram. É que a 5 de junho abriu o Immerso, o primeiro cinco estrelas da Ericeira.

Um projeto familiar, cuja escolha da localização partiu da vontade de um surfista. “O meu sobrinho faz surf e sugeriu-nos a Ericeira. Análisamos e pareceu-nos ideal, até porque não havia aqui nenhum hotel mais moderno, de grande qualidade. E tivemos aqui esta espécie de epifania: podíamos contribuir para fazer da Ericeira a nova Biarritz, onde antes de explodir o surf, também só existia um tipo de turismo mais antigo”, conta ao Observador Pedro Lopes, um dos acionistas do Immerso.

O luxo está lá, mas opta pela discrição. Mistura-se com a natureza e manifesta-se na forma do conforto, do detalhe, do orgânico e no poder da revigoração. É, como explica o proprietário, “um conceito de luxo, mas sem ostentação.” Um luxo que é “descontraído”, um requinte que é “sem laço”— isto é, que  “pode andar de chinelo no pé”.

Não podia ser de outra forma. Afinal, a partir do momento em que se cruzam as portas do edifício principal, o mar e a praia de São Lourenço são uma constante. “Quem vê o hotel por fora não tem noção do que vai encontrar quando passa a porta — quer pelo espaço, quer pela decoração, quer pelo mar. Todo o hotel é virado para o mar.”

Um hotel que se adaptou à natureza

É a primeira vez que há interferência humana no vale onde nasce o Immerso. O terreno não tinha nada — com exceção das suas condições naturais “fabulosas”. Hoje conta com três zonas de alojamento, que respeitam a morfologia natural de quem as acolheu. “A ideia foi assentar o mais possível os edifícios ao terreno, da forma mais harmoniosa possível”, conta Pedro Lopes.

Com 32 quartos, que se dividem em diferentes tipologias (nature, inspire, ocean e ainda duas suites), com dois espaços gastronómicos (o Emme e o Emme on Fire, com consultoria do chef Alexandre Silva), um spa, piscina e horta orgânica, o projeto tem a colaboração do arquiteto Tiago Silva Dias que pensou o Immerso de forma a que a criação humana não se sobrepusesse aos elementos naturais — sendo, desta forma, o hotel a adaptar-se ao terreno.

A cor de betão com que se apresentam os edifícios é também forma de respeitar o vale. Só assim se consegue a missão proposta pelo novo cinco estrelas, que passa também por fazer jus ao nome. “Corresponde ao mood do hotel: [os hóspedes] vêm e deixam-se submergir, para imergir depois, esperamos nós, com outra disposição e energia.”

Tons neutros, decoração minimalista, artesãos portugueses. O interior

O interior não destoa do resto. Da responsabilidade do mesmo arquiteto, alinhado com a vontade dos proprietários, sobressaem as texturas da terra e do mar, as cores de base neutra em tons de areia, num espaço que é descrito como “plural” e “contemporâneo” — e que vai, de forma gradual e fluída, mudando a sua forma, proporcionando aos hóspedes momentos e experiências distintas dentro do Immerso.

Os materiais naturais utilizados e o tom minimalista da decoração faz com que o interior não se dissocie da natureza lá fora. Ela entra nos quartos, seja na forma de luz ou de sombra, na forma de sons do mar ou do vento, através de portas e de janelas largas e envidraçadas, que dão acesso à varanda no exterior.

A decoração conta com curadoria de Alexandra Almeida d’Eça, proprietária do Immerso e mulher de Pedro Lopes. Foi ela a responsável pela escolha dos vários artesãos, maioritariamente portugueses, que intervêm no hotel, através das suas criações, presentes em vários espaços. Há, por exemplo, painéis nos quartos e lobby com assinatura de Iva Viana; há tapetes artesanais feitos a partir de desperdícios de lã e algodão orgânicos da SUGO CORK RUGS, de Susana Godinho. Ou ainda os candeeiros e as cadeiras de baloiço da Oficina 166, de Diana Cunha. No campo da mobília, há peças do designer mexicano Diego Franco, um espelho de Anna Westerlund ou uma mandala Palmas Douradas, de Maria João Gomes.

É a vantagem de um negócio cuja gestão se mantém entre a família. “Decidimos manter gestão própria para dar ao Immerso e à experiência de quem o visita um cariz mais personalizado e pessoal. Quisemos torná-lo único”, conta. O primeiro cinco estrelas da Ericeira é, portanto, fruto da imaginação de quem o fez nascer: “Isto tem um milhão de pequenos detalhes e a maior parte deles saíram da nossa cabeça, com consultoria dos vários  profissionais que trabalharam connosco.”

Também no exterior é possível observar o trabalho dos artesãos escolhidos por Alexandra. João Noutel, pintor e escultor, deixa lá a sua marca com a instalação escultórica “Mergulho em Ti”. Já Paulo Reis assina “Uniouriço”, a intervenção artística que recebe aqueles que entram na propriedade. De salientar é também o “banco-anel” criado pelo Los Pepes Studio, com vista para o mar.

O cheiro e os sons também têm dedo de artista. Quando passar pelo novo hotel, dê atenção aos seus sentidos. Poderá, no campo olfativo, sentir a criação de Lucena, o único português membro da Sociedade Francesa de perfumistas, que para o Immerso criou aromas que refletem o azul profundo do mar, bem como a tranquilidade da natureza. No que respeita à audição, Elvis Veiguinha foi o responsável pela criação da identidade sonora do hotel, que se pode sentir de várias formas nos diferentes espaços.

A comida, o fogo e a bebida

Foi com consultoria do chef Alexandre Silva, distinguido com uma estrela Michelin no LOCO, em Lisboa, que se desenvolveram os conceitos gastronómicos presentes no Immerso, que partem, como em tudo o resto neste hotel, de uma filosofia consciente, local e natural — aplicados quer no casual dining, quer na cozinha de fire dining no exterior.

O Emme, o casual dinning do Immerso,  aposta em técnicas internacionais, refletidas numa cozinha “delicada, democrática, abrangente, mas com personalidade.” Tem como chef residente Paulo Pedro (já esteve no Fortaleza do Guincho) e ocupa parte da sala térrea do hotel, estendendo-se pela varanda adjacente. A cozinha é de origem atlântica e, por isso, a carta constrói-se com base naquilo que a costa do oeste tem para oferece — o que significa que há peixe das costas da Berlenga e da Ericeira, assim como plantas atlânticas e salinas.

A Lota de Peniche é, assim, local frequentado diariamente pelo chef e pela sua equipa, que, com o olho bem treinado, escolhem o peixe o marisco mais fresco. Para conseguirem vegetais saborosos, viçosos e que cresceram na estação certa, não precisam de ir longe — afinal, estão no oeste, que é a “maior horta de Portugal”. Além disso, existe no hotel uma horta biológica onde nascem alguns dos produtos utilizados nas cozinhas. “Temos uma variedade de mais cem espécies de plantas — entre aromáticas e legumes — plantadas na horta.”

O Emme desdobra-se também no Emme on Fire, a cozinha de fire dining do Immerso, que se faz no exterior. Assim, a carta mantém a sua origem atlântica, mas a confeção dos pratos faz do fogo o seu grande recurso, conjugando ainda com outras técnicas mais ancestrais. Uma cozinha mais “medieval”, mais “espontânea” e “festiva” que aposta no conceito da partilha.

No campo das bebidas, há cocktails em linha com a oferta da carta de comida — com referências frescas e versáteis. Existe também uma carta de vinhos exclusivamente nacional (e que dá primazia ao produto da região do oeste, contendo alguma oferta de vinhos naturais e biodinâmicos) e, por fim, duas cervejas artesanais criadas exclusivamente para o espaço em parceria com a Vadia — a Bica Mar, uma lager mais leve e fresca, e para contrastar, a Bica Fogo, mais intensa e gastronómica.

O spa, a piscina e o pôr do sol mais “espetacular” da Ericeira

É possível que tenha sido a imagem da piscina a fazê-lo carregar neste artigo. É o que vê: um espaço arejado, com uma vista ampla, chapéus, cadeiras e espreguiçadeiras e um bar de apoio. “Não acredito que haja, na Ericeira, um sítio tão espetacular para se ver o pôr do sol”, acredita Pedro Lopes. “Tem dois espelhos de água, um para crianças e, logo ao lado, outro para adultos”, detalha. “Está no terraço, que é grande, com espreguiçadeiras de um lado e de outro.”

Mas no campo do relaxamento há mais. No spa encontra uma sauna, banho turco, banho sensorial e três salas de massagens. Tem  vários tratamentos disponíveis, como massagens de relaxamento, massagem desportiva (ideal para alongar, libertar tensões, tratar dores de articulações ou músculos doridos), de pedras vulcânicas plutónicas quentes, shiatsu, ayurvédica ou myofascial. Inclui ainda tratamentos faciais.

No Immerso encontra ainda um ginásio, que se estende a outras zonas do terreno, onde se poderá praticar ioga ao ar livre. O hotel dispõe ainda de bicicletas que, a somar às caminhadas, são uma forma de explorar todos os cantos do terreno, sempre com vista para o mar da Ericeira.

Quanto custa uma noite no Immers0? Quarto Nature, 280€; quarto Inspire, 310 €; quarto Ocean, 355 €; inspire Family, 580 €; suite, 600 €

Morada: Rua Bica da Figueira s/n, Santo Isidoro, Ericeira
Contactos: 261 104 420/info@immerso.pt